quinta-feira, 26 de junho de 2014

O caso Diego Costa

Se algum torcedor brasileiro que assistiu aos jogos da Espanha in loco tivesse de justificar as vaias voltadas a Diego Costa, provavelmente responderia alguma coisa assim: "Ele é um traidor, deixou de jogar pelo Brasil para jogar pela Espanha." A resposta é ao mesmo tempo tão vazia de sustentação argumentativa quanto cheia das conseqüências causadas pela manipulação de informações provocada pela imprensa.

Diego Costa virou o grande vilão dessa Copa. O homem mais odiado dos gramados. Era tocar na bola para o público dos três estádios em que a Espanha jogou nesse Mundial, formado majoritariamente por torcedores brasileiros, se unir em  sonora vaia, como se ele tivesse marcado o gol do título espanhol em cima da Seleção Brasileira, em alguma final. Como se fosse marrento e seu comportamento fora do campo gerasse certa antipatia por conta de excessos e descalabros. Como se tivesse dado entrevistas em que menosprezasse o país em que nasceu. Simplesmente como se fosse argentino! Mas a verdade é que Diego Costa nunca foi ou fez nada disso. Seu único "crime" foi optar por defender as cores da Espanha em uma Copa do Mundo. O que causou tanta revolta na torcida tupiniquim foi a forma como sua opção foi tratada pela imprensa de forma geral: um crime de lesa-pátria.

É provável que o mesmo torcedor que vaiou não lembre, mas Diego Costa disputou dois amistosos pela Seleção, no ano passado. Foi convocado por Felipão e atuou contra Inglaterra e Rússia, sempre entrando no decorrer ou no final das partidas, pouco tocando na bola. Na ocasião, ele começava a obter algum destaque jogando pelo Atlético de Madri, clube no qual se tornou ídolo, mas era praticamente desconhecido por aqui. Lógico: saiu cedo do país, nunca jogou profissionalmente no Brasil e fez toda sua carreira na Espanha - antes, jogou nos pequenos Celta e Albacete, até desembarcar no "primo pobre" da capital e desandar a fazer gols. Ou seja, um típico caso de alguém que encontrou melhores condições de trabalho em outro país e quis retribuir da forma que encontrou, defendendo aquela nação em um evento global.

A opinião pública foi levada a acreditar que Diego Costa estava errado ao trocar o Brasil pela Espanha. Embora nenhuma reportagem tenha deixado clara tal idéia, a maneira como a informação foi transmitida pela imprensa de forma geral serviu para inocular na população média a crença de que o jogador escolheu ficar do lado "inimigo", afinal, a Espanha ainda é a atual campeã mundial, a seleção a ser batida. Como um brasileiro pôde ter a ousadia de jogar pela Espanha em uma Copa do Mundo justamente disputada no Brasil? Absurdo. Crime. Traição. Na impossibilidade de ser jogado às catacumbas de um regime totalitário inexistente por aqui, a punição foi a vaia uníssona de um povo que sequer sabia quem era Diego Costa até um ano atrás. Promoveu-se um linchamento moral de um cidadão que nada fez de errado, mas foi condenado de maneira cruel e sutil pelo posicionamento de opiniões que tomaram a imprensa dita especializada. 

Curioso que outros jogadores brasileiros defenderam seleções estrangeiras na Copa, como Thiago Motta (Itália), Pepe (Portugal), Eduardo da Silva e Samir (Croácia). Não consta que tenha havido vaias dirigidas a eles, ou, se houve, foram tímidas. Talvez por já serem naturalizados há mais tempo. Ou, certamente, porque tiveram a sorte de serem ignorados pela imprensa na época em que optaram por jogar por outro país. 

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Cinderela brasileira - Um musical trash

Cinderela baiana (1998)
Hoje ninguém mais fala em Carla Perez e dificilmente as novas gerações terão o dissabor de ouvir alguma composição do igualmente esquecido, mas resistentemente ainda na ativa, grupo É O Tchan. Mas quem viveu os anos 90 se lembra muito bem do que essa loura de corpo escultural provocou no imaginário popular. De certa forma, aquele período foi devidamente imortalizado em vídeo no quase inacreditável Cinderela baiana, que chegou aos cinemas tão logo Carla se tornou um fenômeno midiático, no final daquela década.

A segunda metade dos anos 90 foi particularmente trágica para a música brasileira. Se hoje torcemos os ouvidos para os acordes toscos de popozudas e funkeiros, tudo pode ter começado lá atrás, quando a moda era a Axé Music, gênero que se originou na Bahia e que semanalmente despejava nas rádios algumas das letras e refrões mais ridículos de que se guardam notícias. São dessa época pérolas como "Dança da Manivela" e "Na boquinha da garrafa". Ouvidas hoje, até podem parecer requintados trabalhos de poesia lírica se comparados com o que nos é empurrado por poderosas e lepo-lepos. E, para se fazer justiça, é verdade que o gênero também rendeu artistas de certo talento, como Daniela Mercury e Emanuele Araújo, hoje atriz, mas que começou como vocalista na Banda Eva. Os grupos mais populares pareciam competir na arte de se esmerar na criação de coreografias e dancinhas cujos movimentos acompanhavam a indigência de suas canções.

Foi nesse cenário de alegre desolação que se destacou o Gerasamba, egresso das ruas de Salvador. Começou como sucesso local, mas ganhou força depois que sua formação passou a contar com Carla Perez. Era uma menina loura, linda, na força e no vigor de seus 18 anos, que rebolava com mestria e acabava capitalizando a atenção, sobretudo masculina, durante as apresentações do grupo, que contava ainda com a morena Débora Brasil (que logo abandonou o barco), Jacaré, a parte masculina do show de dança (posteriormente alçado à condição de humorista em antigo programa de Renato Aragão) e os dois remanescentes de hoje, Beto Jamaica e o folclórico Compadre (ou "Cumpadi") Washington, o mesmo que virou meme na internet com seu bordão "Sabe de nada, inocente!". Depois que começou a estourar nas paradas, descobriu-se que o nome Gerasamba já estava registrado e pertencia a outro grupo. O jeito foi mudá-lo para É O Tchan, aproveitando a relação com o título da, hum, música de maior sucesso do quinteto, o "Melô do Tchan".
Lázaro Ramos (esq.): todos têm uma mancha no currículo. 

Muitas mulheres que hoje são respeitáveis mães de família já rebolaram sem nenhum constrangimento ao som das músicas do grupo, imitando o gestual de Carla Perez. Não adianta inventar desculpas, era ela a estrela maior, com seu furacão nos quadris, seu sorriso infantil e suas madeixas esvoaçantes. Carla ganhou vida própria e se tornou alvo de todo tipo de interesse comercial. Era quase onipresente em programas popularescos da televisão, requisitada para entrevistas, embora raramente tivesse alguma coisa de útil a dizer, estrelou diversas campanhas publicitárias, virou apresentadora no SBT e já no ano seguinte, 1996, posou para a Playboy, repetindo a dose outras duas vezes. Mas escapou de ter um romance escandaloso com algum jogador de futebol, coisa que hoje seria esperada ou até inventada pela imprensa sensacionalista. Retirou-se do cenário artístico em 2001, após se casar com o cantor Xanddy, e estão juntos até hoje, o que não deixa de ser uma surpresa, se considerarmos a alta rotatividade da vida conjugal dos artistas.

Não sei se o roteiro do também diretor e diretor de fotografia Conrado Sanchez, com breve experiência na Boca do Lixo, buscou inspiração na peça Pigmalião, de Bernard Shaw, que já foi adaptada várias vezes para a tela (a mais famosa foi em Minha bela dama, 1964, vencedor de 8 Oscars), mas o fato é que ela serve de essência à história da "jóia bruta" que acaba sendo lapidada e "ascendendo" socialmente. No caso, Carla Perez é mostrada desde a infância sofrida no interior da Bahia, quando perde a mãe e se muda para Salvador com o pai, que assume um cargo em um pequeno escritório de advocacia.

Sorridente e amarelinha que nem o Piu-Piu.
O filme dá um salto abrupto no tempo e Carla reaparece já adolescente, dividindo os estudos (que logo abandonou, mas isso não é dito) com sua paixão pela dança. Conhece dois vagabundos de bom coração, um deles vivido por Lázaro Ramos em seu segundo papel no cinema, que a ajudarão a se tornar uma dançarina de sucesso. Carla passa a freqüentar uma academia, onde ensaia os primeiros passos, sofre com a inveja de um das alunas ricas, ganha a simpatia do professor e é descoberta por um poderoso empresário do ramo musical, feito de forma exagerada e caricatural por Perry Salles. Depois é o que todos conhecem.

A história de vida de Carla Perez, tal como mostrada no filme, sensibiliza muita gente, em especial a nós, brasileiros, que gostamos de ver exemplos de pessoas que saíram do nada e, graças a seu esforço pessoal, aliado a um pouco de sorte, conseguem arranjar um lugar ao sol. Neste sentido, o filme se equipara a outros tantos dramas de superação nos quais o "herói" sempre vence no final. O problema é que ninguém levava Carla Perez a sério e, além disso, Cinderela baiana tem defeitos indefensáveis. O filme foi pessimamente lançado nos cinemas ("na verdade, foi arremessado", como declarou à época o produtor A. P. Galante, outro veterano da Boca do Lixo e que assinou aqui seu derradeiro trabalho) e destruído pela crítica especializada. Também é massacrado por todos que já o viram e apontado como o pior filme brasileiro de todos os tempos, um exagero, sem dúvida, creio que mais por se tratar de implicância com Carla Perez do que por outro motivo.

Pelo social, pelas crianças e pelo remelexo.
Tecnicamente, é um desastre. O som é catastrófico, algo imperdoável em uma fita musical; grande parte do elenco apenas declama suas falas, sem emprestar qualquer sentimento aos personagens; os números de dança são repetitivos e praticamente restritos à academia; a marcação de tempo é caótica, com ações se sucedendo de forma desigual para Carla e seu pai. Ao menos o diretor teve o bom senso de dar poucas falas à Carla, na certeza que ela não era atriz e, assim, nem precisou compor nuance nenhuma, bastou fazer ela mesma e pronto. A transformação da menina pobre em moça rica e de sucesso é bem marcada pelas roupas e pela postura corporal, no começo recolhida em si mesma, depois altiva e segura. O final também é esquemático, com um discurso forçado a favor da igualdade social, uma simbólica libertação de passarinhos e todo mundo dançando ao som de "Pau que nasce torto". Simplesmente ridículo. É tudo muito ruim, mas, acredite, há coisas bem piores nas telas tupiniquins.

Se na vida real Carla Perez escolheu se resguardar depois de casada, abandonando a carreira, embora ainda toque projetos artísticos locais, seu filme não teve a mesma opção e foi condenado à danação eterna. Sem uma devida digitalização, Cinderela baiana foi esquecido no formato VHS e hoje só pode ser encontrado nas locadoras mais completas (que são cada vez mais raras) ou caçado na rede, que assim cumpre mais uma vez o papel de preservar parte da memória do cinema nacional. Ou vai ver, o ostracismo talvez seja o que mereça essa pérola do trash. 

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Cult Fritas - O amor não tira férias

A única certeza que existe sobre o termo "cult-movie" é que ele surgiu na década de 80 nos  Estados Unidos. A origem é incerta. A hipótese mais aceita defende que ele se tornou corrente após o lançamento de Blade Runner, o caçador de andróides (1982): seu sucesso foi tão estrondoso que gerou ondas de culto de fãs fanáticos, que passaram a enxergar inúmeras qualidades nos diversos componentes da história - fotografia, trilha sonora, figurinos etc. Um cult-movie não é um filme perfeito: muitas vezes, são justamente suas falhas que fazem a delícia dos seus apreciadores.

Todo cinéfilo tem seus cult-movies pessoais. A partir desta semana, em intervalos irregulares de tempo, irei escrever sobre algum dos meus. A ordem de publicação é puramente aleatória e a estrutura da postagem seguirá a mesma das Fast Fritas, com a ficha completa, sinopse e um breve comentário.

FÉRIAS DE AMOR
(Picnic)
EUA, 1955. 113 minutos. Columbia. Roteiro de Daniel Taradash e William Inge (a partir de peça de sua autoria). Direção de Joshua Logan. Com: William Holden, Kim Novak, Rosalind Russell, Betty Field, Cliff Robertson.
Sinopse: Um andarilho chega a uma pequena cidade do Meio-Oeste no exato dia do Grande Piquenique Anual. Sua presença despertará paixões e conflitos entre os moradores.
Comentários: Adaptado de uma peça de grande sucesso da Broadway, é um excelente exemplar do melodrama típico de Hollywood, um subgênero extremamente popular nos anos 50. Dirigido pelo mesmo Logan que conduziu a montagem teatral, o filme pode ter envelhecido sob certos aspectos, mas sua força romântica permanece inalterada, apesar das mudanças de costumes da sociedade. Toda a ação se passa no dia do Grande Piquenique Anual, tradicional festa comunitária que tinha como ponto alto a coroação da Rainha do Ano, citada até nos jornais locais. É neste curto espaço de tempo que se operam mudanças significativas na vida e no pensamento dos personagens, incluindo uma professora solteirona e desesperada para casar (Rosalind Russell, em atuação marcada pelo humor e pelo patético).
A fórmula clássica dos melodramas é mantida, com a estrutura familiar e social desmoronando frente ao elemento externo, que prorrompe no ambiente estabelecido e, ao seu modo, destrói as convenções determinadas. A narrativa é pontuada por uma grande tensão sexual, que explode em pequenos detalhes, como na exposição do peito raspado de Holden, o máximo de sensualidade permitido pelo rígido código de censura da época. Repare na mudança de comportamento que sua presença provoca nos personagens femininos. Flo (Betty Field), a irmã de Madge, no começo apresentada como uma adolescente rebelde e quase masculinizada, que briga com garotos, se transforma em uma jovem e sedutora mulher, que, ao final, assume sua condição de intelectual sem perder a feminilidade.
A cena antológica do filme é a dança de Holden e Novak à beira do rio. No fim, quando incentivada pela irmã a recusar a vidinha modorrenta que se lhe anuncia e seguir atrás de Hal, confrontando a preferência da mãe, Madge pronuncia a frase famosa: “A gente não ama uma pessoa por ela ser perfeita”. Emblemática cena final, com o carro de Madge seguindo a trilha do trem que conduz Hal, mantendo acesa a chama da paixão e, de certo modo, adequando o filme a uma resolução romântica, de acordo com o pensamento da época (ainda que por uma moral bastante questionável do ponto de vista das tradições de então).
Indicado a 6 Oscars, incluindo melhor filme, Férias de amor ganhou nas categorias de Direção de Arte e Montagem. Teve uma refilmagem muito inferior feita para a TV em 1998, Piquenique, com Josh Brolin e Gretchen Moll nos papéis centrais.

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Copa Com Fritas

A uma semana para o início da Copa, começam a pipocar de todo lado palpites e prognósticos para o torneio. O editor do blog nunca escondeu que é fã de futebol e, como faz antes de premiações do cinema, deixa registrado também suas apostas, um tanto óbvias, para o Mundial que começa no próximo dia 12.

GRUPO A
Será que Luiz Felipe Scolari é melhor treinador que Mano Menezes? A julgar pelos resultados conquistados à frente da Seleção, sim. Em pouco mais de um ano de seu retorno, Felipão ganhou a Copa das Confederações e conseguiu dar estilo de jogo e padrão tático à equipe, qualidades que seu antecessor somente começou a implantar depois de quase dois anos de trabalho, período ao longo do qual perdeu os dois títulos que disputou (a Copa América e o Torneio Olímpico). Além disso, Scolari tem experiência de Copa do Mundo, tendo sido o comandante do escrete vencedor em 2002, além de ter conduzido Portugal a um honroso quarto lugar na Copa seguinte. Independente de qualquer coisa, não se espera que o Brasil não termine a fase de grupos em primeiro lugar. Se tradição vale em Copa do Mundo, a segunda vaga deve ficar com o México, em que pese o mau momento vivido pela seleção local, que se classificou para o torneio apenas na repescagem, e graças a uma vitória dos EUA sobre o Panamá, na última rodada das eliminatórias do continente. Vai disputar com a Croácia, que retorna à Copa ainda evocando os bons fluidos do quarto lugar de sua primeira participação, em 1998. De Camarões, espera-se que resgate o futebol alegre que contagiou o mundo na insossa edição de 1990, deixando de lado a violência que mostrou em suas participações seguintes. Mesmo veterano, Samuel Eto'o ainda é a esperança de gols e grande estrela da seleção.

GRUPO B
Os baianos terão a honra de assistir à reedição da final da última Copa. Espanha e Holanda já se enfrentam na primeira rodada, dia 13 de junho, na Fonte Nova, e o perdedor do confronto provavelmente será o adversário do Brasil nas oitavas de final. A atual campeã do mundo manteve a base e o mesmo estilo de jogo, encantador para uns, irritante para outros, mas inegavelmente eficiente. A Holanda atropelou todos os adversários nas eliminatórias européias, ganhando nove dos dez jogos que disputou. Chega com ares de poderosa e favorita ao título, mas não acredito que vá muito longe. Deve, porém, garantir a segunda posição, o que a poria no nosso caminho já na fase seguinte. Azar do Chile, que, embora conte com uma seleção experiente e alguns jogadores habilidosos, como Valdívia e Alexis Sánchez, não tem força para encarar de igual para igual os europeus do grupo. A Austrália buscará apenas a manutenção de um tabu: nunca saiu de um mundial sem conquistar ao menos um ponto.

GRUPO C
Este é provavelmente o grupo mais equilibrado da Copa. E não exatamente pela qualidade dos componentes. Em condições normais, a Colômbia seria favorita absoluta à primeira posição, mas o desfalque confirmado de Falcao García a põe em pé de igualdade com as outras seleções. Deve se classificar de todo modo porque ainda assim é tecnicamente superior a pelo menos outras duas equipes da chave. Uma delas é a Grécia, que até pode ter causado certa sensação nas eliminatórias européias, mas não convence ninguém, é um time muito limitado, que joga basicamente para se defender e não deixar jogar. O Japão também decepcionou na Copa das Confederações, sendo presa fácil até do combalido México. Por mais que tenha evoluído, dificilmente conseguirá alguma coisa por aqui. A segunda vaga, assim, deve ficar com a Costa do Marfim, que ainda confia nos gols do veterano Drogba. Ele deverá ser muito auxiliado pelos dribles do habilidoso Yaya Touré, destaque do Manchester City. Em sua terceira Copa seguida, os africanos esperam, finalmente, passarem de fase e chegarem pelo menos nas oitavas.

GRUPO D
Esqueça a Costa Rica, que virá fazer turismo no Brasil. A luta é entre Itália, Inglaterra e Uruguai para ver qual deles fica na primeira fase. É a primeira vez na história das Copas que três campeões mundiais dividem o mesmo grupo, e na roleta de apostas, parece que vai sobrar para a Celeste Olímpica. O Uruguai envelheceu desde o último torneio, e a seleção que surpreendeu há quatro anos não consegue mais acertar seu jogo. Diego Forlán, craque na África do Sul, caiu de ritmo, e deve sobrecarregar Suárez e Cavani no ataque para tentarem resolver. Problema que parece não afetar a Itália, que, contrariando sua história, tem uma linha de frente poderosa, com o explosivo Balotelli comandando uma equipe que hoje parece mais afeita ao ataque do que à defesa, ainda guarnecida pelo excelente goleiro Buffon. Ataque que também credencia a Inglaterra a ir longe no Mundial, graças ao poderio ofensivo de Rooney, Sterling e Sturridge e a uma base muito bem-montada, o que garante um conjunto sólido no todo. A longínqua Arena da Amazônia terá a honra de receber Itália x Inglaterra já na primeira rodada, dia 14.

GRUPO E
A Suíça foi agraciada pela Fifa com a cabeça de chave deste grupo. Então, bem pode justificar tal condição (que só deveria ser concedida aos campeões mundiais) fazendo uma boa campanha ao menos na primeira fase, na qual não deverá encontrar maiores dificuldades. Por mais que tenha se renovado, o futebol suíço, para mim, é sinônimo de retranca, chutão e jogo feio. Seria uma França piorada. Os Bleus nunca me convenceram, nem quando ganharam o título em seus domínios, e em 2010 sequer avançaram às oitavas. Mas têm jogadores mais habilidosos que o rival de histórica neutralidade, como o rápido Ribéry e o artilheiro Benzema. O Equador volta à Copa disposto a surpreender novamente, como fez em 2006, mas vai ser difícil, a seleção é muito fraca. Honduras deve aproveitar a Copa para fazer turismo pelo país – joga as duas primeiras partidas no Sul e encerra na Amazônia. Haja conexão!

GRUPO F
Rivalidade à parte, ver Messi jogar no Maracanã é um sonho que todo torcedor brasileiro sempre quis ver. É um desses momentos inesquecíveis que só uma Copa pode realizar. E os hermanos são favoritos absolutos não só do grupo, mas também para levantar a taça, em grande parte graças a ele, que chega um pouco fora de sua forma física ideal, o que é ruim para a equipe mas ótimo para os adversários. Curiosidade: este será o quarto encontro entre Argentina e Nigéria em uma Copa, dentre as cinco vezes em que o país africano participou (sempre perdendo). Apesar da derrota quase certa, as Águias devem garantir o segundo lugar do grupo. Pouco se espera do Irã – minha maior expectativa é ver se haverá torcedores iranianos presentes aos estádios e como aquele povo tão fechado irá reagir diante dos nossos costumes liberais. A Bósnia vai fazer sua estréia em Copas jogando no Maracanã contra a Argentina, o que já é a maior glória de sua curta história no futebol. Perder de pouco vai ser bom negócio. Uma das estrelas de pequena grandeza do futebol europeu, o atacante Dzeko terá seu nome escrito na história do torneio.

GRUPO G
À parte o banho de bola que levou na semifinal da última Liga dos Campeões Europeus para o Real Madri, o Bayern de Munique ainda é considerado o melhor time do mundo atualmente, e é a base da seleção da Alemanha. Logo, os alemães têm a melhor seleção do mundo, certo? Não exatamente. É verdade que os germânicos chegam ainda mais fortes à essa Copa do que há quatro anos, com um poderio ofensivo altamente respeitável, um conjunto sólido e com jogadores muito habilidosos. Em termos de resultado, porém, não têm obtido sucesso, já que há anos não levantam um título. O segundo lugar do grupo deve ficar com Portugal, que continua sendo uma seleção algo irregular, mas se garante graças à estrela Cristiano Ronaldo. Mas o grupo é complicado. Gana e Estados Unidos são equipes em constante evolução e podem complicar a caminhada dos dois europeus. Curiosidade: desde 1998 a Alemanha já jogou contra as outras três equipes deste grupo em algum momento do Mundial, e sempre saiu vitoriosa. Um efeito psicológico de peso considerável.

GRUPO H
A Bélgica chega prometendo ser a grande sensação da Copa. Com uma geração muito habilidosa, pratica um futebol veloz e de técnica afinada. Destaques para Hazard, Januzaj (que tem tripla nacionalidade, mas optou pela belga), o raçudo Fellaini, Kompany, Lukaku e o ótimo goleiro Mignolet, todos titulares em seus times na Premier League. Para alçar os vôos que dela se esperam, porém, a Bélgica deve quebrar um incômodo tabu: caiu nas oitavas em 1990, 1994 e 2002 e sequer passou da primeira fase em 1998. A Rússia deve usar a Copa do Brasil como laboratório para a próxima edição, que será lá. Vai travar uma curiosa disputa pela vaga com os belgas e com a Coréia do Sul, que pode arrancar pontos preciosos dos compatriotas de Putin, já que o confronto entre ambos será na quente Arena Pantanal, o que certamente será sentido pelos europeus. O ataque da Argélia passou em branco na Copa de 2010 e há cinco jogos a seleção não faz gols pelo torneio. Os argelinos ficarão felizes se saírem do Brasil com pelo menos um golzinho marcado.