quarta-feira, 4 de março de 2015

Nas mãos de um pesadelo

As mãos de Orlac (1923)
Em 1919, O gabinete do Dr. Caligari dirigido por Robert Wiene e estrelado por Conrad Veidt, marcou o início do Expressionismo alemão no cinema. Quatro anos depois, a mesma dupla voltou a se reunir e realizou mais um dos clássicos daquele período, As mãos de Orlac.

O renomado pianista Paul Orlac está voltando para casa após uma série de concertos quando sofre um acidente no trem em que viajava. Consegue escapar com vida, mas sofre a perda mais dolorosa para qualquer pianista e tem as mãos amputadas. Os médicos transplantam para Orlac os membros de Vasseur, um serial killer recentemente condenado e executado. Sabedor dessa informação, o agora ex-virtuose das teclas passa a apresentar um comportamento estranho e violento, com ímpetos criminosos. A situação se complica quando ele começa a ter visões de um homem que se diz Vasseur, e que deseja atribuir a ele a autoria de vários crimes ainda não solucionados. Tudo pode ser apenas num delírio da mente perturbada de Orlac... ou não.

O tema da transferência de personalidade a partir do transplante de partes de corpos de outra pessoa seria amplamente explorado pelo cinema nas décadas seguintes, em maior ou menor grau, com pequenas ou grandes variações. Oliver Stone fez quase uma paródia deste clássico em A mão (1981), um de seus primeiros filmes (pouco conhecido e hoje esquecido até por nunca ter sido lançado em DVD), em que a vítima de manoplas assassinas é um pobre cartunista (Michael Caine), que recebe também os membros transplantados de um psicopata. O espetacular Santa sangre (1989). de Jodorowsky, também faz uma referência a este aqui, com a inesquecível fala final do protagonista: "Minhas mãos... estas mãos!"

Embora o visual do filme seja menos impactante visualmente que o trabalho mais famoso de Wiene, estão lá as principais características do movimento: os ambientes opressores, a fotografia contrastante entre luz e sombras, o gestual grosseiro na interpretação e o clima constante de pesadelo, confundindo o espectador em sua percepção de delírio e realidade.

Pena que a edição da Magnus Opus é tão pobre quanto a maioria, trazendo apenas biografias e fotos como extras. Um filme a ser descoberto ou revisto.

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