quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Especial - A cidade dos mistérios intermináveis - Parte II

Os últimos dias de Laura Palmer (1992)
No Brasil, Twin Peaks foi anunciada com estardalhaço pela Rede Globo no verão de 1990, com as chamadas ressaltando que a série era o maior fenômeno de audiência da televisão norte-americana. Sua exibição foi programada para as noites de domingo, depois do Fantástico. No entanto, na prática, o tratamento dispensado pela emissora foi inversamente proporcional à importância que conferiu à atração. Os oito episódios da primeira temporada foram exibidos cheios de cortes, criminosamente editados, o que deixava a trama ainda mais confusa e praticamente sem sentido.

Como naquele tempo não existia internet e as informações custavam a circular por aqui, pouca gente percebeu o truque só quem já tinha visto a série na TV americana notou a mutilação que a Globo tinha promovido. Em resumo, o canal atraiu a atenção do público, manteve a audiência graças a um reiterativo esquema de divulgação do produto e traiu os espectadores exibindo uma série híbrida.

Mas a trajetória de Twin Peaks na televisão brasileira não podia ficar marcada por esse absurdo cometido pela Globo. Três anos depois, a Rede Record adquiriu os direitos sobre a série e a exibiu na íntegra, conferindo a ela o respeito que lhe era devido. A iniciativa foi muito bem-recebida, e deu tão certo, que pouco tempo depois a emissora também apresentou a segunda temporada, igualmente anunciada com relevância: "Nunca antes exibida na televisão brasileira".

Dale Cooper e um dos objetos de culto da série: o gravador.
Porém, se ela tivesse permanecido na obscuridade não teria feito a menor falta. Como todos os mistérios já haviam sido solucionados na primeira leva, o jeito foi inventar novos desdobramentos, criar novas tramas e com isso, o que era original acabou se tornando cansativo. A saída encontrada pelos produtores foi costurar uma colcha de retalhos que durou 22 episódios, ao longo dos quais pouco há de interessante, e ainda terminava de forma anticlimática, com o agente Cooper deixando aberta a porta para uma provável terceira temporada, que, felizmente, permaneceu engavetada. Até agora.

Mas nem o fracasso que foi essa equivocada segunda temporada fez com que enterrassem a mística em torno de Twin Peaks. Como se ainda houvesse explicações a dar e mistérios a resolver, em 1992, chegou aos cinemas Twin Peaks – Os últimos dias de Laura Palmer, uma espécie de preqüência da série que, supostamente, justificava o comportamento dos personagens e revelava a vida pregressa da garota. O filme foi um fracasso de bilheteria, não agradou os fãs da série e muito menos angariou novos admiradores, sobretudo pelo roteiro extremamente fragmentado, que, além de não explicar nada de maneira satisfatória, era confuso demais e praticamente ininteligível para quem não conhecia a história. Há quem o considere o pior filme de David Lynch.

Você está entrando novamente em Twin Peaks. Seja bem-vindo!
O longa acabou sendo a pá de cal em uma produção que ganhou os ares do universo pop e ultrapassou a fronteira que a marcaria no tempo, perenizando-se em um culto que persiste até hoje. Objetos citados na série viraram itens disputados. Uma réplica do gravador usado pelo detetive Cooper chegou a ser leiloada nos Estados Unidos. Por aqui, a Editora Record lançou O diário secreto de Laura Palmer, a pista principal para a resolução do mistério. Também serviu de inspiração e referência para produções posteriores, inclusive Picket Fences, que a mesma Record exibiu na seqüência, tentando capitalizar ainda em cima do sucesso da anterior. 

Será que daqui a 20 anos também celebraremos o legado dessa vindoura terceira temporada? A partir de 2016 começaremos a responder.

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Especial - A cidade dos mistérios intermináveis - Parte I

Twin Peaks (1989)
A nota era breve, não mais que dez linhas, mas tive de lê-la várias vezes para ter certeza que era aquilo mesmo. O canal Showtime prepara o lançamento da terceira temporada de Twin Peaks para 2016. Serão nove episódios, com os roteiros ficando a cargo dos criadores da série, Mark Frost e David Lynch, cabendo a este último ainda a direção de todos eles. A grande pergunta que se impõe é: para quê?

Se você era muito criança, ou nem era nascido no final dos anos 80 / comecinho dos 90, provavelmente não faz idéia do faniquito que a nota acima provocou nos meios televisivos. Hoje nos acostumamos a celebrar a excelência de muitas séries de TV, que vêm se firmando como terreno de qualidade da produção audiovisual, sobretudo nos Estados Unidos, superando os produtos genéricos e imbecilizantes produzidos por Hollywood. Comentamos as tramas inteligentes e bem-boladas de Breaking bad, Mad men, The walking dead e um infinito de tantas outras. Há quem diga que a explosão do atual ótimo momento vivido pelas séries começou há cerca de de 20 anos, com o lançamento de Friends (1994) e se cristalizou com Lost (2004), cujo sucesso de ambas impulsionou produções semelhantes em termos de ousadia criativa e roteiros bem escritos. Pode ser, mas também não é exagero voltar um pouco mais no tempo e afirmar que tudo que está aí partiu de Twin Peaks. Foi o grande divisor de águas da televisão norte-americana. Foi o trampolim para outros saltadores desfilarem seu talento aos olhos da audiência e do público.

Pela estrada afora, eu vou bem sozinha...
A primeira distinção que se fez a Twin Peaks na época foi o nome por trás do projeto. David Lynch já era um cineasta consagrado quando resolveu criar esse lúgubre microcosmo de seu universo muito particular, povoado por personagens bizarros e situações esquisitas. Não era mais uma aposta, mais um novato se arriscando na condução de uma trama televisiva banal: era Lynch, diretor de cinema, indicado ao Oscar por O homem elefante, reconhecido por filmes como Veludo azul, o homem que ousou adaptar Duna para a tela grande. Hoje ninguém se espanta se vir o nome de Spielberg, ou Scorsese, ou Soderbergh nos créditos de direção de uma série, mas naquele tempo era novidade. Mais: uma mostra de como a televisão estava se engrandecendo, atraindo a atenção de pessoas ligadas ao cinema. A série estreou cercada de expectativa por conta disso, e a resposta do público foi a mais animadora possível, batendo recordes de audiência.

Catherine E. Coulson, a Mulher do Tronco.
A jovem estudante Laura Palmer é encontrada morta e ensacada à margem do rio que atravessa a cidade, fato que abala a aparente tranqüilidade do lugar. O FBI envia o investigador Dale Cooper para descobrir o que aconteceu, mas, à medida que ele vai se embrenhando no caso, descobre que todos os moradores de Twin Peaks guardam segredos sombrios, e que cada um deles tinha uma razão particular para matar a garota. A trama oferece um desfile de personagens antológicos, como a Mulher do Tronco, a Dama Tapa-Olho, o Homem-de-um-Braço-Só e muitos outros. O detetive também não fica atrás em matéria de esquisitice e gosta de gravar suas descobertas e impressões em um pequeno gravador, a que chama de Diane.

A estrada perdida no coração selvagem da América.
Um dos grandes acertos da série foi o elenco homogêneo. Lynch apostou em veteranos que andavam em baixa e, de certa forma, conseguiu pô-los novamente na vitrine: Richard Beymer (Amor, sublime amor), Russ Tamblyn (Sete noivas para sete irmãos), Piper Laurie (Desafio à corrupção) e mesmo Grace Zabriskie que, embora nova, já tinha créditos valiosos no currículo (Norma Rae). Aliados a eles, vinha a ala jovem, composta por novatos que aproveitaram a chance para fazerem a carreira deslanchar, como Lara Flynn Boyle (Equinox), Madchen Amick (Sonâmbulos e muitas outras séries), Sheryl Lee (está no recente Pássaro branco na nevasca). Também voltou a trabalhar com nomes já conhecidos de outros filmes seus, como Everett McGill, Jack Nance, e o destaque do elenco, Kyle MacLachlan, que faz o detetive, este egresso dos anteriores do diretor Duna e Veludo azul; logo depois fez The Doors, de Oliver Stone, e ainda estrelou produções de alguma importância (Os Flintstones, Efeito dominó, Timecode de Mike Figgis) e já está confirmado para repetir seu papel de maior sucesso na nova versão anunciada.
(Continua)

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Séries Fritas - Adotada

Onde e quando: MTV, terça-feira, 21h30; quinta-feira, 22h; sábado, 16h e 21h30; domingo, 00h; e segunda-feira, 19h30.
Elenco: Maria Eugênia.
Sinopse: Maria Eugênia vive uma semana como filha adotiva em casas diferentes.


Comentários: No ano passado, a MTV produziu Papito in love, que era exibido à exaustão pela emissora e no qual o roqueiro Supla escolhia uma namorada entre diversas candidatas. A vencedora foi uma tal Maria Eugênia, ou Mareu, que aqui se apresenta como DJ e produtora de moda. Verdadeiro ou peça de marketing, o fato é que o namoro acabou logo, mas a moça tentou se dar uma sobrevida no meio artístico e criou esse programa para brilhar sozinha e explorar sua imagem até o bagaço. Os executivos do canal também devem ter visto potencial nela, porque encamparam a idéia. Portanto, este Adotada é um um spin-off de reality show, coisa que eu nunca tinha visto. O esquema funciona assim: a cada semana, Mareu vai morar como filha adotiva de alguma família, geralmente de classe média ou média alta, quase sempre em São Paulo ou cidades próximas do Grande ABC (mas também há episódios gravados no Rio de Janeiro, Espírito Santo e até na Bahia). Diz que nunca tem idéia do que vai acontecer, mas é claro que deve haver um roteiro pré-preparado para ser seguido por quem topa recebê-la. Durante sete dias, ela interage com os habitantes da casa, os membros da família, participa de seu cotidiano, até dá expediente no trabalho do pai, da mãe ou de algum dos filhos. Também os faz experimentar um pouco do seu mundo, levando-os para baladas, festas e agitos, dando dicas de moda etc. Embora seja simpática, brincalhona e não tenha problemas para se entrosar localmente  ao menos é a imagem que passa  , é claro que surgem desavenças, muitas causadas pela língua ferina da moça, que fala o que pensa e não se incomoda em chocar ou desafiar normas familiares estabelecidas. Em um dos episódios, por exemplo, ela bateu de frente com um pai cujo filho é homossexual e não respeita nem aceita a opção do rebento. Então, fingiu ser transexual (!) para que o chefe da família reavaliasse seus preconceitos. Na base da conversa, que eventualmente descamba para a discussão, mas felizmente sem baixaria nem violência, tenta mostrar a visão muitas vezes bastante conservadora (para não dizer preconceituosa mesmo) que cerca as pessoas e as contradições sociais que ainda persistem no seio da família tradicional brasileira. Como todo mundo sabe que tudo é gravado, não sei até que ponto vai a naturalidade das situações ou começa a encenação. Mas este é um problema inerente de todo reality show. A contrapartida vem no final. Mareu escreve um dossiê com as impressões que teve daquela família, expõe o que viu de bom e ruim e deixa dicas para melhorar a convivência entre todos.



Por que ver? Não deixa de ser uma opção diferente para quem gosta desse tipo de atração. E Maria Eugênia é boa de se pôr os olhos (descontada a magreza excessiva).
Por que não ver? É mero entretenimento, sem qualquer conteúdo. E é sempre constrangedor ver pessoas comuns se expondo na televisão, tudo em troca de alguns trocados.

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Festival do Rio 2014 - Segunda semana

Vi 51 filmes no Festival deste ano, três a menos que ano passado. Mas a culpa foi da escalação dos horários, muito ruins para encaixar alguma coisa entre uma sessão e outra, e também da supressão das sessões ao meio-dia. Pela primeira vez desde 2002, saio do festival sem conferir a cotação máxima a um filme, o que pode significar duas coisas: ou o nível do cinema produzido hoje é mesmo pouco animador, ou estou me tornando extremamente exigente. 

A seguir, o que vi na segunda semana do Festival, entre os dias 2 e 8 de outubro.

ENCANTADOS ­- Mais uma imersão de Tizuka Yamasaki na Região Norte, agora contando uma aventura balizada pelos místicos caruanas de Belém. Produção cuidadosa, fotografia belíssima e elenco estelar (obviamente tem Dira Paes). Agradável de ver, mas o roteiro apressa algumas soluções. Carolina de Oliveira cada vez mais interessante, tanto no talento quanto na beleza. * * *

VIDA FÁCIL - Da mostra Clássicos Restaurados de Hitchcock, este foi o único que consegui encaixar na programação. É tão fraco quanto a maioria de seus títulos da fase inglesa, mas a sessão valeu pela experiência: um filme mudo acompanhado de música ao vivo. E, no fim das contas, foi o primeiro Hitch que vi na tela grande! * *

ONÍRICA - O diretor de O moinho e a cruz volta com um mais um filme de imagens impressionantes, de rara beleza, algumas beirando o surreal e muitas antológicas, como a cobra no supermercado e o baile de gala no meio da floresta. Porém, é um filme difícil, muito hermético e por vezes pretensioso, em especial nas citações literárias. * * *

10.000 KM - O título se refere à distância entre Barcelona e Los Angeles, cidades que abrigam o casal de namorados que formam as únicas pessoas em cena. Ele fica na Espanha, ela se muda para a América, a fim de desenvolver projetos profissionais. Não é fácil manter um relacionamento onde cada um mora em um canto, e falo por experiência própria. O filme retrata muito bem a situação, com todas as conseqüências que ela traz a reboque. Eu me identifiquei com o personagem, senti sua dor, entendi sua revolta. O roteiro também evita o final redentor. Enfim, a vida como ela é. * * *

O ARDOR (El ardor) - Tem um problema sério que é a alternância constante de gêneros ao longo da narrativa, só que sem coerência: começa como drama, vira aventura na selva, ambiente no qual se passa quase inteiramente, filme de suspense e termina como faroeste, com direito a duelo final e tudo. O personagem de GG Bernal é mal definido, parece ter poderes místicos mas isso não se explica. Alice Braga, coitada, só serve para cumprir cota de atriz porque não tem o que fazer. Um tanto violento em alguns momentos, também tem uma trilha sonora óbvia e irritante. * *

GONZÁLEZ - Pensei que este seria o contraponto perfeito à A Via-Crúcis (visto na primeira semana), ou seja, um filme movido pelo discurso ateu, pelo que se depreende da sinopse. Mas o roteiro sequer menciona a condição do protagonista, um pobre-diabo desempregado que vive na capital mexicana, sem perspectiva, e que aceita trabalhar com teleatendimento em uma igreja evangélica. Do meio para o final, ele enlouquece e o que era uma crítica às igrejas evangélicas vira história policial, tudo sem muita sustentação. Carlos Bardem (irmão mais velho de Javier) faz um pastor que finge ser brasileiro e fala em portunhol! * *

CARVÃO NEGRO - O grande vencedor do Festival de Berlim é uma reinvenção do gênero noir, sem nada de muito especial. Com uma premissa de filme de horror barato – pedaços de corpos são encontrados em uma carvoaria – , o filme tem ritmo um tanto arrastado, alternando cenas frias com outras explosivas, de forte tensão (o tiroteio no salão, logo no começo). O romance nunca se impõe, a trama investigativa parece dar voltas e a duração podia ter uns bons dez minutos a menos. O final também é anticlimático. A premiação em um dos festivais mais importantes do mundo mostra que o nível dos filmes de hoje não é mesmo dos melhores. * *

MASSAGEM CEGA - Dramas e alegrias de um grupo de cegos que trabalham como massagistas em uma clínica, em Nankin. Total falta de assunto encerada por quase duas horas sem que nada de interessante aconteça, embalada por diálogos por vezes de uma indigência constrangedora ("Você é mais linda que um cozido de porco"!). Salva-se o aspecto humano dos personagens. * *

AS HORAS MORTAS - Um delicado e sensível rito de passagem. Favorecido por uma coincidência climática, que provocou chuva durante quase todo o período da produção, ganhou uma interessante metáfora atmosférica: é triste e cinzento durante grande parte do tempo, mas ensolarado e esperançoso no final. * * *

ANNABELLE - A boneca de Invocação do mal ganhou vida própria, literalmente. Este filme é uma preqüência daquele e mostra a origem do brinquedo demoníaco. O outro é melhor, tem muito mais clima, mas este não é de todo ruim, embora prejudicado por sustos um tanto óbvios, trilha sonora redundante e um elenco pouco empenhado. Um pouco frustrante, mas diverte, desde que não se exija muito. Parece piada, mas a atriz principal é... Annabelle Wallis (da série The Tudors)! * *

O PORTAL DO PARAÍSO - Este é o famoso filme de Michael Cimino que levou à falência do estúdio United Artists, até hoje considerado o maior prejuízo da história do cinema, tendo custado US$ 40 milhões e rendido apenas US$ 1 milhão! Nunca o tinha visto e, talvez por descobri-lo só agora, na tela grande, não o achei tão ruim quanto sempre ouvi falar. Mas é fácil entender os motivos do fracasso. O primeiro, evidente, sua longuíssima duração de 220 minutos (quase quatro horas!), o que é um suicídio comercial e espanta as pessoas. Produzido no começo dos anos 80, ou seja, em plena Guerra Fria, ficou muito estranho para o público norte-americano aceitar a idéia de ter uma colônia de imigrantes russos estabelecida em seu território, servindo como elemento formador da identidade ianque, ainda que a presença deles ali possa ser lida como metáfora política: os "inimigos" estão entre nós e é preciso eliminá-los. Também demora a começar de fato, com um prólogo de 20 minutos em que há muita música e dança para introduzir os personagens. O maior equívoco, contudo, é a falta de foco do roteiro. Não há um conflito que se imponha de verdade, que mova a narrativa adiante ou que dê força às situações. A ação efetiva só ocorre a partir dos 40 minutos finais, e até é bem-conduzida, mas até chegar lá muita gente já desistiu e debandou (mas na sessão a que estive presente o público se manteve fiel o tempo todo). Até que ela chegue, há uma sucessão de cenas que não conferem unidade ao todo e soam dispersas, isoladas dentro de um conjunto lento e que não seduzem o espectador. Apesar dos defeitos explícitos, o filme foi indicado ao Oscar de Direção de Arte e tem na fotografia do grande Vilmos Zsigmond e na trilha sonora belíssima seus pontos altos. Mas há algo de muito errado com um faroeste cujos melhores momentos estão nas cenas musicais. * *

OBVIOUS CHILD ­- O texto parece ter sido escrito por um adolescente espinhento, que deve achar muito engraçado usar palavras chulas em situações cotidianas. Mas, a julgar pelas gargalhadas ouvidas durante a sessão, a platéia deve ter gostado bastante. * *

A FACE DE UM ANJO (The face of an angel) - Não funciona este jogo metalingüístico de Winterbottom, outro bom diretor que perdeu o viço. O roteiro, baseado em escandaloso caso jurídico real, parte de uma hipótese investigativa e não caminha para lugar nenhum. *

MEIA HORA E AS MANCHETES QUE VIRAM MANCHETE - O formato quadrado e antigo – só entrevistas sob um fundo branco – não chega a atrapalhar este divertido documentário sobre o jornal carioca, famoso por suas manchetes irônicas e engraçadinhas. Fundamental para estudantes de Comunicação, é uma boa aula sobre jornalismo popular. * * *

OLHOS DE LADRÃO - Embora seja baseado em fatos reais, o representante palestino a uma vaga ao Oscar de Filme Estrangeiro não tem uma trama atraente e mal trata da questão da identidade local (a guerra só aparece bem no começo). A menina é por demais antipática e a história se mantém fria do começo ao fim. * *

VOCÊ NÃO ME PEGA, PAPAI ­- Já começa de maneira estranha, com uma voz em off narrando uma espécie de poema ritualístico. Depois, a esquisitice se impõe, com personagens desajustados, uma trama familiar pessimamente explicada e uma opção narrativa inadequada, só com trilha sonora incidental. Vai piorando, ficando cada vez mais violento e desagradável, até um final inconcluso. Nem a tradução faz sentido, já que quer dizer exatamente o oposto do título original (Catch me daddy). Mais um descartável filminho independente inglês. * *

LAST HIJACK ­- Um assunto sério e atual (a pirataria na Somália) desenvolvido de forma um tanto preguiçosa. Os diretores centram a história em um nativo que planeja seu último ataque antes de mudar de vida. Não há dados nem informações relevantes a respeito da atividade; limita-se a revelar que a pirataria é a oportunidade que os meninos pobres de lá têm para ganharem dinheiro. Os ataques aos navios são reproduzidos em boas as seqüências de animação. * *

RECOMENDADO PELO ENRIQUE - Difícil saber qual era a idéia do casal de diretores ao realizar isso aqui. Um filme absolutamente inútil, que não apresenta qualquer conflito, não explica os personagens, nem sequer cria um clima, seja de comédia, de suspense ou qualquer outra coisa. Perda de tempo, de paciência e da grana de quem pagou.

POR CIMA DO SEU CADÁVER - O cultuado Takashi Miike leva seus exageros sanguinolentos para o universo do teatro. Um casal de atores interpreta os papéis principais em uma peça cujo texto guarda semelhanças com o atual momento que vivem. Tudo desemboca em uma terrível vingança. Bem no estilo do diretor; os fãs podem estranhar a princípio, mas vão gostar. * * *

VARA – UMA BÊNÇÃO - Mais um bom retrato da diferença de classes da sociedade indiana, temperado com religiosidade e danças folclóricas. Mas não é Bollywood. A história é também uma oportunidade de conferir um outro tipo de cinema feito naquele país. * * *

OS INIMIGOS DA DOR ­- As desventuras de um ator alemão perdido em Montevidéu. O choque cultural se limita às dificuldades idiomáticas entre os personagens. Os poucos diálogos reforçam o aspecto físico das situações, de onde o roteiro extrai graça. Tem potencial para uma continuação e até uma série de TV. Mas não é nada demais. * *

VULVA 3.0 - O documentário perde a chance de discutir aspectos históricos e sociais da exposição do órgão sexual feminino e se atém ao estético, debatendo questões relacionadas à sua anatomia ou apresentando casos de reconstrução. Frustrou muita gente, não que se esperasse erotismo, mas por se manter tímido na abordagem de um assunto polêmico. * *

REMAKE, REMIX, RIPOFF - Documentário sobre o cinema popular feito na Turquia, sobretudo entre os anos de 60 e 70, mas também são citadas produções mais recentes, dos anos 80. Diretores, atores e produtores famosos a nível local lembram daqueles tempos e contam detalhes curiosos e engraçados, como o uso de trilhas famosas de Hollywood em filmes turcos sem qualquer problema (e sem pagamento de direitos!) ou como os cineastas conseguiam ser criativos para rodar versões locais de sucessos norte-americanos. Bastante completo, examina também os motivos da derrocada dessa indústria. Divertido e fundamental para quem gosta de conhecer a cultura cinematográfica de outros países. * * * *

O PRESIDENTE - Makhmalbaf destila sua amargura contra o sistema que o exilou nessa farsa política sobre a queda de um ditador de uma república fictícia. Embora tenha ótimos momentos e uma cena final bela e simbólica, achei que o diretor foi muito direto em sua crítica, sem nenhuma sutileza. Há problemas: o menino trabalha bem, mas sua presença reforça uma certa pieguice que manipula as emoções da platéia; com quase duas horas de duração, carece de uma edição mais enxuta, que tornaria o ritmo mais ágil. E o roteiro não apresenta heróis com quem o espectador possa se identificar – o ditador é um tirano e o povo, justiceiro. * *

O DESAPARECIMENTO DE ELEANOR RIGBY – ELES (The disappearance of Eleanor Rigby: them) - Esta é a primeira parte de uma trilogia que contará a mesma história por três olhares diferentes, daí o "Eles" no título; os próximos serão "Ele" e "Ela". Jessica Chastain e James McAvoy caminham a passos largos para serem indicados ao Oscar por este drama romântico que foge ao convencional. Diálogos inteligentes e afiados, em especial nas cenas entre ela e Viola Davis. A vida real como ela é, sem soluções fáceis nem final redentor. * * *

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Festival do Rio 2014 - Primeira semana

Estou convencido de que o ano passado foi um ponto fora da rota na organização do Festival do Rio. Tudo o que serviria de parâmetro a partir de então foi esquecido, em parte, certamente, pela indefinição sobre o futuro do Grupo Estação: vai fechar?, não vai fechar? Como programar filmes para salas que não se sabia se estariam funcionando na época? E nós, que nada temos com isso, é que somos os grandes prejudicados. Nunca vi um evento cultural gerar mais estresse do que euforia no público. Isso não pode ser assim. O Festival é uma atração turística da cidade, precisa ser bem-tratado e organizado de forma profissional, senão quem vem de fora simplesmente não volta depois. É difícil entender isso?

Também os atrasos voltaram a acontecer, mesmo que pequenos, de cinco ou dez minutos, o que pode ser fatal para quem monta uma programação com horários próximos e cinemas nem tanto. No meio de tudo isso, há o cinema, claro. Eis o que vi na primeira semana, compreendida entre os dias 25 de setembro e 1º de outubro (alguns títulos foram traduzidos por conta própria; o título de exibição está entre parênteses):

MARÍA E O HOMEM ARANHA - Por trás da aparente aventurinha infantojuvenil, se revela um drama sério e trágico, mostrando uma realidade que raramente vemos no cinema argentino, a vida nas periferias (seria o "favela-movie" deles). O Homem Aranha é um menino que faz malabarismos no metrô de Buenos Aires. Tudo conduzido de forma sóbria, sem música, sem ação do poder paralelo e sem festa na laje. * * *

PESSOAS EM LUGARES ­- Tem a mesma estrutura narrativa de Vocês, os vivos e filmes similares, ou seja: várias esquetes, sem muita ligação entre si, compondo um mosaico da existência humana em situações diversas. Confesso que já estou me cansando desse tipo de filme. Este é ainda pior por nem ser engraçado como se pretendia. A melhor piada é a dos ladrões que arrumam a casa em vez de roubá-la! Um rosário de astros espanhóis em pequenas aparições (Carlos Areces, Antônio de La Torre, Maribel Verdu envelhecida mas ainda linda e muitos outros). *

O FUTURO - Logo no primeiro dia e já surge o candidato a pior filme do festival. Com tanto filme bom que ficou fora da seleção, o jeito foi arrumar qualquer coisa para oferecer ao público, que paga para ver uma joça como essa. A "história" se passa inteiramente durante uma festa, na época da Movida Madrilenha (começo dos anos 80), onde jovens dançam e se divertem, esperançosos do porvir. Os diálogos não dizem nada: tudo é comentado pelas letras das canções que tocam o tempo todo e reproduzem pensamentos de revolução e liberdade. Tem um simbolismo visual interessante (o buraco negro que cobre os personagens no final), mas é só. A idéia era ótima: opor a esperança da juventude espanhola naquele momento com a crise atual. Só que o diretor optou pela displicência e jogou fora o potencial do filme. Parece interminável, mesmo mal chegando a 70 minutos.

ASTERÓIDE - Uma mulher volta para a casa do irmão e tenta aparar arestas passadas. Um tema já visto à exaustão no cinema não ganha nada de original nesse drama mexicano frio e sem maiores destaques. Nem os aplausos protocolares foram ouvidos ao final da sessão, que foi apresentada pelo diretor. Este asteróide só fica orbitando e nunca chega a lugar algum. * *

MAPAS PARA AS ESTRELAS - Depois de Marcas da violência, David Cronemberg passou a ser finalmente visto como um cineasta sério e respeitado pela indústria. Um reconhecimento tardio e merecido. No entanto, de lá para cá, seus filmes vêm se tornando cada vez mais difíceis de ver. Se por um lado eles ganharam um capricho maior na produção e um refinamento na direção de arte, o que lhes garante qualidade superior, por outro, ficaram de uma lentidão narrativa tão excessiva que se tornaram entediantes. Seu último trabalho, Cosmópolis, chegava a ser penoso de assistir, mas pelo menos tinha a desculpa de se basear em livro igualmente chato, de Don de Lillo. Aqui, Cronemberg chega ao limite do enervante. É verdade que poucas vezes se viu na tela uma crítica tão ácida e devastadora à fábrica de sonhos que é Hollywood, embora o tema já tenha sido explorado outras vezes (O jogador, de Robert Altman; e, mais recentemente, Cidade dos sonhos, de David Lynch). Há também toneladas de referências e citações a outros filmes e brincadeiras cifradas que o cinéfilo mais atento e experimentado saberá identificar. O grande problema é que a história simplesmente não cativa o espectador, que se aborrece com o ritmo claudicante da narrativa e não consegue simpatizar com qualquer um dos personagens. A única centelha de energia do filme é Julianne Moore. Ensandecida, histérica, amarga, patética, despudorada, sempre na medida. É uma das grandes atuações femininas do ano (ganhou em Cannes) e pode finalmente lhe render o tão merecido Oscar. Aliás, o elenco principal tem bons nomes: John Cusack, Mia Wasikowska e dois queridinhos recentes do diretor, Sarah Gadon e Robert Pattinson, mais uma vez tentando se livrar do vampirinho que marcou sua carreira. O filme realmente não me agradou e me fez sentir saudade do Cronemberg dos velhos tempos. Se o preço do respeito é fazer trabalhos entediantes assim, melhor ser marginal. É bem mais divertido. * *

NOIVAS - Mulher se sente dividida entre manter o relacionamento com o companheiro, preso há seis anos, ou se entregar a um vizinho. Um retrato do sistema prisional georgiano, narrado de forma correta e enxuta, mas que termina de forma abrupta e inconclusa. * *

CORRENTE DO MAL ­- Terror à antiga, que investe no clima e na ambientação em detrimento dos recursos fáceis e descartáveis de hoje, como tripas à mostra ou torturas gratuitas. O roteiro, porém, erra ao não deixar claro que maldição é aquela que ronda os jovens do subúrbio. Espécie de homenagem involuntária ao gênero dos anos 80, mas com a moral inversa: aqui, o sexo não é a metáfora causadora das mortes, mas uma solução para evitá-las. Não há, contudo, cenas eróticas. * * *

SÓ DEUS SABE - Rotina de uma viciada sem-teto de Nova York. Baseado em livro escrito por Ariella Holmes, que interpreta o papel principal, cercada de um elenco inteiramente desconhecido, e que até se sai bem. E ela acaba sendo o maior entrave à credibilidade da história: é linda e "limpinha" demais para convencer como mendiga. A história também não desperta maior interesse. Salva-se a estética documental e propositalmente suja. * *

METAMORFOSES - Uma interessante recriação de lendas conhecidas da mitologia grega, transpostas para o dia de hoje e encenadas em ambientes bucólicos (matas, montanhas). É o filme menos gay de Honoré. Tem um visual bonito, explorando a beleza das locações, mas é um tanto arrastado. * *

PERDIDO EM KARASTAN - Menos engraçada do que promete a sinopse. Karastan é uma república fictícia que promove seu primeiro festival de cinema e homenageia um diretor medíocre e desconhecido. Razoável no contraste cultural, com situações que parecem incompletas e piadas fracas. Também se compromete com um crescendo de violência incompatível com a proposta. Teve um absurdo atraso de meia hora por causa de problemas técnicos! * *

A VIA-CRÚCIS (Stations of the cross) - O filme é dividido em 15 cenas curtas, cada uma com o nome de uma estação da Via-Crúcis. Nestes quadros, conta-se a história da jovem Maria, em luta para manter sua fé e seu ideal de perfeição religiosa nos dias de hoje. Um apavorante retrato da devoção cega, dos limites a que uma pessoa pode chegar em nome de sua fé. O diretor usa câmera estática (menos em dois momentos) e rigorosa direção de arte para criar um ambiente ao mesmo tempo opressivo e poético. Um belo filme, capaz de dialogar com públicos variados: desde os católicos mais fervorosos (que poderão chegar ao limite de suas emoções), até os ateus. O título original em alemão, Kreuzweg, significa calvário. * * * *

ELA PERDEU O CONTROLE ­- A premissa lembra As sessões, mas, ao contrário daquele, a terapeuta daqui não está interessada em questões sexuais, atendo-se aos aspectos emocionais de seus pacientes. A história se mantém em fogo brando, caminhando pelo terreno mais seguro da narrativa convencional. Em seu primeiro longa-metragem, a diretora e roteirista Anja Marquardt optou por uma timidez que não combina com a ousadia sugerida pela idéia. * *

DESLIGANDO CHARLEEN - É uma boa surpresa este filme alemão, que consegue a proeza de tratar de um assunto sério e difícil (o suicídio adolescente) com leveza e bom humor, sem pieguice nem sentimentalismo. Uma adorável galeria de personagens disfuncionais animada por diálogos sarcásticos e certeiros. Muito boa também a trilha sonora de rock local. * * * *

TIMBUKTU - Com um roteiro muito disperso, que pulveriza inúmeras situações sem resolver nenhuma delas a contento, este novo trabalho do respeitado Abderrahmane Sissako, um dos nomes mais importantes do cinema africano, parece uma colcha de retalhos que termina sem a costura final. A cena do futebol invisível é linda e repleta de simbolismo. * *

INCOMPREENDIDA - Asia Argento mostra descontrole em sua terceira experiência como diretora, além de ser menos exuberante visualmente. A história, sobre uma menina que se sente deslocada no seio familiar após o divórcio dos pais, soa gratuita e irritante. Não dá para simpatizar com ela nem com qualquer outro personagem. * *

ENTERRANDO A EX (Burying the ex) - Decepcionante retorno de Joe Dante ao gênero que lhe rendeu fama, a comédia de horror. Tem algumas boas piadinhas referenciais, mas os diálogos são duros e muito pouco engraçados. O diretor e o elenco devem ter se divertido, mas faltou compartilhar isso com o público. Destaque para a competente direção de arte. * *

O MUNDO DE KANAKO - Quase insuportável de ver, com montagem esquizofrênica e ritmo videoclipado, esta trama policial até tem uma história interessante, mas desenvolvida de forma inadequada. O diretor quer se mostrar moderno, mas só consegue irritar o espectador. Desperdício de uma boa idéia. * *

CORAÇÕES FAMINTOS - O prólogo no banheiro assusta, mas depois a história entra nos eixos. Adam Driver (da série cômica Girls) tem chance de mostrar seu talento dramático e forma um contraponto perfeito com Alba Rohrwacher como os pais de primeira viagem que divergem quanto à criação do filho. Ambos foram premiados em Veneza e estão muito bem, ela melhor, como a mãe enlouquecida. A narrativa vai se alternando de gênero, passando do drama ao suspense, sem desviar a atenção. * * *

WHIPLASH - EM BUSCA DA PERFEIÇÃO - Alguns intérpretes passam a carreira toda escondidos em papéis de coadjuvantes ou em séries de TV, sem muita visibilidade e sem explorar todo o potencial que, em algum momento, ou quando lhe é dada a devida oportunidade, vem a público. É o caso de J. K. Simmons, um veterano com mais de 140 créditos e que certamente você já deve ter visto em algum lugar. Ele é a alma deste filme e tem uma atuação assustadora como o rígido professor de uma banda formada por adolescentes, que não perdoa o mínimo deslize e os trata com disciplina militar, tudo para alcançar a perfeição exposta no título e ser sempre o melhor. Seguramente uma das grandes interpretações do ano, e que deve lhe render uma merecida indicação ao Oscar. Simmons duela em talento com Miles Teller, o aluno preferido e que sofre com os métodos de treinamento (este é menos conhecido, fez muita bobagem até agora, como Projeto X, Finalmente 18, mas deve mudar de nível). Aliás, o filme certamente estará entre os finalistas, é um espetáculo, vibrante e arrebatador, bastante aplaudido ao final da sessão. O diretor Demian Gazelle (que, vejam só, foi um dos roteiristas de O último exorcismo 2) amplia seu curta homônimo de 2013, também estrelado por Simmons, e mostra vigor na condução da história. * * * *

TOP GIRL - No começo, parece um episódio de O negócio temperado com pimenta forte (tem até reunião de funcionárias). Mas tem um foco próprio, mostrando a rotina e os problemas de uma dominatrix profissional. Gosto de histórias que sirvam para desmistificar o universo S&M, mostrando seus adeptos e praticantes como o que são: pessoas comuns, com família, que apenas optam por um estilo de vida diferenciado. O recorte é benfeito, o roteiro é sério e sem sensacionalismo, mas a narrativa perde força no fim. * * *

A MÁQUINA DE MATAR PESSOAS MÁS - Uma rara comédia dirigida por Rossellini, também por ser praticamente desconhecida do grande público. A cópia apresentada foi a versão restaurada e tinha boa imagem. Feliz combinação de farsa, fantasia, crítica social e religiosa. Boas risadas em trama rápida e movimentada. * * *

GAROTA EXEMPLAR - Competente adaptação do romance homônimo de Gillian Flynn, que também escreveu o roteiro, o que explica a fidelidade integral de diálogos e situações, bem como a direção apenas correta de David Fincher, sem invenções ou maior destaque. Quem leu o livro vai gostar, mas a vantagem aqui é para quem não conhece a história e vai se surpreender com as reviravoltas da trama. Deve ser lembrado em algumas categorias do Oscar. * * * 

SONHOS IMPERIAIS - A velha história do ex-presidiário que tenta se reinserir na sociedade e tem de lutar contra seu passado criminoso que bate à porta. Rotineiro do começo ao fim. A única novidade é que aqui o cidadão quer ser escritor. Alternativa digna, mas quem é que ganha alguma coisa sendo escritor? * *

DEUS LOCAL - Com muito clima e pouca coerência, esse novo filme do mesmo diretor de A casa é uma decepção. Tão escuro quanto seu trabalho anterior, oferece pouquíssimos sustos, mas a ambientação lúgubre até que é boa. * *

ÍDOLO - Apesar do formato convencional, o documentário presta uma linda homenagem e faz justiça ao grande Nílton Santos, o gênio da lateral-esquerda. O público ri com as histórias de bastidores e se emociona em várias cenas, como a que mostra o último encontro entre ele e sua esposa Célia, ambos já debilitados por sérios problemas de saúde. Muitas entrevistas e uma profusão de imagens históricas. Mas a torcida do Botafogo pode sentir raiva, já que hoje temos de aturar os "irmãos" César enlameando aquela camisa gloriosa. * * * *

BEM PERTO DE BUENOS AIRES - Versão argentina de O som ao redor. Narrativa alegórica sobre o medo (o título original é História do medo) e o choque de classes na sociedade portenha em tempos de crise. Perde força na comparação. O nosso é melhor, até por ser original. * *