terça-feira, 26 de agosto de 2014

Oscarito 2014 – Todos os vencedores

Embora tenha ficado longe da unanimidade crítica quando de seu lançamento, Faroeste caboclo terminou consagrado na entrega da 14ª edição do Grande Prêmio Cinema Brasil, o Oscarito, realizada hoje (26/8) à noite no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Superou aquele considerado o grande favorito, O som ao redor, e arrebatou sete prêmios. O filme de Kleber Mendonça Filho teve de se contentar apenas com o prêmio de Roteiro Original. Outro vencedor de destaque na noite foi Cine Holliúdy, que ganhou como Filme de Comédia e Melhor Filme pelo Voto Popular, o que comprova a enorme empatia que o projeto teve junto às platéias, mesmo aquelas de fora do Nordeste. Prova também de que um bom filme é capaz de ultrapassar qualquer fronteira geográfica e ser compreendido por públicos variados.

Algumas surpresas. A principal foi a agilidade na condução da festa. Foi uma cerimônia bem enxuta, até rápida demais, com cerca de uma hora e meia de duração, imagino que por motivos de economia, para baratear o aluguel do espaço. Também achei surpresa o prêmio para os coadjuvantes, não que tenham sido equivocados, mas não considerava Wagner Moura ou Bianca Comparato favoritos nas categorias. Para manter a tradição, houve um empate, dessa vez em Efeitos Especiais (eu sei que o nome oficial é Visuais, mas prefiro chamá-lo pela nomenclatura antiga).

Veja abaixo a relação de todos os premiados no Oscarito de 2014.

FILME: Faroeste caboclo
DIRETOR: Bruno Barreto (Flores raras)
ATOR: Fabrício Boliveira (Faroeste caboclo)
ATRIZ: Glória Pires (Flores raras)
ATOR COADJUVANTE: Wagner Moura (Serra Pelada)
ATRIZ COADJUVANTE: Bianca Comparato (Somos tão jovens)
ROTEIRO ORIGINAL: Kleber Mendonça Filho (O som ao redor)
ROTEIRO ADAPTADO: Marcos Bernstein e Victor Atherino (Faroeste caboclo)
COMÉDIA: Cine Holliúdy
DOCUMENTÁRIO: A luz do Tom
FILME ESTRANGEIRO: Django livre (EUA)
FILME INFANTIL: Meu pé de laranja-lima
FILME DE ANIMAÇÃO: Uma história de amor e fúria
FOTOGRAFIA: Faroeste caboclo
DIREÇÃO DE ARTE: Flores raras
FIGURINOS: Flores raras
MAQUIAGEM: Serra Pelada
TRILHA SONORA: A luz do Tom
TRILHA SONORA ORIGINAL: Faroeste caboclo
MONTAGEM: Faroeste caboclo
MONTAGEM DE DOCUMENTÁRIO: Elena
EFEITOS ESPECIAIS: Serra Pelada e Uma história de amor e fúria
SOM: Faroeste caboclo
DOCUMENTÁRIO DE CURTA-METRAGEM: A guerra dos gibis
CURTA-METRAGEM: Flerte
CURTA-METRAGEM DE ANIMAÇÃO: O menino que sabia voar

VOTO POPULAR

FILME: Cine Holliúdy
FILME ESTRANGEIRO: Django livre (EUA)
DOCUMENTÁRIO: Elena

HOMENAGEM: Curso de Cinema da Universidade Federal Fluminense (UFF)

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

A obra-prima natimorta

Duna de Jodorowsky (2013)
A história do cinema registra inúmeros grandes filmes que nunca foram feitos, entre eles o Dom Quixote de Terry Gilliam, O coração das trevas de Orson Welles e, por quê não?, o Chatô do nosso Guilherme Fontes. O maior de todos, contudo, parece ter sido Duna, acalentado projeto de Alejandro Jodorowsky que nunca saiu do papel. Frank Pavich não tomou para si essa tarefa, mas fez um documentário expondo a história e de que modo ele poderia ter mudado os rumos do próprio cinema.

Pode-se amar ou odiar o cinema de Jodorowsky. Há os que o cultuam como um gênio verdadeiramente original e renovador da linguagem visual da Sétima Arte, entre os quais me incluo; outros o consideram um enganador, um charlatão. Mas não se pode é ficar indiferente a seu universo. Sua idéia de levar Duna para as telas vem da segunda metade dos anos 70. Ele se tornou um nome famoso na Europa graças à exibição, em Paris, de A montanha sagrada (1973). O filme encantou e hipnotizou o produtor Michel Seydoux (tio-avô de Léa Seydoux, de Azul é a cor mais quente), que se encontrou com o diretor e deu-lhe carta branca para fazer o que quisesse. Jodorowsky respondeu no ato, citando o nome do livro pelo qual havia se apaixonado.

Duna foi escrito por Frank Herbert em 1965. É considerado um monumento da literatura de ficção científica, a Bíblia do gênero. Ao longo de suas quase 700 páginas, desfila um universo impactante, repleto de figuras míticas, guerreiros, monstros, enfim, a essência de uma criação, capaz de transportar o leitor a um outro mundo e, mais importante, fornecer elementos suficientes para que abra sua mente e expanda seu horizonte intelectual e espiritual. No Brasil, foi publicado inicialmente pela pequena Editora Aleph e, posteriormente, pela Nova Fronteira.

Jodorowsky: antes de tudo, um visionário.
Com o aval de Seydoux, Jodorowsky se cercou daqueles que considerava os melhores e mais capacitados profissionais para concretizar o sonho de levar o livro para o cinema. Assim, escalou o premiado Jean Giraud, o quadrinista Moebius, para desenhar os storyboards; os efeitos especiais seriam criados por H. R. Giger, que se consagrou no final daquela década com Alien, o oitavo passageiro; a trilha sonora seria composta por sete bandas diferentes, cada uma para um universo particular de Duna, incluindo Pink Floyd, cujo álbum "Dark Side Of The Moon" cativou Jodorowsky. A maior ousadia, contudo, era no casting. O diretor sonhava em ter Mick Jagger, o pintor Salvador Dalí (que teria feito uma exigência salarial surrealista para participar), Orson Welles e David Carradine, este egresso da série Kung-Fu. O papel principal seria do próprio filho do diretor, Brontis, que chegou a ser treinado exaustivamente durante dois anos pelo mesmo professor de Bruce Lee (!) para apreender técnicas precisas de luta e movimentos.

A nave do imperador, na visão de Jodorowsky.
O diretor repete várias vezes que o seu Duna seria o maior filme da história do cinema, "algo que mudaria completamente a própria humanidade". Uma hipérbole presunçosa, talvez, mas quando vemos a arte criada por Moebius, reproduzindo as idéias do diretor, traduzindo-as em imagens por vezes delirantes, dá para ter uma noção de quão grandioso era o projeto. E é claro que não seria apenas mais um filminho descartável como tantos feitos em Hollywood: sendo uma obra de Jodorowsky, haveria uma mensagem metafísica, algo muito maior do que mero entretenimento. Gigantesco até na duração, porque o diretor o concebia como um filme de 12 horas, podendo chegar a 20!

Todo o infográfico do projeto foi reunido pelo diretor em um livro e distribuído aos estúdios de Hollywood. Os executivos ficaram impressionados com o material e muitos se dispuseram a filmá-lo, mas queriam que outro diretor tocasse o projeto. Claro que Jodorowsky não aceitou ("Era o meu sonho! Como vou deixar que outra pessoa mexa no meu sonho?"). As negativas constantes o levaram a uma longa fase de desânimo, na qual se distanciou do cinema e se embrenhou por outras áreas artísticas e pelo estudo de religiões.

As idéias nunca filmadas viraram livro.
A verdade é que o projeto foi considerado megalomaníaco demais, caro demais e, sobretudo, com baixa garantia de retorno, ou seja, provavelmente não seria compreendido pelo público. Era algo muito fora dos padrões hollywoodianos. A melhor explicação é dada por Richard Stanley, em uma das entrevistas: "Hollywood só se interessa pelo que entende. Uma mistura de vampiros com dinossauros é algo que faz sentido para eles, mas um filme com tamanha ousadia e com uma mensagem espiritual tão grande não seduz os estúdios." Muitos anos se passaram e essa definição nunca se mostrou mais atual. Seria diferente se Duna tivesse sido feito? Jamais saberemos.

Como todo mundo sabe, Duna chegou às telas em 1984, dirigido por David Lynch, escolha que Jodorowsky considerou acertada, porque era um cineasta que ele admirava. O resultado, contudo, foi desastroso e desagradou praticamente todo mundo. Ao que parece, nunca veremos o projeto original como pensado e estruturado por Jodorowsky. Mas partes dele ficaram espalhadas por diversos filmes, que aproveitaram alguns conceitos visuais criados para a Duna original, como O exterminador do futuro, Matrix e Contato, este utilizando toda a seqüência de abertura. E Jodorowsky também manteve a parceria com Moebius. Juntos criaram a série em quadrinhos Incal, outra obra que bebe nas referências criadas pelo diretor.

A considerar a crescente imbecilização do cinema norte-americano como um todo  e ouso dizer, da platéia de forma geral, refletindo a ignorância grassante em nossos tempos –, creio que nunca estaremos preparados para um projeto de tamanha magnitude estética ou espiritual, como acalentava o diretor.

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Em virtude da cobertura do Oscarito, o blog só volta a ser atualizado no dia 27 de agosto, com a lista dos premiados.

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Oscarito 2014 – Todos os indicados

Depois de analisar a lista dos indicados ao Oscarito deste ano, não me restou mais dúvida. Cada vez a Academia Brasileira de Cinema inventa alguma coisa, na tentativa ou de valorizar e premiar o que de melhor se produz por aqui ou, como já é uma desconfiança antiga, de agradar a todo mundo, nem que seja por uma lembrança, uma indicação, enfim, fazer aquela média com diretores e produtores. Há categorias com seis, sete e até oito indicados, não existe um limite? A Academia daqui se esforça tanto para copiar a de Hollywood e se perde em uma injustificada megalomania de coração materno, sempre abrindo espaço para mais um e mais outro, mesmo que isso gere um desequilíbrio de indicações.

Por outro lado, acabou sendo forçoso reconhecer o sucesso que as comédias fazem hoje no cinema nacional, a ponto de ter sido criada uma categoria só para elas. Um acerto, sem dúvida, ainda que o grosso da produção nacional continue escorregando quase sempre em subprodutos de qualidade duvidosa. Os indicados nessa primeira vez me parecem acertados e bem escolhidos.

São dois os recordistas em indicações este ano, cada um com 13 nomeações, mas não haverá disputa direta entre eles, porque Faroeste caboclo concorre à Melhor Filme, e Serra Pelada ficou fora do prêmio principal. Sua vaga foi cedida a Flores raras (segundo mais lembrado, com 12 indicações), creio que para recompensar um trabalho que foi menos visto e comentado do que se esperava. A história não é muito conhecida do grande público, e ainda ousou enquadrar o romance entre duas mulheres, coisa que a platéia não compra mesmo, não aceita nem entende. Cine Holliúdy chega referendado por 10 indicações, incluindo Filme e Comédia (alguma dúvida sobre quem leva este?). Dois trabalhos autorais e algo ousados fecham a lista dos concorrentes à categoria principal, cada um com 8 indicações: O som ao redor e Tatuagem.

Confira abaixo os indicados ao Oscarito de 2014 em todas as categorias.

FILME
Faroeste caboclo
Flores raras
Cine Holliúdy
Tatuagem
O som ao redor

COMÉDIA
Cine Holliúdy
Mato sem cachorro
Minha mãe é uma peça
Meu passado me condena
Colegas

DIRETOR
Bruno Barreto (Flores raras)
Halder Gomes (Cine Holliúdy)
Hilton Lacerda (Tatuagem)
Kléber Mendonça Filho (O som ao redor)
Heitor Dhalia (Serra Pelada)

ATOR
Fabrício Boliveira (Faroeste caboclo)
Edmílson Filho (Cine Holliúdy)
Irandir Santos (Tatuagem e O som ao redor)
Jesuíta Barbosa (Tatuagem)
Wágner Moura (A busca)

ATRIZ
Ísis Valverde (Faroeste caboclo)
Glória Pires (Flores raras)
Sophie Charlotte (Serra Pelada)
Fernanda Montenegro (O tempo e o vento)
Leandra Leal (Mato sem cachorro)

ATOR COADJUVANTE
Antônio Calloni (Faroeste caboclo)
Matheus Nachtergaele (Serra Pelada)
Wágner Moura (Serra Pelada)
Jesuíta Barbosa (Serra Pelada)
Bruno Torres (Somos tão jovens)
Nada contra Wágner Moura ou Jesuíta Barbosa. Mas precisam concorrer nas duas categorias? A Academia esqueceu de Juliano Cazarré e Júlio Andrade (Serra Pelada)? Aliás, parece que o filme não tem ator principal. Também esqueceram Danilo Gentilli (Mato sem cachorro).

ATRIZ COADJUVANTE
Ana Marlene (Cine Holliúdy)
Bianca Comparato (Somos tão jovens)
Sandra Corveloni (Somos tão jovens)
Alexandra Richter (Minha mãe é uma peça)
Ângela Leal (Bonitinha, mas ordinária)

ROTEIRO ORIGINAL
Cine Holliúdy
Tatuagem
O som ao redor
Serra Pelada
Mato sem cachorro

ROTEIRO ADAPTADO
Faroeste caboclo
Flores raras
A luz do Tom
Minha mãe é uma peça
Meu pé de laranja-lima
A coleção invisível

FILME DE ANIMAÇÃO
Uma história de amor e fúria
Minhocas
Aqui não houve esquecimento: O menino e o mundo só estreou em janeiro deste ano  e, portanto, não podia concorrer.

FILME INFANTIL
Meu pé de laranja-lima
Minhocas
Corda bamba
Tainá A origem

FILME ESTRANGEIRO
A grande beleza (Itália)
Azul é a cor mais quente (França)
Amor (Áustria)
Django livre (EUA)
Blue Jasmine (EUA)

FOTOGRAFIA
Faroeste caboclo
Flores raras
Serra Pelada
O tempo e o vento
A busca

DIREÇÃO DE ARTE
Faroeste caboclo
Flores raras
Tatuagem
O som ao redor
Serra Pelada
O tempo e o vento
A busca
Acho concorrente demais para prêmio de menos. O primeiro e o último títulos da lista me parecem dispensáveis.

FIGURINOS
Faroeste caboclo
Flores raras
Cine Holliúdy
Tatuagem
Serra Pelada

MAQUIAGEM
Faroeste caboclo
Flores raras
Cine Holliúdy
Tatuagem
Serra Pelada

TRILHA SONORA ORIGINAL
Faroeste caboclo
Flores raras
O som ao redor
Serra Pelada
Somos tão jovens

TRILHA SONORA
A luz do Tom
Elena
Jorge Mautner O filho do holocausto
São Silvestre
Jards
Ou "Trilha Sonora de Documentário".

MONTAGEM
Faroeste caboclo
Flores raras
Cine Holliúdy
O som ao redor
Somos tão jovens

EFEITOS ESPECIAIS
Faroeste caboclo
Flores raras
O som ao redor
Serra Pelada
Uma história de amor e fúria

SOM
Faroeste caboclo
Flores raras
Cine Holliúdy
Serra Pelada
O tempo e o vento
Uma história de amor e fúria

DOCUMENTÁRIO
A luz do Tom
Elena
Jorge Mautner O filho do holocausto
Dossiê Jango
O dia que durou 21 anos
São Silvestre

MONTAGEM DE DOCUMENTÁRIO
A luz do Tom
Elena
Jorge Mautner  O filho do holocausto
Dossiê Jango
O dia que durou 21 anos

DOCUMENTÁRIO EM CURTA-METRAGEM
A guerra dos gibis
Até o céu leva mais ou menos quinze minutos
Gericinó Do lado de fora
Luna e Cinara

CURTA-METRAGEM
Au revoir
Flerte
Linguagem
Os irmãos Mai
Todos esses dias em que sou estrangeiro

CURTA-METRAGEM DE ANIMAÇÃO
Engole ou cospervilha?
Faroeste
Graffiti dança
Macacos me mordam
Paleolito
O menino que sabia voar
Quinto andar
Um dia de trabalho
Aqui liberou geral. Oito indicados é acima de qualquer compreensão.

O Grande Prêmio do Cinema Brasileiro – Oscarito 2014, este ano, será no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, no dia 26 de agosto. O resultado, como sempre, você confere aqui, já no dia seguinte.