quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Maior que a vida

Lincoln (2012)

De todos os filmes indicados ao Oscar este ano, o que eu menos tinha vontade de assistir era justamente o recordista de nomeações, Lincoln. Pensava: "Caramba, duas horas e meia vendo um filme que fala de política, debate leis de outro país, e ainda por cima trata de uma personalidade da qual pouco ou nenhum interesse resta para nós, brasileiros? Haja saco!" Mas precisava assistir, era meu dever de cinéfilo e quase uma missão a que me imponho anualmente - desde 2000 sempre vejo todos os indicados na categoria principal, para avaliar se a escolha foi justa (só não vi a trilogia O senhor dos anéis porque quero ler os livros primeiro - eu sou um chato).

Fui com uma prima, também cinéfila, de passagem pelo Rio, em uma sessão de sábado à tarde (não gosto de ir ao cinema nos fins de semana, o ingresso é bem mais caro, as salas estão mais cheias, e, portanto, a chance de encontrarmos algum idiota mal-educado é maior), que estava lotada. Primeira surpresa: o público se comportou muito bem, sem conversinhas paralelas ou celulares retinindo na nossa paciência. Segunda surpresa: o filme é muito bom. Mais que isso, é ótimo, merecendo as quatro estrelas da minha avaliação. Parece que não há mais dúvida sobre quem leva o Oscar para casa este ano. Se antes eu já achava uma dessas escolhas indigestas com que a Academia nos brinda de vez em quando (lembram-se de Crash - no limite, em 2006?), agora afirmo sem pestanejar: se o Oscar ficar nas mãos de Lincoln, estará em muito boa companhia.

Lincoln: à frente de seu tempo.
Verdade seja dita que achei os cerca de primeiros 50 minutos de uma chatice assustadora. Um bando de homens, quase todos assemelhados entre si por causa das perucas e do figurino de época, discutindo injunções políticas e constitucionais norte-americanas, em ritmo lento, com uma trilha sonora neutra, que não deixa maiores impressões. Isso é importante para marcar o contexto da história, mas não nego que funciona também como convite a um cochilo, especialmente para o público desacostumado a filmes desse porte. No entanto, os 100 minutos restantes são realmente notáveis, a ponto de se acompanhar com todo o interesse até a resolução final. É provável que a maioria dos espectadores médios do filme desconheçam toda a história, e não saibam, portanto, o que de fato aconteceu (mas basta uma conferida rápida na sinopse para descobrir o mistério do roteiro); a esses, acrescente-se um elemento de suspense, que pode servir para atrair a atenção de quem não está muito preocupado ou interessado nos meandros políticos da história. A platéia também gostou do que viu e aplaudiu no final da projeção.

Ao contrário do que muita gente pode pensar, o filme não é uma biografia de Abraham Lincoln, o 16º presidente dos Estados Unidos e até hoje considerado um parâmetro de retidão política e ética buscado por seus sucessores desde então. O roteiro, de Tony Kushner, baseado no livro Team of rivals: the genious of Abraham Lincoln, de Doris Kearn Goodwin (recém-lançado no Brasil pela Record em versão reduzida e apenas com o nome Lincoln na capa), foca suas atenções no ano capital de 1865, no final da Guerra de Secessão, e acompanha os esforços empreendidos pelo presidente para que fosse aprovada a 13ª Emenda à Constituição Norte-Americana. Não era uma lei ordinária qualquer, mas uma determinação que abolia a escravidão no país e, com isso, lançava os Estados Unidos a uma nova era mundial no reconhecimento da igualdade entre os homens. Acompanhamos as estratégias utilizadas por Lincoln na tentativa de conseguir o seu intento, ainda que usasse de artifícios moralmente condenáveis, como a compra de votos. Mas a questão que se impõe é: Lincoln não buscava favorecimento pessoal, e sim deixar um legado maior que si próprio, pondo seu país à frente de sua vaidade. Uma aula para a classe política de quase todos os países - nem preciso dizer que sobretudo no Brasil. O roteiro também ganha pontos por evitar o triunfalismo que seria natural de se esperar em uma produção do gênero. Não há a preocupação de se endeusar o personagem, que é mostrado em todas as suas facetas, das mais ousadas às mais frágeis. Lincoln era um homem comum, que agia segundo sua consciência. E vislumbrava o melhor para sua nação.

Mary-Todd (Sally Field): mãe e primeira-dama.
Tudo funciona muito bem em Lincoln: a direção de arte cuidadosa reconstitui com perfeição os cenários e ambientes da época; a fotografia de tons sombrios realça os aspectos claustrofóbicos dos gabinetes e dos interiores nos quais se passa a maior parte da ação; o tom austero da narrativa convida o espectador a pensar e formular suas próprias opiniões, algo muito raro no cinema atual. Mas nada disso seria possível se Spielberg não tivesse se cercado de um elenco excepcional. No papel-título, o inglês Daniel Day-Lewis dá mais um show de interpretação, compondo um Lincoln em detalhes mínimos, como a inflexão de voz e a ligeira curvatura corporal. Sally Field tem poucas chances, mas arrebata o espectador quando aparece na pele da sofrida Mary-Todd, a primeira-dama angustiada pelo destino de seu filho mais velho, uma participação pequena mas expressiva de Joseph Gordon-Levitt. Ainda Tommy Lee Jones (como Thaddeus Stevens) e David Strathairn (como William Seward) abrilhantam mais o resultado encarnando os maiores aliados de Lincoln.

Thaddeus Stevens (Tommy Lee Jones): aliado.
O Oscar seria uma boa forma de coroar e garantir lugar eterno na história para este grande filme, mas as recentes vitórias de Argo no Globo de Ouro e no SAG ameaçam seu favoritismo. Será injustiça se perder? O tempo, como sempre, dirá. Da mesma forma como reverbera até hoje o legado de político exemplar que Lincoln deixou em sua passagem pela Casa Branca. Um legado maior que sua própria vida.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Quando a democracia disse "Não"

Não (2012)

Entre o final dos anos 80 e meados dos 90, o mundo assistiu a uma série de transformações sociopolíticas que alteraram de forma indelével as configurações da história como conhecíamos. Entre tais eventos, os mais emblemáticos foram a queda do Muro de Berlim, a desintegração da União Soviética, que, por tabela, gerou o esfacelamento do regime comunista na Europa Oriental, e a Guerra da Bósnia, um dos episódios mais sangrentos do século XX. Naquela época, a TV a cabo ainda engatinhava no Brasil, telefone celular era um luxo para os mais abastados e a internet estava embrionária. As pessoas assistiram a tudo apenas pela televisão e só dispunham dos jornais e revistas para se informar. Em meio a esse vendaval de mudanças, uma que ficou quase no rodapé da história, e que eu, confesso, nem me lembrava mais, teve vez aqui perto, no vizinho Chile.

Em 1988, o governo ditatorial do general Augusto Pinochet autorizou a realização de um plebiscito, por meio do qual o povo escolheria entre a continuidade do governo totalitário e a renovação democrática. É neste panorama que se desenvolve a trama de Não (ou No, como preferiu a distribuidora, descartando a tradução), um dos finalistas ao Oscar de Filme Estrangeiro deste ano - já expliquei, sei que a denominação é errada, mas não consigo chamá-la de outra forma. Não deve levar (a estatueta já é praticamente do Amor de Michael Haneke), mas é um concorrente digno e que merece a atenção.

René Saavedra (Gael García Bernal): a ditadura cansa.
O "não" do título significa a opção pela abertura democrática, em oposição, obviamente, ao "sim", que decretaria a permanência de Pinochet, que já contava quase 15 anos à frente do poder, período durante o qual lançou o país em trevas, violência generalizada e todo aquele aparato próprio das ditaduras. É pelo "não" que um grupo de publicitários é contratado para criar uma campanha de televisão, de forma a convencer a população local. Eles estão sozinhos contra todos; sabem de antemão que o plebiscito é um blefe, uma jogada política de Pinochet apenas para legitimar o sistema vigente para o resto do mundo. Mesmo assim, guiados pelas convicções de cada um, não esmorecem e buscam criar a melhor campanha possível. É a contribuição que podem dar para a reconstrução do Estado democrático. À frente desse grupo, está René Saavedra (Gael García Bernal, em outra boa composição), que tem motivos pessoais para se empenhar por uma vitória pelo "não", já que sua mulher é uma ex-presa política que acabou de ser libertada. Ambos têm um filho pequeno e é nele que se projeta a imagem de um Chile futuro e esperançoso, bafejado pelos ventos da mudança.

O diretor Pablo Larraín vem se firmando como um dos principais realizadores do cinema latino-americano e confirma seu talento na condução dessa história que combina habilmente tensão e drama político. Longe do suposto panfletarismo que tal tema suscitaria, o roteiro, escrito por Pedro Peirano (da série local 31 minutos) e baseado na peça O plebiscito, de António Skármeta, abre a discussão e dá voz aos dois lados, embora, inegável e obviamente, com simpatia pela causa democrática.

Uma das campanhas pelo "não": a alegria está chegando.
A exemplo do que fizera em seus trabalhos anteriores, Tony Manero e Post mortem, em Não Larraín mescla ficção e realidade por meio da inserção de imagens documentais, inclusive apresentando as verdadeiras campanhas pró-"não" que foram veiculadas na televisão chilena, mostrando um suposto making of produzido pela equipe. Todas são criativas e até emocionantes. Mesmo sendo referentes a outro país, dão orgulho e causam simpatia a quem assiste, ganhando ainda mais pontos em contraste com as pobres mensagens oficiais que também são mostradas.

No elenco, ainda estão Alfredo Castro, ator preferido de Larraín e que esteve em seus trabalhos anteriores, Néstor Cantillana (da série Prófugos) e Luís Gnecco (idem e que esteve no recente A dançarina e o ladrão). Um filme que confirma a boa qualidade dos indicados deste ano.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

América, o sonho de chegar

Os emigrantes (1971)

Em 2012, O artista se tornou o primeiro filme de outro país a ganhar o Oscar (digam o que quiserem, mas trata-se de uma produção francesa, ainda que tenha sido rodada nos Estados Unidos, com elenco secundário e membros da ficha técnica ianques). Antes dele, apenas outros três filmes ao longo da história haviam tentado a proeza, sem sucesso. A primeira vez foi com o clássico A grande ilusão, de Jean Renoir (1940). Trinta e quatro anos depois, Ingmar Bergman emplacou Gritos e sussurros entre os cinco finalistas. E poucos anos antes, em 1972, outro filme sueco conseguiu angariar a simpatia de Hollywood e disputou o Oscar em pé de igualdade com as produções locais: Os emigrantes, dirigido por Jan Troell, acabou esquecido pelo tempo, mas é um belo retrato de época. E mostra como o sonho americano da terra prometida pode ser mesmo uma maldição para alguns aventureiros.

Em 1844, o casal Karl-Oskar e Kristina vive em Ljuder, um pequeno povoado rural no interior da Suécia. Eles dispõem de um pedaço de terra no qual plantam e colhem o sustento, mas o solo é praticamente infértil e rende poucos produtos. Quando dois dos filhos quase morrem de fome, eles passam a considerar a possibilidade de se mudarem para viver nos Estados Unidos, o Novo Mundo que representa possibilidades e esperança. Uma das moradoras do vilarejo reforça a idéia, já que tem um filho que reside na América e encontrou a bem-aventurança, de acordo com as cartas que recebe do rapaz. O casal se junta a outros agricultores na mesma situação e empreende uma jornada de fé durante dias a bordo de um navio. Mas ainda há muitas dificuldades no trajeto do grupo. Afinal, todos são chamados, mas poucos serão os escolhidos, máxima religiosa que se materializará ao longo da viagem.

Liv Ullmann: primeira indicação ao Oscar.
Assistir a Os emigrantes é se transportar a um mundo que não existe mais, em todos os sentidos, sobretudo nos aspectos ligados ao cinema como um todo. É um tipo de produção que não se faz mais, embora ainda tivesse campo naquela época. As platéias de hoje, formadas em sua maioria por espectadores jovens, pedem um estilo mais dinâmico de narrativa, e produções desse formato, se ainda não desapareceram completamente, estão próximas da extinção. A narrativa lenta reforça o caráter épico conferido ao filme, que, ao longo de seus 184 minutos de duração, é grandemente sustentado por cenas contemplativas, realçando o aspecto psicológico dos personagens. É interessante observar como o discurso religioso trespassa todo o filme, desde as raízes locais dos moradores, que pautam seu estilo de vida pelo viés eclesiástico, seguindo o que determina a Igreja, de forte presença na comunidade, até a simbologia da dispersão de um povo sofrido em busca da terra prometida. Como os judeus que encontraram privações em sua diáspora, o grupo de viajantes suecos precisa superar as adversidades de uma odisséia sem garantias de final feliz, mas tendo a esperança como norte de sua empreitada.

Max Von Sydow é um dos emigrantes.
A viagem é pontuada por cenas tensas, como a discussão entre Kristina e uma das viajantes, em que a primeira acusa a outra de estar com piolhos e, portanto, seria uma ameaça aos demais viajantes, com uma ou outra tirada cômica para aliviar, o que é bem representado na parte em que o casal jovem tenta aprender inglês. No todo, porém, prevalece a austeridade narrativa, sustentada pela bela fotografia que realça o aspecto da epopéia empreendida pelo grupo. O final é simbólico e emocionante.

O filme concorreu a quatro Oscars: além da categoria principal, foi indicado ainda para diretor, atriz (Liv Ullmann, na primeira das duas nomeações que recebeu; a segunda foi por Face a face de Bergman, em 1977) e roteiro adaptado. Mas não ganhou em nenhuma. Mesmo assim, fez sucesso suficiente para justificar uma continuação - naquele tempo, as continuações ainda eram feitas com propósito artístico e não por influência financeira mercadológica - que o próprio Troell dirigiu no ano seguinte, O preço do triunfo. Tanto um quanto outro foram esquecidos pelas distribuidoras e jamais lançados em formato caseiro no Brasil. Uma pena.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Oscar 2013 - Todos os indicados


Como se esperava, a superprodução Lincoln, de Steven Spielberg, amealhou a maioria das indicações ao Oscar 2013, cuja lista foi divulgada nesta quinta-feira (e que você confere mais abaixo). A cinebiografia do ex-presidente norte-americano pontua com 12 nomeações, seguida de perto por As aventuras de Pi (11 indicações) e O lado bom da vida (8 indicações). Mas não acredito que haverá surpresas: entre uma aventura de fantasia e uma comédia romântica, gêneros tradicionalmente desprezados por Hollywood, a Academia optará pela sobriedade da narrativa spielberguiana.

A relação dos indicados reserva surpresas em algumas categorias. Quem apostava que o francês Intocáveis já era o vencedor antecipado em Filme Estrangeiro deve estar se perguntando o que aconteceu, já que ele ficou fora dos finalistas. É o ano de Michael Haneke finalmente ser reconhecido com um dos grandes diretores da atualidade, depois de um início claudicante, em que errava a mão na pretensão. Mas ele se acertou e com Amor fez o filme mais dilacerante, e ao mesmo tempo o mais simples, de sua carreira. A Academia se rendeu a ele, conferindo-lhe ainda uma indicação ao Oscar de Direção (e também concorre na categoria principal). Entre os intérpretes, falha imperdoável a ausência de John Hawkes, que esbanja talento em As sessões, mas pelo menos se lembraram de Helen Hunt. E mais uma vez o Brasil foi barrado da festa, já que o curta A fábrica acabou limado dos finalistas.

Veja a relação dos indicados.

FILME
Lincoln
As aventuras de Pi
O lado bom da vida
Os miseráveis
Argo
Amor
A hora mais escura
Django livre
Indomável sonhadora

DIRETOR
Steven Spielberg (Lincoln)
Ang Lee (As aventuras de Pi)
David O. Russel (O lado bom da vida)
Michael Haneke (Amor)
Benh Zeitlin (Indomável sonhadora)

ATOR
Daniel Day-Lewis (Lincoln)
Bradley Cooper (O lado bom da vida)
Hugh Jackman (Os miseráveis)
Joaquin Phoenix (O mestre)
Denzel Washington (O vôo)

ATRIZ
Jennifer Lawrence (O lado bom da vida)
Emanuelle Riva (Amor)
Jessica Chastain (A hora mais escura)
Quvenzhané Wallis (Indomável sonhadora)
Naomi Watts (O impossível)

ATOR COADJUVANTE
Tommy Lee Jones (Lincoln)
Robert De Niro (O lado bom da vida)
Alan Arkin (Argo)
Christoph Waltz (Django livre)
Philip Seymour Hoffman (O mestre)

ATRIZ COADJUVANTE
Sally Field (Lincoln)
Jacki Weaver (O lado bom da vida)
Anne Hathaway (Os miseráveis)
Amy Adams (O mestre)
Helen Hunt (As sessões)

FILME ESTRANGEIRO
Amor (Áustria)
O amante da rainha (Dinamarca)
Não (Chile)
A feiticeira da guerra (Canadá)
Kon-tiki (Noruega)

FILME DE ANIMAÇÃO
Valente
Detona Ralph
Paranorman
Frankenweenie
Piratas pirados

ROTEIRO ORIGINAL
Amor
A hora mais escura
Django livre
O vôo
Moonrise kingdom

ROTEIRO ADAPTADO
Lincoln
As aventuras de Pi
O lado bom da vida
Argo
Indomável sonhadora

FIGURINOS
Lincoln
Os miseráveis
Anna Karenina
Branca de Neve e o caçador
Espelho, espelho meu

FOTOGRAFIA
Lincoln
As aventuras de Pi
Django livre
007 – Operação Skyfall
Anna Karenina

DIREÇÃO DE ARTE
Lincoln
As aventuras de Pi
Os miseráveis
Anna Karenina
O hobbit

MAQUIAGEM
Os miseráveis
O hobbit
Hitchcock

CANÇÃO
"Pi's lullaby" (As aventuras de Pi)
"Suddenly" (Os miseráveis)
"Skyfall" (007 – Operação Skyfall)
"Everybody needs a best friend" (Ted)
"Before my time" (Chasing ice)

TRILHA SONORA
Lincoln
As aventuras de Pi
Argo
007 – Operação Skyfall
Anna Karenina

MONTAGEM
Lincoln
As aventuras de Pi
O lado bom da vida
Argo
A hora mais escura

EFEITOS ESPECIAIS
As aventuras de Pi
O hobbit
Branca de Neve e o caçador
Os Vingadores
Prometheus

SOM
As aventuras de Pi
Argo
A hora mais escura
Django livre
007 – Operação Skyfall

EFEITOS SONOROS
Lincoln
As aventuras de Pi
Os miseráveis
Argo
007 – Operação Skyfall

DOCUMENTÁRIO
A guerra invisível
Como sobreviver a uma praga
Procurando Sugar Man
5 broken cameras
The gatekeepers

DOCUMENTÁRIO CURTO
Inocente
Kings Point
Mondays at Racine
Open heart
Redemption

CURTA-METRAGEM
Asad
Buzkashi boys
Curfew
Dood van een Schaduw
Henry

CURTA-METRAGEM DE ANIMAÇÃO
Adam and dog
Fresh guacamole
Head over heels
Paperman
The Simpsons – the longest daycare

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Os melhores e os piores de 2012


Dos exatos 500 filmes vistos em 2012, sobraram 20 para representar o que assisti de melhor e de pior na temporada que se encerrou. Quem acompanha este espaço sabe que, para minhas listagens de melhores e piores, vale tudo: títulos recém-lançados, filmes antigos que só descobri agora, exibidos em circuito, mostras, festivais ou baixados na rede, vistos na televisão ou em DVD etc. Só deixo de fora as séries de TV, por uma questão de coerência.

OS MELHORES

O último Elvis: o melhor de 2012.
O ÚLTIMO ELVIS – O melhor filme do ano é mais uma aula de roteiro do cinema argentino. Já comentei sobre este aqui, que foi exibido no Festival do Rio. Drama e humor em doses certeiras para contar a história de um alienado fã de Elvis Presley que chega às últimas conseqüências na tentativa de encarnar seu ídolo.

MAMÃE FOI AO SALÃO – O cinema canadense tem nos legado algumas obras-primas. Esta é mais uma delas. Com roteiro autobiográfico, a diretora Lea Pool narra a história de amadurecimento de uma jovem na Montreal dos anos 50 em meio a sua família disfuncional. Emoção à flor da pele.

ODEIO ESSA MULHER – Descoberta em DVD. Richard Burton troca de emprego ao sabor do vento, enquanto mantém um relacionamento autodestrutivo com sua namorada (Claire Bloom). O duelo de interpretações ganha pontos pela atuação visceral dos protagonistas. Filmaço a ser conhecido.

O SOM AO REDOR – Para descrever o pesadelo da classe média urbana dos dias atuais, o diretor Kleber Mendonça Filho só precisou de três elementos: roteiro enxuto, diálogos afiados e excelente uso do som. Eis a receita do grande vencedor do Troféu Redentor do Festival do Rio.

AQUI É O MEU LUGAR – Sean Penn empresta dignidade e honra a um papel que poderia cair no ridículo. Na pele de um ex-astro de rock que insiste em viver no e do passado, mesmo debaixo da maquiagem carregada, ele brilha neste filme que demorou a ser lançado e, infelizmente, acabou esquecido pelos prêmios.

AS SESSÕES – Forte candidato ao Oscar, deve premiar o ainda pouco conhecido John Hawkes, que arrebata no papel de um jornalista tetraplégico condenado a viver em uma maca que resolve perder a virgindade aos 38 anos. Para isso, conta com a ajuda de uma inspirada Helen Hunt. Sensível, engraçado e emocionante.

Rodrigo Santoro em Heleno.
HELENO – Um filme sobre um Botafogo vencedor, capitaneado por um artilheiro decisivo, não podia ficar de fora da lista. Além disso, ainda conta com uma atuação magistral de Rodrigo Santoro, bela fotografia em preto e branco e uma curiosa referência à minha família (indiretamente) logo na primeira cena.

O QUADRO – O representante das animações é esta belíssima produção franco-belga, outra do Festival do Rio. Com uma premissa bastante original, a história se passa inteiramente dentro de uma pintura e conta a luta pela aceitação entre os diversos tipos de desenho que a compõem.

HATED – GG ALIN E OS VICIADOS ASSASSINOS – Único título documental na relação dos melhores, este filme tem quase 20 anos (é de 1994) e dá uma aula do gênero ao retratar de forma autêntica o universo de um dos artistas mais controversos do cenário musical norte-americano dos anos 80.

O ROBÔ – Fechando a lista dos melhores, vem uma inusitada ficção científica feita na Índia, sobre um andróide que sonha em se tornar humano e, para isso, precisa conquistar o coração de sua amada. Já vimos isso em Hollywood, mas o filme é uma prova da vitalidade do cinema indiano. Criativo, ótimos efeitos especiais, grande diversão.

Menção Honrosa: Drive, faroeste urbano noir que privilegia o aspecto psicológico dos personagens. Um filme de ação para cinéfilos.

Menção Honrosa – Série de TV: The newsroom – 1ª  temporada. A cena de abertura, em que Jeff Daniels desfia um rosário de mazelas do sistema político, econômico e social da Grande Nação do Norte, já se tornou antológica.

OS PIORES

A SAGA MOLUSCO – ANOITECER – Imagine um filme muito ruim. Agora, multiplique por mil. O resultado ainda ficará longe dessa coisa inqualificável, que consegue errar em tudo. Humor retardado, elenco péssimo, roteiro idiota. Uma afronta à inteligência de qualquer um. Coitado de quem pagou para ver isso no cinema.

Um filme sérvio - terror sem limites: merece o limbo.
UM FILME SÉRVIO – TERROR SEM LIMITES – Censurado no mundo inteiro, inclusive no Brasil (foi retirado de uma mostra que iria exibi-lo), essa pretensa denúncia dos horrores da Guerra dos Bálcãs ultrapassa qualquer limite de bom-senso. As cenas são quase insuportáveis. Sou contra a censura, mas este aqui merece o esquecimento.

SINGAPORE SLING – Aberração rodada na Grécia que, segundo o diretor, é uma refilmagem local e “alternativa” para o clássico Laura, de Otto Preminger. Mas a elegância e a sutileza do original nem chegaram à porta disso aqui, um horror com inúmeras cenas de tortura, vômito e sadomasoquismo descerebrado. Preminger deve ter se revirado no túmulo.

DESCULPE-ME POR ESTUPRAR VOCÊ – O título é autoexplicativo. Misturando crítica religiosa com erotismo fetichista, esse pobre exercício metalingüístico se afunda em amadorismo constrangedor. Alguns dos piores diálogos já escritos, atuações ridículas e uma “mensagem” duvidosa compõem esse lixo que nem trash é, só um filmeco à beira do desprezível.

O GORILA – Tem representante brasileiro na lista dos piores. A honra cabe a José Eduardo Belmonte, que simplesmente conseguiu destruir o excepcional conto homônimo de Sérgio Sant’Anna nessa que é a pior adaptação de obra literária para o cinema. Acaba fazendo jus ao título: é um King Kong de ruindade.

MARCA DA VINGANÇA – Um filme pouco conhecido que passa à exaustão na TV a cabo, nem sei se saiu em DVD. Melhor não, já que a história sem pé nem cabeça de um rapaz que nasce com uma grande mancha negra no rosto e se envolve com uma seita demoníaca não merece nada mais que o anonimato. E é muito pior do que parece.

GATA EM FUGA – Este aqui saiu em DVD e já deve ter sido visto por muita gente. A espanhola Paz Vega cava seu túmulo no cinema norte-americano com essa aventura em tons de comédia sobre uma matadora de aluguel. Janet McAteer, que já foi indicada ao Oscar, é outra que parece perdida e constrangida nessa bomba. Violento e imbecil.

Megan Fox em Anjo do desejo: nem ela salva o filme.
AMOR ANIMAL – Quem acha que não existe documentário ruim deve (ou melhor, não deve) conhecer este aqui. Feito na Áustria, mostra a devoção das pessoas a seus bichinhos de estimação. As entrevistas são inócuas, ninguém diz nada relevante e o filme parece interminável. Dá vontade de sair matando todos os cães e gatos que aparecem pela frente.

ANJO DO DESEJO – Outro que saiu em DVD. Depois de ter a carreira salva graças a O lutador, Mickey Rourke parece empenhado em voltar ao anonimato se metendo em projetos ruins como este. Megan Fox faz um anjo caído que foge de um gângster que a explorava comercialmente. A idéia era boa, mas o filme resultou em um equívoco total.

BUCKY LARSON – DOTADO PARA BRILHAR – Espécie de versão adolescente de Boogie nights – prazer sem limites. Um caipira bobalhão vai para a cidade tentar vencer como astro do cinema pornô graças a seu enorme “talento”. Seria aceitável se o humor funcionasse ou não fosse tão vulgar. Triste ver Christina Ricci defendendo uns trocados nessa babaquice.