sábado, 2 de janeiro de 2016

Os melhores e piores de 2015

Dentre 489 filmes que vi em 2015, até que foi relativamente fácil chegar aos 10 melhores, o que prova duas certezas. Uma, que o nível do cinema feito atualmente não é mesmo dos mais animadores (e três deles não são novos). Outra, estou definitivamente muito chato e restritivo em termos do que é bom, do que me encanta ou surpreende. Difícil foi selecionar os piores, mas aí por excesso de opções. 

Pela primeira vez desde que faço essa lista, há três animações entre os melhores do ano e dois longas de ficção nacionais. E também pela primeira vez em muito tempo, nenhum filme brasileiro aparece na relação dos piores, o que não deixa de ser um fato a se comemorar.

OS MELHORES

AS MARAVILHAS: É italiano o melhor filme que vi em 2015. Com roteiro primoroso, que encontra apoio preciso nas imagens valorizadas por uma estupenda fotografia, Alice Rohrwacher (também roteirista e irmã de Alba, uma das atrizes) flagra um país em brutal processo de transformação, perdido entre a poesia do encanto surreal e a crueza da vida cotidiana. 

O PROCESSO DO DESEJO: Dobradinha italiana para os dois melhores filmes do ano. O sempre polêmico Marco Bellocchio realiza um profundo estudo sobre o desejo e as pulsões sexuais que movem os indivíduos, com inúmeras referências filosóficas embaladas em meio a obras de arte. Farto material para debate depois da sessão. Rodado em 1991, terminou injustamente esquecido pelo tempo, já que nunca saiu em DVD. Merece uma redescoberta urgente.

DIVERTIDA MENTE: Nunca antes nesse país... ops, nos filmes da Disney-Pixar, vi um roteiro tão maduro, tão rico em questionamentos e propício a incontáveis debates psicanalíticos quanto nessa aventura vertiginosa, repleta de humor e com momentos de pura emoção. Mais compreendido pelos adultos do que pelos pequenos, diverte todos os espectadores e tem um visual belíssimo e cheio de detalhes.

A FOTOGRAFIA OCULTA DE VIVIAN MAIER: A ambigüidade proposta pelo título se explica tanto na descoberta de um talento bruto da arte fotográfica quanto na própria construção de uma identidade particular. Curioso: nesses tempos de selfie, em que viver é se mostrar, Vivian Maier traçou um rumo improvável e viveu sem se registrar (em seu imenso acervo, não há uma única foto sua). Uma arte a serviço de uma existência. De fazer chorar.

PEANUTS, O FILME: Embora a técnica de animação esteja modernizada, acompanhando a evolução da área, a essência dos personagens e do próprio desenho se manteve inalterada, e felizmente tiveram o bom senso de não atualizar demais (ninguém usa celular, e o Snoopy continua escrevendo na sua velha Olivetti), o que garante plena identificação com seu público mais antigo. O roteiro não é perfeito, mas os fãs irão relevar e assistir com o coração. Uma delícia rever a turminha!

ANINA: Esta animação coproduzida por Uruguai e Colômbia tem traços simples, quase artesanais, mas de grande expressividade. A trama é direta, não perde tempo nem com enrolações, nem com explicações desnecessárias. Respeita a inteligência das crianças e agrada aos adultos. Um bombonzinho. 

BIRDMAN: Em um único e magistral plano-seqüência, Iñarritu anima um roteiro cheio de ironias e observações agudas sobre a difícil arte de interpretar. Uma ousadia técnica e narrativa vitaminada por inteligência, diálogos precisos e um saudável frescor.

BOI NEON: Gabriel Mascaro mostra evolução e maturidade como diretor, e acima de tudo como roteirista, nesta trama que mescla de forma admirável dois universos aparentemente incompatíveis, a vaquejada e o mundo da moda. Com visual bonito, conta com elenco afiado e bela fotografia.

QUE HORAS ELA VOLTA?: Se a Academia não gostou ou não entendeu a ponto de sequer indicá-lo entre os finalistas ao Oscar de Filme Estrangeiro, azar da Academia! O roteiro primoroso discute com precisão a nova ordem social que se impõe no país, sem panfletarismo e com emoção na dose certa. Ótimo elenco em uma história que também diz muito em suas cenas simbólicas (como o xadrez das xícaras).


A IMAGEM: Fechando a lista, esta produção de 1975 que aborda um tema raro e difícil - a relação D/s entre duas mulheres - tratando-o de forma séria e intensa, embora derrape em algumas cenas pornôs desnecessárias. Pode soar escandaloso e até risível para o espectador baunilha, mas é um dos melhores filmes a abordar a sempre polêmica questão do BDSM nas telas. Catherine Robbe-Grillet, esposa de Alain Robbe-Grillet, assina o roteiro sob o pseudônimo masculino de Jean de Berg!

OS PIORES

VISCERAL - ENTRE AS CORDAS DA LOUCURA: O pior entre os piores. Violência gratuita, grosseria e sanguinolência. E ainda comete o erro supremo de relacionar o bondage ao desequilíbrio mental. Nada se salva.
TUDO PARA FICAR COM ELA: Comédia bem chatinha, que se vale de situações pretensamente transgressoras para fazer graça, mas tudo resulta vazio, e nem um sorriso é capaz de arrancar do espectador.
SEM DESTINO: Keanu Reeves devia estar precisando muito de dinheiro ou estava devendo favores a um amigo diretor quando aceitou participar desse projeto sem pé nem cabeça, sem roteiro nem qualquer coerência. O título, aliás, é perfeito.
BATA ANTES DE ENTRAR: Mais Keanu Reeves, aqui fazendo a platéia sentir vergonha alheia em uma trama tão ruim que chega a ser constrangedora. É o fundo do poço - e o fim da carreira. Mas é menos violento do que costumam ser os filmes do diretor Eli Roth.
PER AMOR VOSTRO: Maçaroca italiana que desandou no exagero. Quase insuportável e impossível de assistir. Desperdício de Valeria Golino.
RANCHO SANGRENTO: Sangreira, torturas, mutilações, gritaria. Ou seja, (muito) mais do mesmo.
O AMANTE PSICOPATA: Como levar a sério um filme com este título? Elenco ruim, especialmente o protagonista, cheio de caras e bocas, roteiro previsível. Um tédio.
SÍNDROMES E UM SÉCULO: O tailandês Apichatpong Weeresathakul exagera no experimentalismo ao contar a mesma história passada em dois momentos diferentes. Apesar do visual bucólico e agradável ao olhar, tudo é muito desinteressante e cansativo.
ENFERMEIRAS MANÍACAS EM ÊXTASE: Com este título, devia ser no mínimo engraçado, mas é só uma bobagem pseudoerótica que se perde em arroubos de violência desnecessária e ainda tem a ousadia de terminar ao som de Beethoven - que deve ter se revirado no túmulo. Mas, como é da Troma, até dá para desculpar.
RESULTADOS: Supostamente uma comédia, só que não faz rir. Supostamente um drama, só que não aprofunda qualquer assunto. Supostamente um filme, só que é apenas uma perda de tempo que irrita o espectador.