Este filme foi exibido no Festival do Rio de 2006 com o título de Ninféias dentro da Mostra Gay. Na ocasião, o filme suscitou o interesse imediato dos cinéfilos mais libertinos graças à sinopse sugestiva: o despertar sexual de francesinhas de 15 anos. Ele entrou em circuito restritíssimo – apenas uma sala, e logo no Barra Point, ou seja, não era para ninguém ver mesmo – e, pelo menos por enquanto, não foi lançado em DVD. Fui assisti-lo em um Festival Varilux de Cinema Francês, tradicional mostra que acontece todos os anos por aqui.
O filme trata do assunto que consta na sinopse, e vale repetir: o despertar sexual de francesinhas de 15 anos. É isso mesmo, só que não apenas. Seria extremamente comercial e filosoficamente oco caso a história se resumisse a isso. E, sabemos, os amigos da terra de Balzac e Proust nunca se limitariam a realizar uma história se não pudessem se debruçar sobre ela e tingi-la de cores psicológicas, ainda que esmaecidas. O próprio título pode ter sido alterado quando do lançamento nos cinemas para evocar a poesia inerente à natureza do roteiro.
Não há muita originalidade na maneira como o tema é desenvolvido. O cinema francês mesmo já nos legou várias histórias semelhantes e Hollywood de vez em quando nos brinda com a mesma temática. O maior diferencial, assim, passa a ser o ponto de partida esportivo. Marie, uma adolescente desajustada, da qual nunca se vê a família (sabe-se que ela tem problemas em casa, o que é citado em uma cena, mas este detalhe não parece importar na construção do personagem nem no desenrolar da história), se sente atraída pela capitã da equipe escolar de nado sincronizado. Este é provavelmente o primeiro filme do mundo a enfocar o universo deste esporte. O que também acaba não fazendo diferença, pois poderia ser qualquer outro, até futebol – a escolha é óbvia, para que se justifique a citação do título e haja uma associação de idéias entre as ninfas e a água. O problema é que uma competição de nado sincronizado é tão bonita de se ver, e há fortes motivos estéticos para tal, quanto chato de acompanhar. Eta esporte sem emoção! Mas como serve apenas de pano de fundo, isso não atrapalha. Ao mesmo tempo em que precisa lidar com sua paixão mal-resolvida, a jovem Marie vai descobrindo as dores do crescimento, e termina se aborrecendo com sua melhor amiga, Anne, cujo comportamento infantil se choca com suas angústias afetivas – ela é gordinha, nem é especialmente bonita (lembra a ex-ginasta Luíza Parente com alguns quilos a mais), mas, mesmo assim, nutre uma paixão secreta pelo bonitão do colégio e sonha ser correspondida. Quando Marie se aproxima de Floriane (a atriz mais bonita do elenco, Adele Haenel), experimenta um turbilhão de emoções contraditórias, mas é com ela que irá descobrir seus primeiros impulsos sexuais.
Qual é o interesse em assistir a um filme que trata de um assunto já muito explorado pelo cinema, já que, à parte o aspecto esportivo, não traz nada de novo? O frescor com que a história é conduzida e a sinceridade das atuações. Há uma tensão sexual que permeia a maioria das cenas e pulsa viva em vários momentos: a masturbação entre Marie e Floriane, toda implícita, mas sugerida por olhares e expressões faciais, belamente coroada pela lágrima solitária que rola pelo rosto da segunda; o visível desconforto de Marie nas vezes em que acompanha os encontros entre Floriane e o namorado; a obsessão de Marie por Floriane, que alcança sua significação máxima na cena em que ela, após retirar um saco da lata de lixo da amada, mastiga o resto de uma maçã, tentando sentir nele o gosto da garota.
Um filme de erotismo contido, juvenil – e, talvez por isso, explosivamente sensual.