quarta-feira, 23 de junho de 2010

Sem reservas

Calma, o blog ainda é sobre cinema. Ao contrário do que o título da postagem sugere, não vou comentar sobre a falta de opções do Dunga no banco da Seleção Brasileira. Mas vou tratar de outro assunto igualmente insípido, sem emoção e nem um pouco entusiasmante. Mais uma das desenxabidas refilmagens que Hollywood insiste em realizar. Já escrevi uma coluna certa vez criticando essa moda que parece não passar mais em terras ianques, talvez para disfarçar a falta de criatividade geral que grassa por lá. O alvo, desta vez, é um simpático filme alemão, Simplesmente Martha, que foi exibido no Festival do Rio em 2002, entrou em cartaz no circuito alternativo, mas nunca foi descoberto como deveria, nem quando passou na televisão (mas aí se explica: a Globo escondeu o filme num Intercine qualquer, quando poderia tê-lo apresentado no Supercine, dando-lhe mais visibilidade). Mas, como está disponível em DVD, segue desde já a recomendação. Já o similar norte-americano...

A história centra-se em uma irascível chefe de cozinha (interpretada por Catherina Zeta-Jones, talvez o único atrativo do filme), que vê sua posição de estrela do restaurante onde trabalha ser ameaçada após a chegada de um outro cozinheiro, tão talentoso quanto ela. O papel é defendido de forma correta, mas sem maiores nuances, por Aaron Eckhart. Paralelamente, ela precisa tomar conta da sobrinha pré-adolescente (Abigail Breslin, a Pequena Miss Sunshine), que perdeu a mãe em um acidente de carro. Entre pratos de massa e receitas exóticas, não é difícil imaginar o que acontece na história.

Há vários erros na concepção do projeto. O primeiro, e mais óbvio, foi a refilmagem por si só. Acho impressionante a mania que os americanos têm de quererem copiar tudo que seja bom e vindo de fora, quererem fazer do jeito deles, às vezes simplificando bastante a trama, que é exatamente o que acontece aqui. No original, o novo cozinheiro era italiano, o que servia como realce ao inevitável choque intercultural. Aqui, tentam uma variação – o chefe bonachão, que canta ópera na cozinha, em oposição à chefe chata, que leva uma vida regrada e não admite ser contrariada, nem ouve reclamações do clientes, preferindo partir para o confronto quando dizem que seu bife não é mal-passado o suficiente. Mas não funciona, porque não acrescenta nada ao conflito de egos dos personagens. Também a menina é passiva demais, e sua dificuldade de adaptação a nova casa quase inexiste, há uma ou outra frase mais ácida dita por ela, mas os problemas sequer se impõem de fato. A trilha sonora, que poderia ser um ponto forte, é outro erro, já que copia rigorosamente todas as canções do filme original – nem músicas novas tiveram capacidade de criar! Pior: tratam-se de regravações, ou seja, com outro timbre, outro andamento, no que também perde na comparação com o original alemão. Lá, as músicas compõem um consistente pano de fundo para o estado de espírito dos personagens; aqui, é tudo vazio e redundante. E, como não poderia deixar de ser, o final foi também modificado, edulcorado, bem como americano gosta, destruindo de vez a força do roteiro original. Um desperdício de bons atores. Não sei como Catherina aceitou participar de um projeto tão equivocado, que não resulta em nada memorável.

Pensando bem, em termos de criatividade, até que a Seleção do Dunga apresenta mais alternativas do que o roteiro chinfrim dessa comedinha de segunda.

Nenhum comentário:

Postar um comentário