Muita gente desconhece, mas o Brasil também tem a sua versão do Oscar. O Grande Prêmio Cinema Brasil já divulgou os finalistas de suas 25 categorias. Os vencedores recebem o Troféu Grande Otelo, mas o nome mais apropriado seria, talvez, Troféu Oscarito: estaria mantida a homenagem e seria uma forma de popularizar mais o prêmio, mesmo que pelo viés da brincadeira.
Não foi um bom ano para o cinema brasileiro. Isso se evidencia nos indicados a melhor filme, quase todos de perfil francamente comercial, e sem maiores qualidades artísticas ou estéticas. Sempre tomando o Oscar como referência, são três os favoritos, cada um com nove indicações: a desnecessária continuação Se eu fosse você 2, o pavoroso A mulher invisível – ou seja, dois campeões de bilheteria, o que prova que sucesso comercial não é mesmo parâmetro de qualidade – e o delicado À deriva, de Heitor Dhalia, meu favorito, que, a despeito da forte concorrência, tem boas chances – a história do prêmio registra vitórias que podem ser consideradas surpreendentes, como em 2008, quando O ano em que meus pais saíram de férias bateu o grande favorito Tropa de elite. Completam a lista outras duas comédias: É proibido fumar, de Anna Muylaert (o único a chegar amparado por algum prêmio mais importante, no caso o último Festival de Brasília e o prêmio da ACIE), com seis indicações, e Divã, com cinco.
Curiosamente, o recordista em indicações ficou de fora da disputa pelo prêmio principal: Tempos de paz, de Daniel Filho, recebeu 11 nomeações, incluindo diretor e ator (para Tony Ramos, que também concorre por Se eu fosse você 2), e uma que, pessoalmente, acho ainda estranha ao cinema brasileiro, a de Efeitos Especiais (ou Visuais, como queiram). Outra curiosidade: Salve geral, o representante brasileiro na disputa por uma vaga ao Oscar de Filme Estrangeiro, foi esquecido aqui também e somente conseguiu quatro indicações. Outros trabalhos mais autorais também foram esquecidos na categoria principal, como A festa da menina morta, estréia do ator Matheus Nachtergaele na direção e eleito melhor filme do ano pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), que concorre em quatro frentes: Ator (Daniel de Oliveira), Atriz Coadjuvante (Dira Paes), Roteiro Original e Maquiagem. Como é difícil fazer cinema no Brasil, o Grande Otelo acaba protagonizando algumas situações inusitadas. Pela ausência de uma produção segmentada de filmes de animação no país, o único indicado da categoria, O Grilo Feliz e os insetos gigantes, teve sua nomeação disfarçada de menção honrosa, para diminuir o constrangimento. Mas acabou saindo pior a emenda que o soneto, porque o desenho, também indicado a Melhor Filme Infantil, deixa a área livre para a premiação de outro produto descartável e francamente comercial, Xuxa e o mistério de Feiurinha, comprovando que bilheteria é mesmo credencial de qualidade no cinema nacional.
Mas nem tudo são esquisitices no Grande Otelo. O melhor filme brasileiro de 2009, Simonal – ninguém sabe o duro que dei, está devidamente representado em quatro categorias: Documentário, Montagem de Documentário (uma dessas extravagâncias que a gente só encontra aqui), Som e Trilha Sonora. Deve ganhar como doc, mas a concorrência é acirrada: também estão no páreo Loki – Arnaldo Baptista, Cidadão Boilesen, Palavra (en)cantada e os menos festejados Alô alô Teresinha e Waldick – sempre no meu coração. E há também, claro, os indicados a Filme Estrangeiro (aqui, sim, pode-se usar esta nomenclatura de maneira correta!), que traz Avatar, Gran Torino e Quem quer ser um milionário? na disputa.
Confira abaixo a relação completa dos indicados.
FILME
À deriva
A mulher invisível
Se eu fosse você 2
É proibido fumar
Divã
DIRETOR
Heitor Dhalia (
À deriva)
Cláudio Torres (
A mulher invisível)
Daniel Filho (
Se eu fosse você 2 e
Tempos de paz)
Anna Muylaert (
É proibido fumar)
ATOR
Selton Mello (
A mulher invisível e
Jean Charles)
Tony Ramos (
Se eu fosse você 2 e
Tempos de paz)
Dan Stulbach (
Tempos de paz)
Daniel de Oliveira (
A festa da menina morta)
ATRIZ
Débora Bloch (
À deriva)
Glória Pires (
Se eu fosse você 2 e
É proibido fumar)
Lília Cabral (
Divã)
Andrea Beltrão (
Verônica)
ATOR COADJUVANTE
Vladimir Brichta (
A mulher invisível)
Ary Fontoura (
Se eu fosse você 2)
Cássio Gabus Mendes (
Se eu fosse você 2)
Chico Diaz (
O contador de histórias)
Gero Camilo (
Hotel Atlântico)
ATRIZ COADJUVANTE
Fernanda Torres (
A mulher invisível)
Denise Weinberg (
Salve geral)
Dira Paes (
A festa da menina morta)
Drica Moraes (
Os normais 2 - A noite mais maluca de todas)
Leandra Leal (
Se nada mais der certo)
ROTEIRO ORIGINAL
A mulher invisível
Se eu fosse você 2
É proibido fumar
A festa da menina morta
O contador de histórias
ROTEIRO ADAPTADO
Divã
Tempos de paz
Budapeste
Hotel Atlântico
Bela noite para voar
FILME INFANTIL
Grilo feliz e os insetos gigantes
Xuxa e o mistério de Feiurinha
FILME DE ANIMAÇÃO (menção honrosa)
Grilo feliz e os insetos gigantes
FILME ESTRANGEIRO
Avatar (EUA)
Bastardos inglórios (EUA)
Gran Torino (EUA)
Milk - a voz da igualdade (EUA)
Quem quer ser um milionário? (EUA)
DOCUMENTÁRIO
Simonal - ninguém sabe o duro que dei
Loki - Arnaldo Baptista
Palavra (en)cantada
Alô alô Terezinha
Cidadão Boilesen
Waldick, sempre no meu coração
DIREÇÃO DE ARTE
À deriva
Tempos de paz
Besouro
Budapeste
Salve geral
FOTOGRAFIA
À deriva
Tempos de paz
Budapeste
O contador de histórias
A erva do rato
FIGURINOS
À deriva
A mulher invisível
Tempos de paz
Besouro
Budapeste
MAQUIAGEM
A mulher invisível
Tempos de paz
Besouro
Salve geral
A festa da menina morta
Um lobisomem na Amazônia
EFEITOS ESPECIAIS / VISUAIS
À deriva
Se eu fosse você 2
Tempos de paz
Besouro
Salve geral
SOM
À deriva
Besouro
Simonal - ninguém sabe o duro que dei
Loki - Arnaldo Baptista
Budapeste
TRILHA SONORA
É proibido fumar
Divã
Titãs, a vida até parece uma festa
Coração vagabundo
Herbert de perto
TRILHA SONORA ORIGINAL
Tempos de paz
Simonal - ninguém sabe o duro que dei
Loki - Arnaldo Baptista
Budapeste
O contador de histórias
MONTAGEM
À deriva
A mulher invisível
Se eu fosse você 2
É proibido fumar
Divã
Tempos de paz
Besouro
MONTAGEM DE DOCUMENTÁRIO
Simonal - ninguém sabe o duro que dei
Loki - Arnaldo Baptista
Titãs, a vida até parece uma festa
Palavra (en)cantada
Garapa
CURTA-METRAGEM
Booker Pittman
Cedro do Líbano
Distração de Ivan
Elo
Ô
Superbarroco
DOCUMENTÁRIO DE CURTA-METRAGEM
Arquitetura do corpo
De volta ao quarto 666
Nós somos um poema
Olhos de ressaca
Sweet Karolynne
CURTA-METRAGEM DE ANIMAÇÃO
O anão que virou gigante
Divino, de repente
Juro que vi: o saci
O menino que plantava invernos
A princesa e o violinista