Veja que surpresa. O
curta-metragem brasileiro A fábrica, dirigido
pelo baiano Aly Muritiba, foi incluído entre os 11 pré-finalistas ao Oscar da
categoria, cuja relação dos indicados ao prêmio será divulgada no dia 10 de
janeiro. Normalmente seriam 10 selecionados, mas houve um empate entre dois
títulos e por isso a Academia de Hollywood aumentou para um o número de
candidatos elegíveis. Só o fato de ter sido lembrado e passado na peneira que é
a fase de pré-seleção já é uma vitória, e se de fato o curta brasileiro
concorrer à estatueta, será a segunda vez que isso acontece. Em 2002, Paulo Machline levou o
seu Uma história de futebol à lista
final de indicados, mas acabou derrotado pelo espanhol Quiero
ser....
Ser finalista nessas categorias
de menor visibilidade do Oscar é sempre uma loteria, então, não sei até que
ponto isso chega como um reconhecimento à qualidade dos curtas-metragens
brasileiros, que atualmente experimentam uma fase de revalorização. Quando a
Embrafilme fechou as portas, no começo dos anos 90, foi o formato quem garantiu
a sobrevivência da indústria, já que era infinitamente mais barato produzir um
curta do que investir quantias elevadas em filmes que, muitas vezes, nem se
pagavam nas salas de exibição. Agora, com a nova chamada Lei da TV a Cabo,
alguns canais por assinatura, ainda sem produção nacional própria em quantidade suficiente para encher
sua programação, estão recorrendo a eles para fazer cumprir a cota devida. Não
se espera que vá haver uma nova leva de curtas ruins ou de baixa qualidade como
se observava nos anos 80, quando outra lei obrigava os exibidores a apresentar
um curta nacional antes dos filmes estrangeiros, a chamada Lei do Curta. Quase
ninguém sabe, mas ela continua em vigor – só que, como tantas outras leis mais
importantes no país, não é cumprida e sequer fiscalizada. Até onde sei, o único
cinema do Rio que cumpre essa determinação é o pequeno Jóia, em Copacabana, que
brinda os espectadores com Filho das
flores, uma breve animação dirigida pelo cartunista Johandson Rezende (que
também dá expediente como bilheteiro da sala!), igualmente responsável pela
divertida vinheta de abertura das sessões. Mas é só.
Cena de Ilha das Flores (1989), de Jorge Furtado. |
Se antigamente a falta de
qualidade dos curtas irritava os espectadores e levavam o público a torcer o
nariz para o formato, hoje, com esse problema solucionado, a questão passou a
ser de escoamento. A produção de curtas-metragens cresce exponencialmente, até
mesmo pelas facilidades tecnológicas oferecidas nos dias atuais, com celulares
e câmeras digitais, que não só barateiam o processo, mas também ampliam a rede
de realizadores. E o que fazer com tantos títulos? O circuito exibidor não tem
como absorver o formato, ainda que a lei fosse cumprida, só alguns filmes
poderiam ser apresentados antes das sessões, e certamente haveria decisões
políticas para nortear tais escolhas. Algo do tipo: "Vamos exibir curtas feitos na 'comunidade', ou do diretor X, que é meu conhecido...". Há alternativas, como o Curta Cinema,
tradicional mostra de curtas-metragens, nacionais e estrangeiros, que acontece
no Rio de Janeiro em outubro. A TV
Brasil mantém no ar há anos uma sessão dedicada aos curtas brasileiros. O Canal
Brasil, historicamente, sempre reservou cotas de sua programação para a
exibição desses filmes. E há a internet, que acaba sendo a melhor plataforma
tanto para o lançamento quanto para a divulgação e popularização dos curtas.
Chega a ser quase irônico também constatar que, hoje, os curtas também ajudam a formar platéias pelo Brasil. Repare na programação de qualquer evento audiovisual que aconteça em qualquer cidade. Sempre há uma mostra de curtas-metragens. É o melhor cartão de visitas para quem não tem o hábito de ir ao cinema ou não tem tempo para assistir a um longa. Condenados no passado, os curtas brasileiros hoje ganham o mundo pela sua qualidade. Nunca despreze o formato.
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