Depois
de algumas sessões de pré-estréia no Festival do Rio, Gravidade entrou em cartaz na última sexta-feira (11/10)
referendado por toneladas de críticas altamente favoráveis. A revista Veja Rio
concedeu cinco estrelas à produção, algo que eu nunca tinha visto. Até o
normalmente azedo Rubens Ewald Filho se rendeu e escreveu uma crítica bastante
elogiosa em seu site. No grupo do Festival do Rio no Facebook, 12 das 13 notas
concedidas ao filme foram acima de 8. Ou seja, praticamente de todos os lados
sobram elogios para a esmerada produção dirigida pelo mexicano Alfonso Cuarón.
Diante disso, sobrou-me uma dúvida: será que eu é que sou tão chato e ranzinza para
não enxergar tantas qualidades assim?
Veja esta maravilha de cenário: prodígio em 3D. |
Comecemos
pelo 3D. Sim, ele funciona maravilhosamente bem neste filme. As imagens do
espaço sideral, reproduzidas no formato em que quase é possível
"tocar" a abóbada celeste, ou se sentir dentro de uma verdadeira
missão espacial, contagiam até quem torce o nariz para a tecnologia, como eu.
Não há como não tirar o chapéu para os efeitos especiais. Só que cinema não
pode se resumir a efeitos especiais, é preciso que haja um roteiro sólido que
justifique toda a trama criada em torno deles. É aí que Gravidade erra. Ele encanta e funciona como pirotecnia audiovisual;
mas, como peça dramatúrgica, é quase nula. Tirando os efeitos, pouco sobra.
O filme segue a linha
comum a qualquer blockbuster: um visual espetacular que captura o olhar do
espectador e disfarça a fragilidade da trama. Mas, quem conseguir enxergar além
das trucagens tridimensionais e reparar um pouco no desenvolvimento da história,
provavelmente terá a sensação de que tudo é mera desculpa para que se faça uso
de efeitos de última geração.
Como
a fantasia escapista que se pretende, Gravidade
é exemplar. E nem vale a pena citar os muitos erros que certamente passam
despercebidos ao espectador comum, mas foram apontados por cientistas,
pesquisadores e mesmo astronautas que assistiram ao filme. Por exemplo, o fato
de a Estação Espacial Internacional (EEI) estar na mesma órbita que a Estação
Chinesa e o telescópio Hubble e todos ficarem a poucos metros de distância um
do outro, algo que não ocorre na realidade, por questões de segurança.
Cada época tem a Jane Fonda que merece. |
Também
é muito citada a cena em que Sandra Bullock protagoniza um striptease a bordo
da nave (seria uma referência intencional à Barbarella?),
o que também soa inverossímil, já que o traje espacial é pesado, os astronautas não
o ficam tirando toda hora como se vê no filme. Mas até aí tudo bem, afinal,
cinema é fantasia, não há obrigação de reproduzir fielmente a realidade, nem há
preocupação de se rodar uma fantasia corretamente científica em seus mínimos
detalhes.
A
questão é que quem paga ingresso para ver um filme desse no cinema não está
preocupado com implicações existenciais (há quem veja ecos de 2001 - Uma odisséia no espaço, de
Kubrick) nem com verdades científicas, mas sim, justamente, em se extasiar com
as imagens, em se perder no clima de fantasia, deixar os problemas fora da sala
escura e mergulhar em duas horas (na verdade, hora e meia) de distração.
Mas,
chato que sou, implico com a fragilidade do roteiro, com a falta de
alternativas dadas aos personagens, que não têm muito o que fazer no espaço,
com a repetição de algumas situações, com o completo vazio que se abate sobre o
espectador ao final da sessão. Talvez por isso tenha certa má vontade com esses
blockbusters. Eu sei, não há outro tipo de filme que confirme mais aquela velha
máxima de que "cinema é a maior diversão" do que esse, mas penso,
sempre pensei, que cinema pode ser mais. Acho que pela minha própria formação
cinéfila, muito mais próxima do cinema alternativo, europeu ou oriental, com
conteúdo, do que das papagaiadas hollywoodianas, que enchem os olhos e esvaziam
a cabeça.
Talvez
eu não tenha me deixado contagiar da forma correta quando vi o filme, espremido
entre uma sessão e outra, e ainda preocupado com minha programação, meio torcendo
para que ele acabasse logo e não me atrasasse. Pode ser. Admito revê-lo com
calma e, prometo, ser menos duro em minha apreciação. Até os chatos têm direito
a uma segunda chance. Com toda a ambigüidade que tal assertiva possa conter.
Concordo com a crítica. Os efeitos são sensacionais, mas o roteiro é bastante previsível e até certo ponto "chato"....
ResponderExcluirSomos vozes quase dissonantes em meio ao público geral que, embevecido pelos efeitos especiais, esquece desse "pequeno" detalhe chamado roteiro.
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