quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Meus palpites para o Oscar 2014

Os cinéfilos foliões terão de escolher o programa no domingo, dia 2 de março, quando os desfiles do carnaval, mais uma vez, irão se chocar com a cerimônia de entrega do Oscar. De minha parte, não haverá dúvida e vou me plantar à frente da TV para acompanhar a entrega dos prêmios. Como em todos os anos, deixo aqui os meus palpites para os vencedores de 2014, na expectativa de, pelo menos, evitar repetir o vexame do ano anterior, quando acertei apenas três prognósticos. Desta vez, me deixei guiar pela razão em quase todas as categorias.

FILME
Ano passado embarquei naquela de "filme com cara de Oscar" e me lasquei. Vou correr o mesmo risco este ano e cravar 12 anos de escravidão como o vencedor. Tem a cara do Oscar etc. Mas não só por isso. Apesar de todas as suas qualidades técnicas, Gravidade é uma ficção científica, gênero normalmente relegado por Hollywood em suas categorias "sérias", ao passo que Trapaça, o outro grande favorito, além de se assemelhar um tanto com Golpe de mestre (ou seja, já não acerta pela originalidade), e embora seja defendido por um ótimo elenco, não faz o espectador pensar ao final da sessão, não levanta qualquer questão relevante nem acrescenta nada à experiência individual da platéia. Duas falhas que o pesado drama de Steve McQueen não apresenta.

DIRETOR
Acompanhando o premiado na categoria principal, Steve McQueen entrará para a história como o primeiro negro a receber o Oscar de direção.

ATOR
Leonardo Di Caprio envelheceu e, como sói acontecer com alguns intérpretes, virou um senhor ator. Sua atuação em O lobo de Wall Street chega a ser espantosa, tamanha a variedade de nuanças que imprime ao seu Jordan Belfort. Esta é sua quarta indicação e mereceria ganhar, finalmente. Mas deu azar, porque o ano parece ser de Matthew McConaughey, menos pelo seu trabalho em Clube de compras Dallas, mais como reconhecimento aos bons papéis que vem interpretando nos últimos tempos (aliás, ele faz uma ponta rápida e divertida junto com Di Caprio no filme de Scorsese). Ou seja, um daqueles casos em que o Oscar é mais político do que qualificado.

ATRIZ
Cate Blanchett vem papando todos os prêmios, e naturalmente leva aqui também. Mas a grande atuação entre as indicadas é de Meryl Streep, que engole Álbum de família na cena do surto de loucura à mesa. Mais um Oscar seria muito merecido.

ATOR COADJUVANTE
Jared Leto ganhou o Globo de Ouro, mas a verdade é que faz e aparece muito pouco em Clube de compras Dallas, ofuscado por McConaughey, que capitaliza toda a atenção de um filme fraco. Jonah Hill parece descontrolado em O lobo de Wall Street. O Oscar poderia ir para Michael Fassbender, mais pela carreira em ascensão do que por seu trabalho em 12 anos de escravidão. Sobra o excelente Barkhad Abdi em Capitão Phillips, mas é pouco provável que a Academia conceda um prêmio a um negro amador e iniciante. Ou seja, o Oscar vai para Bradley Cooper por Trapaça. No fim das contas, é o único prêmio que o filme vai levar. 

ATRIZ COADJUVANTE
Por que a Academia não teve paciência com Jennifer Lawrence? Quiseram premiá-la logo, de qualquer jeito, por um personagem chato em um filme ruim. Resultado: vai ficar estranho agora fazer justiça e conferir a ela o merecido Oscar de coadjuvante em Trapaça, no qual está brilhante como a esposa burra e fútil do golpista, mas que acaba tendo um papel fundamental na resolução da história. Vitória por dois anos seguidos? Não creio, acho difícil. Assim, aposto as fichas em Lupita Nyongo, mais para engordar a lista de prêmios para 12 anos de escravidão. Mas a verdade é que todas as indicadas estão muito bem em seus respectivos papéis e qualquer uma que sair vencedora terá merecido. Minha torcida, porém, estará com June Squibb, a ranzinza desbocada de Nebraska.

FILME ESTRANGEIRO
A disputa está polarizada entre o favorito A grande beleza (Itália) e A caça (Dinamarca), dois grandes filmes. O primeiro chega com ligeira vantagem por ter ganho o European Film Awards, ou seja, já teve suas qualidades reconhecidas e o Oscar pode corroborar isso. Mas não dá para descartar o pequeno e simpático Alabama Monroe – O círculo quebrado (Bélgica), que pode se favorecer de uma divisão de votos entre os outros dois concorrentes.

FILME DE ANIMAÇÃO
Aposto em Frozen Uma aventura congelante, sobretudo por ter sido muito bem-sucedido comercialmente lá fora.

ROTEIRO ORIGINAL
Não há, entre os indicados, roteiro mais criativo e verdadeiramente original do que o de Ela.

ROTEIRO ADAPTADO
Mais um prêmio para encher o currículo de 12 anos de escravidão.

FIGURINOS
Filmes de época geralmente saem vencedores nesta categoria. Aposto em O grande Gatsby.

FOTOGRAFIA
Aposto no belo preto e branco de Nebraska, que tem algumas imagens que chegam a parecer quadros pintados.

DIREÇÃO DE ARTE
Primeiro dos prêmios técnicos que Gravidade irá embolsar este ano.

MAQUIAGEM
Parece não haver concorrência para Vovô sem vergonha.

CANÇÃO
A canção "Alone yet not alone", do filme homônimo, foi desclassificada, então restam quatro na disputa. Naturalmente a favorita é "Let it go", de Frozen Uma aventura congelante, mas fico com "The moon song", de Ela.

TRILHA SONORA
Fico com Philomena, que chega muito bem-recomendado ao Oscar e levará ao menos um dos prêmios a que concorre, já que não tem chances nas outras categorias.

MONTAGEM
O ritmo taquicárdico de Capitão Phillips garante o prêmio desta categoria.

EFEITOS ESPECIAIS, SOM E EFEITOS SONOROS
Três prêmios merecidíssimos para Gravidade. Já escrevi sobre o filme aqui na época do Festival do Rio e insisto: o roteiro é fraco, mas toda a parte técnica é exemplar, tanto na direção de arte quanto na ousadia de se criar som no espaço sideral. Creio que o filme está hoje para o gênero de ficção científica quanto estiveram, em suas respectivas épocas, 2001 Uma odisséia no espaço e Matrix. Ou seja, um marco, um divisor de águas, que se tornará um parâmetro de excelência daqui por diante.

DOCUMENTÁRIO
Ao que tudo indica, será zebra se a vitória não for de O ato de matar. Embora longo e de tema difícil (a recriação dos crimes cometidos durante o período ditatorial na Indonésia dos anos 60, encenada pelos próprios matadores), é um desses filmes que trazem a força da denúncia necessária para que novas atrocidades sejam evitadas.

DOCUMENTÁRIO CURTO
Aberta a temporada de chutes. Aqui, fico com Prison terminal: the last days of private Jack Hall, que tem a chancela da HBO e poderá ser visto em breve na TV a cabo.

CURTA-METRAGEM
O espanhol Aquel no era yo leva nesta categoria.

CURTA-METRAGEM DE ANIMAÇÃO
Meu palpite vai para Mr. Hublot. Curiosidade: um dos indicados, Get a horse!, pode ser visto nos cinemas, antes de Frozen – Uma aventura congelante. É uma pequena aventura com Mickey, Minnie e João Bafo-de-Onça em preto e branco, recriando o clima dos antigos cartoons norte-americanos.

Na madrugada de carnaval, enquanto o povo samba, o CineComFritas acompanha a entrega das estatuetas. Os premiados você confere aqui no blog já nas primeiras horas do dia 3 de março. 

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Confissões de um seriemaníaco - VIII

OSMAR, A PRIMEIRA FATIA DO PÃO DE FORMA

Onde e quando: Gloob, segunda a sexta, 19h45; idem, 11h15; sábado, 18h15.
Elenco: vozes principais de Marcius Melhem e Leandro Hassum.
Sinopse: Osmar é uma fatia de pão que vive muitas aventuras em Trigueirópolis, a cidade do café da manhã.




Comentários: Este é mais um efeito direto da Lei da TV a Cabo, que obrigou os canais por assinatura a investirem em produção nacional para preencher o horário nobre de suas programações. E também uma prova de como a animação brasileira está caminhando muito bem por suas próprias pernas, graças a projetos criativos como este. Embora direcionado às crianças, é o tipo de atração que agrada também aos adultos, por causa da simpatia dos personagens e da criatividade das histórias. A premissa é bastante original. Osmar é uma fatia de pão que, por ter apenas casca de um dos lados, é sempre deixada no pacote. Essa característica é primordial na construção da psicologia do personagem, que é apresentado como um perdedor nato, como se canta na musiquinha de abertura: "Sua vida todo dia é um boicote"! Ele mora com seu amigo Stevie, uma baguete folgazã e que sempre mete o pobre Osmar nas maiores furadas. É apaixonado por Josy, uma bisnaga charmosa e patricinha que sequer sabe o nome dele, e vive sendo multado pelo síndico do prédio onde vive, Seu Max, pelos motivos mais variados (e absurdos!). Não espere roteiros mirabolantes, afinal, vale lembrar, é uma atração infantil, mas é possível perceber certas sacadas e referências que certamente passarão batidas pelos pequenos. Por exemplo, a parede da lanchonete onde Osmar se reúne com seus amigos tem um pôster de Elvis Pretzel; o prédio mais luxuoso da cidade se chama Iogurtower Plaza e é sempre anunciado com pompa e reverência; o psicanalista que trata de Osmar é um croissant e por isso fala com sotaque francês; e por aí vai. Outras piadas são mais acessíveis, como a rede social usada pelos personagens, chamada Facebake. A exemplo do que sucede em Os Simpsons, há participações especiais de figuras conhecidas, como a consultora de moda Constanza Pascolatto (que aqui vira Chocolatto, uma brincadeira que as crianças evidentemente não entenderão) e o lutador Anderson (aqui, Provolanderson) Silva, cujo final é ainda mais trágico do que a fratura que sofreu em dezembro, mas, claro, sempre na base da caricatura. Normalmente usado como "escada" para Hassum nos programas humorísticos da TV, Melhem brilha dando a voz a Osmar, cabendo ao amigo a tarefa de falar por Stevie.


Por que ver: Pela criatividade da idéia, a simpatia dos personagens e pela dublagem, bastante competente, que ajuda a compor as características de Osmar e seus amigos.
Por que não ver: Pode soar excessivamente infantil para muitos espectadores adultos. A dica é deixar falar a criança que (dizem) existe em cada um de nós.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Duas estrelas que sobem

Não dá para fugir muito do assunto. A semana começou de forma particularmente trágica para a comunidade cinéfila, sacudida pelas mortes de Eduardo Coutinho e de Phillip Seymour Hoffman. Difícil dizer qual das duas foi a mais chocante, porque ambas guardam características que as igualam na fatalidade.

Eduardo Coutinho tinha 80 anos e era considerado o principal documentarista do Brasil e reconhecido como um dos maiores do mundo. Dirigiu 20 obras, entre curtas, médias e longas-metragens, todas do gênero que lhe deu fama. Nos anos 70, realizou breves reportagens televisivas para o Globo Repórter (naquela época, o programa ainda tinha contornos mais jornalísticos, ao contrário de hoje, quando praticamente abandonou temas políticos e sociais relevantes em prol de assuntos mais amenos, como turismo e vida animal), o que serviu para que refinasse seu estilo e encontrasse um caminho próprio dentro do gênero. Sua facilidade na forma de abordar questões e de trabalhar imagens contribuiu para que se tornasse extremamente popular e pode-se dizer que Coutinho foi o responsável por transformar o documentário em um espetáculo atraente para o público médio, ou mesmo minimamente interessante para o espectador pouco acostumado às narrativas não ficcionais.

Hoje em dia, é raro alguém dizer que nunca viu um filme do diretor. Gosto particularmente de dois deles: Edifício Master (2002) e Jogo de cena (2007). O primeiro é uma radiografia afetiva de um dos endereços residenciais mais conhecidos da cidade do Rio; o segundo embaralha realidade e ficção para debater o ofício da interpretação, reunindo atrizes famosas e outras nem tanto, que prestam depoimentos tanto baseados em suas vidas pessoais quanto inventados para a câmera. O que é real e o que não é? Impossível saber. Mas essa era a proposta de Coutinho: alçar vidas comuns à condição de especiais, tatuadas perenemente no celulóide da história. O mais curioso é que o homem que revelava tantas vidas para o mundo mantinha a sua hermeticamente reservada. Coutinho morreu esfaqueado pelo filho, que tinha problemas psicológicos, fato desconhecido até pela irmã do cineasta.

O caso de Phillip Seymour Hoffman se aproxima do destino de outros astros e estrelas que, a despeito do talento inquestionável e do sucesso alcançado em seu meio, acabaram se perdendo nas drogas e nos excessos. O ator foi encontrado com uma seringa espetada no braço, o que reforça a tese de que tenha morrido por overdose de heroína, substância encontrada na cena do crime. Estava "limpo" há mais de 20 anos, e pessoas próximas dizem que recentes problemas pessoais podem ter servido para que ele tivesse uma recaída, já que foi usuário de drogas na juventude. Considerado um dos melhores atores de sua geração, Hoffman estava com 46 anos e dificilmente se apresentava mal em cena.

Teve tempo de ser reconhecido pela Academia, que lhe concedeu um Oscar em 2006 por Capote, além de tê-lo indicado outras três vezes (nestas, como coadjuvante). Sua versatilidade o fazia transitar com igual desenvoltura por papéis tão díspares quanto um vilão disposto a destruir o mundo (Missão impossível 3), um crítico musical (Quase famosos), um valentão marrento (Meu namorado é de morte!, que reportagem alguma informou, mas foi um de seus primeiros papéis no cinema, como escrevi aqui no blog) ou um tímido motorista descobrindo o amor (Vejo você no próximo verão, sua única experiência atrás das câmeras).

Anualmente, a Academia de Hollywood presta uma homenagem aos membros da indústria do cinema que faleceram nos meses anteriores à cerimônia do Oscar. É muito provável que Hoffman estará entre os lembrados; minha expectativa é se irão se lembrar também de Coutinho, com todo seu prestígio e reconhecimento internacional, ou se deixarão de lado a imagem desse documentarista genial, pelo simples fato de ele ser brasileiro. Aguardemos.

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A classificação do Botafogo á fase de grupos da Taça Libertadores, após a goleada por 4x0 sobre o frágil Deportivo Quito, era o mínimo que se esperava do time no seu retorno à competição continental após 18 anos de ausência. O time mostrou garra e disposição, elementos fundamentais nesse tipo de torneio. Mas ainda carece de um ataque mais efetivo. Vamos lutar pela segunda vaga no grupo. O que vier depois será lucro.