Os
cinéfilos foliões terão de escolher o programa no domingo, dia 2 de março,
quando os desfiles do carnaval, mais uma vez, irão se chocar com a cerimônia de
entrega do Oscar. De minha parte, não haverá dúvida e vou me plantar à frente
da TV para acompanhar a entrega dos prêmios. Como em todos os anos, deixo aqui
os meus palpites para os vencedores de 2014, na expectativa de, pelo menos,
evitar repetir o vexame do ano anterior, quando acertei apenas três
prognósticos. Desta vez, me deixei guiar pela razão em quase todas as
categorias.
FILME
Ano
passado embarquei naquela de "filme com cara de Oscar" e me lasquei.
Vou correr o mesmo risco este ano e cravar 12
anos de escravidão como o
vencedor. Tem a cara do Oscar etc. Mas não só por isso. Apesar de todas as suas
qualidades técnicas, Gravidade é uma
ficção científica, gênero normalmente relegado por Hollywood em suas categorias
"sérias", ao passo que Trapaça,
o outro grande favorito, além de se assemelhar um tanto com Golpe de mestre (ou seja, já não acerta
pela originalidade), e embora seja defendido por um ótimo elenco, não faz o
espectador pensar ao final da sessão, não levanta qualquer questão relevante
nem acrescenta nada à experiência individual da platéia. Duas falhas que o
pesado drama de Steve McQueen não apresenta.
DIRETOR
Acompanhando
o premiado na categoria principal, Steve
McQueen entrará para a história como o primeiro negro a receber o Oscar de
direção.
ATOR
Leonardo
Di Caprio envelheceu e, como sói acontecer com alguns intérpretes, virou um
senhor ator. Sua atuação em O lobo de
Wall Street chega a ser espantosa, tamanha a variedade de nuanças que
imprime ao seu Jordan Belfort. Esta é sua quarta indicação e mereceria ganhar,
finalmente. Mas deu azar, porque o ano parece ser de Matthew McConaughey, menos pelo seu trabalho em Clube de compras Dallas, mais como
reconhecimento aos bons papéis que vem interpretando nos últimos tempos (aliás,
ele faz uma ponta rápida e divertida junto com Di Caprio no filme de Scorsese).
Ou seja, um daqueles casos em que o Oscar é mais político do que qualificado.
ATRIZ
Cate Blanchett vem papando
todos os prêmios, e naturalmente leva aqui também. Mas a grande atuação entre
as indicadas é de Meryl Streep, que engole Álbum
de família na cena do surto de loucura à mesa. Mais um Oscar seria muito
merecido.
ATOR COADJUVANTE
Jared
Leto ganhou o Globo de Ouro, mas a verdade é que faz e aparece muito pouco em Clube de compras Dallas, ofuscado por
McConaughey, que capitaliza toda a atenção de um filme fraco. Jonah Hill parece
descontrolado em O lobo de Wall Street. O Oscar poderia ir para Michael Fassbender, mais pela carreira em ascensão do que por seu trabalho em 12 anos de escravidão. Sobra o excelente Barkhad Abdi em Capitão Phillips, mas é pouco provável que a Academia conceda um prêmio a um negro amador e iniciante. Ou seja, o Oscar vai para Bradley Cooper por Trapaça. No fim das contas, é o único prêmio que o filme vai levar.
ATRIZ
COADJUVANTE
Por
que a Academia não teve paciência com Jennifer Lawrence? Quiseram premiá-la
logo, de qualquer jeito, por um personagem chato em um filme ruim. Resultado:
vai ficar estranho agora fazer justiça e conferir a ela o merecido Oscar de
coadjuvante em Trapaça, no qual está
brilhante como a esposa burra e fútil do golpista, mas que acaba tendo um papel
fundamental na resolução da história. Vitória por dois anos seguidos? Não
creio, acho difícil. Assim, aposto as fichas em Lupita Nyongo, mais para engordar a lista de prêmios para 12 anos de escravidão. Mas a verdade é
que todas as indicadas estão muito bem em seus respectivos papéis e qualquer
uma que sair vencedora terá merecido. Minha torcida, porém, estará com June
Squibb, a ranzinza desbocada de Nebraska.
FILME
ESTRANGEIRO
A
disputa está polarizada entre o favorito A grande beleza (Itália) e A caça (Dinamarca), dois grandes filmes.
O primeiro chega com ligeira vantagem por ter ganho o European Film Awards, ou
seja, já teve suas qualidades reconhecidas e o Oscar pode corroborar isso. Mas
não dá para descartar o pequeno e simpático Alabama
Monroe – O círculo
quebrado (Bélgica),
que pode se favorecer de uma divisão de votos entre os outros dois concorrentes.
FILME DE
ANIMAÇÃO
Aposto
em Frozen
– Uma aventura congelante, sobretudo por
ter sido muito bem-sucedido comercialmente lá fora.
ROTEIRO ORIGINAL
Não
há, entre os indicados, roteiro mais criativo e verdadeiramente original do que
o de Ela.
ROTEIRO ADAPTADO
Mais
um prêmio para encher o currículo de 12 anos de escravidão.
FIGURINOS
Filmes
de época geralmente saem vencedores nesta categoria. Aposto em O
grande Gatsby.
FOTOGRAFIA
Aposto
no belo preto e branco de Nebraska, que tem algumas imagens que chegam a parecer quadros pintados.
DIREÇÃO DE ARTE
Primeiro
dos prêmios técnicos que Gravidade irá embolsar este ano.
MAQUIAGEM
Parece
não haver concorrência para Vovô sem vergonha.
CANÇÃO
A
canção "Alone yet not alone", do filme homônimo, foi desclassificada,
então restam quatro na disputa. Naturalmente a favorita é "Let it
go", de Frozen – Uma aventura
congelante,
mas fico com "The moon song",
de Ela.
TRILHA SONORA
Fico
com Philomena,
que chega muito bem-recomendado ao Oscar e levará ao menos um dos prêmios a que
concorre, já que não tem chances nas outras categorias.
MONTAGEM
O
ritmo taquicárdico de Capitão Phillips
garante o prêmio desta categoria.
EFEITOS
ESPECIAIS, SOM E EFEITOS SONOROS
Três
prêmios merecidíssimos para Gravidade. Já escrevi sobre o filme
aqui na época do Festival do Rio e insisto: o roteiro é fraco, mas toda a parte
técnica é exemplar, tanto na direção de arte quanto na ousadia de se criar som
no espaço sideral. Creio que o filme está hoje para o gênero de ficção científica
quanto estiveram, em suas respectivas épocas, 2001 – Uma odisséia no espaço e Matrix. Ou seja, um marco, um divisor de águas, que se tornará um parâmetro de excelência daqui por diante.
DOCUMENTÁRIO
Ao
que tudo indica, será zebra se a vitória não for de O ato de matar. Embora
longo e de tema difícil (a recriação dos crimes cometidos durante o período
ditatorial na Indonésia dos anos 60, encenada pelos próprios matadores), é um
desses filmes que trazem a força da denúncia necessária para que novas
atrocidades sejam evitadas.
DOCUMENTÁRIO
CURTO
Aberta
a temporada de chutes. Aqui, fico com Prison terminal: the
last days of private Jack Hall, que
tem a chancela da HBO e poderá ser visto em breve na TV a cabo.
CURTA-METRAGEM
O espanhol Aquel no era yo leva nesta
categoria.
CURTA-METRAGEM
DE ANIMAÇÃO
Meu palpite vai para Mr. Hublot. Curiosidade: um dos indicados, Get a horse!, pode ser visto nos cinemas, antes de Frozen – Uma aventura congelante. É uma pequena aventura com Mickey, Minnie e João Bafo-de-Onça em preto e branco, recriando o clima dos antigos cartoons norte-americanos.
Na madrugada de carnaval, enquanto o povo samba, o CineComFritas
acompanha a entrega das estatuetas. Os premiados você confere aqui no blog já
nas primeiras horas do dia 3 de março.