quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Duas estrelas que sobem

Não dá para fugir muito do assunto. A semana começou de forma particularmente trágica para a comunidade cinéfila, sacudida pelas mortes de Eduardo Coutinho e de Phillip Seymour Hoffman. Difícil dizer qual das duas foi a mais chocante, porque ambas guardam características que as igualam na fatalidade.

Eduardo Coutinho tinha 80 anos e era considerado o principal documentarista do Brasil e reconhecido como um dos maiores do mundo. Dirigiu 20 obras, entre curtas, médias e longas-metragens, todas do gênero que lhe deu fama. Nos anos 70, realizou breves reportagens televisivas para o Globo Repórter (naquela época, o programa ainda tinha contornos mais jornalísticos, ao contrário de hoje, quando praticamente abandonou temas políticos e sociais relevantes em prol de assuntos mais amenos, como turismo e vida animal), o que serviu para que refinasse seu estilo e encontrasse um caminho próprio dentro do gênero. Sua facilidade na forma de abordar questões e de trabalhar imagens contribuiu para que se tornasse extremamente popular e pode-se dizer que Coutinho foi o responsável por transformar o documentário em um espetáculo atraente para o público médio, ou mesmo minimamente interessante para o espectador pouco acostumado às narrativas não ficcionais.

Hoje em dia, é raro alguém dizer que nunca viu um filme do diretor. Gosto particularmente de dois deles: Edifício Master (2002) e Jogo de cena (2007). O primeiro é uma radiografia afetiva de um dos endereços residenciais mais conhecidos da cidade do Rio; o segundo embaralha realidade e ficção para debater o ofício da interpretação, reunindo atrizes famosas e outras nem tanto, que prestam depoimentos tanto baseados em suas vidas pessoais quanto inventados para a câmera. O que é real e o que não é? Impossível saber. Mas essa era a proposta de Coutinho: alçar vidas comuns à condição de especiais, tatuadas perenemente no celulóide da história. O mais curioso é que o homem que revelava tantas vidas para o mundo mantinha a sua hermeticamente reservada. Coutinho morreu esfaqueado pelo filho, que tinha problemas psicológicos, fato desconhecido até pela irmã do cineasta.

O caso de Phillip Seymour Hoffman se aproxima do destino de outros astros e estrelas que, a despeito do talento inquestionável e do sucesso alcançado em seu meio, acabaram se perdendo nas drogas e nos excessos. O ator foi encontrado com uma seringa espetada no braço, o que reforça a tese de que tenha morrido por overdose de heroína, substância encontrada na cena do crime. Estava "limpo" há mais de 20 anos, e pessoas próximas dizem que recentes problemas pessoais podem ter servido para que ele tivesse uma recaída, já que foi usuário de drogas na juventude. Considerado um dos melhores atores de sua geração, Hoffman estava com 46 anos e dificilmente se apresentava mal em cena.

Teve tempo de ser reconhecido pela Academia, que lhe concedeu um Oscar em 2006 por Capote, além de tê-lo indicado outras três vezes (nestas, como coadjuvante). Sua versatilidade o fazia transitar com igual desenvoltura por papéis tão díspares quanto um vilão disposto a destruir o mundo (Missão impossível 3), um crítico musical (Quase famosos), um valentão marrento (Meu namorado é de morte!, que reportagem alguma informou, mas foi um de seus primeiros papéis no cinema, como escrevi aqui no blog) ou um tímido motorista descobrindo o amor (Vejo você no próximo verão, sua única experiência atrás das câmeras).

Anualmente, a Academia de Hollywood presta uma homenagem aos membros da indústria do cinema que faleceram nos meses anteriores à cerimônia do Oscar. É muito provável que Hoffman estará entre os lembrados; minha expectativa é se irão se lembrar também de Coutinho, com todo seu prestígio e reconhecimento internacional, ou se deixarão de lado a imagem desse documentarista genial, pelo simples fato de ele ser brasileiro. Aguardemos.

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A classificação do Botafogo á fase de grupos da Taça Libertadores, após a goleada por 4x0 sobre o frágil Deportivo Quito, era o mínimo que se esperava do time no seu retorno à competição continental após 18 anos de ausência. O time mostrou garra e disposição, elementos fundamentais nesse tipo de torneio. Mas ainda carece de um ataque mais efetivo. Vamos lutar pela segunda vaga no grupo. O que vier depois será lucro. 

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