Não
dá para fugir muito do assunto. A semana começou de forma particularmente
trágica para a comunidade cinéfila, sacudida pelas mortes de Eduardo Coutinho e
de Phillip Seymour Hoffman. Difícil dizer qual das duas foi a mais chocante,
porque ambas guardam características que as igualam na fatalidade.
Eduardo
Coutinho tinha 80 anos e era considerado o principal documentarista do Brasil e
reconhecido como um dos maiores do mundo. Dirigiu 20 obras, entre curtas,
médias e longas-metragens, todas do gênero que lhe deu fama. Nos anos 70,
realizou breves reportagens televisivas para o Globo Repórter (naquela época, o
programa ainda tinha contornos mais jornalísticos, ao contrário de hoje, quando
praticamente abandonou temas políticos e sociais relevantes em prol de assuntos
mais amenos, como turismo e vida animal), o que serviu para que refinasse seu
estilo e encontrasse um caminho próprio dentro do gênero. Sua facilidade na
forma de abordar questões e de trabalhar imagens contribuiu para que se
tornasse extremamente popular e pode-se dizer que Coutinho foi o responsável
por transformar o documentário em um espetáculo atraente para o público médio,
ou mesmo minimamente interessante para o espectador pouco acostumado às
narrativas não ficcionais.
Hoje
em dia, é raro alguém dizer que nunca viu um filme do diretor. Gosto
particularmente de dois deles: Edifício
Master (2002) e Jogo de cena (2007).
O primeiro é uma radiografia afetiva de um dos endereços residenciais mais
conhecidos da cidade do Rio; o segundo embaralha realidade e ficção para
debater o ofício da interpretação, reunindo atrizes famosas e outras nem tanto,
que prestam depoimentos tanto baseados em suas vidas pessoais quanto inventados
para a câmera. O que é real e o que não é? Impossível saber. Mas essa era a
proposta de Coutinho: alçar vidas comuns à condição de especiais, tatuadas
perenemente no celulóide da história. O mais curioso é que o homem que revelava
tantas vidas para o mundo mantinha a sua hermeticamente reservada. Coutinho
morreu esfaqueado pelo filho, que tinha problemas psicológicos, fato
desconhecido até pela irmã do cineasta.
O
caso de Phillip Seymour Hoffman se aproxima do destino de outros astros e
estrelas que, a despeito do talento inquestionável e do sucesso alcançado em
seu meio, acabaram se perdendo nas drogas e nos excessos. O ator foi encontrado
com uma seringa espetada no braço, o que reforça a tese de que tenha morrido
por overdose de heroína, substância encontrada na cena do crime. Estava
"limpo" há mais de 20 anos, e pessoas próximas dizem que recentes
problemas pessoais podem ter servido para que ele tivesse uma recaída, já que
foi usuário de drogas na juventude. Considerado um dos melhores atores de sua
geração, Hoffman estava com 46 anos e dificilmente se apresentava mal em cena.
Teve
tempo de ser reconhecido pela Academia, que lhe concedeu um Oscar em 2006 por Capote, além de tê-lo indicado outras
três vezes (nestas, como coadjuvante). Sua versatilidade o fazia transitar com
igual desenvoltura por papéis tão díspares quanto um vilão disposto a destruir
o mundo (Missão impossível 3), um
crítico musical (Quase famosos), um
valentão marrento (Meu namorado é de
morte!, que reportagem alguma informou, mas foi um de seus primeiros papéis
no cinema, como escrevi aqui no blog) ou um tímido motorista descobrindo o amor
(Vejo você no próximo verão, sua
única experiência atrás das câmeras).
Anualmente,
a Academia de Hollywood presta uma homenagem aos membros da indústria do cinema
que faleceram nos meses anteriores à cerimônia do Oscar. É muito provável que
Hoffman estará entre os lembrados; minha expectativa é se irão se lembrar
também de Coutinho, com todo seu prestígio e reconhecimento internacional, ou
se deixarão de lado a imagem desse documentarista genial, pelo simples fato de
ele ser brasileiro. Aguardemos.
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A
classificação do Botafogo á fase de grupos da Taça Libertadores, após a goleada
por 4x0 sobre o frágil Deportivo Quito, era o mínimo que se esperava do time no
seu retorno à competição continental após 18 anos de ausência. O time mostrou
garra e disposição, elementos fundamentais nesse tipo de torneio. Mas ainda carece
de um ataque mais efetivo. Vamos lutar pela segunda vaga no grupo. O que vier
depois será lucro.
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