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A canção do almoço (2010) |
Existem
romances de 400, 500 páginas ao fim das quais o leitor se pergunta o que diabos
leu ali e lamenta o tempo perdido. Não vou dar exemplos, há milhares deles nas
prateleiras de qualquer livraria. Igualmente como há filmes de três horas de
duração que falam sobre nada, frustrando o espectador e levando-o a refletir
sobre o que poderia ter feito de útil durante aquele período em vez de ficar
enfurnado numa sala escura.
A
analogia é necessária para reforçar a qualidade de um filme pequeno, pouco
conhecido, mas que está disponível na rede para quem tiver paciência de
procurar e sorte de encontrar (quem não tiver nenhum dos dois pode conferir
suas esporádicas exibições na TV a cabo). Em pouco mais de 40 minutos, A canção do almoço consegue dizer muito
mais do que qualquer produto hollywoodiano pretensamente genial.
Concebido
para a BBC inglesa, este média-metragem é baseado no poema narrativo The song
of lunch, escrito por Christopher Reid em 2010. Às 12h de um dia qualquer
de semana, o modesto revisor de uma editora pequena deixa seu escritório para
ir almoçar. Não será um almoço qualquer: ele irá se encontrar com sua antiga
paixão, a ex-mulher que se tornou uma bem-sucedida escritora, reconhecida nos
meios literários e acadêmicos, seguindo caminho inverso ao dele mesmo, que
alcançou relativo sucesso ao publicar um livro anos antes e implodiu.
Aquele
encontro, bem como todo o ambiente que o envolve, está carregado de lembranças
passadas, lembranças ainda muito nítidas na mente do revisor (os personagens não
têm nome, nem precisam). Só que aquele mundo que ele traz na memória não existe
mais. As ruas do SoHo por onde ele caminha não são as mesmas de antes. O
próprio dono do seu restaurante preferido se aposentou, legando o negócio a
seus filhos, e nem os garçons do local resistiram à passagem cruel do tempo. A
decoração, o serviço... tudo está diferente. É outro mundo. É outra vida. Será
ele a mesma pessoa? Não, ele também mudou... será que os sentimentos também
mudaram?
A
brevidade da história pode fazer com que o espectador menos atento deixe passar
pequenos detalhes que enriquecem o roteiro e conferem um sabor especial à
produção. Temas normalmente complexos, como a busca da eterna juventude, a
soberba que faz recusar a aceitação de um fracasso, as diversas referências
eróticas, como no momento em que o personagem do revisor bebe vinho, são apresentados de forma simples e direta. Alan
Rickman e Emma Thompson encarnam os protagonistas, em atuações contidas e eficientes.
Agradável de ver, com um belo texto e dura tanto
quanto um bom episódio de alguma série. Dispense os romanções verborrágicos e
opte por este pequeno e recompensador volume.
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