O senhor Babadook (2013) |
Hoje
em dia é tão difícil assistir a um filme de terror minimamente decente, ou
seja, que fuja à fórmula fácil de sangue a rodo e tortura gratuita, que quando
descobrimos algum que trilhe outros caminhos já é motivo de aplauso. Este O senhor Babadook é uma produção
australiana, país que tem relativa tradição no gênero, e dá para imaginar o
estrago que Hollywood vai fazer no caso de uma muito provável refilmagem local.
Uma
jovem mãe viúva se muda com seu filho de 8 anos para uma nova casa em Sydney,
na tentativa de dar fim aos pesadelos que assolam as noites do menino. Só que o
tiro sai pela culatra: o moleque não só continua tendo sonhos aterradores, mas
também vai se tornando cada vez mais violento. As ameaças e atitudes agressivas
do pequeno coincidem com a descoberta de um livro infantil, chamado Babadook, de história e desenhos (como
pop-ups, que saltam das páginas quando são abertas ou viradas) altamente
perturbadores, tratando de morte e assassinato – muito instrutivo para o
universo infantil, como se vê. A mulher destrói o livro, mas agora ela é quem
passa a ser assombrada por pesadelos. E, brevemente, descobrirá que aquela não
é apenas uma historinha supostamente para crianças: é uma força demoníaca que
quer destruir ela e o filho.
O
que me incomodou no filme foram os cortes, rápidos e por vezes abruptos,
interrompendo cenas que soam incompletas com tal recurso. A montagem, por
tabela, é acelerada, o que compromete um pouco o clima assustador que a
história, de maneira gradual, vai criando. Mas, quando se propõe a montar uma atmosfera
de medo e tensão, o roteiro consegue, com sobras. Há cenas realmente de gelar o
sangue, a ponto de eu pensar que não é um filme adequado para se ver sozinho à
noite, e isso é um elogio e tanto a qualquer produção atual do gênero.
A
figura do misterioso Babadook nunca é vista de forma explícita, apenas sua
silhueta ou reproduzida nos desenhos – também aparece encarnada em tipos vistos
nas primeiras experiências cinematográficas de Meliès (mas tudo pode ser um
delírio visual da mãe).
Também
me frustrou a ausência de uma explicação para as origens do personagem. O
Babadook seria um livro amaldiçoado? Um demônio ancestral? A representação de
uma maldição milenar que habita aquela casa? O roteiro não explica nem fornece
pistas para o espectador. Mas esse detalhe não compromete a montanha-russa de
sustos bem-encaixados.
A
diretora e roteirista Jennifer Kent, que também é atriz (esteve em Babe, o porquinho atrapalhado na cidade,
1998, mas não aparece aqui) apresenta um bom cartão de visitas na sua estréia
no longa-metragem. Ajustes precisam ser feitos, mas o início é promissor.
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