Refilmagens, de maneira geral, podem ser enquadradas em duas categorias: as que não devem ser feitas e as que não precisam ser feitas. No primeiro caso, temos os clássicos do cinema, produções cultuadas pelos cinéfilos e que, por suas próprias qualidades, dispensam versões modernizadas. Casos de Cantando na chuva (musicais estão fora de moda, e, além disso, não há, hoje, nenhum ator-cantor-dançarino como Gene Kelly, que sustente um papel daquele tipo – e, por favor, não me venham com Zac Efrom!), Casablanca (há alguns anos, houve uma ameaça de refilmagem, com Ben Affleck e Jennifer Lopez nos papéis que foram de Humphrey Bogart e Ingrid Bergman!!!! – mas felizmente os autores da idéia recuperaram a sanidade antes de cometerem tamanho desatino), Cidadão Kane (qualquer comparação seria desfavorável à nova versão, por mais que tivesse qualidades – se tivesse), e mesmo produções mais recentes, como E.T. – o extraterrestre (Spielberg nunca consentiu, no que fez muito bem). Já na segunda categoria, temos casos de filmes que ganharam novas versões, mas perdem de goleada se comparados com o original. Aqui entra o Psicose de Gus Van Sant, que nem chega a ser tão mal produzido, mas é uma refilmagem absolutamente desnecessária. As novas gerações, que não conhecem Hitchcock, podem até se divertir, mas os que conhecem a história original, de 1960, dificilmente verão com simpatia esse exercício de direção feito sem propósito e sem motivo.
Mesmo fazendo certas ressalvas às refilmagens, é impossível não assisti-las, seja para tão somente criticar ou para estabelecer inevitáveis comparações com o original. Em alguns casos, é por meio das refilmagens que ficamos sabendo da existência de uma primeira versão – pouca gente sabe, mas o Ben Hur recordista de Oscars em 1960 é a nova versão de uma história já levada às telas nos anos 20, dirigida por Fred Niblo, e com o mítico Ramon Novarro dando vida ao mesmo personagem que Charlton Heston encarnaria quase quatro décadas depois. O próprio Hitchcock realizou uma refilmagem de si mesmo, com O homem que sabia demais, rodado originalmente por ele ainda em sua fase inglesa (1934) e posteriormente refeito em terras norte-americanas (1956). Muitos anos depois, o austríaco Michael Haneke usou do mesmo expediente.
Em 1997, Haneke chamou a atenção da comunidade cinéfila em todo o mundo com um assombroso filme de suspense, que, no Brasil, recebeu um título desagradável, Violência gratuita. Efusivamente saudado pela crítica, Haneke prosseguiu sua carreira na Europa, onde rodou outros projetos igualmente elogiados (Código desconhecido, A professora de piano, Caché). Não gostei de nenhum deles, à exceção deste último, realmente brilhante, com direito a uma das cenas mais perturbadoras do cinema recente. Convidado a trabalhar em Hollywood, Haneke, em vez de se arriscar em novos projetos, resolveu pisar em um terreno já conhecido. Assim, fez uma refilmagem praticamente quadro a quadro de seu filme de estréia. A pergunta que fica é: havia necessidade de se refazer a odisséia de brutalidade a que um casal, agora formado por Naomi Watts e Tim Roth, fica exposto?
O filme não é ruim. Tem suspense e tensão na medida certa, um roteiro enxuto, que não perde tempo com explicações (e nem precisa), cenografia despojada e absurdamente contrastante (ambientes perfeitamente imaculados que são, aos poucos, tingidos pelas cores da violência) e ausência de trilha sonora, marca do diretor, a não ser nos créditos iniciais e finais. A abertura, inclusive, faz lembrar um produto típico dos anos 70, com letras grandes ocupando a tela enquanto a família feliz ruma para sua casa de campo, evocando aqueles filmes de terror rural tão em voga na época. E Michael Pitt assustador como um dos psicopatas. Ou seja, tem qualidades. Só não sei se deveria ter vindo a lume. Confesso não ter mais paciência nem estômago para filmes que celebram a violência, ainda mais de forma tão cruel quanto este. E será que Haneke não poderia demonstrar sua suposta genialidade em terra ianque rodando uma idéia original? Isso veremos com o tempo. Por enquanto, ele só conseguiu preencher mais um espaço na imensa seara da falta de criatividade que assola Hollywood, que precisa requentar idéias para fazer a indústria seguir adiante.
Mesmo fazendo certas ressalvas às refilmagens, é impossível não assisti-las, seja para tão somente criticar ou para estabelecer inevitáveis comparações com o original. Em alguns casos, é por meio das refilmagens que ficamos sabendo da existência de uma primeira versão – pouca gente sabe, mas o Ben Hur recordista de Oscars em 1960 é a nova versão de uma história já levada às telas nos anos 20, dirigida por Fred Niblo, e com o mítico Ramon Novarro dando vida ao mesmo personagem que Charlton Heston encarnaria quase quatro décadas depois. O próprio Hitchcock realizou uma refilmagem de si mesmo, com O homem que sabia demais, rodado originalmente por ele ainda em sua fase inglesa (1934) e posteriormente refeito em terras norte-americanas (1956). Muitos anos depois, o austríaco Michael Haneke usou do mesmo expediente.
Em 1997, Haneke chamou a atenção da comunidade cinéfila em todo o mundo com um assombroso filme de suspense, que, no Brasil, recebeu um título desagradável, Violência gratuita. Efusivamente saudado pela crítica, Haneke prosseguiu sua carreira na Europa, onde rodou outros projetos igualmente elogiados (Código desconhecido, A professora de piano, Caché). Não gostei de nenhum deles, à exceção deste último, realmente brilhante, com direito a uma das cenas mais perturbadoras do cinema recente. Convidado a trabalhar em Hollywood, Haneke, em vez de se arriscar em novos projetos, resolveu pisar em um terreno já conhecido. Assim, fez uma refilmagem praticamente quadro a quadro de seu filme de estréia. A pergunta que fica é: havia necessidade de se refazer a odisséia de brutalidade a que um casal, agora formado por Naomi Watts e Tim Roth, fica exposto?
O filme não é ruim. Tem suspense e tensão na medida certa, um roteiro enxuto, que não perde tempo com explicações (e nem precisa), cenografia despojada e absurdamente contrastante (ambientes perfeitamente imaculados que são, aos poucos, tingidos pelas cores da violência) e ausência de trilha sonora, marca do diretor, a não ser nos créditos iniciais e finais. A abertura, inclusive, faz lembrar um produto típico dos anos 70, com letras grandes ocupando a tela enquanto a família feliz ruma para sua casa de campo, evocando aqueles filmes de terror rural tão em voga na época. E Michael Pitt assustador como um dos psicopatas. Ou seja, tem qualidades. Só não sei se deveria ter vindo a lume. Confesso não ter mais paciência nem estômago para filmes que celebram a violência, ainda mais de forma tão cruel quanto este. E será que Haneke não poderia demonstrar sua suposta genialidade em terra ianque rodando uma idéia original? Isso veremos com o tempo. Por enquanto, ele só conseguiu preencher mais um espaço na imensa seara da falta de criatividade que assola Hollywood, que precisa requentar idéias para fazer a indústria seguir adiante.