Simonal – ninguém sabe o duro que dei
Este é considerado o melhor documentário brasileiro do ano e um dos melhores de todos os tempos. As novas gerações podem não saber quem foi ou desconhecer a obra de Wilson Simonal, mas quem viveu nos anos 60 irá se recordar com entusiasmo do suingue do cantor, do domínio que mantinha sobre a audiência de seus shows, sempre em apresentações contagiantes. Mas a festa acabou no dia em que o artista, por pura inocência, se disse protegido pelos militares, isso num tempo em que a ditadura ocupava os principais cargos de poder no país. Não é difícil entender a derrocada de sua carreira a partir de então. Muito bem editado, o filme reúne depoimentos de amigos, colegas de palco, gente que viveu no período e testemunhou a febre Simonal – Miéle, Chico Anísio, Nélson Motta, a crítica teatral Bárbara Heliodora (para quem a mãe de Simonal trabalhou como doméstica), entre outros. Pelé conta a história mais divertida, de quando o cantor treinou com a Seleção Brasileira nos preparativos da Copa de 1970 e achava que seria escalado no time principal! O documentário, produzido e dirigido por Calvito Leal, Micael Langer e Cláudio Manuel, não se presta apenas a ser uma festiva lembrança audiovisual de um artista: joga luzes sobre o caso e provoca um debate sobre o poder da imprensa na construção e demolição de mitos e personagens. Para quem não viveu naquele tempo e desconhecia quase que inteiramente a história e a carreira de Simonal, como eu, o filme cumpre o dever de toda boa produção do gênero: informa e leva à reflexão. Mas, no final, a dúvida que se impõe é porque ninguém defendeu Simonal naquela época, se todos sabiam que ele era inocente, se era tão bem-visto pelos colegas de profissão. Porque ninguém queria se comprometer? Ninguém queria ficar marcado também? Assim, o roteiro sai do plano meramente ilustrativo de um período e da vida particular de um artista e ganha uma discussão mais ampla, sobre a necessidade humana de se adequar a certas situações, mesmo que isso leve a conseqüências arrasadoras. E aqui não se trata de ficção.
Este é considerado o melhor documentário brasileiro do ano e um dos melhores de todos os tempos. As novas gerações podem não saber quem foi ou desconhecer a obra de Wilson Simonal, mas quem viveu nos anos 60 irá se recordar com entusiasmo do suingue do cantor, do domínio que mantinha sobre a audiência de seus shows, sempre em apresentações contagiantes. Mas a festa acabou no dia em que o artista, por pura inocência, se disse protegido pelos militares, isso num tempo em que a ditadura ocupava os principais cargos de poder no país. Não é difícil entender a derrocada de sua carreira a partir de então. Muito bem editado, o filme reúne depoimentos de amigos, colegas de palco, gente que viveu no período e testemunhou a febre Simonal – Miéle, Chico Anísio, Nélson Motta, a crítica teatral Bárbara Heliodora (para quem a mãe de Simonal trabalhou como doméstica), entre outros. Pelé conta a história mais divertida, de quando o cantor treinou com a Seleção Brasileira nos preparativos da Copa de 1970 e achava que seria escalado no time principal! O documentário, produzido e dirigido por Calvito Leal, Micael Langer e Cláudio Manuel, não se presta apenas a ser uma festiva lembrança audiovisual de um artista: joga luzes sobre o caso e provoca um debate sobre o poder da imprensa na construção e demolição de mitos e personagens. Para quem não viveu naquele tempo e desconhecia quase que inteiramente a história e a carreira de Simonal, como eu, o filme cumpre o dever de toda boa produção do gênero: informa e leva à reflexão. Mas, no final, a dúvida que se impõe é porque ninguém defendeu Simonal naquela época, se todos sabiam que ele era inocente, se era tão bem-visto pelos colegas de profissão. Porque ninguém queria se comprometer? Ninguém queria ficar marcado também? Assim, o roteiro sai do plano meramente ilustrativo de um período e da vida particular de um artista e ganha uma discussão mais ampla, sobre a necessidade humana de se adequar a certas situações, mesmo que isso leve a conseqüências arrasadoras. E aqui não se trata de ficção.
Panair do Brasil
Filme sobre a maior companhia aérea brasileira, que operou soberana pelos céus de todo o mundo entre 1930 e 1965. Perseguida pelos militares, a Panair, um dos raros orgulhos brasileiros que alcançaram renome internacional, teve sua falência decretada por força de acordos políticos escusos, nunca satisfatoriamente explicados – caso único de empresa condenada à bancarrota mesmo estando com todas as suas contas em dia e seu patrimônio em constante crescimento. Há rápidos depoimentos de artistas que viajavam pela companhia e relembram com bastante saudade daqueles tempos, alguns curiosos, como o de Milton Nascimento, que conta que foi a bordo de um avião da Panair que tomou sua primeira garrafa de Coca-Cola, um dos luxos da época. Norma Bengell e o compositor Fernando Brandt também dão declarações, bem como alguns políticos. Mas a maior parte dos entrevistados é formada por ex-funcionários da empresa, antigos comandantes, aeromoças, gente ligada à Panair, que ainda hoje, mais de 40 anos após a suspensão (eles preferem usar este termo) dos serviços da companhia, ainda se reúne regularmente, formando uma grande família. Todos contam, com nítida emoção e boa dose de inconformismo, o que mudou em suas vidas após o golpe que os desempregou. A montagem esperta valoriza os depoimentos, sempre ilustrados por imagens de arquivo. Dois momentos particularmente emocionantes: a narração do poema Leilão do ar, de Carlos Drummond de Andrade, e Elis Regina interpretando “Conversando no bar”, em cuja letra Milton e Brandt prestam uma homenagem à Panair. Um dos bons documentários da nova safra, tem forte apelo nostálgico que tocará mais aos que viverem aquela época. Narração de Paulo Betti. Lançado em circuito pequeno, não foi descoberto pelo público nos cinemas.
Filme sobre a maior companhia aérea brasileira, que operou soberana pelos céus de todo o mundo entre 1930 e 1965. Perseguida pelos militares, a Panair, um dos raros orgulhos brasileiros que alcançaram renome internacional, teve sua falência decretada por força de acordos políticos escusos, nunca satisfatoriamente explicados – caso único de empresa condenada à bancarrota mesmo estando com todas as suas contas em dia e seu patrimônio em constante crescimento. Há rápidos depoimentos de artistas que viajavam pela companhia e relembram com bastante saudade daqueles tempos, alguns curiosos, como o de Milton Nascimento, que conta que foi a bordo de um avião da Panair que tomou sua primeira garrafa de Coca-Cola, um dos luxos da época. Norma Bengell e o compositor Fernando Brandt também dão declarações, bem como alguns políticos. Mas a maior parte dos entrevistados é formada por ex-funcionários da empresa, antigos comandantes, aeromoças, gente ligada à Panair, que ainda hoje, mais de 40 anos após a suspensão (eles preferem usar este termo) dos serviços da companhia, ainda se reúne regularmente, formando uma grande família. Todos contam, com nítida emoção e boa dose de inconformismo, o que mudou em suas vidas após o golpe que os desempregou. A montagem esperta valoriza os depoimentos, sempre ilustrados por imagens de arquivo. Dois momentos particularmente emocionantes: a narração do poema Leilão do ar, de Carlos Drummond de Andrade, e Elis Regina interpretando “Conversando no bar”, em cuja letra Milton e Brandt prestam uma homenagem à Panair. Um dos bons documentários da nova safra, tem forte apelo nostálgico que tocará mais aos que viverem aquela época. Narração de Paulo Betti. Lançado em circuito pequeno, não foi descoberto pelo público nos cinemas.
Papão de 54
Registra um feito histórico no futebol do Rio Grande do Sul: o título invicto conquistado pelo hoje extinto Grêmio Recreativo Renner, naquele ano, superando os poderosos Grêmio e Internacional – este, derrotado em seus domínios, na época o Estádio dos Eucaliptos, por 1x3. Foi o único título conquistado pelo alvirrubro, formado por funcionários de uma fábrica de tecidos, que, por decisão empresarial, teve suas atividades encerradas apenas cinco anos depois. Narrado e apresentado pelo jornalista Ruy Carlos Osterman, o filme reúne muitos depoimentos de ex-jogadores, todos exaltando o espírito de equipe que servia como incentivo natural para as vitórias, um tipo de identificação entre jogadores e clube que hoje não existe mais. A maior curiosidade dentre os entrevistados é a presença de Breno Mello, que só alcançou grande brilho mesmo fora das quatro linhas: foi ele o protagonista de Orfeu negro, de Marcel Camus, Oscar de Filme Estrangeiro (eu sei que a expressão é errada, mas não consigo utilizar a outra com que a categoria é descrita por alguns críticos) em 1960, e que atuava pelo Fluminense na época das filmagens.
Registra um feito histórico no futebol do Rio Grande do Sul: o título invicto conquistado pelo hoje extinto Grêmio Recreativo Renner, naquele ano, superando os poderosos Grêmio e Internacional – este, derrotado em seus domínios, na época o Estádio dos Eucaliptos, por 1x3. Foi o único título conquistado pelo alvirrubro, formado por funcionários de uma fábrica de tecidos, que, por decisão empresarial, teve suas atividades encerradas apenas cinco anos depois. Narrado e apresentado pelo jornalista Ruy Carlos Osterman, o filme reúne muitos depoimentos de ex-jogadores, todos exaltando o espírito de equipe que servia como incentivo natural para as vitórias, um tipo de identificação entre jogadores e clube que hoje não existe mais. A maior curiosidade dentre os entrevistados é a presença de Breno Mello, que só alcançou grande brilho mesmo fora das quatro linhas: foi ele o protagonista de Orfeu negro, de Marcel Camus, Oscar de Filme Estrangeiro (eu sei que a expressão é errada, mas não consigo utilizar a outra com que a categoria é descrita por alguns críticos) em 1960, e que atuava pelo Fluminense na época das filmagens.
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