terça-feira, 27 de março de 2012

Muppets para adultos

Anos antes de ser mundialmente consagrado pela trilogia O senhor dos anéis, Peter Jackson realizou uma das mais infames e ultrajantes animações que se pode assistir: Meet the Feebles, que nunca foi lançado comercialmente por aqui, nem depois que o diretor se tornou famoso (mas pode ser encontrado facilmente na net, sem apologismo de qualquer espécie). E é também uma das mais engraçadas incursões de um diretor pelo gênero.

Os Feebles formam uma banda que se apresenta em um programa de sucesso da TV australiana, mas a atração fica ameaçada quando a emissora que o transmite recebe a proposta para substituí-lo por uma série. O filme acompanha os preparativos do que pode ser o show salvador dos Feebles, exibido ao vivo para todo o país. Tudo correria numa boa, não fosse a banda formada pelos personagens mais insanos reunidos.

O roteiro episódico acompanha um pouco de cada um dos personagens, tanto os que formam os Feebles quanto os que gravitam em torno de seu universo. A estrela da companhia é Heidi, a vocalista, uma hipopótamo temperamental, com afetações de estrela, casada com o empresário do grupo - o flashback mostrando como eles se conheceram é hilário. Ela é a mais normal da equipe, mantendo uma aura de pureza que será devidamente desvirtuada no final, numa sucessão de cenas alucinantes. Nos bastidores dos Feebles, rola muito sexo e perversões de toda ordem. Um dos personagens se descobre portador do vírus da aids e sua tragédia é explorada pela imprensa sensacionalista, representada por uma repórter mosca que o persegue sem piedade. O diretor do show, com pretensões artísticas, tem fixação por sodomia, e externa sua "preferência" em um número musical de improviso. Um jovem que se junta à equipe se apaixona por uma das atrizes de apoio, mas se desilude ao descobrir que ela é explorada sexualmente. E assim sucessivamente.

No fundo o que Peter Jackson fez foi narrar uma fábula delirante sobre os bastidores da televisão, soltando farpas para todos os lados, se esbaldando com o que, no fundo, era uma brincadeira de cinéfilo. Ali vemos uma liberdade narrativa e criadora que o diretor nunca mais iria experimentar, e que já havia ficado explícita em seu filme de estréia, o anterior Trash - náusea total. Já demonstrava suas qualidades no domínio de câmera, na engeaceitas com certa benevolência, teria vida fácil.

Melhor ficarmos mesmo com o original, objeto de culto e uma diversão de primeira linha, desde que o espectador embarque na história.

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