quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Time of bests and worsts

Para a derradeira coluna do ano, pensei em fazer uma homenagem a Stanley Kubrick, aproveitando os últimos dias da exposição que leva seu nome e fica em cartaz em São Paulo até 12 de janeiro - infelizmente não consegui vê-la, estive na cidade há um tempo, fui até o Museu da Imagem e do Som (MIS) onde está alocada, mas o tempo de espera na fila de entrada era de duas horas e sem qualquer garantia de que os visitantes conseguissem o acesso ao recinto. Resta-me torcer para que o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) do Rio consiga trazê-la para a cidade, mas as chances são poucas. Resolvi então encerrar a temporada da mesma forma que no ano passado, trazendo a lista dos melhores e piores filmes do ano escolhidos pela revista Time. Serve como "aperitivo" para a minha lista pessoal, que publicarei na primeira semana de janeiro, quando o CineComFritas volta do recesso.

A lista de melhores surpreende por trazer uma produção européia na segunda posição, além de um documentário, pouco falado por aqui, mas que passou no Festival do Rio e está cotado para o Oscar da categoria. Aliás, é possível especular sobre os prováveis indicados a partir dos títulos citados pela publicação. O primeiro lugar ficou com Gravidade, de Alfonso Cuarón, soberano nesta e em outras listas de melhores (na minha não está). A seguir vem A grande beleza, de Paolo Sorrentino, sensação em Veneza, indicado pela Itália a concorrer ao Oscar de Filme Estrangeiro e que acabou de entrar em cartaz nesta sexta-feira.

Acima de todos, está Gravidade. O resto vem lá embaixo.
Os demais filmes da lista são:  Trapaça (de David. O Russell, também apontado como finalista ao Oscar, ainda inédito), Ela (nova loucura de Spike Jonze, que rendeu a Scarlett Johansson o prêmio de melhor atriz no Festival de Roma e também agraciada pelo National Board of Review - o detalhe é que ela não aparece em cena, só se ouve sua voz!), O grande mestre (de Wong Kar-Wai, elogiada biografia de Ip Man, o treinador de Bruce Lee), Velozes e furiosos 6 (grande surpresa, considerando o histórico da franquia, mas merecido, é provavelmente o melhor filme de ação do ano), Frozen - Uma aventura congelante (animação de Chris Buck, cotada para o Oscar, ainda inédita aqui), O ato de matar (de Joshua Oppenheimer, o tal documentário, dificilmente entra em cartaz mas está disponível na rede para quem quiser procurar), 12 anos de escravidão (recordista de indicações ao Globo de Ouro e fortíssimo candidato ao Oscar, dirigido pelo inglês Steve McQueen) e O hobbit - A desolação de Smaug (de Peter Jackson, que certamente abiscoitará também algumas indicações).

Entre os piores, nada de muito surpreendente. A relação traz títulos que foram verdadeiros fracassos de público e crítica, mais lá fora do que aqui, já que brasileiro em geral adora bobagem feita em Hollywood e enche os bolsos das distribuidoras, ajudando a fazer a fama de tais produtos. Como na lista dos melhores, esta também traz um documentário, logo na segunda posição. Na cabeça, está Gente grande 2 (de Dennis Dugan), seguido por Memórias de Salinger (não deixa de ser uma surpresa, ao que parece o escritor está se revirando na tumba pelo que fizeram com a história de sua vida, dirigida por Shane Salerno) e a seguir três dos blockbusters mais comentados do ano: A hospedeira (adaptação do romance homônimo de Stephanie Meyer, dirigido por Andrew Niccol), Depois da terra (outra canoa furada de M. Night Shyamalan e mais uma arranhada no currículo de Will Smith) e Oz - Mágico e poderoso (de Sam Raimi).

Apenas Deus perdoa: a segunda vez nem sempre é melhor.
Outros filmes que tiveram carreira meteórica nos cinemas daqui foram lembrados: O casamento do ano (comédia de Justin Zackam), O conselheiro do crime (de Ridley Scott) e RIPD - Agentes do além (de Robert Schwentke). Também houve espaço para Apenas Deus perdoa, nova parceria entre Nicolas Widing Refn e Ryan Gosling, muito esperada, mas com resultado bastante inferior ao trabalho anterior de ambos, o ótimo Drive (por aqui, só deve sair em DVD e não merece mesmo sorte melhor, é violento e descartável). Fechando a lista, Se beber não case III (de Todd Phillips), jogando a série em coma etílico e, em contrapartida positiva, ao que parece, sepultando as pretensões de uma quarta parte.

A verdade é que listar apenas dez filmes ruins é uma tarefa que a cada ano parece mais difícil, tamanha a quantidade de indigências que infestam as salas exibidoras do país, e o pior, sempre contando com um fortíssimo aparato de marketing, incentivando o público a assistir lixo (enquanto consome baldes de pipoca e refrigerantes, ou seja, lixo sobre lixo!). Neste sentido, é até benéfico que muito do cinema brasileiro produzido hoje não ganhe destaque no mercado internacional, ou a lista da Time seria praticamente dividida entre os blockbusters locais e os bloquibustes que também entulham a programação daqui. Ou será que coisas como O concurso e Casa da Mãe Joana 2 merecem algum crédito?

Voltamos em 3 de janeiro. Boas festas a todos!

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

A batalha dos 32 reinos

Antes de ser cinéfilo, o editor deste blog é grande fã de futebol em geral e de Copa do Mundo em particular. Portanto, os leitores eventuais do espaço podem se preparar e, os que não gostam, se conformar porque, com a proximidade do evento, as colunas sobre a Sétima Arte vão cada vez mais dividir espaço com outros textos sobre o torneio - para quem não se liga no assunto, a Copa será disputada entre 12 de junho e 13 de julho de 2014 em 12 cidades brasileiras.

Para usar a expressão clichê por excelência, "a Copa já começou" na última sexta-feira (6/12), quando foram sorteados os oito grupos do torneio na Costa do Sauípe (BA). Depois de revelados os confrontos da primeira fase, enfim foi possível rascunhar alguma análise mais consistente do que o futuro pode reservar às 32 seleções que disputarão o título. Mas quem não gosta de futebol não precisa parar a leitura por aqui, porque não vou me dispor a analisar cada um dos grupos ou dos jogos. Deixo isso para os blogs especializados, para os jornalistas esportivos, fora que a palpitação pelo tema já esfriou, passada uma semana do sorteio. E certamente não há nada que eu escreva que já não tenha sido analisado, debatido ou se esgotado pelos analistas profissionais da imprensa esportiva nacional, mais gabaritada do que eu. Porém, como todo mundo é meio treinador de futebol no nosso país, tanto quanto somos críticos de cinema, não custa nada registrar algumas impressões e expectativas que tenho para a próxima Copa.

O Brasil ficou em um grupo relativamente fácil na primeira fase. Por mais que tenham mostrado alguma evolução nos últimos anos, ou em algum momento de suas histórias, Croácia, México e Camarões não podem ser vistos como adversários à altura da nossa seleção. É verdade que os mexicanos têm se revelado uma verdadeira pedrinha na nossa chuteira de uns anos para cá, já tendo nos derrotado em pelo menos duas decisões de peso - a Copa das Confederações de 1999 (4x3 para eles), lá mesmo no México, e o Torneio Olímpico do ano passado, em Londres (2x1 para eles) - , além de terem colecionado vitórias com certa freqüência em amistosos e em algumas edições da Copa América. Mas Copa do Mundo é outra história, e nesse sentido os mexicanos são fregueses históricos: em quatro confrontos anteriores no torneio, foram quatro vitórias brasileiras, todas a zero. Curiosamente, Brasil x México vão jogar em Fortaleza, mesmo local onde se encontraram em junho, pela Copa das Confederações. 

Mas o grupo do Brasil acabou sendo exceção. A Fifa precisa rever o critério para escalar cabeças de chave. O que fizeram Suíça e Bélgica até hoje que justifique o privilégio concedido a ambas? Não dá para basear a decisão em um ranking que muda a cada mês; parece que a história escrita por algumas seleções de nada vale ou foi apagada. Caso da Itália, quatro vezes campeã do mundo, que terminou no chamado grupo da morte, o D, junto com Uruguai e Inglaterra, ou seja, aconteceu o que todos temiam, uma chave com três campeões mundiais (e ainda com a Costa Rica para servir de fiel da balança), dos quais um nem passa para as oitavas de final. Enquanto isso, passam dois entre Colômbia, Grécia, Japão ou Costa do Marfim, que formam o grupo C. O mais correto é que, uma vez classificados, todos os campeões mundiais sejam garantidos como cabeças em seus grupos. Antigamente era assim. A Fifa se preocupa tanto com a seriedade da competição e oferece uma bola furada dessas para o público chutar. 

Quem também não tem do que reclamar é a Argentina, outra que foi agraciada pela sorte, cabeça do grupo F (de fácil), ao lado de Irã, Nigéria (já teve melhores dias) e a estreante Bósnia, com quem fará o jogo de estréia no Maracanã. Logo em seu primeiro jogo em Copas, a ex-república iugoslava terá a honra de jogar no mítico estádio. E o povo carioca poderá ver Messi bem de perto. Uma honra dupla, portanto. 

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Apertem Stop! As locadoras estão sumindo.

Reportagem publicada no Segundo Caderno do jornal O Globo há algumas semanas informa sobre a gradual extinção das videolocadoras de bairro, asfixiadas pela concorrência de novas tecnologias, como Netflix, TV a cabo e até (principalmente?) a troca de arquivos pela internet. Sem condições de se manterem, as lojas vão fechando em efeito cascata e hoje são poucas as que resistem. Para elas, o futuro é uma fita de VHS.

Acredito que todo cinéfilo, um dia, já foi rato de locadora. Por anos, um dos meus programas favoritos nos fins de semana foi alugar filmes, normalmente quatro por vez, para preencher cada hora livre do sábado e do domingo. Foi ali, em meio àquelas prateleiras multicoloridas pelas capinhas dos títulos em exposição, que forjei muito da minha cinefilia. Comecei a desenvolver gosto pelo cinema, ironicamente, por meio da leitura. No final dos anos 80, a Editora Abril começou a lançar guias de vídeo, aproveitando a nova onda de lazer que surgia no Brasil, então os videocassetes - aliás, chega a ser cruel perceber como a vida útil de certas tecnologias foi sendo abreviada com tanta rapidez. O videocassete chegou ao país em meados daquela década e sua popularização se deu justamente poucos anos depois, com o surgimento também dos primeiros videoclubes. Em pouco mais de 15 anos, já no final da década de 90, o VHS havia perdido espaço para os então futurosos DVDs, cuja existência durou ainda menos, logo substituídos pelo Blu-ray e sabe-se lá mais o que vem por aí.

Escolher filmes e amolar facas já são coisa do passado.
O primeiro guia saiu em 1988, um livro grosso de capa vermelha, que descobri meio por acaso na casa de uma prima em Minas Gerais, e o qual devorei em poucas horas, anotando cada título que me interessava pela sinopse, ou simplesmente tomando nota daqueles que vinham com a recomendação de "clássico", "obra-prima" ou "imperdível" justaposta ao verbete. Depois, de vota ao Rio, ia até uma pequena locadora que funcionava a poucas quadras de onde resido e caçava os títulos aos poucos, me atualizando e me "educando". Foi assim que vi Laranja mecânica pela primeira vez. Foi também nessa época que vi O homem elefante, O último tango em Paris, Betty Blue, O gabinete do Dr. Caligari, Tempos modernos, A felicidade não se compra e muitos outros considerados fundamentais na formação de um autêntico apreciador da Sétima Arte.

Com o tempo, fui diversificando as locações. A cada clássico que eu punha na cestinha, intercalava com algum filme mais moderno, podia ser até uma besteira, uma comedinha inconseqüente, um filmeco de horror barato, para equilibrar, afinal, não dava para ser "cabeça" demais. Fui assim misturando as referências, tarantinando sem me dar conta, abrindo meu arco de visões sobre cinema. São dessa época também filmes que o tempo sepultou na lembrança de quem viu, como Pin - Uma jornada além da loucura, Disfarce cruel, Hardware - O destruidor do futuro (que logo logo vai sair em DVD), e outros ainda menos cotados. O que sou hoje é o resultado desses meus anos de formação. Não deixo de assistir àquele clássico dos anos 40 que nunca tive a chance de ver, mas também me atualizo com boa vontade com alguns lançamentos, mesmo que dificilmente algum deles vá acrescentar alguma coisa a mim. Em certo sentido, aquela locadora (que não existe mais, foi das primeiras a fechar aqui no bairro) foi o meu Ateneu: por ela, conheci o mundo.

Um dia, este lugar já foi o paraíso.
Também é curioso observar como, apesar de o DVD estar em um processo de morte lenta e de o Blu-ray estar cada vez mais presente na vida dos consumidores de audiovisual (embora eu continue achando que é mais na marra, a indústria praticamente obriga o cidadão a trocar seu equipamento, lança edições especiais apenas no formato etc.), os filmes neste formato ainda atraem, acho que posso usar o termo, multidões quando são oferecidos a preços populares ou justos. Na última segunda-feira (2/12), a Vídeo Estação, locadora do Grupo Estação e uma das mais antigas da cidade, com quase 30 anos de existência, começou a liquidar seu imenso e valioso acervo. O horário de atendimento já estava encurtado, com a loja abrindo somente às 14h. No dia, por motivos pessoais, só pude chegar no local às 16h20 e fui surpreendido com uma extensa fila na porta da locadora. Era gente demais para entrar! E o espaço, por ser pequeno, só comportava uma quantidade limitada de pessoas por vez, coisa entre 10 ou 12. Esperei pacientemente na fila por uma hora e meia. Quando enfim consegui entrar, foi meio decepcionante, porque os principais títulos já haviam sido arrematados, claro, quem entrou primeiro se deu bem - havia um rapaz que devia ter cerca de 120 DVDs para levar! Mesmo assim, deu para trazer Incêndios, História real (do Lynch, praticamente esgotado), a primeira edição de Fanny e Alexander (que saiu em bancas, há anos fora de catálogo), e outros menos chamativos.

O fechamento do Vídeo Estação é emblemático dos novos tempos a que, forçosamente, temos de nos acostumar. Tempos em que ir à locadora da esquina já não representa nada, porque qualquer um daqueles milhares de títulos que nos cercam lá dentro podem ser facilmente encontrados a um clique de distância, a um custo bastante baixo. Como cinéfilo formado nesses pequenos cineclubes individuais, é com muita tristeza que vejo o ciclo se fechar. Como colecionador, porém, esfrego as mãos na expectativa pelo fechamento de outra grande locadora que resiste por aqui. Por quanto será que eles venderão o acervo?

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Mais chocante que a ficção

3.096 dias (2013)
Na semana passada, a polícia inglesa libertou três mulheres que viviam em cárcere privado há 30 anos em uma pequena cidade do interior daquele país. Embora chocante, o caso, infelizmente, está longe de ser isolado. De vez em quando a imprensa divulga episódios semelhantes, que apenas se distinguem pelo grau de perversidade e crueldade aplicado contra as vítimas. Há poucos meses, foi nos Estados Unidos, onde um lunático matinha também um trio de mulheres confinadas em um porão. Todos vêm se juntar ao mais comentado, ocorrido na Áustria em 2006, de forte impacto midiático: o de Natascha Kampusch.

Muitos devem se lembrar desse caso. Natascha foi seqüestrada no dia 2 de março de 98, a caminho da escola, quando tinha 10 anos. Permaneceu encarcerada por oito anos, até conseguir fugir, no dia 23 de agosto de 2006. Seu drama chocou e comoveu o mundo, também pelo fim trágico que teve seu seqüestrador, Wolfgang Priklopil, que se jogou na frente de um trem após descobrir a fuga da jovem. Parecia incrível que essa história de grande apelo popular ainda não tivesse sido contada pelo cinema, especialmente por Hollywood, que adora esse tipo de coisa. Na Áustria, foi feito um documentário para a TV em 2010. Mas somente agora, com bastante atraso, finalmente chegou às telas a versão ficcional, 3.096 dias, produção alemã dirigida por Sherry Hormann (de Flor do deserto), falada em inglês, certamente para facilitar a aceitação em solo americano.

Capa do livro, lançado em 2010.
O titulo é o mesmo do livro que foi lançado no Brasil em 2010 pela Verus, e que serviu de base para o roteiro. É narrado pela própria Natascha, que contou sua história a duas jornalistas, com riqueza de detalhes, alguns bastante chocantes, como as sessões de espancamento a que era submetida por Priklopil, às vezes por nada. Houve um primeiro livro lançado na Áustria logo depois de ela ter escapado, restrito ao mercado local, de tom aproveitador, tentando capitalizar em cima da "fama repentina" da moça e, segundo seu advogado, escrito com propósitos francamente comerciais.

Mas ninguém precisa ter lido o livro para ver o filme, mesmo porque não há que se preocupar se a adaptação foi "benfeita" ou "incompleta". Não é uma história de ficção, apesar de que, diante de casos assim, sempre ficamos pensando que tudo saiu da mente de algum roteirista perverso. Talvez seja até melhor não ler o relato antes, para que o choque seja maior, e neste caso, tal elemento é fundamental para a percepção do espectador, para uma experiência mais profunda. Felizmente o roteiro poupa o público de detalhes mais escabrosos, estes sim presentes no livro, além de sugerir um assédio sexual quase explícito entre Priklopil e Natascha. Há menos cenas de violência do que faz supor o texto escrito e este é um mérito, transmitir toda a crueldade da situação sem apelar para sensacionalismos baratos ou recursos fáceis de torturas óbvias, algo que os diretores do gênero horror já perderam a vergonha de fazer há anos. 

Cenas reais do cativeiro de Natascha.
Como Natascha, Antonia Campbell-Hugues tem desempenho visceral, também na parte corporal, com uma decadência física que salta aos olhos. Com quase 30 anos de idade, teve o desafio de interpretar uma adolescente, e convence plenamente no papel. Ela estreou fazendo ponta não creditada (!) como zumbi (!!!) em Todo mundo quase morto e a seguir esteve em Café da manhã em Plutão. Fez basicamente seriados e curtas, e seu grande papel antes deste fora em Brilho de uma paixão (2009), de Jane Campion. Também está no ainda inédito por aqui Under the skin, em que Scarlett Johansson interpreta uma extraterrestre. Já a versão infantil de Natascha aos 10 anos é defendida com assustadora naturalidade pela pequena estreante Amelia Pidgeon.

Já Priklopil ganha contornos bem nítidos na figura de Thure Lindhart, que esteve em Deixe a luz acesa, comentado aqui, e comprova ser um dos melhores intérpretes de sua geração, construindo com veracidade a figura de um homem atormentado que usa a vilania para disfarçar sua fragilidade - no filme, fica mais clara sua submissão à figura materna, que ganha uma dimensão maior da que aparenta no relato escrito.

************************************************************************

Nílton Santos foi considerado o maior lateral-esquerdo de todos os tempos no futebol mundial, escolha feita pela própria Fifa em 1998. Mais do que um gênio de sua posição, Nílton foi um dos grandes símbolos de uma era vitoriosa do Botafogo, único clube que defendeu ao longo de sua gloriosa carreira. Todas as homenagens possíveis, todas as palavras de enaltecimento já foram prestadas e proferidas nos momentos seguintes a seu passamento. Aqui, do meu canto, modestamente, me cabe apenas, sem nunca tê-lo visto atuar ao vivo - só pelos relatos dos mais antigos e nas imagens de arquivo das tevês - , agradecer por tudo que fez não só pelo nosso futebol, mas também, especialmente, pelo Botafogo. Que os seus Santos guiem a nossa Estrela Solitária aqui na terra, Nílton - e como estamos precisando!

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Igualdade sem vibração

O mordomo da Casa Branca (2012)
Dentro de mais alguns dias conheceremos os indicados ao Globo de Ouro, premiação que antecede e antecipa os finalistas do Oscar de 2014. Pelo burburinho e pelos boatos que chegam de fora, imagina-se a presença de alguns títulos muito comentados, alguns ainda inéditos por aqui (A vida secreta de Walter Mitty, Balada de um homem comum, Álbum de família, 12 anos de escravidão), outros que já estão em cartaz (Capitão Phillips, Blue Jasmine). Dentre estes já lançados, O mordomo da Casa Branca é praticamente garantido na lista final de indicados, que ainda não se sabe quantos serão, já que a Academia mudou as regras e agora permite um número variável de finalistas, entre 5 e 10, um absurdo sem tamanho, que vai acabar refletindo a qualidade das produções realizadas naquele ano (quanto menos concorrentes, mais fraca terá sido a safra). Será que não percebem isso?

Lee Daniels assumiu para si a voz da causa negra norte-americana desde que Preciosa (2009) comoveu platéias do mundo inteiro. Embora menos combativo que Spike Lee, que foi, durante os anos 90, o arauto da luta pela igualdade civil entre negros e brancos. Não centra suas narrativas na questão, embora sempre a discuta de forma sutil, introduzindo elementos que a coloquem em discussão. Curiosamente, seus dois trabalhos mais recentes entraram em cartaz ao mesmo tempo na cidade: o ousado mas exagerado Obsessão e este O mordomo da Casa Branca. Em todos, de uma forma ou outra, há a preocupação de discutir aspectos relacionados à causa civil norte-americana. Ao passo que o outro Lee, Spike, era mais agressivo, sobretudo pela trinca de filmes que o tornou mais conhecido, Faça a coisa certa (89, pelo qual foi indicado ao Oscar), Mais e melhores blues (90, o menos conhecido) e Febre da selva (91), que  traçavam um interessante painel sobre a questão dos negros na América de então, cada um ressaltando um aspecto dessa luta.

O diretor Lee Daniels no Festival do Rio.
No presente caso, o diretor partiu do artigo "A butler well served by this election", assinado por Will Haygood e publicado no Washington Post em 2008 (disponível na internet) para criar o personagem de Cecil Gaines, inspirado em uma figura real, Eugene Allen, que trabalhou na Casa Branca por 34 anos e serviu a oito presidentes, de Eisenhower a Reagan. No filme, que troca algumas referências pessoais para melhor desenvolvimento dramático, Gaines nasceu em uma fazenda de algodão no sul do país, viu o pai ser morto pelo patrão branco e, adolescente, saiu em busca de emprego. Consegue ser admitido na residência oficial sem muito esforço e passa as quase quatro décadas seguintes participando, mesmo que indiretamente, da vida e dos bastidores do governo norte-americano. Paralelamente, acompanhamos as várias lutas travadas pelos negros ianques pelo reconhecimento de seus direitos e de sua cidadania, com diversos momentos emblemáticos, como o movimento Black Power e os Panteras Negras, culminando com a eleição de Barack Obama em 2008.

Oprah e Whitaker estão cotados para o Oscar.
Forest Whitaker concede dignidade a seu personagem, e está bem como sempre, mas pouco pode fazer diante de um roteiro engessado (de Danny Strong, premiado pela série Mad men), que transforma Gaines em mero espectador passivo das transformações sociopolíticas vivenciadas pelos americanos em mais de 30 anos de luta pelos direitos civis. Mesmo tão perto do poder, ele não se engaja, não toma partido, não opina - simplesmente assiste a tudo, como se não pertencesse àquele universo, e somente vem a tomar alguma consciência já quase no fim, depois que um de seus filhos ingressa nos Panteras Negras. Oprah Winfrey faz a companheira de Gaines, em atuação sem destaque, mas que chama a atenção simplesmente por ser quem é. Porém, é dela a cena mais forte do filme, durante um jantar de família, em que esbofeteia o filho rebelde. Ao menos mostra um mínimo de posição, toma partido, mostra o que pensa, ao contrário de Gaines, quase um boneco a interligar fatos e circunstâncias históricas.

O elenco tem outros nomes interessantes e curiosos pulverizados em pequenos papéis, como Robin Williams, John Cusack, James Mardsen, dando vida respectivamente a Eisenhower, Lyndon Johnson e JFK; Mariah Carey, em ponta muda (é a mãe de Gaines, que tem duas cenas e morre louca), Lenny Kravitz, Terrence Howard, Cuba Gooding Jr. recuperando a dignidade da carreira. Mas a ponta mais comentada é a de Jane Fonda como Nancy Reagan, praticamente um clone da ex-primeira dama. É uma aparição de apenas cinco minutos, mas todos se impressionam com a semelhança entre ambas.

O verdadeiro Cecil Gaines, ou melhor, Eugene Allen.
O filme vai muito bem de bilheteria lá fora e, mesmo tratando de um assunto essencialmente norte-americano, vem fazendo bonito também nas bilheterias daqui. Na sessão a que estive presente, o público aplaudiu no final da projeção, mostrando que o povo brasileiro se identifica com a causa e apóia os movimentos de igualdade racial. Ou seja, se emociona com a essência da história, mesmo que a frieza da narrativa seja um obstáculo a uma melhor fruição. Agora, é aguardar para ver se o sucesso irá se confirmar no Oscar.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Oscarito 2013 - Os vencedores

Apesar de Gonzaga - De pai pra filho ter confirmado seu favoritismo no Grande Prêmio Cinema Brasil, seus 5 prêmios parecem poucos diante do número de indicações recebidas (concorria em mais 10 categorias) e em comparação com outros finalistas, que terminaram bem perto em quantidade. Na mesma noite em que o Botafogo deixou de figurar no G4 do Campeonato Brasileiro, ao menos sua torcida pôde festejar as 4 premiações que couberam a Heleno (e como seria bom ter um Heleno nesse time frouxo de hoje!), que, no entanto, perdeu o troféu mais certo da noite, o de ator para Rodrigo Santoro, que foi para Júlio Andrade. Já o ousado Febre do rato terminou com 3 prêmios, incluindo o de Melhor Filme pelo Voto Popular, ou seja, escolhido pelo público, uma conquista e tanto para um projeto tão anticomercial.

Algumas curiosidades: Dira Paes enfim levou seu Oscarito depois de três naufragadas indicações em anos anteriores. A Academia Brasileira de Cinema estendeu a homenagem a Cláudio Cavalcanti e concedeu-lhe um prêmio póstumo de Melhor Ator Coadjuvante, no momento mais emocionante da noite, empatado com João Miguel. Também houve empate, tríplice, em Direção de Arte. Prova de que, em termos cênicos, o cinema brasileiro está sobrando em qualidade.

Confira abaixo todos os vencedores do Oscarito 2013.

FILME: Gonzaga – De pai pra filho
DIRETOR: Breno Silveira (Gonzaga – De pai pra filho)
ATOR: Júlio Andrade (Gonzaga – De pai pra filho)
ATRIZ: Dira Paes (À beira do caminho)
ATOR COADJUVANTE: João Miguel (Gonzaga – De pai pra filho) e Cláudio Cavalcanti (Astro)
ATRIZ COADJUVANTE: Ângela Leal (Febre do rato) e Leandra Leal (Boca)
ROTEIRO ORIGINAL: Hílton Lacerda (Febre do rato)
ROTEIRO ADAPTADO: Davi França Mendes (Corações sujos)
DOCUMENTÁRIO: Raul – O início, o fim e o meio
FILME ESTRANGEIRO: Intocáveis (França)
FILME INFANTIL: Peixonauta – Agente secreto da O.S.T.R.A.
FILME DE ANIMAÇÃO: Brichos – A floresta é nossa
DIREÇÃO DE ARTE: Heleno,  Xingu e Corações sujos
FOTOGRAFIA: Heleno
FIGURINOS: Heleno
MAQUIAGEM: Heleno
SOM: Gonzaga – De pai pra filho
TRILHA SONORA: A música segundo Tom Jobim
TRILHA SONORA ORIGINAL: 2 coelhos
MONTAGEM: 2 coelhos
MONTAGEM DE DOCUMENTÁRIO: Raul – O início, o fim e o meio
EFEITOS ESPECIAIS: 2 coelhos
CURTA-METRAGEM: Laura
CURTA-METRAGEM DE ANIMAÇÃO: Cabeça de papelão
DOCUMENTÁRIO DE CURTA-METRAGEM: Elogio da graça

VOTO POPULAR - FILME: Febre do rato
VOTO POPULAR - DOCUMENTÁRIO: Raul – O início, o fim e o meio
VOTO POPULAR - FILME ESTRANGEIRO: Intocáveis (França)

PRÊMIO ESPECIAL DE PRESERVAÇÃO / MEMÓRIA: Ismail Xavier

HOMENAGEM: Ruth de Souza

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Ouro e maldição

Serra Pelada (2013)
Foi em 1924 que Erich Von Stroheim dirigiu este que é considerado um dos grandes clássicos de todos os tempos, Ouro e maldição. Ao longo de seus 240 minutos (na versão restaurada e mais completa), o filme mostra a degradação moral causada em três pessoas a partir de um prêmio milionário ganho na loteria. Inédita no Brasil por anos, essa obra-prima foi finalmente lançada em DVD há pouco tempo pela Colecione Clássicos, em dois volumes separados para fazer o consumidor gastar dinheiro duas vezes (quando o mais honesto seria uma edição dupla). Quase 90 anos depois, Heitor Dhalia fez uma espécie de homenagem, certamente involuntária, ao clássico de Stroheim com Serra Pelada, em cartaz nos cinemas do país.

Atenção: longe de mim a menor intenção de querer comparar aquele filme com este, ou tentar estabelecer paralelos na composição da trama ou na psicologia dos personagens. Mas foi impossível não me lembrar do magistral trabalho de Stroheim enquanto assistia ao drama com um pé na aventura imaginado por Dahlia e sua esposa Vera Egito, autores do roteiro. Guardadas as devidas distâncias entre um e outro, sobra a mesma degeneração de caráter dos envolvidos nas situações de ambos. No primeiro caso, por um fato consumado; no segundo, pelo delírio de uma fortuna incerta.

Eu era criança quando ouvia falar em Serra Pelada, no começo da década de 80. As gerações mais novas não fazem idéia do frenesi que se causou em parte da população a descoberta de que havia jazidas de ouro em uma região montanhosa do sul do Pará, o que atraiu milhares de homens ao local, todos ávidos pelo sonho da riqueza "fácil" - curiosamente, uma semana antes desta ficção, entrou em cartaz um documentário que trata exatamente do tema, Serra Pelada - A lenda da montanha de ouro. Não deve ter sido coincidência, mas sim estratégia de divulgação, para preparar a platéia. Vale assisti-lo como complemento de programa e para mais informações a respeito. É a partir dali, com a situação devidamente contextualizada, que o espectador pode aproveitar mais a narrativa criada por Dhalia. Fato é que Serra Pelada povoou a imaginação dos brasileiros de então, e foi até parodiada pelos Trapalhões (Os Trapalhões em Serra Pelada, 1984, feito já no fim do ciclo do ouro e considerado por fãs como o melhor trabalho do quarteto).

Juliano e Joaquim: amigos, amigos, ouro à parte.
Em 1980, os amigos Juliano e Joaquim chegam de São Paulo ao eldorado paraense dispostos a fazer fortuna. Joaquim tem um objetivo mais claro: enriquecer o suficiente para conseguir dar uma vida melhor à esposa grávida, já que seu salário de professor não supre todas as lacunas - ou seja, em mais de 30 anos, o Brasil até pode ter crescido em muitos aspectos, mas certas situações nunca mudaram! Ambos descobrem que há uma hierarquia no garimpo, cujo posto mais elevado é o de capitalista, o "dono" dos barrancos de onde é extraído o ouro. Descobrem também que naquele universo onde se respira ambição, ninguém é confiável e as barreiras morais podem ser facilmente transpostas, dependendo das necessidades ou dos interesses. Com o tempo, a degradação moral vai se abatendo sobre os dois homens. Joaquim se vê forçado a deixar seus valores de lado, enquanto Juliano se contamina pela febre do ouro. No que talvez seja uma falha do roteiro, sua origem é desconhecida, assim, não é possível avaliar até que ponto ele se transforma em nome da ambição e da ganância. No começo sempre parceiro de Joaquim, aos poucos Juliano vira o mais selvagem dos capitalistas locais, primeiro disputando cada barranco com os chefes do garimpo, depois se perdendo nos braços da prostituta Teresa.

Sophie Charlotte é a pepita mais cobiçada e valiosa do garimpo.
O filme começa com uma bela imagem: cenas reais do garimpo se sobrepõem na tela enquanto dentro das letras do título que surge aos poucos são projetadas chamadas de abertura do Jornal Nacional da época, tratando do assunto. Outras imagens reais são inseridas ao filme, alternando-se com as tomadas ficcionais. Esse recurso confere maior veracidade à produção, que precisou reproduzir em locações uma estrutura física que já não existe (hoje é um lago). Aliás, toda a parte técnica e visual é exemplar, como a fotografia de tons amarelados, reforçando o aspecto sujo do garimpo. Dhalia volta a impor sua marca cenográfica que se tornou conhecida em Nina e O cheiro do ralo, mas que estava suspensa desde À deriva. Serra Pelada era, então, o grande eldorado nacional, sonho e esperança de milhares de brasileiros, que enxergava ali uma alternativa para mudar de vida. O filme cobre o período em que o garimpo esteve ativo e termina com a marcha pelas Diretas Já, em 1984. O Brasil mudava, e outros sonhos, agora de democracia, vinham povoar a mente da população. 

Escalado inicialmente para viver Juliano, Wagner Moura precisou declinar do convite, por conta de outros
Vista geral de Serra Pelada nos anos 80.
compromissos, mas Dhalia conseguiu encaixá-lo em um papel menor, de um dos capitalistas, em que mesmo assim dá seu show particular, quase irreconhecível por causa de uma calva (ótimo efeito de maquiagem). Seu papel acabou indo para o xará do personagem, Juliano Cazarré, cujas feições brutas acabam sendo mais adequadas ao tipo. Júlio Andrade (que pode ganhar o Oscarito na semana que vem pelo seu Gonzaguinha de
Gonzaga - De pai pra filho) tem outra boa composição como Joaquim, indo da inocência singela do professor disposto a conquistar um sonho à brutalização do garimpeiro na luta pela sobrevivência em um ambiente hostil, enquanto Sophie Charlotte ilumina a tela como Teresa. Além da fotografia e da direção de arte, a trilha sonora divertida é outro atrativo. Há uma cena de humor involuntário, quando Teresa tenta fugir do garimpo e é perseguida pelos capangas de Juliano (com direito a tropeção e tudo). O final é um tanto esticado e abrupto, mas não compromete.

Uma pena que Serra Pelada não esteja indo bem de bilheteria. O filme atraiu, até o momento, menos de 300 mil espectadores às salas de exibição, rendendo bem menos do que se esperava. Sinal preocupante de que o povo brasileiro não está muito interessado em histórias mais elaboradas ou complexas, sobretudo aquelas de tema difícil, preferindo comédias muitas vezes de baixa qualidade. 

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Os indicados ao Oscarito 2013

A Academia Brasileira de Cinema divulgou os finalistas ao Grande Prêmio Cinema Brasil 2013, que eu chamo de Oscarito - não adianta o que digam, é como continuarei me referindo à premiação, e já expliquei aqui no blog várias vezes as razões para tal. Como era esperado, Gonzaga - De pai pra filho é o recordista em indicações, concorrendo em 15 categorias. A aposta é saber se ele conseguirá superar as 11 premiações de O palhaço, no ano passado. Outro sucesso do cinema nacional de 2012, Xingu vem em seguida, com 13 indicações, à frente de Corações sujos (10 indicações) e Heleno (9 indicações). A grande surpresa é a inclusão de Febre do rato, de Cláudio Assis, entre os finalistas na categoria principal, no lugar do bloquibuste Até que a sorte nos separe. Ou seja, a Academia deu uma bola dentro, prestigiando o cinema alternativo e de público mais restrito em detrimento do sucesso comercial.

Veja a seguir a relação de todos os indicados ao Oscarito de 2013. 

FILME
Gonzaga – De pai pra filho
Xingu
Corações sujos
Heleno
febre do rato

DIRETOR
Breno Silveira (Gonzaga – De pai pra filho)
Cao Hamburger (Xingu)
Cláudio Assis (Febre do rato)
Afonso Poyart (2 coelhos)
Walter Carvalho (Raul - O início, o fim e o meio)

ATOR
Júlio Andrade (Gonzaga – De pai pra filho)
João Miguel (Xingu)
Caio Blat (Xingu)
Rodrigo Santoro (Heleno)
Daniel de Oliveira (Boca)
Qual terá sido o critério para barrarem Felipe Camargo (Xingu) dessa categoria? Se é o personagem de Caio Blat que aparece menos e ainda some no meio do filme!

ATRIZ
Nanda Costa (Febre do rato)
Alessandra Negrini (2 coelhos)
Dira Paes (À beira do caminho)
Simone Spoladore (Sudoeste)
Hermila Guedes (Era uma vez eu, Verônica)

ATOR COADJUVANTE
João Miguel (Gonzaga – De pai pra filho)
Domingos Montagner (Gonzaga - De pai pra filho)
Eduardo Moscovis (Corações sujos)
Ângelo Antônio (À beira do caminho)
Cláudio Cavalcanti (Astro)
Provavelmente a Academia quis homenagear Cláudio, morto recentemente, com uma indicação, já que o filme é fraco e foi pouquíssimo visto.

ATRIZ COADJUVANTE
Zezé Motta (Gonzaga – De pai pra filho)
Ângela Leal (Febre do rato)
Leandra Leal (Boca)
Dira Paes (Sudoeste)
Andréa Beltrão (Os penetras)
Oscarito sem Dira Paes não tem graça. Este ano ela concorre duas vezes. Será que leva enfim seu primeiro prêmio?

ROTEIRO ORIGINAL
Gonzaga – De pai pra filho
Xingu
Heleno
Febre do rato
2 coelhos

ROTEIRO ADAPTADO
Corações sujos
Boca
Luz nas trevas
E aí, comeu?
Menos que nada
Será possível que não tinha mais nada para indicar? Menos que nada é exatamente o que o título indica. O texto original pode até ser bom, mas a adaptação é um desastre!

FILME DE ANIMAÇÃO
Brichos - A floresta é nossa
Peixonauta - Agente secreto da O.S.T.R.A.

FILME INFANTIL
Brichos - A floresta é nossa
Peixonauta - Agente secreto da O.S.T.R.A.
Cocoricó canta clássicos
31 minutos - O filme

FILME ESTRANGEIRO
Argo (EUA)
As aventuras de Pi (EUA)
A invenção de Hugo Cabret (EUA)
Intocáveis (França)
A separação (Irã)

DIREÇÃO DE ARTE
Gonzaga - De pai pra filho
Xingu
Corações sujos
Heleno
Paraísos artificiais

FOTOGRAFIA
Gonzaga - De pai pra filho
Xingu
Corações sujos
Heleno
Paraísos artificiais

FIGURINOS
Gonzaga - De pai pra filho
Xingu
Corações sujos
Heleno
Paraísos artificiais
As três categorias têm os mesmíssimos finalistas. Haverá variação nas premiações?

MAQUIAGEM
Gonzaga - De pai pra filho
Xingu
Corações sujos
Heleno
2 coelhos
Reis e ratos
Os seis finalistas se explicam: Martín Marcías Trujillo concorre por Gonzaga - De pai pra filho e Heleno.

TRILHA SONORA ORIGINAL
Gonzaga - De pai pra filho
Xingu
Corações sujos
Heleno
2 coelhos

TRILHA SONORA ADAPTADA
A música segundo Tom Jobim
Tropicália
E aí, comeu?
Reis e ratos
Luz nas trevas
Violeta foi para o céu
Curioso incluírem uma coprodução Brasil-Chile entre os finalistas. Deve ser a contrapartida amigável.

MONTAGEM
Gonzaga - De pai pra filho
Xingu
Corações sujos
Heleno
2 coelhos

EFEITOS ESPECIAIS
Gonzaga - De pai pra filho
Xingu
Corações sujos
2 coelhos
Paraísos artificiais

SOM
Gonzaga - De pai pra filho
Xingu
2 coelhos
Paraísos artificiais
À beira do caminho

DOCUMENTÁRIO
Raul - O início, o fim e o meio
A música segundo Tom Jobim
Tropicália
5x pacificação
Uma longa viagem

MONTAGEM DE DOCUMENTÁRIO
Raul - O início, o fim e o meio
A música segundo Tom Jobim
Tropicália
Marcelo Yuka no caminho das setas
Marighella

DOCUMENTÁRIO CURTO
A cidade
Desterro
Elogio da graça
Filme para poeta cego
Quem tem medo de Cris Negão?

CURTA-METRAGEM
A mão que afaga
A melhor idade
A onda traz, o vento leva
Laura
O duplo

CURTA DE ANIMAÇÃO
Cabeça de papelão
Dia estrelado
O ogro
Realejo
Valquíria

O Oscarito será entregue no dia 13 de novembro na Cidade das Artes. No dia seguinte você confere os vencedores aqui no CineComFritas.

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Minha vida me pertence

A polêmica do momento é sobre a liberação de publicação de biografias não autorizadas. O assunto vem sendo tratado com a devida seriedade pela imprensa e merece um debate amplo, principalmente por tocar em um ponto fundamental da Constituição brasileira, o direito à privacidade individual. Há quem defenda a tese de que pessoas públicas tais como artistas ou políticos, os principais enfocados nesse gênero literário, não têm exatamente um lado privado, e tudo o que fazem ou já fizeram seria de interesse geral. Outros, ao contrário, dizem que biografias devem se restringir às realizações em suas respectivas áreas de atuação, descartando aspectos da vida pessoal de cada figura, sobretudo aqueles que comprometam a imagem do biografado.

Esse cara não sou eu! Não autorizei...
A gênese da discussão, como todos devem se lembrar, é o livro Roberto Carlos em detalhes, escrito pelo pesquisador Paulo César de Araújo, lançado em 2006. A obra foi recolhida das livrarias pouco tempo após o lançamento e embargada na Justiça. O cantor se disse ofendido porque não concedeu qualquer entrevista ao autor do livro e o considerou invasão de privacidade. Oficialmente, porém, sabe-se que ele não gostou de ter certas intimidades reveladas, como o acidente de que foi vítima quando criança, no Espírito Santo, e que resultou na atrofia de uma perna, fato já muito conhecido por quase todo mundo e facilmente encontrado na internet. Quem conseguiu comprar agora tenta capitalizar em cima da raridade do título. No site da Estante Virtual, até a manhã desta quinta-feira (24/10), havia dez exemplares à venda por preços que variavam entre R$250 e R$500.

O cinema sempre teve nas biografias um porto seguro para produções normalmente atraentes ao público. Então, fiquei pensando se essa suposta proibição se estendesse à sétima arte. No Brasil, vários filmes nunca teriam vindo a lume.

GARRINCHA, ESTRELA SOLITÁRIA - Taí um caso em que o espectador sairia ganhando com a proibição. O filme todo é um equívoco, a começar pelo sacrilégio de escalarem um ator assumidamente flamenguista (André Gonçalves) para viver o eterno ídolo do Botafogo, uma escolha que pareceu provocação. O roteiro prefere sublinhar as estripulias amorosas e sexuais do jogador e pouco se fala de sua carreira nos gramados, tudo é muito rápido e mal contado. Não faz justiça ao estupendo livro que o inspirou, Estrela solitária - Um brasileiro chamado Garrincha, de Ruy Castro, que também enfrentou problemas na época de seu lançamento, chegou a ser censurado pelas filhas do jogador, que o consideraram desrespeitoso e partilhavam um naco maior dos direitos de imagens (depois foi liberado).

NOEL, POETA DA VILA - Outro que se dedica mais a registrar a vida do que a obra do artista, no caso, destacando as conturbadas relações afetivas do grande compositor, quase deixando sua obra genial em segundo plano. O roteiro desigual diverte bastante no começo, a ponto de eu achar que o filme era uma comédia, para depois se tornar sombrio e até triste demais. Rafael Raposo nunca mais fez nada, mas está bem como o personagem título. O som é catastrófico, tornando os diálogos quase incompreensíveis.

LÚCIO FLÁVIO, O PASSAGEIRO DA AGONIA - O Brasil deve ser o único país do mundo que glorifica a bandidagem com filmes! Aqui imortaliza-se o bandido Lúcio Flávio, que aterrorizou o Rio de Janeiro nos anos 70. Destaca-se o bom trabalho de Reginaldo Faria como o marginal. O filme, de 1977, teve uma espécie de continuação três anos depois, com Eu matei Lúcio Flávio, em que se conta a versão "oficial" (da polícia) dos fatos.

2 FILHOS DE FRANCISCO - Um dos maiores sucessos recentes do cinema brasileiro talvez nem fosse realizado. Certo, a narrativa construída em tons épicos confere um natural heroísmo à saga empreendida pela dupla, que termina vencedora graças a seus próprios esforços. mas será que se houvesse algum episódio comprometedor na trajetória dos artistas, isso seria mostrado? 

LULA, O FILHO DO BRASIL - Este é o melhor exemplo do tipo de biografia que se espera que seja lançada no país. Mais que uma história de vida, trata-se da própria construção de um "mito" político, cuja vida parece ter se desenvolvido de forma inteiramente limpa, sem qualquer mancha, quando sabemos que não foi bem assim. Seu sucesso na política seria, portanto, uma conseqüência natural, um "prêmio" a tanto sofrimento enfrentado ao longo dos anos. Hagiografia disfarçada.