quinta-feira, 18 de julho de 2013

Eu era assim... fiquei assim

Uma das futilidades mais comentadas nas últimas semanas foi a decisão da atriz Marina Ruy Barbosa de não raspar suas madeixas ruivas, como exigia sua personagem na novela das 21h da TV Globo. Na trama, ela interpreta uma jovem que tem câncer e iniciaria o processo de quimioterapia, o que explicava tal sacrifício. Fontes ligadas à atriz dizem que ela teve crises histéricas de choro e insônia nos dias que antecederiam o corte. O episódio motivou debates no meio artístico sobre até que ponto um intérprete pode ou deve ir em nome da arte, deve ou não deve aceitar passar por mudanças corporais extremas para compor um personagem ou para se adequar a um papel, se assim lhe for determinado.

Ficou famosa a imagem de outra atriz, Carolina Dieckman, pelando sua vasta cabeleira na novela Laços de família, alguns anos atrás; foi um sacrifício feito em nome de seu trabalho e também de uma causa - na ocasião, o autor da trama, Manoel Carlos, quis sensibilizar a opinião pública para a importância de doação de medula óssea nos casos de tratamento contra a leucemia. Mas é claro que, para uma mulher, raspar a cabeça pode ser muito traumático, dadas as variáveis envolvidas no ato (a parte estética, a vaidade, o sex appeal etc.). E, como qualquer outra profissão, a de ator/atriz não está imune a riscos. Mas cabelo cresce novamente depois de rapado. No caso atual, pesaram certamente a pouca idade da atriz, sua inexperiência e até o fato de sua personagem ser secundária, o que não justificaria tal excesso. Mas não vou me alongar no mérito da questão.

Fiquei pensando em outros exemplos de astros e estrelas do cinema que aceitaram se submeter a mudanças radicais em seu visual pela necessidade de construção de um personagem. Em alguns casos, as transformações foram fruto de pesada e trabalhosa maquiagem, o que não diminui o sacrifício, se pensarmos nas horas em que ela demorava a ficar pronta e perfeita. Tudo pode ter sido sofrido, mas, de alguma forma, os que se dispuseram aos sacrifícios entraram para a história.

O TOURO INDOMÁVEL - O caso mais lembrado. Robert De Niro precisou engordar, emagrecer e novamente engordar 30 quilos para personificar a balança existencial vivida pelo boxeador Jake LaMotta, nesta que é apontada por muitos como a obra-prima de Martin Scorsese. A montanha russa da balança rendeu um Oscar para o ator e ajudou a mitificar o filme, eleito um dos dez melhores de todos os tempos em várias listas especializadas.

NÁUFRAGO - Parecido com O touro indomável. As filmagens tiveram de ser interrompidas durante um ano e meio para que Tom Hanks, no papel-título, emagrecesse também cerca de 30 quilos e conferisse veracidade ao personagem. Mas o esforço não sensibilizou a Academia, que em 2001 preferiu premiar Russel Crowe como Melhor Ator por Gladiador.

O DIÁRIO DE BRIDGET JONES - Engordar pode ser tão assustador para uma mulher quanto raspar suas melenas. Que o diga Renée Zellweger, até então uma coadjuvante sem muito brilho e que, graças aos muitos quilinhos a mais do papel, acabou alçada à condição de estrela. O sacrifício lhe rendeu uma indicação ao Oscar e a visibilidade necessária para se tornar uma estrela.

O OPERÁRIO - Christian Bale ganhou o Oscar em 2011, mas já merecia o prêmio desde 2004, quando interpretou um operário industrial assombrado por pesadelos que lhe tiravam o sono e a saúde, tanto mental quanto física. Seu emagrecimento na tela é assustadoramente real.   
QUERO SER JOHN MALKOVICH - Repare na esposa feiosa de John Cusack neste louco filme dirigido por Spike Jonze e diga se é possível enxergar Cameron Diaz ali. Um cuidadoso trabalho de maquiagem escondeu tão bem a atriz que muitos consideraram injustiça que o trabalho não tenha sido indicado ao Oscar da categoria.

O HOMEM ELEFANTE - Um dos filmes mais "normais" de David Lynch. A história real de John Merrick, que sofreu todos os preconceitos na Inglaterra Vitoriana por conta de sua deformidade facial. Como protagonista, John Hurt emociona debaixo da maquiagem, que levava quatro horas para ficar pronta, mas não foi premiada porque, na época, não existia o Oscar da categoria. Graças a este filme, ele passou a ser concedido a partir do ano seguinte. Mas a injustiça já estava feita.

DICK TRACY - Outro notável trabalho de caracterização. A aguardada (e, para muitos, frustrante) adaptação do famoso detetive dos quadrinhos criado por Chester Gould nos anos 30 conta com a participação de muita gente famosa irreconhecível graças à maquiagem, que, é claro, saiu vencedora do Oscar. Tente encontrar Dustin Hoffman e Al Pacino entre os vilões.

OLGA - O cinema brasileiro tem um bom exemplo de transformação radical requerida para a composição de personagem. No caso, a cabeça raspada da revolucionária Olga Benário rendeu elogios à coragem de Camila Morgado - mas o papel exigia, ora! O filme divide opiniões, mas todos reconhecem o bom trabalho da atriz. Em entrevista recente, Camila afirmou que não faria tal sacrifício novamente. 

AS BRANQUELAS - Outro prodígio da maquiagem, que conseguiu transformar os irmãos negros Marlon e Shawn Wayans nas duas patricinhas que o título indica. Mas o ótimo trabalho foi esquecido pela Academia, que sequer o indicou entre os finalistas da categoria.

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