quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Los mejores de Latinoamérica

O Festival de Valdívia é uma das inúmeras mostras de cinema que se realizam anualmente pelo mundo e, embora pouco conhecida por aqui, está completando 20 anos de existência. Para marcar a data, os organizadores do evento divulgaram, na primeira semana de setembro, uma lista (minha perdição) dos dez melhores filmes latino-americanos que foram exibidos naquela cidade chilena ao longo de suas duas décadas. Como toda relação do gênero, esta contém surpresas e, particularmente para nós, brasileiros, uma constatação não muito agradável.

Whisky (2004): o melhor de todos.
A imprensa e a "indústria" brasileiras muito cantam e recantam o aumento da qualidade das produções nacionais de uns anos para cá em vários aspectos, da engenhosidade dos roteiros à melhora da captação do som, um antigo problema dos nossos filmes. Eu mesmo escrevia aqui nos primeiros tempos do blog sobre a importância de valorizarmos o nosso cinema, incentivando os leitores a perderem o preconceito e assistirem a filmes nacionais. No entanto, tudo parece ter ido por terra ao analisarmos a tal lista e ver que nela figura apenas um filme brasileiro. E engana-se quem pensa que se trata de Cidade de Deus ou Tropa de elite ou qualquer outro título mais badalado: trata-se do documentário Santiago (2007), de João Moreira Salles, lançado em circuito restritíssimo ― o Instituto Moreira Salles (IMS), na inacessível Gávea, e o Espaço Itaú (na época, Unibanco), em Botafogo, ambas administradas pelos Moreira Salles. Lembro de uma crônica da época em que o autor se perguntava: "Se o filme é assim tão bom, por que só passa nos cinemas da família?" Fato é que Santiago caiu nas graças da crítica, a ponto de ser efusivamente saudado como obra-prima e ser eleito um dos melhores filmes daquele ano. Apesar disso, continua sendo pouco conhecido e pouco visto. 

Mas vamos ao que interessa. A lista é encabeçada pelo uruguaio Whisky (2004), que poderia ser outra surpresa, já que são poucos os filmes feitos naquele país e menos ainda os que chegam a nós, como este, que foi primeiramente exibido no Festival do Rio e depois entrou em circuito alternativo na cidade, onde fez algum sucesso. A crítica especializada, sobretudo, adorou a comédia dramática sobre um solteirão sexagenário que, para enganar o irmão que vai visitá-lo, pede a uma amiga da mesma idade que se faça passar por sua esposa. O filme foi dirigido pelos nomes mais conhecidos do cinema uruguaio, Pablo Stoll e Juan Pedro Rebella, falecido em 2006 com apenas 32 anos. É interessante, mas dos poucos filmes uruguaios que consegui ver até hoje, prefiro outro título, Ruído (2003),  inédito em circuito, mas que já foi exibido no Canal Brasil.

Os demais nove títulos se dividem (mal) entre quatro argentinos e um de Brasil, México, Colômbia, Chile e, pasme, Paraguai! Alguém já viu um filme paraguaio? Eu nem sabia que se fazia cinema lá, nem na Premiére Latina do Festival do Rio eles são exibidos. Veja abaixo a lista dos eleitos.

1- Whisky (Uruguai, 2004).
2- Luz silenciosa (México, 2007), de Carlos Reygadas.
3- Santiago (Brasil, 2007), de João Moreira Salles.
4- A liberdade (Argentina, 2001), de Lisandro Alonso.
5- O pântano (Argentina, 2001), de Lucrécia Martell.
6- Histórias extraordinárias (Argentina, 2008), de Mariano Lilnás.
7- Um tigre de papel (Colômbia, 2007), de Luís Ospina.
8- Hamaca paraguaia (Paraguai, 2006), de Paz Encina.
9- Sílvia Prieto (Argentina, 1999), de Martín Rejtman.
10- Aqui se constrói (Chile, 2000), de Ignácio Agüero.

A solidão de Santiago (2007) na lista: único nacional.
Alguns foram exibidos nos cinemas daqui, como Luz silenciosa e O pântano (alguém explica essa simpatia que a crítica têm pela sra. Martell?) e estão disponíveis em DVD. Histórias extraordinárias e Um tigre de papel passaram em festivais. Nunca ouvi falar dos demais.

Para formar a seleção dos melhores, foram convidados os programadores de outros nove festivais latino-americanos, nenhum deles muito conhecido por aqui. Do Brasil, a mostra pinçada foi o Festival de Tiradentes, cujo perfil é mais experimentalista, aberto a novas estruturas narrativas e visuais, ou seja, um tipo de cinema alternativo, autoral, o que leva a crer que os demais eventos também sigam a mesma proposta. Isso explica talvez a presença de filmes desconhecidos ou menos badalados na lista final. É a única justificativa possível para a ausência dos campeões de bilheteria do cinema brasileiro.

E o solitário representante tupiniquim na lista também atenta para outro fato preocupante: o chamado cinema de invenção feito hoje por aqui não tem sido tão inventivo assim, já que mal seduz o público externo.

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