quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

A primeira baixa

A presidente Dilma Rousseff gosta de se referir à Copa do Mundo do Brasil como "a Copa das Copas", em parte para valorizar o produto, em parte para responder às provocações de Joseph Blatter, o mandachuva da Fifa, para quem as obras estão sempre atrasadas e fora do padrão de organização da entidade. Certamente, ao usar tal alcunha, Dilma não se refere aos aspectos organizacionais do evento, tais como aeroportos, mobilidade urbana, rede hoteleira etc. Se tivesse de pitaquear sobre algum desses temas, é muito provável que a presidente se pusesse a perolar sem chegar a qualquer conclusão efetiva. Todos nós, brasileiros, sabemos qual será a suposta herança da Copa do Mundo. As obras de ampliação dos aeroportos, por exemplo, tão aguardadas pela população, irão se limitar aos esperados "puxadinhos" provisórios, que serão desfeitos tão logo acabe a competição. Em Salvador, as obras de fundação da via metroviária foram interrompidas e provavelmente terminarão esquecidas, já que não haverá interesse maior depois da Copa – afinal, a justificativa para tais melhorias já terá passado, e os anseios populares não contam, afinal de contas.

A tal "Copa das Copas", tão decantada pela presidente aos quatro cantos, só vai ocorrer mesmo dentro das quatro linhas, e neste sentido Dilma tem toda a razão. Todas as seleções campeãs do mundo estarão participando, algo que poucas vezes aconteceu na história da competição. A grande concentração de craques mundiais também é um atrativo e tanto para o torcedor brasileiro, que se acostumou a vê-los pela televisão. Alguns já jogaram aqui por ocasião da Copa das Confederações, casos de Balotelli (Itália), Hernández (México), Suárez (Uruguai), Xavi e Iniesta (Espanha). Outros atuaram uma vez em amistosos, como Rooney (Inglaterra) e Cristiano Ronaldo (Portugal). Mas a maioria vai mesmo fazer sua estréia em gramados brasileiros, e entre eles é claro que se inclui a estrela principal, Lionel Messi (Argentina), talvez o fator que justifique uma inusitada torcida nacional pela seleção dos hermanos, pelo menos até que cheguem a uma hipotética final com o Brasil.

Falcao García: menos uma estrela na "Copa das Copas"?
Da constelação de grandes jogadores, duas ausências já estão garantidas. Uma é a do marrento sueco Ibrahimovic, que, em um arroubo de humildade, declarou que qualquer torneio que não conte com sua presença em campo não merece ser visto. Outra, confirmada nos últimos dias, é a do colombiano Falcao García, que se contundiu gravemente em jogo do Campeonato Francês na semana passada. O relatório médico foi implacável: seis meses de estaleiro, o que tira o atacante automaticamente da Copa. O próprio Falcao postou em uma rede social que está otimista na recuperação, apesar de tudo, e que ainda tem esperança de disputar o torneio. Mas é difícil. Ainda que o jogador não apresente o mesmo peso de outros craques de primeira grandeza do panteão mundial do futebol, como os já citados, e ainda Neymar, Drogba, Van Persie etc., sua ausência se fará sentir, sobretudo, por ser o grande nome da Colômbia, que caiu em um grupo relativamente fácil e que tem no atacante o fator de desequilíbrio frente a adversários de calibre mais fraco. Sem ele no comando do ataque, a Colômbia até pode conseguir sucesso na Copa, mas sem dúvida será uma tarefa mais parelha  e mesmo as chances de ir mais adiante ficam comprometidas.

Pela sua idade (27 anos), Falcao García ainda tem chances de disputar mais um mundial, talvez o de 2018, na Rússia. O grande adversário passa a ser a instabilidade de sua seleção. A Colômbia é uma dessas equipes que apresenta safras sazonais de bons jogadores, e nem sempre tem presença garantida em um mundial, ao contrário do que normalmente acontece com as potências do continente. Pode ser que a próxima geração não seja tão bem entrosada ou talentosa a ponto de ganhar uma vaga no campo. Pode ser que Falcao chegue ao próximo mundial já distante de sua melhor forma  como está hoje, seria sem dúvida uma das grandes atrações da torcida e do mundial. O fato é que, se não puder jogar uma Copa, ao menos Falcao estará em boa companhia, já que é grande a lista de craques que nunca a disputaram.

É o primeiro desfalque da "Copa das Copas" dentro do campo. Porque, fora, nem vale a pena listar todas as baixas.

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