Cavadoras de ouro (1933) |
Tão
logo houve o surgimento do cinema sonoro e Hollywood não perdeu tempo. Tratou de explorar
todas as potencialidades que a nova tecnologia oferecia, produzindo musicais a granel. Embora feitos mais na base do entusiasmo da novidade, sem muita
preocupação estética e quase nada de refinamento, alguns dos exemplares produzidos nos anos 30 têm certas
qualidades.
Este
Cavadoras de ouro, de 1933, já me
surpreendeu logo de cara, porque foi o primeiro de uma série que se estendeu
até 1938, guardando também conexões com outros filmes da época que contavam histórias
similares. Ou seja, quase 80 anos atrás, Hollywood já produzia histórias em
seqüência, porém, com propósitos muito diferentes dos interesses puramente
mercadológicos de hoje. Todas tiveram a supervisão do grande Busby Berkeley na
concepção das coreografias e números musicais, o que é mais uma vantagem dessas
sobre as continuações esvaziadas que se produzem atualmente.
A
história se passa durante a Grande Depressão, em 1930. Quatro dançarinas que
dividem um apartamento se vêem subitamente desempregadas depois que o teatro no
qual se apresentavam é fechado pela
polícia. Cogitam conseguir emprego em outras áreas, afinal, não havia muito o
que escolher naquela época, mas ganham novo alento graças ao namorado de uma
delas, um compositor também em busca de uma chance, que aceita financiar um
espetáculo, desde que seu nome seja mantido em sigilo, porque a família
desaprova seu envolvimento no mundo das artes e pensa que ele se tornou médico. Entre um ensaio e outro,
paixonites irão surgir e confusões terão vez.
Ginger Rogers sempre foi uma atração. |
Não
se espere um espetáculo grandioso de canto e dança. As marcas características dos grandes
musicais só apareceriam a partir da década seguinte. O forte do filme são os
diálogos bem-humorados e muito espirituosos, emoldurando uma profusão de piadas
verbais. De musical mesmo, há muito pouco. A abertura acompanha um dos números
apresentados pelas dançarinas no teatro, momentos antes de a polícia invadir o
local para fechá-lo, sob protestos do proprietário. Pouco depois, Dick Powell
defende uma canção ao piano, quando convence o produtor a apostar nele para
arriscar outro show. E os 20 minutos finais são tomados pela apresentação do
novo espetáculo. Nada muito elaborado, mas já dá para notar o começo de um estilo que seria melhor desenvolvido na década seguinte, como uma curiosa tomada aérea das
coreografias no palco e um número especialmente bonito com os violinos
fosforescentes.
Cavadoras de ouro recebeu uma indicação ao Oscar, na categoria Melhor Som (perdeu para Adeus às armas), foi
seguido por Mordedoras (1935, o único do lote a ganhar um Oscar, pela canção "Lullaby of Broadway"), Cavadoras de ouro de 1937 (que na
verdade foi rodado em 1936! Também é estranho que seja este o único dos quatro
volumes lançados em DVD por aqui, pela sempre suspeita Continental, pelo selo
Vintage) e Cavadoras em Paris (1938),
que conclui a odisséia das dançarinas em busca de fama e fortuna na capital
francesa. Mas não há preocupação em se construir personagens de uma história
para outra porque o elenco muda a cada novo capítulo.
Por
exemplo, Dick Powell esteve à frente das três primeiras partes, mas interpretando
personagens diferentes em cada uma delas. A loura Joan Blondell foi sacada da
segunda história, mas reaparece na terceira, também com outro personagem - ou
seja, a série valia mais pelo nome do que por qualquer tipo de coesão narrativa
entre os filmes. Também a futura estrela Ginger Rogers só deu as caras aqui,
seguindo depois em projetos mais ousados e interessantes, tornando-se a maior
parceira de Fred Astaire em musicais clássicos como O picolino (1935). Só Busby Berkeley esteve envolvido nos quatro
filmes, sendo que assinou a direção de Mordedoras.
Fãs
de musicais vão gostar de descobrir este pequeno e simpático exemplar dos
primórdios do gênero. Nada de especial, mas assiste-se com prazer.
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