Senna (2010) |
Quando
esta coluna estiver indo ao ar, neste feriado de 1º de maio, o mundo estará
celebrando os 20 anos da morte de Ayrton Senna. As devidas homenagens já terão
sido feitas, por meio de eventos, reportagens especiais em veículos de
comunicação e talvez se prolonguem até o próximo dia 11, data do GP da Espanha,
no qual, imagina-se, a FIA prestará também sua lembrança à memória do piloto.
Só fica faltando aquela que sempre foi esperada, mas nunca saiu do papel: uma
cinebiografia sobre Senna.
De
uns anos para cá, a Fórmula 1 vem experimentando um decréscimo de audiência e
popularidade, sobretudo no Brasil, onde sempre teve boa acolhida (nos Estados
Unidos nunca foi grande chamariz). Em parte pelo andamento pouco dinâmico das
temporadas, quase sempre restritas a um único piloto, em parte pela sonolência
das provas, com muitos competidores e raros momentos de emoção. Para nós,
brasileiros, há ainda o agravante de praticamente não termos mais para quem
torcer, já que as apostas nacionais após a morte de Senna se revelaram
verdadeiros pneus furados. Rubens Barrichello passou a carreira toda à sombra
de Schumacher, sem ousadia nem personalidade para peitar um tratamento igual.
Felipe Massa prometia muito no começo, mas nunca estourou como se esperava, ao
contrário, quase se estourou todo em um acidente, em 2009. A categoria também
perdeu credibilidade por conta do famigerado "jogo de equipes", que
determina a vitória ou ultrapassagem do piloto mais bem colocado na tabela de
classificação - afinal, quem vai assistir a uma competição cujos resultados
obedecem a interesses internos e podem ser manipulados? (E alguém imagina que Senna fosse se dobrar a um teatrinho desses?) Ou seja, é muita coisa
contra.
Assim,
as novas gerações que não vêem muita graça na categoria não fazem idéia do que
era se postar diante da TV nas manhãs de domingo e vibrar a cada acelerada, a
cada ultrapassagem feita por Ayrton Senna. Torcia-se de fato, não só pela
vitória na corrida, mas pelo título, que ele conquistou de forma brilhante em
três ocasiões (1988, 1990 e 1991). Admirado pelo arrojo com que dobrava cada
curva, respeitado pelos demais pilotos pela liderança e profissionalismo, Senna
pode ter sido o último verdadeiro grande herói das pistas. Por mais vitorioso
que seja hoje, Sebastian Vettel praticamente não tem ou teve adversários, e qualquer
embate dele com Lewis Hamilton, Fernando Alonso ou Jenson Button não é nada
perto dos pegas promovidos entre Senna e Prost ou Senna e Mansell. Custa crer
que até hoje sua carreira não tenha rendido sequer um curta-metragem documental
aqui no Brasil, que confirma ser mesmo um país sem memória e que se esquece
rápido de seus ídolos.
Imagem clássica: emoções dominicais. |
Como ninguém fazia nada por aqui, coube a um inglês preencher essa lacuna. Em
2010, Asif Kapadia levou às telas o documentário Senna, que fazia uma radiografia, ainda que algo morna, da carreira
do piloto, com alguns detalhes preciosos, como uma seqüência de imagens
gravadas de dentro do cockpit pouco antes do acidente que o matou, na hoje
tristemente famosa curva Tamburello, no circuito de Ímola, na Itália - por
ironia do destino, a seqüência é interrompida segundos anteriores ao desastre.
O filme acabou sendo tão vitorioso nas telas quanto Senna foi na pista,
angariando 13 prêmios em festivais diversos. Os principais foram o Bafta de
Documentário e Montagem, além do Prêmio da Audiência em Sundance, quando saiu
aclamado pela crítica. Mas terminou injustamente esquecido tanto no Globo de
Ouro quanto no Oscar, para os quais sequer foi indicado.
Um
projeto de ficção sobre a vida e a carreira de Ayrton Senna chegou a ser
cogitado logo após sua morte, e seria estrelado por Andy García no
papel-título, contando ainda com Antonio Banderas no elenco, mas não seguiu
adiante. Em seu próprio país Senna nunca foi personagem de produção alguma,
fora as reportagens de televisão. Provavelmente por uma questão de direitos,
rigidamente controlados por sua irmã Viviane, presidente do Instituto Ayrton
Senna e responsável pela memória de tudo ligado ao piloto. Ou isso ou então foi por desinteresse mesmo. Prefere-se exaltar figuras da criminalidade, vigaristas, do que enaltecer quem de fato merece. Isto é Brasil!
O outro DVD sobre Senna. E só. |
Senna chegou a ser
lançado em várias edições em DVD. Uma simples, para locação, outras duplas, sendo que uma delas, especial para colecionadores, ainda trazia a miniatura
da McLaren com a qual ele conquistou seus três títulos. Recentemente o filme
foi relançado nas lojas com capa cinza (antes era amarela) mas em versão
simples e trazendo um adesivo de brinde. Mas há ainda outra edição especial em
Blu-Ray que também traz a miniatura.
Além deste, também é
possível encontrar An official tribute to
Senna, considerado o melhor documentário já feito sobre o piloto, trazendo, em dois discos, mais de três horas de informações e entrevistas com pessoas ligadas à carreira
de Senna. E só. Materiais relacionados a ele, sobretudo livros, só podem ser
encontrados no exterior, e mesmo assim, não são fáceis de achar, porque a
maioria já se esgotou. Enquanto isso, na pátria que tanto se orgulhou em
defender e representar, ao menos em termos de audiovisual, Senna recebe o mesmo
tratamento que os pilotos da extinta Minardi mereciam nas provas que disputavam: insignificância total.
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