quinta-feira, 23 de abril de 2015

Minha noiva é um horror!

A noiva do Re-animator (1989)
Há muito tempo escrevi sobre um filme, Meu namorado é de morte. Resumindo: quando o vi pela primeira vez, achei engraçadíssimo, original, inventivo, a ponto de incluí-lo na minha lista de dez melhores surpresas de todos os tempos. Depois que o revi, muitos anos depois (inclusive com outro título, Namorado gelado, coração quente!), não resistiu e o encanto se perdeu. Achei-o bobinho, até um pouco grosseiro, com poucas boas idéias originais e uma trama fraquinha. Parece que, com exceção mesmo dos clássicos inquestionáveis, nenhum filme suporta uma revisão mais criteriosa, especialmente se amadurecemos nossas experiências cinéfilas e aprendemos a diferenciar o joio do trigo.

Este A noiva do re-animator foi descoberto, inicialmente, nas páginas do Guia Abril Vídeo 1992. A crítica não era lá muito simpática, conferindo-lhe apenas duas estrelas, ou seja, algo na linha "veja se não tiver nada melhor para fazer", afastando-o de um interesse ao menos mediano que justificasse uma locação. Mas fiquei muito atraído pelo comentário, que realçava certas qualidades discutíveis da obra: "Um dos espetáculos mais sangrentos e horríveis que se pode ver"; "um verdadeiro açougue humano"; "prato cheio para fãs do gênero"; "repelente para quem não gosta". Passei um bom tempo esperando para conferi-lo, já que a locadora não dispunha do título e repito, isso foi no começo da década de 90, quando não havia internet, Youtube e muito menos compartilhamento de arquivos pela rede. Fui salvo pelo SBT, que o programou para uma noite de quarta-feira. Como na época também não era comum o futebol-corujão nesse dia da semana, postei-me diante da televisão e saboreei cada minuto de mais uma missão cinéfila alcançada.

Criatura e criador: amor irracional.
Lembro que na ocasião, discordei da crítica. Gostei bastante, achei um filme assustador, com cenas chocantes e tensão crescente. O citado "espetáculo sangrento" se justificava pelos momentos mais perturbadores, também destacados naquele breve comentário. Acabou ingressando em outra relação minha, a de cult movies particulares. Pois bem, fui revê-lo no último final de semana, quando, ironicamente, não tinha nada melhor para fazer (ou ver) e fui novamente atingido pelos cruéis efeitos da passagem do tempo. Não o excluo da lista na qual já estava inscrito, mas o que me pareceu aterrador da primeira vez, hoje, me levou às gargalhadas. Mau sinal, aliás, péssimo. Ao mesmo tempo em que denota a fragilidade de uma obra, serve como prova cabal de como nos tornamos ácidos com o tempo, como nada sobrevive à inocência da primeira vez.

O filme é uma continuação de A hora dos mortos-vivos (1985, Reanimator no original), e começa onde o primeiro terminou. Após um violento massacre ocorrido em uma missão humanitária no Peru, os médicos e cientistas Dan Cain (Bruce Abbott, que tem mesmo cara de maluco) e Herbert West (Jeffrey Combs, um pouco mais humano) retornam à sua rotina no Miskatonic Hospital, enquanto, secretamente, roubam cadáveres para prosseguirem em suas tentativas de criar vida artificial. O projeto agora é reviver a falecida esposa de West, Meg, o que embute uma homenagem ao clássico A noiva de Frankenstein (1935), de James Whale repare no penteado e no gestual da criatura, Gloria, interpretada por Kathleen Kinmont. Logicamente, até que o resultado final seja alcançado, coisas horríveis ou risíveis, dependendo de quem assiste acontecerão.

Você acha que seu filho gostaria de brincar com isso?
As "atrações" citadas pelo Guia mais divertem do que assustam, com exceção dos três loucos, que mantiveram sua aura agonizante. Os "cinco dedos que andam pela casa com um olho em cima" mais parecem uma aranha saída de um desenho de Chuck Jones; eles aparecem quando os doutores recebem a visita do investigador e as tentativas dos dois para que o policial não perceba sua existência são hilárias, além de ter um desfecho condizente com o clima. A cabeça falante que depois ganha asas de morcego nas orelhas podia ser uma criativa fantasia de carnaval.

Hoje me aborreço com o ritmo algo lento da narrativa, mas o clima permanece lúgubre, o que salva o filme de ser um trash total. É verdade que A noiva do re-animator perdeu o viço com o passar dos anos, deixando de ser a história apavorante que se pretendia na época de seu lançamento (se é que houve tal intenção), mas, em contrapartida, conseguiu se firmar como uma descompromissada sessão de terror a ser vista entre amigos, com sustos e gargalhadas na medida certa. O tempo não poupa ninguém.

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