A noiva do Re-animator (1989) |
Há
muito tempo escrevi sobre um filme, Meu
namorado é de morte. Resumindo: quando o vi pela primeira vez, achei
engraçadíssimo, original, inventivo, a ponto de incluí-lo na minha lista de dez
melhores surpresas de todos os tempos. Depois que o revi, muitos anos depois
(inclusive com outro título, Namorado
gelado, coração quente!), não resistiu e o encanto se perdeu. Achei-o
bobinho, até um pouco grosseiro, com poucas boas idéias originais e uma trama
fraquinha. Parece que, com exceção mesmo dos clássicos inquestionáveis, nenhum
filme suporta uma revisão mais criteriosa, especialmente se amadurecemos nossas experiências cinéfilas e aprendemos a diferenciar o
joio do trigo.
Este
A noiva do re-animator foi
descoberto, inicialmente, nas páginas do Guia Abril Vídeo 1992. A crítica não
era lá muito simpática, conferindo-lhe apenas duas estrelas, ou seja, algo na
linha "veja se não tiver nada melhor para fazer", afastando-o de um
interesse ao menos mediano que justificasse uma locação. Mas fiquei muito
atraído pelo comentário, que realçava certas qualidades discutíveis da obra:
"Um dos espetáculos mais sangrentos e horríveis que se pode ver"; "um verdadeiro açougue humano"; "prato cheio para fãs do gênero"; "repelente para quem não gosta". Passei um bom tempo esperando para conferi-lo, já que a locadora
não dispunha do título –
e repito, isso foi no começo da década de 90, quando não havia internet,
Youtube e muito menos compartilhamento de arquivos pela rede. Fui salvo pelo
SBT, que o programou para uma noite de quarta-feira. Como na época também não
era comum o futebol-corujão nesse dia da semana, postei-me diante da televisão
e saboreei cada minuto de mais uma missão cinéfila alcançada.
Criatura e criador: amor irracional. |
Lembro
que na ocasião, discordei da crítica. Gostei bastante, achei um filme
assustador, com cenas chocantes e tensão crescente. O citado "espetáculo
sangrento" se justificava pelos momentos mais perturbadores, também
destacados naquele breve comentário. Acabou ingressando em outra relação minha,
a de cult movies particulares. Pois bem, fui revê-lo no último final de semana,
quando, ironicamente, não tinha nada melhor para fazer (ou ver) e fui novamente
atingido pelos cruéis efeitos da passagem do tempo. Não o excluo da lista na qual já estava
inscrito, mas o que me pareceu aterrador da primeira vez, hoje, me levou às
gargalhadas. Mau sinal, aliás, péssimo. Ao mesmo tempo em que denota a
fragilidade de uma obra, serve como prova cabal de como nos tornamos ácidos com
o tempo, como nada sobrevive à inocência da primeira vez.
O
filme é uma continuação de A hora dos
mortos-vivos (1985, Reanimator no original),
e começa onde o primeiro terminou. Após um violento massacre ocorrido em uma
missão humanitária no Peru, os médicos e cientistas Dan Cain (Bruce Abbott, que
tem mesmo cara de maluco) e Herbert West (Jeffrey Combs, um pouco mais humano)
retornam à sua rotina no Miskatonic Hospital, enquanto, secretamente, roubam
cadáveres para prosseguirem em suas tentativas de criar vida artificial. O projeto
agora é reviver a falecida esposa de West, Meg, o que embute uma homenagem ao
clássico A noiva de Frankenstein (1935),
de James Whale –
repare no penteado e no gestual da criatura, Gloria, interpretada por Kathleen
Kinmont. Logicamente, até que o resultado final seja alcançado, coisas
horríveis –
ou risíveis, dependendo de quem assiste – acontecerão.
Você acha que seu filho gostaria de brincar com isso? |
As
"atrações" citadas pelo Guia mais divertem do que assustam, com
exceção dos três loucos, que mantiveram sua aura agonizante. Os "cinco dedos que
andam pela casa com um olho em cima" mais parecem uma aranha saída de um
desenho de Chuck Jones; eles aparecem quando os doutores recebem a visita do
investigador e as tentativas dos dois para que o policial não perceba sua
existência são hilárias, além de ter um desfecho condizente com o clima. A
cabeça falante que depois ganha asas de morcego nas orelhas podia ser uma criativa
fantasia de carnaval.
Hoje
me aborreço com o ritmo algo lento da narrativa, mas o clima permanece lúgubre,
o que salva o filme de ser um trash total. É verdade que A noiva do re-animator perdeu o viço com o passar dos anos,
deixando de ser a história apavorante que se pretendia na época de seu
lançamento (se é que houve tal intenção), mas, em contrapartida, conseguiu se firmar como
uma descompromissada sessão de terror a ser vista entre amigos, com sustos e
gargalhadas na medida certa. O tempo não poupa ninguém.
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