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Obediência (2012) |
Tinha
lido alguns elogios a este filme de nome bem simples (mas para o qual
inventaram uma tradução inadequada para o original, "Compliance", algo como submissão, complacência ou em observação) e fui assisti-lo com
grande expectativa. Embora o resultado final seja até certo ponto satisfatório,
teve um detalhe básico que me incomodou muito e que me atrapalhou um tanto na
apreciação da história e, sobretudo, na forma como se desenvolve.
Tudo
indica que vai ser mais um dia comum no ChickenWich, uma lanchonete genérica do
KFC, especializada em frango: os funcionários vão chegando aos poucos, a
gerente Sandra confere as mercadorias e descobre que não terão picles nem bacon
porque houve um erro de pedido, a adolescente espevitada Rebecca se gaba dos três
namorados que têm ao mesmo tempo enquanto se arruma. Tudo na santa paz. Um
telefonema no meio da tarde, contudo, põe fim a essa normalidade. Alguém que se
identifica como policial diz que foi feita queixa contra uma das funcionárias,
acusada de roubar dinheiro da bolsa de uma cliente que acabou de sair do local.
Rebecca (Becky) é então detida nos fundos do depósito e passa a ser confrontada pela sua chefe, inflamada
pelas acusações feitas pelo suposto policial. Ela é obrigada a se despir, ficar
sob a vigilância de outros funcionários homens, tudo comandado pelo telefone durante horas e sem
perspectiva de solução, sem contar com qualquer simpatia ou compreensão de mais
ninguém. Até que a situação vai se tornando mais tensa, e o que parecia uma
queixa formal se transforma em crime de assédio e estupro.
Não
sei se vale a pena resguardar o truque do roteiro, porque lá pelo meio ele se
revela (mas não vou contá-lo aqui, fiel ao meu princípio de evitar spoilers),
mas não é difícil o espectador perceber que alguma coisa ali está muito
mal-contada, algo não encaixa na história. A partir dessa percepção, é possível
imaginar miríades de opções que expliquem aquela situação, todas válidas, mas,
infelizmente, nenhuma se enquadra no caso em questão.
O
grande problema do filme, para mim, porém, está logo no início, um equívoco de
comportamento que chega a irritar: ninguém parece perceber o absurdo da
situação! Uma garota é acusada de roubo, mesmo a distância, sem ninguém para
reconhecê-la, é interrogada, encarcerada, revistada (sic), tudo sem nem sombra
de qualquer presença policial, a não ser uma voz, e ninguém questiona, ninguém
procura averiguar a veracidade da coisa, tá falado e pronto! É o pânico
absoluto que move os personagens a se comportarem como autômatos? A simples
menção do nome "polícia", mesmo que não haja evidência alguma de
confirmação, é suficiente para causar transtornos e fazê-los agirem feito
imbecis. Respeito à autoridade é uma coisa, mas lavagem cerebral é outra. Sinceramente,
para mim, é difícil comprar essa história, quando um mínimo de descortino e
lucidez resolveria o caso. É o que faz um dos personagens, o único que parece
pensar direito e que aparece pouco na trama, para desespero da lourinha, que
não sabe o que fazer nem com quem contar para se safar daquela situação.
O
roteiro do também diretor Craig Zobel é baseado em uma dezena de casos semelhantes,
ocorridos em diversas lanchonetes nos Estados Unidos. Não deixa de ser
assustador pensar que a situação se repetiu com freqüência sem que nada fosse
feito ou ninguém tomasse ciência do que acontecia de fato. Ann Dowd (da série The leftovers), que faz Sandra, ganhou prêmio de atuação
do National Board of Review, mas o melhor desempenho é mesmo o de Dreama Walker
como a assustada Becky.
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