terça-feira, 7 de abril de 2009

Frost / Nixon

Dos cinco finalistas ao Oscar de 2009, este “Frost / Nixon” foi o menos visto e comentado. Talvez por haver uma natural rejeição a filmes com temas políticos, ou, mais provavelmente, por ter sido lançado em circuito reduzido, mais alternativo que comercial. Ou ainda porque o povo brasileiro já não agüenta mais ver histórias sobre políticos que roubam e saem impunes.

A ação se passa em 1977. David Frost era um popular apresentador de programas de televisão nos Estados Unidos, até perder suas atrações por conta da baixa audiência e exilar-se na Austrália. Assistindo às imagens da renúncia do presidente norte-americano Richard Nixon por conta dos sucessivos escândalos de seu governo, ocorrida três anos antes, vem-lhe à mente a idéia de fazer uma entrevista com ele. A idéia, a princípio, parece absurda e tão arriscada que esbarra em vários empecilhos – falta de credibilidade do público, desinteresse dos anunciantes, que renegam o patrocínio por não acreditarem no sucesso da empreitada. Mesmo assim, Frost não desiste e, ao lado de sua pequena mas fiel equipe, consegue agendar quatro sessões com o ex-presidente. Nessas sessões, o que começa como um simples compromisso jornalístico vai aos poucos se transformando em um combate feroz entre as duas personalidades. Paralelamente, algumas verdades podres são reveladas.

A estrutura narrativa e a proposta sugerida pelo filme o aproximam do recente e igualmente indicado ao Oscar “Boa noite e boa sorte”, cujo tema era semelhante, mas referindo-se ao senador Joseph McCarthy. Mas não pretende discutir os bastidores da televisão nem as implicações políticas que um evento dessa magnitude traria. O foco é a relação que se estabelece entre os membros da equipe de gravação, liderados por Frost, e a defensiva meticulosamente orquestrada pelo staff de Nixon. À parte a aridez do tema e seu grau de interesse, essencialmente norte-americano, “Frost / Nixon” consegue manter o ritmo durante toda sua duração graças a um roteiro eficiente escrito por Peter Morgan, também autor da peça teatral que lhe serviu de origem. A montagem também ajuda, construindo um clima de tensão que vai se instalando aos poucos e só é aliviada nas cenas finais, que mostra o reencontro entre o jornalista e o presidente algum tempo depois do embate televisivo.

No papel que lhe valeu sua primeira nomeação ao prêmio da Academia, Frank Langella não interpreta Richard Nixon: praticamente encarna o ex-presidente, tamanha sua semelhança física e gestual. Ele é um ator já veterano, com quase 80 realizações no currículo, além de várias presenças em montagens teatrais, incluindo a original, que serviu de base para o roteiro e pela qual ganhou um Tony. Michael Sheen não lhe fica atrás, compondo um jornalista obstinado, que, inicialmente dominado nas primeiras sessões de entrevistas, consegue virar o jogo e se impor na última conversa. Bem poderia ter sido indicado também como coadjuvante (embora exagere nos olhos arregalados, o que lhe confere por vezes um ar caricato). Certamente você já o conhece de outros trabalhos, como em “A rainha”, em que personificou Tony Blair; ele nada tem a ver com Martin e Charlie Sheen, é um ator inglês de carreira ascendente. Há outros nomes interessantes, como Kevin Bacon (envelhecido como o assessor de Nixon), Oliver Platt, Sam Rockwell e Rebecca Hall (vista recentemente em “Vicky Cristina Barcelona”, de Woody Allen) que faz o contraponto romântico da história, sem maiores conseqüências.

Indicado a cinco Oscars, “Frost / Nixon” saiu sem nenhum. Mas deixa uma bela impressão no espectador. Vale uma conferida.


FROST / NIXON (idem)
Drama
EUA, 2008, 122 minutos.
Direção: Ron Howard.
Elenco: Frank Langella, Michael Sheen, Kevin Bacon, Oliver Platt, Rebecca Hall, Sam Rockwell, Matthew Macfadyen, Toby Jones.

Um comentário:

  1. Bom texto, conciso, vai direto ao ponto. O filme é de interesse restrito ao publico estadunidense, sobretudo aqueles q viveram os turbulentos dias de Nixon como presidente dos EUA e os escandalos associados. Porém, "A rainha", citado no seu texto, tb foca uma realidade muito particular britanica mas, no fundo, o filme traz uma tematica universal.
    Frost/Nixon vale uma conferida atenta e uma visita à locadora em busca de "Boa noite e boa sorte", filme de George Clooney sobre outro momento politico conturbado nos EUA.
    Abraço

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