quinta-feira, 28 de junho de 2012

Oscarito 2012 - todos os indicados


A Academia Brasileira de Cinema (ABC) divulgou os finalistas ao Oscarito de 2012, o Grande Prêmio Cinema Brasil, cujo nome oficial é Grande Otelo (mas prefiro chamá-lo dessa outra forma, é mais simpático e, se adotado na prática, serviria para tornar o prêmio mais conhecido e próximo do público, mas infelizmente a Academia não pensa assim).

Pela quantidade de indicações, o favorito destacado é O palhaço, o ensaio poético-existencial de Selton Mello sobre o mundo do circo e a busca por uma identidade, que concorre em 13 categorias, incluindo filme, diretor, ator etc. Um pouco mais abaixo, com 11 indicações, ficaram O homem do futuro, de Cláudio Torres (certamente uma concessão ao sucesso comercial, já que o filme é bem fraquinho), e Bróder, de Jefferson De, o representante deste ano do “favela-movie” – no caso, “periferia movie”, já que é uma produção paulista. Bruna Surfistinha, a história da patricinha que virou garota de programa, disputa 10 nomeações, uma delas quase certa de atriz para Deborah Secco. Fechando os indicados a melhor filme, Assalto ao Banco Central, com 5 nomeações.

Confira a relação completa de todos os indicados:

 FILME
O palhaço
O homem do futuro
Bróder
Bruna Surfistinha
Assalto ao Banco Central

DIRETOR
Selton Mello (O palhaço)
Cláudio Torres (O homem do futuro)
Jéfferson De (Bróder)
Andrucha Waddington (Lope)
Eduardo Coutinho (As canções)

ATOR
Selton Mello (O palhaço)
Wagner Moura (O homem do futuro e Vips)
Caio Blat (Bróder)
Cássio Gabus Mendes (Bruna Surfistinha)
(Wagner Moura é tão bom ator que concorre com ele mesmo.)

ATRIZ
Aline Moraes (O homem do futuro)
Deborah Secco (Bruna Surfistinha)
Leandra Leal (Estamos juntos)
Simone Spoladore (Elvis e Madona)
Débora Falabella (Meu país)

ATOR COADJUVANTE
Paulo José (O palhaço)
Jonathan Haagensen (Bróder)
Aílton Graça (Bróder)
Tonico Pereira (Assalto ao Banco Central)
Cauã Reymond (Estamos juntos)
(Esqueceram de Moacir Franco que, em O palhaço, quase põe o filme no bolso nos 10 minutos em que aparece em cena.)

ATRIZ COADJUVANTE
Fabiana Karla (O palhaço)
Cássia Kiss (Bróder)
Drica Moraes (Bruna Surfistinha)
Fabíula Nascimento (Bruna Surfistinha)
Dirá Paes (Estamos juntos)
(Esqueceram de Maria Luíza Mendonça, fantástica em Amanhã nunca mais.)



ROTEIRO ORIGINAL
O palhaço
O homem do futuro
Bróder
Meu país
Elvis e Madona
Cilada.com
(Este, a rigor, não caberia aqui, já que é adaptação do programa homônimo da TV.)

ROTEIRO ADAPTADO
Bruna Surfistinha
Capitães da areia
Vips
Malu de bicicleta
Todo mundo tem problemas sexuais

DIREÇÃO DE ARTE
O palhaço
O homem do futuro
Assalto ao Banco Central
Capitães da areia
Lope

FIGURINOS
O palhaço
O homem do futuro
Bruna Surfistinha
Capitães da areia
Lope

FOTOGRAFIA
O palhaço
O homem do futuro
Bróder
Lope
Estamos juntos

MAQUIAGEM
O palhaço
O homem do futuro
Bruna Surfistinha
Capitães da areia
Elvis e Madona

TRILHA SONORA ORIGINAL
O palhaço
Assalto ao Banco Central
Capitães da areia
Vips
Malu de bicicleta

TRILHA SONORA ADAPTADA
Bróder
Rock Brasília – era de ouro
Mamonas para sempre
Não se preocupe, nada vai dar certo
Amor?

SOM
O palhaço
O homem do futuro
Capitães da areia
Vips
Lixo extraordinário

MONTAGEM
O palhaço
Bróder
Bruna Surfistinha
Assalto ao Banco Central
Capitães da areia

EFEITOS ESPECIAIS
O homem do futuro
Bróder
Bruna Surfistinha
Lope
Onde está a felicidade?

DOCUMENTÁRIO
As canções
Lixo extraordinário
Rock Brasília – era de ouro
Quebrando o tabu
Diário de uma busca

MONTAGEM DE DOCUMENTÁRIO
As canções
Lixo extraordinário
Rock Brasília – era de ouro
Mamonas para sempre
Estrada real da cachaça

FILME INFANTIL
Palavra encantada
Uma professora muito maluquinha

FILME ESTRANGEIRO
Cisne negro (EUA)
Meia-noite em Paris (EUA)
Rio (EUA)
Um conto chinês (Argentina)
A pele que habito (Espanha)
(Sei não, mas acho que vai rolar uma patriotada aqui.)

CURTA-METRAGEM
Contagem
Entre muros
Máscara negra
Pra eu dormir tranqüilo
O último dia

CURTA DE ANIMAÇÃO
As aventuras de Paulo Bruscki
O céu no andar de baixo
Céu, inferno e outras partes do corpo
Engoleumajacaentão
Eurico e Fiofó
Sambatown

DOCUMENTÁRIO DE CURTA-METRAGEM
Angeli 24 horas
O gigante de papelão
Ovos de dinossauro na sala de estar
Praça Walt Disney
Procurando Madalena
A verdadeira história da bailarina de vermelho

A data da cerimônia ainda não foi definida. Os vencedores você confere aqui no CineComFritas.

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ESTRÉIAS DA SEMANA – 29 DE JUNHO A 5 DE ABRIL

PARA ROMA, COM AMOR – Quando um novo filme de Woody Allen entra em cartaz, todo o resto fica para trás. OK, a referência camoniana é péssima, mas ilustra um fato. Por menor ou mais fraco que seja, Allen ainda é muito melhor do que a maioria dos filmes que entram em cartaz nas nossas salas.



A dúvida é saber qual Allen nós veremos dessa vez. Desde Ponto final (não consigo chamar esse filme pelo título colonialista que a distribuidora manteve) o diretor vem alternando um projeto bem-sucedido com outro mais fraco. Como Meia-noite em Paris, seu último filme, acabou se tornando o maior êxito comercial de sua carreira, é de se esperar que este aqui fique travado. A perspectiva pouco animadora, no entanto, não tira de ninguém o interesse em conferir essa comédia na qual Allen volta a dar expediente também na frente das câmeras. Depois de ambientar seus roteiros em Londres, Barcelona e Paris, agora é a vez de Roma servir de cenário para que um grupo de casais viva encontros e desencontros amorosos enquanto descobrem as maravilhas da Cidade Eterna.

Como sempre, Allen se cerca de um elenco impecável, ficando Jesse Eisenberg e Ellen Page responsáveis por encarnar o casal jovem da vez, outro artifício que ele vem repetindo nos últimos tempos. O que também está virando clichê é ver Penélope Cruz interpretando prostitutas, o que vemos de novo aqui. O sumido Roberto Benigni faz uma celebridade que tem a vida transformada em um inferno por conta de um reality show.

Enquanto não chega o dia de Allen se decidir a filmar no Rio de Janeiro, um projeto que todos aguardamos com ansiedade, vamos festejar mais essa comédia dirigida por um dos últimos grandes mestres da Sétima Arte ainda em ação.

A ERA DO GELO 4 – Aproveitando a chegada das férias escolares, chega às telas a quarta aventura de Diego, Manny, Sid e Scrat. Pela primeira vez desde o filme original, o brasileiro Carlos Saldanha ficou de fora da direção, confiada a Steve Martino (de Horton e o mundo dos quem) e Mike Thurmeier, que assinou a terceira parte em parceria com Saldanha.

Quase todas as possibilidades narrativas já foram esgotadas nas aventuras anteriores. Então, o jeito é tirar água de pedra (de gelo?). O mote da vez é a separação continental causada pelo Scrat enquanto tenta pegar sua cobiçada noz. Uma idéia mais interessante foi descartada pelo estúdio. Nela, os bichos permaneceriam congelados por anos e, acidentalmente, voltariam à vida nos dias atuais. Mas, do jeito que caminham as séries de animação, e com a sede por continuações que contamina Hollywood, vai chegar o dia em que veremos Kung-Fu Panda chega à Madagascar na Era do Gelo.

MINHA IRMÃ – O francês da semana é este drama sobre um casal de irmãos, ele um pirralho que pratica pequenos furtos em uma estação de esqui, ela uma jovem que perde o emprego e joga toda sua vida nas costas dele. O trailer me pareceu tão gelado quanto a paisagem, mas vai que pode haver muita emoção por trás de tanta neve.







domingo, 24 de junho de 2012

Encontro marcado com o cinema de Fernando Sabino


Adaptações de obras literárias para o cinema podem render filmes muito inferiores ao livro (Bufo e Spallanzani, Budapeste), tão bons quanto (Vidas secas, Memórias póstumas) ou até melhores (vou ficar devendo porque até hoje não vi). É claro que estou me restringindo ao cinema brasileiro, porque se tiver de expandir, encontraremos vários exemplos de adaptações muito bem-sucedidas – não vou me prolongar, mas cito apenas Laranja mecânica e A insustentável leveza do ser, só para ficarmos com dois bons exemplos. Por isso, fiquei animado e apreensivo ao mesmo tempo ao ler no jornal uma nota informando que o diretor Guilherme Fiúza irá levar às telas no ano que vem o romance O menino no espelho, de Fernando Sabino.

Tudo o que eu escrever sobre Fernando Sabino pode soar reverencial e até um pouco derramado. Afinal, sou grande fã do autor e, se algum dia tive um ídolo, em algum ramo das realizações humanas, foi ele. Provavelmente o próprio autor acharia um exagero, já que se considerava apenas um representante sem grande importância para nossas letras. Mas, para mim, foi e continua sendo o maior, embora eu também goste muito de Rubem Fonseca e Sérgio Sant’Anna. Mas Sabino está acima de todos, até pela ligação pessoal que estabeleci com suas histórias no começo de minha formação intelectual. Foi a partir de seu conto “O homem nu”, que li em um livro do segundo grau, que comecei a desenvolver mais meu interesse por literatura e saí buscando tudo o que havia dele à venda nas livrarias e nos sebos. Li O menino no espelho há muitos anos e lembro de ter ficado com os olhos úmidos nas últimas páginas. É claro que não vou, aqui, analisar a obra. Mas a notícia me levou a pensar por que Sabino foi tão pouco explorado por nossos diretores.




Seu conto mais famoso, justamente “O homem nu”, rendeu duas adaptações, uma em 1968 com Paulo José, e outra mais recente, quase 30 anos depois, com Cláudio Marzo. Ambas divertidas, mas o conto era muito curtinho e fechado em si mesmo, não enchia um longa-metragem. Qualquer tentativa de se abrir a história levaria a dois caminhos. Um, esgotar a idéia e dissolver a essência do conto. Outro, criar outra história, tendo o conto apenas como mote, ou seja, aproveita-se um ponto de partida para construir uma narrativa diferente. Não me parece interessante, no fundo, acaba sendo um desrespeito com o autor, cria-se um filme híbrido que acaba não funcionando nem como adaptação nem como idéia original. Em 1989, o diretor Osvaldo Caldeira levou às telas o romance O grande mentecapto, baseado no romance homônimo e que permaneceu inédito em DVD por anos, até ser finalmente lançado no formato ano passado. Abaixo, reproduzo um brevíssimo comentário que escrevi sobre o filme em minha dissertação de mestrado, que teve o autor como tema.



“Como geralmente acontece às grandes obras da literatura (e outras nem tão grandes assim), o romance O grande mentecapto também foi adaptado para as telas de cinema, em 1989, pelo diretor Osvaldo Caldeira. O filme homônimo foi um dos últimos produzidos sob o comando da Empresa Brasileira de Cinema (Embrafilme), órgão que seria extinto cerca de três anos depois no governo de Fernando Collor de Mello. As dificuldades de se fazer cinema no Brasil, ainda hoje muito grandes, eram ainda maiores naquele tempo. Tal fato se evidencia na pobreza da produção, e certamente contribuiu para que o filme apresentasse um resultado final não acima de mediano. O público, no entanto, parece ter gostado, tanto que a fita se tornou campeã de bilheteria em todo o país, corroborando o Grande Prêmio do Público recebido no Festival de Gramado daquele mesmo ano.

Não há como negar que se trata de um filme bem engraçado, e nisso é muito ajudado pela interpretação de Diogo Vilela no papel central; no entanto, é decepcionante para quem conhece o livro e a história original. Nem se critica o final “alternativo” pelo qual o diretor optou, se considerarmos que cinema – e sobretudo o cinema brasileiro – precisa ser, antes de tudo, um produto comercial. O triste fim de Geraldo Viramundo no romance não seria bem digerido pela platéia média que freqüenta as salas de exibição. Este detalhe final, entretanto, foi aprovado pelo próprio F.S. (não foi ele quem escreveu o roteiro). O grande problema do filme, porém, é a falta de encadeamento lógico das ações. São cinco blocos narrativos bem marcados, todos introduzidos por letreiros que antecipam ao espectador as ações a seguir (como as didascálias do livro), mas cujos acontecimentos parecem independentes uns dos outros. Não há uma unidade narrativa. Vários episódios originais foram suprimidos, alguns de fundamental compreensão para o perfeito entendimento da história, como a “audição” de Viramundo de que seria ele o escolhido de Deus para reorganizar o mundo. Devido a tais supressões, a cena do assassinato do cego Elias perdeu muito de seu impacto, por não haver um maior aprofundamento das características dos personagens. As interpelações de Viramundo aos profetas de Aleijadinho são mostradas como um mero surto de loucura, sem a carga dramática exigida para o momento (que no livro, embora fique a cargo da imaginação de cada leitor, tem um efeito bem maior). Ou seja, suavizou-se o que deveria ter sido mais intenso, eliminando-se a poesia trágica presente no episódio do romance. Entretanto, a montagem e a fotografia da cena são realmente de se fazer notar.



Assim, o destino final de Viramundo tornou-se mero acessório para o encerramento da história, que ganhou um final otimista, brincalhão, bem mais próximo do espírito do personagem principal do que da essência do texto original. 

Em resumo, o diretor preferiu abandonar a riqueza de significados que o romance contém e se concentrou no mercadológico. Nada de errado nisso, pois, como foi dito, o público médio de cinema não busca questionamentos existenciais quando paga um ingresso. Mesmo porque as linguagens do cinema e da literatura são diferenciadas e seria complexo demais fazer uma transposição literal. Também não se trata de um filme ruim; apenas não faz jus à obra em que se inspirou.”

É este o risco que O menino no espelho corre. O de se transformar simplesmente em um filminho infantil de férias, longe da poesia que suas páginas contêm. Mesmo simples, a história é poderosa, evoca lembranças, resgata valores tradicionais hoje esquecidos, tudo regado com muita imaginação e bom humor. Vamos ver no que vai se transformar no cinema.


Do elenco, dois nomes já foram confirmados. Regiane Alves será a mãe do menino (boa escolha, é ótima atriz e muito simpática, pude conhecê-la pessoalmente há dois anos em uma ocasião social), que será interpretado por Lino Faciolli, de 11 anos, há 7 em Londres, e que esteve recentemente no elenco de Game of thrones, veja só, aparecendo em três episódios da recém-encerrada segunda temporada (na foto acima, ele em cena ao lado de Katie Dickie e Michelle Fairley, vale caçá-lo nas reprises) e antes fez O pior trabalho do mundo, além de curtas. 


quinta-feira, 21 de junho de 2012

Fritas no cardápio


FEBRE DO RATO – Sem dúvida, um dos grandes lançamentos do cinema brasileiro neste semestre. Será que Cláudio Assis se refinou? O diretor dos polêmicos Amarelo manga e Baixio das bestas lança seu terceiro filme cercado de expectativa e referendado por uma penca de prêmios recebidos no Festival de Paulínia (que mal foi criado e já está extinto) do ano passado.




Se seus trabalhos anteriores chamaram a atenção por um estilo brutal de narrativa e de enfoque da violência, este, ao menos na superfície, se diferencia por trazer uma história de amor. O poeta Zizo (Irandhir Santos, um dos bons atores do cinema nacional, que ainda não é muito conhecido do grande público) passa seus dias escrevendo e observando o mundo, mas vê este mesmo mundo se desestruturar ao se apaixonar por uma jovem ninfa, Eneida (Nanda Costa). De onde partirá a violência que tempera os longas de Assis a partir dessa sinopse, só vendo. Mas os filmes do diretor sempre foram difíceis por natureza, seja pela abordagem que faz do universo dos excluídos, jogando na cara do público certas mazelas que preferimos não ver, seja pela forma como narra suas histórias. Aqui, ele optou pelo preto e branco, o que pode dificultar mais ainda a carreira desse trabalho junto à platéia, que sabidamente rejeita esse tipo de fotografia. De tão alternativo, a única distribuidora que topou lançá-lo foi a Imovision, especializada nesse tipo de filme.




SOMBRAS DA NOITE – Sou fã de Tim Burton, mas confesso que estou pouco empolgado para conferir este seu novo trabalho, e são várias as razões para isso.




A primeira é que fiquei bastante decepcionado com seu filme anterior, Alice no País das Maravilhas, que me aborreceu com seu ritmo claudicante e sua narrativa lenta, irritante mesmo. Depois, porque ele parece não estar sabendo se renovar, ou seja, faz sempre a mesma coisa, sempre o mesmo tipo de filme, sempre os mesmos tipos estranhos. É possível inventar a partir de fórmulas consagradas, mas o estilo dark do diretor já está cansando.

Aqui ele adaptou uma popular série de TV que foi ao ar pela ABC entre 1966 e 1971, mas aproveitou apenas parte da idéia original (que era muito extensa, com inúmeros personagens e mais de 100 episódios). A história acompanha a jornada do bon vivant Barnabas Collins, que, vítima da maldição de uma bruxa, passa 200 anos aprisionado em uma tumba. Ressuscita em 1972 e resolve voltar para casa. Mas encontra um séquito de figuras tão estranhas quanto ele morando lá, entre elas a bela Victoria Winters (papel da desconhecida Bella Heathcote, que bem faz jus ao nome).

É a oitava vez que Depp e Burton trabalham juntos, em parceria iniciada com Edward mãos de tesoura (1990), uma das mais longevas do cinema. O problema é que também já cansou ver o ator fazer sempre o mesmo tipo desajustado. Nem o trailer (abaixo) me atraiu. Mesmo com tantos contras, não tem jeito: Burton é um desses diretores cujos filmes têm sempre de serem vistos.



  
E AÍ... COMEU? – O cinema brasileiro joga nessa comédia de tintas populares sua última cartada do semestre para tentar seduzir o público e fazer uma boa bilheteria, já que as apostas anteriores, os belos e competentes Xingu, Heleno e Paraísos artificiais ficaram muito aquém do esperado, talvez por se tratarem de produções mais requintadas, com conteúdo, o que, parece, afasta o público médio dos blockbusters nacionais e a Nova Classe C. Esta, pelo visto, já dá as cartas também no cinema e determina os rumos que o mercado exibidor deve tomar.



 Se os dramas históricos e de narrativas elaboradas não atraem audiência, o jeito é investir no de sempre: uma comédia estrelada por astros conhecidos do público, que fala a língua do povo e trata de assuntos e questões pertinentes à vida em comum. No caso, três amigos, em uma mesa de bar, discutem o novo papel do homem na sociedade, ao mesmo tempo em que trocam as melhores estratégias para conquistar mulheres. 

Será que conversas de cunho sexual são mais atraentes ou interessam mais do que biografias de brasileiros ilustres ou discussões sobre o uso de drogas sintéticas? Vamos ver qual vai ser a resposta nas bilheterias. O trailer (abaixo) até pode ter certa graça quando visto pela primeira vez, mas, ao menos para mim, é insuficiente para criar qualquer expectativa.




UM VERÃO ESCALDANTE – Troca-troca entre casais parece ser uma obsessão dos diretores franceses. Outro dia entrou em cartaz Para poucos, cuja história era bem parecida com esta aqui, dirigida pelo prestigioso Philippe Garrel e que traz no elenco Louis Garrel (seu filho) e Monica Bellucci. Veja se não tiver nada melhor para fazer.

OS ACOMPANHANTES – Dramaturgo tenta faturar uma grana extra trabalhando como acompanhante de viúvas ricas em eventos e festas. Nesse ínterim, conhece um jovem que sonha em se tornar escritor (oh Deus, não tem nada melhor com que sonhar?). Comédia sem maiores referências, a não ser o elenco: Kevin Kline, Paul Dano (de Pequena Miss Sunshine), Katie Holmes e John C. Reilly.

domingo, 17 de junho de 2012

Onde andará Alice Creed?


Se não ficasse na prateleira de lançamentos, provavelmente O desaparecimento de Alice Creed seria um desses filmes menores que terminam relegados aos cantos escuros e somente são descobertos pelos ratos de locadora. Tomara que sua atual acessibilidade sirva para que um grande número de pessoas possa assisti-lo e se surpreender, assim como aconteceu comigo.



Pela estrutura narrativa e a concepção cênica, pensei que fosse adaptação de alguma peça de teatro, mas não, é uma idéia original, concebida e escrita pelo próprio diretor que se assina como J. Blakeson e faz sua estréia no formato depois de dois curtas-metragens, Pitch perfect e The appointment (não confundir com um homônimo que concorreu ao Oscar da categoria, aliás, existem inúmeros outros de mesmo título), mas com certa experiência em roteiro – escreveu Abismo do medo 2. É provável que o ambiente claustrofóbico deste último tenha influenciado na construção da atmosfera deste aqui, um dos filmes mais tensos que eu vi nos últimos tempos.

Só o tempo poderá responder se Blakeson será um diretor original ou mais um imitador de Guy Ritchie, como há tantos no cinema inglês moderno. Por enquanto, ele ganha pontos, mostrando vigor e criatividade, tanto na condução do elenco quanto na parte técnica, com ângulos inusitados, tomadas de cima, e bom ritmo.

Nos primeiros minutos, o espectador fica perdido com a agilidade das ações. Tudo é muito rápido: a preparação do cativeiro, o seqüestro, o encarceramento da vítima, as fotos que são tiradas para fins de chantagem. Não se perde tempo com conversas inúteis nem com palavrório vazio. Quando os diálogos surgem, são precisos e explicam o máximo em poucas palavras. Ficamos sabendo então que a vítima é a jovem Alice Creed, filha de um milionário local. Os dois meliantes se conheceram na prisão e um deles é antigo caso amoroso de Alice, mas aparentemente não houve mágoas quando terminaram, ela teria sido “escolhida” simplesmente porque ele sabia de sua condição social. Os bandidos planejam fugir para a Flórida com o dinheiro do resgate, mas as coisas podem tomar outro rumo quando um deles descobre que seu comparsa é conhecido da vítima.



O diretor tranca seus três intérpretes em um cenário opressivo, mal-iluminado, sujo, e obtém ótimos resultados, ampliando a sensação de tensão e desconforto que atravessa todo o filme. Quase toda a história se desenrola no pequeno esconderijo dos bandidos, e quando a trama se encaminha para o final, abre-se espaço para um exterior indiferente, de cores igualmente esmaecidas, sem o brilho redentor que, em Hollywood, provavelmente seria usado como metáfora óbvia.

A atuação do trio é outro elemento que valoriza o resultado final. Eddie Marsan (o instrutor de autoescola de Simplesmente feliz e que aparece debaixo de pesada maquiagem em Branca de Neve e o caçador como um dos anões) confirma ser um dos melhores atores ingleses da atualidade, sempre nervoso e violento, prestes a explodir. Menos conhecido, Martin Compstas (nada de relevante na carreira, muita produção local, televisão, curtas) se contrapõe a ele com um tipo entre o apavorado e o apatetado, quase arrependido de estar no meio daquela situação. Gemma Artenton, em seu primeiro papel de destaque antes de se tornar mais conhecida por Príncipe da Pérsia e o recente O retorno de Tamara, segura as pontas em um papel difícil, em que aparece nua, é humilhada, espancada, ameaçada, ou seja, se expõe de forma visceral, sem medo.




Para os fetichistas, o filme é uma caçarola de prazeres proibidos, a ser degustada sem culpa: há fartas doses de podolatria (com direito a closes tarantinescos e tudo), um pouco de onfalolatria, bondage (Alice passa grande parte do filme algemada à cama, amordaçada e com um saco na cabeça), struggling, e toda a situação evoca a fantasia clássica de seqüestro e submissão, que os sadomasoquistas apreciam – por esse aspecto, o filme pode ser rejeitado pelo público feminino, que terá muita resistência em embarcar na história e, menos ainda, se identificar com a protagonista, ainda que ela mostre heroísmo e força quando exigida.




Toda a história segue a lógica do imprevisível, nada é como o espectador espera que aconteça, e garante o interesse até a cena final. Uma ótima opção no mar de fitinhas descartáveis que entopem o setor de lançamentos. Vale conhecer.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Fritas no cardápio


PROMETHEUS – Este é o aguardado retorno do diretor Ridley Scott ao gênero que lhe deu fama, a ficção científica, e no qual assinou alguns dos grandes clássicos da história, como Blade Runner, o caçador de andróides e Alien, o 8º passageiro.



Foi encomendado para ser uma espécie de prólogo deste, mas o roteiro foi sendo modificado e a história ganhou “vida própria”, embora seja possível identificar aqui e ali traços daquela aventura espacial, além de camadas de leitura menos aparentes à primeira vista, portanto, o espectador deve ter em mente que não verá apenas um divertimento passageiro. A trama gira em torno de um grupo de exploradores que descobre novos indícios sobre as origens da vida em nosso planeta e segue para uma aventura em uma das regiões mais sombrias do universo.

Como sempre, Scott constrói personagens femininas fortes e heróicas, como foi a tenente Ripley de Sigourney Weaver naquele filme (e também Thelma e Louise no filme homônimo, interpretadas por Susan Sarandon e Geena Davis). Aqui elas cabem a Charlize Theron e Noomi Rapace, um nome ainda pouco conhecido do grande público, mas que vem fazendo carreira e ganhou fama por ter feito a Lisbeth Salander na trilogia sueca da série Millenium. Também no elenco Idris Elba, Patrick Wilson e ele... Michael Fassbender.



AMOR IMPOSSÍVEL – Um filme que vem colhendo boas críticas no exterior, há quem o aponte desde já como cotado para o Oscar.



O grande problema é o título, tanto o que a distribuidora inventou quanto a tradução literal do original (“Pesca do salmão no Iêmen”). O primeiro é genérico, serve para qualquer filme e nem de longe dá a idéia do que trata a história; o segundo faz supor que se trata de um documentário. Em ambos os casos, afasta o público. Isso pode abreviar a carreira nas salas dessa comédia inglesa assinada pelo sueco Lasse Hallstrom, que chamou a atenção nos anos 80 com Minha vida de cachorro, migrou para Hollywood e dirigiu filmes de vários tipos, como Chocolate e Regras da vida. O ponto de partida aqui é bem interessante. Um sheik árabe (iemenita, no caso) que resolve desenvolver a pesca do salmão nas terras de seu país, mas não é levado a sério – claro, afinal o Iêmen fica no meio de um deserto! A idéia acaba sendo encampada por um cientista pesqueiro (Ewan McGregor, em mais uma boa atuação) e por uma funcionária particular do sheik (Emily Blunt).

Embora o trailer, ao menos para mim, não seja dos mais atraentes (veja abaixo), é uma ótima opção, até pelo inusitado de seu roteiro, escrito pelo premiado Simon Beaufoy, premiado com o Oscar por Quem quer ser um milionário? e indicado outras duas vezes.



APENAS UMA NOITE – Comédia dramática com bom elenco (Keira Knightley, Sam Worthington, Eva Mendes e o francês Guillaume Canet) sobre um troca-troca entre casais. Para casais e quem não tiver muita coisa para fazer.

VIVA MARAJÓ – Talvez de carona na novela das 18h, que a usa como cenário, chega ao circuito este documentário curtíssimo (tem apenas 54 minutos!) sobre a Ilha de Marajó. Deve ser oferecido como sessão gratuita do grupo Arteplex, já que ninguém vai pagar R$20 para assistir a um extra de DVD.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Desculpa se te chamo de amor


Na semana dos namorados, e na esteira do lançamento de uma comédia italiana nas telas brasileiras, achei que seria adequado comentar sobre um pequeno filme daquele país que pode ser uma ótima opção para os apaixonados curtirem juntinhos nessa terça-feira.

Adaptações de obras literárias para o cinema costumam dividir os fãs e quase sempre são vistas como infiéis, já que ou traem a essência da história ou acrescentam detalhes inexistentes do texto original. Não é o caso deste filme, que transpõe muito bem para o celulóide o universo criado no papel. Pelo título, fica difícil perceber, mas esta é a versão para as telas de um dos romances mais lidos e comentados na primeira metade dos anos 2000, época em que a lista dos livros mais vendidos ainda não era dominada por vampiros, terras místicas ou dramalhões lacrimosos. Inexplicavelmente, a distribuidora também prejudicou a carreira do filme, dando-lhe um título genérico e comum, desprezando a força que teria sua tradução literal: Desculpa se te chamo de amor. Aqui, ficou Lição de amor, apenas mais um entre tantos outros de mesmo nome – não confundir com o homônimo estrelado por Sean Penn, ou outro com Cameron Diaz....

Foi o próprio autor da história quem dirigiu esta adaptação, o que serviu para manter quase inalterada a trama básica, e o melhor: sem descuidar das muitas tramas paralelas, todas encenadas e resolvidas de forma satisfatória. O livro, campeão de vendas quando de seu lançamento, trazia a história de Alessandro (Alex), um bem-sucedido publicitário de 37 anos, em crise no trabalho, onde precisa criar uma campanha para uma nova marca de balas; se não vencer a competição interna, será transferido para o escritório da empresa na Suíça. Seu destino se cruza ao de Nicoletta (Niki), uma espevitada adolescente de 17 anos, a partir de um acidente de trânsito. Niki entra como um furacão na vida de Alex. Os dois se apaixonam. Mas quem disse que a história de amor do improvável casal será simples? Entre idas e vindas, muitos beijos vão rolar.

O italiano Federico Moccia é um homem das artes de maneira geral. Além de escritor, já se arriscou outras vezes na direção de longas, tendo estreado em 1987, com Bola ao centro, mantendo uma carreira bissexta desde então (este é apenas seu quarto trabalho como diretor e o primeiro a chegar até nós). Foi ele mesmo quem dirigiu a continuação, Desculpa se quero me casar contigo, cujo livro homônimo também já saiu aqui, pela Editora Planeta – talvez a versão para cinema, se lançada no Brasil, também receba um título pouco atraente. Que tal “Uma lição de amor 2”?. O galã Raoul Bova tem uma carreira longa, com mais de 60 filmes no currículo, a maioria produções de sua Itália natal, algumas exibidas no Brasil, como Sob o sol da Toscana, A janela da frente, recentemente em Baaria – a porta do vento. Mas também já se arriscou em Hollywood – você deve tê-lo visto em Alien vs. Predador e em O turista, com Johnny Depp e Angelina Jolie. Atualmente trabalha em Gardel, biografia do gênio da música, com lançamento previsto para o ano que vem.
  

Quem leu o livro certamente vai gostar bastante da adaptação, embora o autor tenha cometido uma mudança na caracterização da personagem Niki. No livro, ela é descrita como loura; mas quem a interpreta é uma atriz morena, Michela Quatrociocche. O que altera um pouco a percepção da personagem, não é “a Niki que conhecemos”. Já Alex é aquilo mesmo que nos vem à cabeça quando lemos o livro. O resto da fauna do texto original está lá: as Ondas amigas de Niki, o caso com as prostitutas russas logo no começo, a ex-mulher de Alex que reaparece (mas quem prestar atenção não terá surpresas no desenrolar da trama, suspense este que é mantido de forma admirável no livro). Não falta nem o acidente quase ao final, que sempre achei deslocado no livro, parece ter sido criado para alongar a história, já que não muda nada. O único personagem limado da adaptação foi Mauro, o jovem romano desempregado, que também tinha uma função bem definida no romance. Mas o autor provou ter domínio de sua obra e conseguiu traduzir em apenas 90 minutos um livro de mais de 400 páginas mantendo sua essência. Não é qualquer um que consegue.

Para quem pensa que comédia romântica é só coisa de Hollywood, aqui vai uma boa aposta. Aproveite antes que façam uma refilmagem em terras ianques.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Fritas no cardápio


DEUS DA CARNIFICINA – Finalmente chega aos cinemas este último filme de Roman Polansky, o primeiro que ele dirigiu após ter sido solto da cadeia na Suíça, onde cumpriu pena há dois anos. Com bastante atraso, já que era esperado desde setembro, para o Festival do Rio – sua ausência frustrou os cinéfilos. É a adaptação de uma peça teatral homônima de Yasmina Reza, recém-encenada no Brasil.


No filme, dois casais se encontram no apartamento de um deles para discutir um problema em comum: o filho de um agrediu violentamente o filho de outro (a cena é mostrada muito de longe logo no começo). Então, os quatro adultos tentam reparar a situação, mas sempre surge um contratempo que serve para interpor todos contra todos, e o que deveria ser um encontro amigável de acordo vira um pesadelo, em que se mostra que, se os próprios pais não conseguem se entender, como esperar que seus filhos consigam viver em paz? Polansky conduz bem sua quadra de atores (Christoph Waltz, Jodie Foster, Kate Winslet e John C. Reilly), todos ótimos, e os diálogos são ágeis e cortantes. O problema é que o filme demorou tanto a chegar que já vazou na rede há muito tempo.
Veja o trailer: 


PARA SEMPRE – Casal sofre um acidente de carro, mas sobrevive. A mulher, porém, perde completamente a memória, não se lembra que é casada e rejeita o marido, por não se lembrar dele. O rapaz, então, precisa reconquistá-la, em um longo e muitas vezes doloroso processo. A presença de Rachel McAdams no elenco pode sugerir uma comédia romântica, mas trata-se de um drama baseado em uma história inacreditavelmente real – o marido Kim (no filme é Leo) deu entrevista à revista Istoé há poucos meses e contou detalhes de seu sofrimento e da luta que precisou empreender para fazer com que sua esposa voltasse a se apaixonar por ele (só que Channing Tatum é bem mais bonito que ele). Pode ser piegas e chorumelento, mas os românticos mais radicais ficarão arrepiados até o último fotograma.

MADAGASCAR 3 – OS PROCURADOS – Alex, Glória, Martin e Melman reaparecem nesta terceira aventura desta série muito querida pelas crianças e por vários adultos. Desta vez, eles vão parar em Monte Carlo, onde reencontram os pingüins, precisam fugir da vilã da vez, Chantel duBois, e tentam voltar para casa. Diversão garantida.


O prestígio da série é tanto que o filme abriu o último Festival de Cannes. O mesmo elenco de vozes originais dos dois primeiros episódios, mas, claro, você não irá escutá-las, a menos que assista à versão em DVD ou ao trailer abaixo. 



A PRIMEIRA COISA BELA – Comédia italiana que recupera o frescor das produções daquele país que faziam grande sucesso nas telas nacionais nos anos 50 e 60. Na história, o menino Bruno morre de vergonha do comportamento liberal e expansivo de sua mãe na conservadora sociedade de Livorno, na Sicília, nos anos 70.


Ele cresce e se distancia da família, mas, ao saber que a mãe está morrendo, volta para encontrá-la e somente então conhece e entende as razões do comportamento da progenitora. Exibido no Festival do Rio de 2010, estava no limbo desde então. Programão para saudosistas do cinema italiano e para quem procura algo mais em matéria de comédia que não a batida fórmula de Hollywood.
Veja o trailer: 


KABOOM – Uma surpresa que finalmente chega ao circuito este filme de Gregg Araki, também exibido no Festival do Rio de 2010. Uma aberração que chegou a ser apresentada em Cannes naquele mesmo ano cheia de reviravoltas envolvendo assassinatos, o fim do mundo, biscoitos alucinógenos, perda da virgindade e homossexualismo. Mas, no fundo, não faz sentido nenhum nem quer dizer coisa alguma.  


Claro que quem gosta do diretor vai se esbaldar com seu liquidificador de imagens. O esquisito título, que foi mantido pela distribuidora (talvez não levando muita fé no filme e achando que vá ficar pouco tempo em cartaz, então, para que arrumar outro?), só é explicado na última cena, que também está longe de ser conclusiva. O interessante elenco feminino traz Haley Bennet, Roxane Mesquida (prendam a respiração) e uma rediviva e envelhecida Kelly Lynch em papel ridículo.
Veja o trailer e tire suas conclusões:

 
VIOLETA FOI PARA O CÉU – Biografia documental da cantora chilena Violeta Parra, intercalada com trechos de uma longa entrevista que a artista concedeu à televisão em 1962. A direção é de Andrés Wood, que ficou conhecido no cenário nacional por Machuca (2004).

WEEKEND – Drama gay sobre um rapaz que vai a uma boate, conhece um possível pretendente e passa a se relacionar com ele. Sem maiores referências.

domingo, 3 de junho de 2012

Continuações que gostaríamos de ver (será?)


Entra em cartaz na quinta-feira Madagascar 3 – Os procurados, mais uma aventura dos pirados bichinhos fugitivos do zoológico de Manhattan. É mais uma continuação entre tantas que já chegaram ou ainda vão chegar aos cinemas este ano. A lista inclui títulos esperados, como Batman – o Cavaleiro das Trevas ressurge, Homem de Ferro 3 e A era do gelo 4, para citar apenas alguns. Nessa onda, o mais descabido para mim é O fantástico Homem-Aranha, que retoma a história do zero, descartando tudo o que já foi visto até aqui nos filmes anteriores. Ou seja, o espectador deve esquecer a trilogia, pois agora é uma história diferente, a começar dos protagonistas, com Andrew Garfield e Emma Stone herdando os papéis que foram de Tobey Maguire e Kirsten Dunst.

Essa obsessão pelas continuações pode até ser justificada pelos aspectos comerciais (aquele papo de que é melhor investir em algo já conhecido do que tentar novidades, o público já conhece a trama, os personagens, e cinema é uma indústria que precisa gerar lucro, blábláblá). Mas para mim não esconde o fato de que, no fundo, o que há é uma crise geral de criatividade. Fico pensando nos grandes filmes de antigamente, nos verdadeiros clássicos do cinema, que o tempo se encarregou de eternizar, em parte pela alta qualidade de sua produção (roteiro, sobretudo), em parte porque não tiveram continuações para diluir as tramas e banalizar os personagens.

E olha que alguns filmes bem que comportariam uma seqüência. Em um livre exercício de imaginação, fiquei pensando como poderiam ser as histórias derivadas do filme original, passados alguns bons anos, entre clássicos e títulos menores. Atenção: a lista a seguir pode conter spoilers.

CINEMA PARA ISSO – Após a morte de Alfredo, o agora cinqüentão Totó resolve reabrir o antigo Cinema Paradiso, em sua cidadezinha. Assumindo o posto do projecionista, tenta passar um pouco de sua paixão pelo cinema a um moleque que o fica pentelhando na cabine de projeção, mas a tarefa é dificultada porque hoje não há mais filmes em celulóide, só em equipamentos digitais. Desiludido com a Sétima Arte e aborrecido porque o guri só quer saber de Xbox, Totó incendeia o cinema e se tranca em casa, até morrer de tanto chorar vendo cenas de beijos de filmes antigos. “A vida não é como no cinema”, murmura em seu último suspiro.

LARANJINHA MECÂNICA – Alex envelheceu e finalmente criou juízo, se transformando naquilo que ele mais combatia (como todos nós). Mas tem problemas para educar o filho, um adolescente problemático que gosta de invadir casas e bater nas pessoas. Os atos criminosos do moleque trazem grande tristeza a Alex, mas a maior delas é que o moleque nem sabe quem é Beethoven e prefere ouvir qualquer bandinha inglesa descartável no seu Ipod.

PLANALTO CENTRAL DO BRASIL – Cansada de escrever cartas no Rio de Janeiro, Dora se muda para Brasília, monta uma banquinha na frente da Câmara dos Deputados e passa a enviar mensagens anônimas aos doutos parlamentares, exigindo que eles tomem vergonha na cara.

ET...C – Agora casado com uma etéia e cheio de etezinhos, o fofo extraterrestre retorna à Terra para visitar seu amigo Elliott. Encontra-o gordo, decrépito e amargurado. Para reanimá-lo, ET o chama para andar de bicicleta até a Lua, brincar de esconde-esconde no armário e beber cerveja até cair. Mas a grande novidade é que o ser intergalático agora tem um Smartphone de última geração e não precisa mais construir geringonças no quintal da casa dos outros.

VELOZES E FURIOSOS 47 – Depois de inúmeras perseguições, derrapagens, batidas, tiros e cavalos-de-pau, Dominic Toretto, calvo e envelhecido, resolve se aposentar e vai para um asilo. Mas Brian O’Conner, igualmente acabado, reaparece e o convence a participar de uma última missão. A adrenalina ferve nas veias e ambos saem dirigindo uma cadeira de rodas movida a jato para combater o crime e limpar as ruas dos maus motoristas. “Sigam meu exemplo, sempre fui um condutor exemplar”, brada Toretto em sua campanha educativa.

A SAGA CREPÚSCULO: LUA MINGUANTE – Depois de tantas idas e vindas, a indecisa Bella finalmente se estabilizou em uma relação a três com o vampirinho Edward e o loboiola Jacob. Mas as coisas não são fáceis para o trio. Enquanto não resolve o que quer da vida, Bella acusa Edward de ser cada vez mais frio na transa e reclama de sua passividade na educação do filho transgênero (meio humano, meio chupa-sangue) do casal: “Parece que você não tem sangue nas veias!” Envergonhado, Edward se muda e arruma emprego como enfeite de festa infantil. Enquanto isso, Jacob sustenta a casa graças a seu trabalho como cão de guarda de casa de madame.

OK, este último não teve tanta graça. Mas, convenhamos, fazer piada com Crepúsculo é desnecessário, ou alguém leva a história a sério?