13 desafios (2006) |
Não é um filme exatamente novo
(foi rodado em 2006) e já recebeu inúmeras críticas e resenhas em diversos
sites e blogues espalhados pelo ciberespaço. Mas só fui descobri-lo agora (eu
sempre tenho a impressão de que sou o último a saber de certas coisas) e o
efeito me foi tão devastador que achei justo dividi-lo com os eventuais leitores
deste espaço, que também já devem conhecê-lo. O fato é que este 13 desafios, mais do que uma gratíssima
surpresa, foi também outra prova de vitalidade do cinema tailandês, que raramente
dá as caras por aqui, mas é um dos mais intensos do mundo hoje.
O que você faria para ganhar uma
alta quantia em dinheiro? Com este princípio mais do que surrado, o roteiro
desenvolve uma espiral de acontecimentos de tirar o fôlego, garantindo o
suspense até a última cena. Puchit é um jovem que atravessa uma fase conturbada
em sua vida. Acabou de ser demitido, terminou o namoro com uma cantora e ainda
sofre pressão financeira da família. Sem perspectivas, vê sua vida mudar quando
atende despreocupadamente a um telefonema. Do outro lado da linha, um
interlocutor misterioso avisa que ele foi escolhido para participar de um game
show e que se realizar 13 tarefas, cada uma com grau de dificuldade mais
elevado que a anterior, ao final, receberá em sua conta o montante de cem
milhões em dinheiro (o depósito dos prêmios é confirmado pelo visor do
celular). Puchit pode desistir do jogo a qualquer momento... Mas ele segue em
frente, mesmo diante dos absurdos que vai encontrando pelo caminho. Começa de
forma inocente, quando lhe é pedido que mate uma mosca. Depois, a coisa vai
piorando, envolvendo bizarrices (como, literalmente, comer merda em um
restaurante chique) e assassinatos.
Quando a gente se depara com um
bom filme realizado em outro país, sempre imagina que vai haver e fica
esperando a refilmagem norte-americana. Neste caso, porém, parece que a idéia
original já foi feita antes, e justamente em Hollywood. A primeira
referência que vem à cabeça é Vidas em
jogo (1998), de David Fincher, em que Michael Douglas
participa meio sem querer de uma competição mortal comandada por um ensandecido
Sean Penn. Mas no caso de 13 desafios a
coisa vai ainda mais além, mesclando de forma radical os limites entre
realidade e ficção. Ficamos nos perguntando o tempo todo se o que estamos vendo
é mesmo só um jogo ou se o protagonista enveredou por algum tipo de loucura
auditiva, transformando sua própria vida em uma competição sem garantia alguma.
Puchit topa tudo por dinheiro. Até matar. |
A engenhosidade do roteiro também
me fez estabelecer outras equivalências. Pela natureza narrativa e a forma como
a história se desenvolve, é como se houvesse uma combinação dos elementos
centrais de O show de Truman com o
sadismo do primeiro Jogos mortais
(vale lembrar que o filme inicial da série foi saudado como renovador do gênero,
pleno de criatividade e tensão, depois é que a fórmula se esgotou). Puchit é
alertado o tempo todo de que está participando de um jogo, um reality game, com
direito à platéia. Ou seja, tem sua vida constantemente monitorada e, em tese,
transmitida para uma audiência ávida pelo seu próximo passo. Ao mesmo tempo,
ele precisa superar etapas que se revelam exercícios de sadismo e violência,
jogando também com a vida de outras pessoas. Há ainda pinceladas de Oldboy, na medida em que acontecimentos
do passado influem e justificam certas escolhas do personagem.
A montagem dinâmica garante a
fluência da narrativa, que é valorizada pela trilha sonora climática e a
fotografia contrastante, que opõe os ambientes claros e limpos da “vida real”
(no escritório, na rua) com outros escurecidos e sujos do “jogo” (casos da
seqüência na casa e da estrada, à noite). O roteiro só derrapa um pouquinho
quase no final, com a revelação da estrutura do jogo, mas isso não empana o
brilho de 13 desafios. No fundo, a
mensagem é clara e aterradora. Somos, todos nós, jogadores involuntários, que
alimentamos a violência e a crueldade do mundo, de uma forma ou de outra. Um filmaço para
fazer pensar.
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