A trilogia: prazer de ler. |
Lançado há pouco menos de um mês,
o livro Cinqüenta tons de liberdade não
demorou nada para chegar ao topo da lista dos mais vendidos da revista Época,
sendo seguido pelos outros dois volumes da série, Cinqüenta tons de cinza e Cinqüenta
tons mais escuros (oficialmente não há o trema dos títulos, mas já
expliquei que me recuso a seguir esse acordinho imposto, a não ser por motivos profissionais).
É claro que o sucesso da trilogia já motiva uma nova onda de literatura
erótica, gênero que historicamente sempre foi meio relegado por editoras e
público em geral, mas que agora, diante do apelo comercial obtido, pode enfim
ter a visibilidade que merece. O que o dinheiro não faz, não é verdade?
Deixa-se a falsa moral de lado em nome da arrecadação.
Ainda não li nenhum dos livros,
coisa que pretendo fazer em
breve. Então , não tenho como avaliar a qualidade literária do
material, que não deve ser das melhores, a julgar por algumas críticas que já
li na mídia, de gente gabaritada, profissionais da escrita. A essa altura todo
mundo sabe do que se trata a série. A jovem virgem Anastásia Steele desperta o
interesse do bon vivant Christian
Grey, que a leva a uma intensa jornada repleta de sexo sadomasoquista. Dizem
que o livro tem despertado o lado mais secreto das fantasias femininas e, em
casos extremos, até salvado muitos casamentos. Será verdade ou exagero da
mídia? O fato é que a história caiu no gosto popular, vemos pessoas empunhando
os livros nos ônibus, nos metrôs e em espaços públicos, sempre mulheres, ao que parece, o público-alvo da trilogia, sem medo nem vergonha. Também baseado no
que já li em reportagens e entrevistas publicadas na imprensa, parece que o
andamento da história é considerado lento para o público masculino, com muita
falação, muito tempo gasto até se chegar ao que realmente interessa. Ou seja,
mais próximo de fato do erotismo feminino, que gosta desse jogo de conquista,
da sedução que vai surgindo aos poucos, ao passo que nós somos mais diretos,
não temos paciência para esse envolvimento todo.
A autora E. L. James. |
A autora Erika Leonard James (que
adotou o pseudônimo E. L. James, não sei se por sugestão do seu editor ou se
para aproveitar o uso cabalístico de suas iniciais, como os bem-sucedidos J. K. Rowling ou
George R. R. Martin) já declarou que pretendeu reproduzir no livro algumas
fantasias que povoavam sua cabecinha. Ela não é uma meninota. Beirando os 50
anos (aparentando menos), essa ex-executiva da televisão inglesa é casada e tem
dois filhos. Ela abandonou o emprego para se dedicar à literatura. Fã confessa
da série Crepúsculo, diz ter lido os
quatro livros da “saga” em apenas cinco dias, o que lhe serviu de combustível
para sua história. Ela diz que queria escrever uma espécie de versão
alternativa para os personagens, mas inserindo sexo, elemento praticamente
ausente do universo imaginado por Stephanie Meyer.
Primeira edição de Jake e Mimi (2002) |
O maior mérito da trilogia, no
entanto, está fora das “quatro páginas”. De uma hora para outra, a literatura
erótica entrou na pauta do dia e passou a ser vendida e consumida pelo público,
sobretudo pelas mulheres, que, historicamente, sempre foram as leitoras mais
assíduas desse gênero – já escrevi e repito, homem não tem muita paciência com
descrições e detalhes, prefere ler pornografia de baixa qualidade nas revistas
afins. Há uma mudança de comportamento em curso, com o erotismo sendo enfim
debatido e entendido como um ramo natural da humanidade e não como assunto
tabu. E vejo com ainda muito otimismo essa suposta popularização do universo
BDSM, já que as pessoas têm a oportunidade de conhecer mais e entender que é um
estilo de vida, uma preferência sexual como qualquer outra, e que seus
praticantes são pessoas comuns, nossos amigos e vizinhos. Podem não se sentir
atraídas, o que é normal, mas ao menos tomarão conhecimento e talvez nem olhem
torto para o colega de trabalho se ele se declarar fã de amarrações e
dominações. A maior herança que a série vai deixar é a redenção dos
bondagistas, e a autora corrobora essa posição: “(...)
Isso não quer dizer que quem pratica BDSM tem um passado tortuoso, de maneira
alguma. Eu acho que, se há uma relação segura e consensual, ótimo. O que
acontece na cama, pela casa ou em qualquer lugar, é da conta de cada um, não
tenho nada com isso. Esse comportamento de Christian funciona para essa
história. Eu não tinha idéia de aonde eu iria chegar quando comecei a escrever.
Apenas que o BDSM seria o pano de fundo.” E completa com sua opinião sobre a
prática: “É incrivelmente sexy”. (As declarações entre aspas foram retiradas de
entrevistas concedidas por E. L. James à imprensa e disponíveis na internet.)
É
claro que os direitos já foram vendidos para o cinema e o primeiro filme deve
ser lançado em breve.
Fala-se em Kristen Stewart como protagonista, certamente para
aproveitar o gancho de a autora dos livros ser fã da saga vampiresca, e também
capitalizando em cima do sucesso da atriz, que ainda precisa provar que pode
sobreviver fora da pele de Bella Swan. Espera-se que não tenha o mesmo destino
de outro livro que usava o BDSM como pano de fundo, aliás, muito mal, o
policial Jake e Mimi, de Frank
Baldwin, publicado em 2002, cujos direitos chegaram a ser negociados e
falava-se em Angelina
Jolie , mas o projeto implodiu e nunca saiu do papel. Por
falar nele, o livro acabou de ser relançado com outra capa e outro título, Algemas de seda, obviamente para surfar
na mesma onda da recente trilogia.
Os
Cinqüenta tons são erotismo soft para
as massas. Quem quiser, pode se arriscar em clássicos do gênero, como A história de O, As onze mil varas, Justine ou
Os sofrimentos da virtude ou qualquer título da coleção recém-lançada pela
Hedra. Deixe seus preconceitos de lado e vá à livraria mais próxima. Afinal,
ler sempre foi um grande prazer.
Particularmente não li e não gostei: não acho graça nesse tipo de literatura :S
ResponderExcluir(mas conta o que achar depois de ler ;)
Talvez eu goste por um ou outro aspecto, mas já sei que não vou achar nada de muito interessante.
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