quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Pânico interminável

Pânico na floresta 5 (2012)

Nem sempre o que vem depois é um progresso. A máxima popular cabe muito bem no cinema, sobretudo quando o alvo são as incontáveis e por vezes eternas franquias de horror. Uma das menos badaladas delas acaba de chegar ao quinto episódio e, como era de se esperar, nada acrescenta aos demais títulos da série, servindo apenas como mais um exercício de sadismo narrativo – tanto para o elenco, que morre das formas mais horríveis, quanto para o espectador que se dispõe a assisti-lo.

A franquia em questão é Pânico na floresta, cujo primeiro filme, de 2003, chegou a colher elogios por reaproveitar um tema clássico do gênero que foi muito popular nos anos 70, o horror rural. Na fórmula, consagrada em O massacre da serra elétrica, um grupo de jovens urbanos se embrenhava no mato e acabava sendo perseguido, e conseqüentemente assassinado, por bestas deformadas. Uma irônica oposição campo x cidade, na qual o lócus consagrado como o idílio por excelência, ainda intocado pela ação humana, revela-se mais assustador e perigoso do que o cotidiano concretado das selvas urbanas. Único da franquia lançado nos cinemas, o filme foi favorecido por uma direção inventiva de Rob Schmidt e teve ainda o mérito de enfileirar no elenco algumas jovens estrelas ainda em formação: Eliza Dushku, Emanuelle Chriqui, Jeremy Sisto, Kevin Zegers e Desmond Harrington. Todos, de certa forma, seguiram fazendo alguma coisa importante depois. Coisa que as "vítimas" atuais dificilmente conseguirão.

É claro que os produtores farejaram uma vida longa para a série e, ao contrário do que reservam para seus  personagens, resolveram dar vida a outras versões, que no fundo, eram sempre a mesma coisa. Jovens estudantes motorizados que, por algum motivo (ou às vezes por idiotice mesmo), acabam errando uma curva (é preciso justificar o título original, Wrong turn), entram onde não devem e, no meio do mato, longe da civilização e das facilidades tecnológicas cotidianas, se defrontam com assassinos sedentos de sangue. Repetir a fórmula duas vezes ainda dá para aceitar, mas depois disso é forçar muito a barra. E é assim, aos trancos e barrancos, que chegamos ao quinto volume da franquia, que tanto aqui quanto lá fora só foi lançado em DVD, o que é sempre um mau sinal.

Maynard (Doug Bradley): o mal tem um rosto.
Aqui o erro já começa na ambientação, pois não há nem floresta nem exatamente uma curva errada. Toda a ação se passa em uma pequena cidade da Virginia Ocidental, na noite de Halloween. Na data, festeja-se a tradicional Noite do Homem da Montanha, que celebra um histórico massacre local, ocorrido em 1817 - fazer festa a partir de uma matança já é algo igualmente imbecil. Dirigindo-se para a cidade, um grupo de jovens causa um acidente involuntário, ao se desviar de um estranho parado no meio da pista. Ele tenta atacá-los, a polícia chega na hora e todos vão em cana, os jovens sobretudo por levarem uma farmácia no carro. O estranho, Maynard (Doug Bradley, veterano de fitas do gênero), é, na verdade, o líder de um bando de aberrações deformadas, descendentes dos sobreviventes do massacre original (na verdade, os mesmos dementes do primeiro filme, os anos passam e eles continuam firmes e fortes), e ameaça a todos na pequena delegacia com a chegada de seus “meninos”. Até que os monstros invadam o local, muito sangue vai rolar.

Os cinco jovens: por enquanto, é só diversão.
Se há criatividade nesse tipo de filme, e isso não se pode negar, é nas formas de matar. Os roteiristas do gênero parecem disputar uma competição pessoal para ver quem consegue criar a cena mais repulsiva ou cruel de assassinato. Uma lourinha é esfaqueada e tem as tripas enfiadas na boca; um dos rapazes é enterrado até a cabeça e depois decapitado por uma ceifadeira conduzida por um demente risonho; um bêbado que vira ajudante da delegada local (sic) é incinerado vivo; e por aí vai. Lógica e bom senso também passam longe dos personagens, que sabem os riscos que correm e mesmo assim insistem em bancar os heróis. Vai ver é a mensagem implícita do roteiro: "Quem usa drogas fica idiota que nem os jovens deste filme". Nesse sentido, a mais pateta do grupo é Lita (Roxanne McKee, que esteve em Game of thrones), uma das estudantes de fora. Ela até começa bem, reagindo ao ataque de um dos monstros, mas depois sucumbe à imbecilidade geral, ajudando Maynard (achando que ele é bonzinho para salvá-la, oh, a pureza da juventude!). Termina com os olhos furados, sozinha na escuridão, seqüestrada pelos algozes. Mas o mais aterrorizante do final é a possibilidade de uma seqüência.

Quando do lançamento de O albergue, em 2004, escrevi que já não tinha mais estômago para ver tanta crueldade, tanta violência despropositada. O nível do que ainda é chamado “cinema de horror” (na verdade é cinema de tortura, sem clima nem susto) caiu ainda mais desde então. Não sei quem consegue se divertir vendo gente sendo trucidada como se fosse um passatempo rotineiro. Talvez isso explique muito do mundo em que vivemos hoje. Mas há gosto para tudo.

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