Um dia (2011) |
Pergunte
a um fã de Ulisses, a monumental obra
escrita por James Joyce e publicada em 1922, o que ele fará no dia 16 de junho.
Provavelmente ele irá a alguma celebração do Bloomsday, data festiva criada por
aficionados do desafiador romance concebido pelo autor irlandês. É durante as
24 horas deste dia que flui a consciência do protagonista Leopold Bloom.
Guardadas as devidas proporções de significância cultural, bem que um outro
romance, mais atual, e muito menos ousado em termos lingüísticos, poderia ensejar
festejos parecidos. Os entusiastas de Um dia,
de David Nicholls, poderiam se reunir todos os anos, sempre no dia 15 de julho,
para o, simplesmente, Oneday, seguindo a trilha de Emma Morley e Dexter Mayhew,
os protagonistas da obra. O livro foi campeão de vendas à época de seu
lançamento; já o filme, uma das melhores adaptações de obras literárias para o
cinema, lançado no ano passado, dividiu opiniões.
Para
quem ainda não conhece a história, eis o resumo. Tudo começa em 15 de julho de
1988, quando Emma e Dexter, dois jovens recém-formados, se excedem nas
comemorações pelo diploma e acabam passando uma noite juntos. Eles não sabem se
tornarão a se ver, já que em breve irão se mudar e enfrentar os dilemas da vida
adulta, com as responsabilidades e problemas inerentes a este rito de passagem.
Então, cada um segue seu rumo, mas, ao longo dos 20 anos seguintes, eles irão
se reencontrar sempre no mesmo dia, sem perceber que aquilo que a princípio se
desenhou como uma grande amizade vai, aos poucos, se transformando em outra
coisa. Ou vai ver sempre esteve ali, mas nenhum deles percebia ou admitia.
Emma e Dexter: o amor aos 20 anos. |
No
caso, a vida não é o que acontece enquanto se faz planos, mas sim, o que não é
contado nas páginas do livro e do que só ficamos sabendo pelos relatos dos
dois. É assim que os personagens e suas trajetórias vão sendo construídos aos
olhos do leitor, embora tal artifício, que funciona muito bem no romance, perca
um pouco de força na adaptação. Emma é uma garota que sonha em fazer a
diferença no mundo, enquanto Dexter prefere viver o momento, sem pensar nas
conseqüências imediatas de suas decisões. Suas trajetórias sempre se cruzam,
nos momentos mais díspares; eles entram e saem de variados empregos, conhecem
outras pessoas, casam e separam. Ou seja, não é aquele romance tradicional,
"derramado", mas uma história bastante plausível, que pode acontecer
com muitos espectadores, o que garante fácil comunicação com o público.
Uma
das grandes dificuldades de transpor um livro para o cinema, sobretudo quando
se trata de obra famosa e muito querida por seus leitores, é manter a essência
da história de forma a não frustrar os fãs. É sempre arriscado cortar certas
passagens ou diminuir o impacto de algumas seqüências. No caso de Um dia, esse risco foi minimizado, já
que foi o próprio Nicholls quem escreveu também o roteiro da adaptação. Ou
seja, sabia o que tinha nas mãos e onde e no que mexer. Ele também não era
nenhum novato no ofício, já havia escrito roteiros para várias telesséries e
seu trabalho anterior foi o sensível Quando
você viu seu pai pela última vez?. O resultado é uma adaptação bastante
competente, enxuta, que mantém a força da história que se lê no papel, embora,
repito, o recurso das elipses temporais funcione melhor no livro.
O amor é o mesmo, mas os cabelos... Quanta diferença! |
Anne
Hathaway, melhor aqui do que no posterior Os
miseráveis, que lhe deu o Oscar, personifica a própria Emma, conferindo
todas as nuances da personagem, da euforia sonhadora da juventude à leve
amargura da idade adulta sempre com doçura e refinamento. Infelizmente, Jim
Sturgess não acompanha, optando por uma atuação contida, quando o Dexter do
livro é bem mais descontrolado. Patrícia Clarkson brilha como sua mãe, na única
cena em que aparece.
No
todo, Um dia é um filme agradável de
ver, que mantém o foco do espectador, mesmo que ele não conheça o romance
original. E o final novamente me arrancou lágrimas. No fundo, acaba sendo mesmo
um pouco da história de cada um de nós. E os românticos do mundo já podem
organizar o seu Oneday.
Como te disse, amo de paixão o livro mas o filme não tomou meu coração do mesmo jeito. Anyway, o Sturgess e a Hathaway deixa tudo mais bonitinho <3
ResponderExcluirEu, ao contrário, achei o filme uma boa adaptação, meio corrido em algumas partes, mas captou bem a essência do livro.
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