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Dark horse (2012) |
Eleito
um dos 10 melhores filmes do ano passado pela revista Time, Dark horse foi esquecido na temporada de
prêmios norte-americana e esnobado pelo circuito exibidor no Brasil, onde só passou
no Festival do Rio. Uma injusta condenação ao ostracismo deste que é o retorno
à boa forma do provocativo Todd Solondz após o escorregão de A vida durante a guerra.
Ele
gosta de direcionar sua lente para o universo dos perdedores, dos incapacitados,
expondo as entranhas de um sistema social incômodo porque contraria a idéia do
sonho americano, em que todos são capazes e vitoriosos. Os personagens de seus filmes são todos
desajustados em alguma medida, criminosos morais, marginalizados por uma sociedade
asséptica e que exclui os que de alguma forma insistem em não se alinhar à
maioria. Sempre combinando a crítica impiedosa com humor negro, por vezes
cruel, para aliviar. Mas, no fim, ri-se amarelo, com certa culpa, talvez porque
todos nós, em algum grau, nos identifiquemos com a maioria "externa",
justamente aquela que condena o que se vê na tela.
O
perdedor da vez é Abe, um judeu de 35 anos que ainda mora com os pais. Ele é
socialmente inadaptado, trabalha na empresa da família, mas nunca termina as
tarefas que começa, não tem amigos, vida social ou maiores ambições. Seu mundo
se resume a comprar brinquedos antigos em sites de leilões e colecionar objetos
do universo nerd. Seu pai o despreza, mas ele conta com o apoio da mãe e com a
ajuda da secretária da empresa (que assume as tarefas que ele deixa
incompletas). Vive sem propósito e age sem sentido, à
sombra do irmão médico e considerado o bem-sucedido da prole. Mas tem a chance
de salvar sua vida da indigência completa ao conhecer Miranda, uma moça triste
e calada. Ela não tem o menor interesse em estabelecer uma relação, mas Abe
insiste. Será que a vida e o destino estarão dispostos a lhe dar uma chance? O
filme é, assim, uma história de amor. Mas seu desfecho é adequado à coerência
do roteiro.
O
título ambíguo tanto pode se referir a um time de futebol americano quanto à
famosa editora de quadrinhos independentes, a mesma que publica Hellboy e Sin City, entre outras. Em ambos os casos, denota a única interação
social possível para Abe. Torcer por uma equipe de futebol o iguala a seus demais
simpatizantes, dando-lhe, ainda que de forma inconsciente, a sensação de
pertencimento, de se saber parte de um grupo. Já a editora é responsável pelas
publicações que abarrotam suas estantes, ou seja, tem em Abe um fã fiel
daqueles personagens, como milhares de leitores nos Estados Unidos e no resto
do mundo. Assim, Abe confirma sua existência, ainda que de forma
"invisível", generalizada.
Solondz
foi agraciado com uma atuação sublime de Jordan Gelber, um ator que eu não
conhecia mas que já conta quase 30 títulos na carreira, sempre como
coadjuvante. Esteve em O seqüestro do
metrô 123, vários episódios de Law e
order SVU, Boardwalk empire, entre outros. Esta é sua grande chance no
cinema e ele soube aproveitá-la. É impossível não simpatizarmos com o
personagem principal, graças à humanidade que ele imprime a Abe, um papel
difícil que poderia facilmente cair na caricatura, mas ganha verdade e
dignidade. Já Selma Blair, com seu eterno ar blasé e a conhecida apatia, não
precisa se esforçar muito para traçar os contornos de Miranda. Christopher
Walken e a sumida Mia Farrow encarnam os pais do protagonista. A excelente
trilha sonora traduz em canções o estado de espírito de Abe, servindo também
como comentários de uma mudança que o espectador torce para que aconteça.
Com
Dark horse, Todd Solondz recupera o
fôlego perturbador e irônico do começo de sua carreira, visto em Bem-vindo à casa de bonecas (1995) e Felicidade (1998). Vamos torcer para que entre em cartaz, ou, no mínimo, que alguma distribuidora se interesse em lançá-lo em DVD.
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Talvez
ele não saiba, mas Seedorf conquistou o título mais importante de sua longa e
vitoriosa carreira no último domingo. Ser campeão jogando pelo Milan, pelo Real
Madri ou mesmo pelo Ajax, times ricos e geralmente recheados de grandes jogadores,
é fácil. Difícil mesmo é ser campeão jogando pelo Botafogo, um time que parece
fazer do fatalismo uma filosofia de vida. O valor intrínseco da taça levantada
por ele no acanhado estádio de Volta Redonda é muito maior do que o belo caneco
mundial da Fifa. Seedorf já pode se aposentar com a certeza do dever cumprido.
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