Billi pig (2011) |
Apesar
dos avanços e melhorias perceptíveis na tela, em vários aspectos, o cinema
brasileiro continua encontrando forte resistência interna. Há uma grande parte
de público que torce o nariz para tudo o que se faz por aqui, insistindo na
idéia, hoje furada, de que filme brasileiro só tem "sexo e mulher
pelada", uma visão que se firmou por causa das produções eróticas dos anos
80. O engraçado é que essa mesma parte de público assiste e aplaude qualquer
droga feita em Hollywood, só porque vem de fora, em vez de procurar mudar o
ponto de vista sobre o cinema nacional.
Isso
é muito triste, afinal, a produção audiovisual de um país ajuda a construir
laços de identificação e reforçar a autoestima do povo quanto ao próprio país.
Somos nós, nossos problemas e nossa realidade, que estamos na tela. Em parte, a
culpa por esse distanciamento entre o público e o cinema é dos próprios
produtores, que investem em filões temáticos de forte apelo e receita
garantida, o que gera certa antipatia popular: o que antes era "filme de
sexo e mulher pelada" passa a ser "filme de favela", "filme
de tiro", "filme de cadeia", e atualmente o que está na moda,
"filme de stand-up comedy", geralmente mais popular, estrelado por
novos talentos do humor. É preciso formar um público acostumado com o cinema
nacional, que goste do que vê e assista a nossas produções sem preconceito. Mas
admito que esse trabalho fica bastante dificultado quando o cidadão se depara
com uma coisa chamada Billi Pig,
outra aberração cometida pelo diretor José Eduardo Belmonte, que não tem mais o
que fazer para tentar salvar sua carreira.
Billi Pig é horrível. É
caótico em todos os sentidos, a ponto de eu não saber, até agora, de que
exatamente trata a história. Basicamente, é sobre uma moça que sonha em se
tornar atriz (Grazi Massafera, em sua estréia no cinema, no que talvez seja a
maior curiosidade e único motivo real para se ver a fita), que é casada com um
barnabé preguiçoso e assexuado (sic) (quem faz o papel é Selton Mello, parecendo
de má vontade e muito longe de seus melhores dias). Indecisa e sem saber o que
fazer, ela passa horas conversando com seu porquinho de pelúcia, que às vezes
ganha vida e lhe dá conselhos, definindo os rumos que ela deve tomar.
Nesse
sentido, a semelhança com Um novo
despertar é inevitável. E o ridículo de ambas as situações, também. Naquele
filme, Mel Gibson vive um empresário cuja vida é salva depois que começa a
ouvir a "voz" de uma marionete de castor, achada no lixo, que passa a
lhe dar conselhos. A diferença é que lá a história se leva a sério, enquanto
aqui é tudo uma comédia assumida (Um novo
despertar também é, mas ninguém tem coragem de admitir), sem qualquer
compromisso com a realidade ou com a lógica.
Em
torno do casal central, gravita um turbilhão de personagens, como um padre
mulherengo, um policial militar, um grupo de traficantes pés de chinelo, um
malandro. Todos muito mal desenhados e pessimamente desenvolvidos, que vão
sendo jogados na tela sem qualquer preparação. O roteiro força uma série de
circunstâncias para entrelaçar todos os núcleos, mas vê-se que há gente demais,
coisa demais, para caber no filme, e o jeito é misturar tudo de qualquer jeito.
O recurso do porco falante até diverte no começo - a melhor cena mostra Grazi e
o bicho "conversando" na cama - , mas aos poucos é abandonado e
esquecido. Ou seja, não rende o prometido, como de resto todo o filme resulta
cansativo e aborrecido, também excessivamente longo, com quase duas horas de
duração, que parecem intermináveis. O final na festa reunindo todo mundo evidencia
a falta de melhores conclusões. É difícil esboçar sequer um sorriso. Belmonte
deve ter ficado com a mesma impressão, e talvez por isso tenha inserido várias
cenas que deram errado nos créditos finais, os famosos bloopers de DVD, já no desespero, para ver se o espectador ri um
pouco. Mas nem isso funciona.
O
filme é um desastre total. Indefensável. Belmonte assinaria coisa ainda pior no
ano passado, O gorila, que permanece
inédito em circuito, para o bem do cinema, e que continue assim. Diante de Billi pig, não tem desculpa: resta
concordar quando falam mal do cinema brasileiro. Do porco à porcaria, a
distância é bem curta.
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