Animalada - Uma relação diferente (2001) |
Um
homem se apaixona perdidamente por sua ovelha de estimação e passa a enfrentar
o mundo para que ambos se mantenham juntos. Este é o absurdo ponto de partida
de Animalada - Uma relação diferente,
que pode ser considerada mais uma prova da vitalidade criativa do cinema
argentino. Porém, a trama, escrita e dirigida por Sérgio Bizzio em 2001 e
inédita no circuito comercial brasileiro, se equilibra mal entre a comédia e o
drama, resultando muito aquém do que prometia a inusitada situação inicial.
Convenhamos
que há temas delicados demais para serem ridicularizados. Doenças terminais,
violência física ou sexual e pedofilia, por exemplo, jamais ou dificilmente se
enquadrariam em qualquer tentativa de humor, por mais, hã,
"bem-intencionado" que seja o autor de alguma idéia ousada a tal
ponto. Certo, humor não se discute, mas há assuntos com os quais não se deve
brincar, sob o risco de ferir sensibilidades do público ou desrespeitar certos
dogmas sociais indiscutíveis. Uma história que passeia pela zoofilia precisa
ser levada com cautela. E fazer humor com tal situação requer habilidade e
soluções a um tempo criativas e satisfatórias. Nada disso vemos aqui. A idéia
atrai sem dúvida pela estranheza; fosse um conto ou um romance, seria o tipo de
texto que me chamaria a atenção.
Alberto
(Carlos Roffé) vive na área rural de Córdoba em companhia da mulher, com quem
está casado há 29 anos. Um dia, enquanto ambos estão jantando na cozinha, o
olhar de Alberto se cruza acidentalmente com o de Fanny, sua ovelhinha de
criação. Surge uma atração inexplicável, que leva Alberto a se encontrar com o
animal horas depois, no estábulo. O desejo explode, a paixão se impõe e agora o
fazendeiro precisa resguardar o objeto de sua afeição contra todos os perigos
do mundo. Nem que para isso precise contrariar sua natureza pacífica e
reservada, expondo o lado negro e desconhecido de sua personalidade.
O inusitado casal em momento carinhoso. |
O
que poderia ser uma comédia de absurdos descamba para um clima sombrio na medida
em que a história avança. Primeiro, Alberto mata o capataz que ameaça violar a
ovelha, uma cena digna dos melhores filmes trash; depois, quando a esposa
flagra um encontro entre ele e Fanny e revela a verdade a um grupo de médicos,
ele nada faz para impedir que ela seja internada em um manicômio, já que,
obviamente, ninguém acredita na história. Outras mortes e intrigas familiares brindarão
o espectador até o desfecho. O humor envolve boa parte da narrativa, embora de
maneira um tanto tímida e forçada. A melhor cena acaba sendo a da
"traição", quando Alberto encontra Fanny literalmente na cama com um
carneiro!
Apesar
do tema pesado, o diretor tem o bom senso de não mostrar cenas explícitas de
sexo animal, tudo é sugerido por movimentos e posicionamento de câmera. A quase
completa ausência de trilha sonora também confere um estranho tom documental à
narrativa. Também não há nomes muito conhecidos no elenco. Roffé esteve em
algumas produções conhecidas, como Uma
noite com Sabrina Love (2000) e Valentín
(2002). O diretor Sérgio Bizzio é
um famoso roteirista da televisão local, já tendo assinado diversas séries.
Esta foi sua estréia no cinema, onde voltou a se arriscar este ano, com Bomba.
No
fim, a idéia de Animalada acaba sendo
muito mais interessante que sua realização.
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