A
presidente Dilma Rousseff gosta de se referir à Copa do Mundo do Brasil como "a Copa das Copas", em parte para valorizar o produto, em parte para
responder às provocações de Joseph Blatter, o mandachuva da Fifa, para quem as
obras estão sempre atrasadas e fora do padrão de organização da entidade.
Certamente, ao usar tal alcunha, Dilma não se refere aos aspectos
organizacionais do evento, tais como aeroportos, mobilidade urbana, rede
hoteleira etc. Se tivesse de pitaquear sobre algum desses temas, é muito provável
que a presidente se pusesse a perolar sem chegar a qualquer conclusão efetiva.
Todos nós, brasileiros, sabemos qual será a suposta herança da Copa do Mundo.
As obras de ampliação dos aeroportos, por exemplo, tão aguardadas pela
população, irão se limitar aos esperados "puxadinhos" provisórios,
que serão desfeitos tão logo acabe a competição. Em Salvador, as obras de fundação
da via metroviária foram interrompidas e provavelmente terminarão esquecidas,
já que não haverá interesse maior depois da Copa – afinal, a justificativa para tais melhorias já terá passado, e os anseios populares não
contam, afinal de contas.
A
tal "Copa das Copas", tão decantada pela presidente aos quatro
cantos, só vai ocorrer mesmo dentro das quatro linhas, e neste sentido Dilma
tem toda a razão. Todas as seleções campeãs do mundo estarão participando, algo
que poucas vezes aconteceu na história da competição. A grande concentração de
craques mundiais também é um atrativo e tanto para o torcedor brasileiro, que
se acostumou a vê-los pela televisão. Alguns já jogaram aqui por ocasião da
Copa das Confederações, casos de Balotelli (Itália), Hernández (México), Suárez
(Uruguai), Xavi e Iniesta (Espanha). Outros atuaram uma vez em amistosos, como
Rooney (Inglaterra) e Cristiano Ronaldo (Portugal). Mas a maioria vai mesmo
fazer sua estréia em gramados brasileiros, e entre eles é claro que se inclui a
estrela principal, Lionel Messi (Argentina), talvez o fator que justifique uma
inusitada torcida nacional pela seleção dos hermanos,
pelo menos até que cheguem a uma hipotética final com o Brasil.
Falcao García: menos uma estrela na "Copa das Copas"? |
Da
constelação de grandes jogadores, duas ausências já estão garantidas. Uma é a
do marrento sueco Ibrahimovic, que, em um arroubo de humildade, declarou que
qualquer torneio que não conte com sua presença em campo não merece ser visto.
Outra, confirmada nos últimos dias, é a do colombiano Falcao García, que se
contundiu gravemente em jogo do Campeonato Francês na semana passada. O
relatório médico foi implacável: seis meses de estaleiro, o que tira o atacante
automaticamente da Copa. O próprio Falcao postou em uma rede social que está
otimista na recuperação, apesar de tudo, e que ainda tem esperança de disputar
o torneio. Mas é difícil. Ainda que o jogador não apresente o mesmo peso de
outros craques de primeira grandeza do panteão mundial do futebol, como os já
citados, e ainda Neymar, Drogba, Van Persie etc., sua ausência se fará sentir,
sobretudo, por ser o grande nome da Colômbia, que caiu em um grupo
relativamente fácil e que tem no atacante o fator de desequilíbrio frente a
adversários de calibre mais fraco. Sem ele no comando do ataque, a
Colômbia até pode conseguir sucesso na Copa, mas sem dúvida será uma tarefa
mais parelha – e mesmo as chances de ir mais adiante ficam comprometidas.
Pela
sua idade (27 anos), Falcao García ainda tem chances de disputar mais um mundial, talvez
o de 2018, na Rússia. O grande adversário passa a ser a instabilidade de sua
seleção. A Colômbia é uma dessas equipes que apresenta safras sazonais de bons
jogadores, e nem sempre tem presença garantida em um mundial, ao contrário do
que normalmente acontece com as potências do continente. Pode ser que a próxima
geração não seja tão bem entrosada ou talentosa a ponto de ganhar uma vaga no
campo. Pode ser que Falcao chegue ao próximo mundial já distante de sua melhor
forma – como está hoje, seria sem dúvida uma das grandes atrações da torcida e
do mundial. O fato é que, se não puder jogar uma Copa, ao menos Falcao estará
em boa companhia, já que é grande a lista de craques que nunca a disputaram.
É
o primeiro desfalque da "Copa das Copas" dentro do campo. Porque,
fora, nem vale a pena listar todas as baixas.