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Simplesmente uma mulher (2012) |
Duas
mulheres com problemas conjugais se tornam amigas por força das circunstâncias,
abandonam os respectivos lares e caem na estrada em busca de uma vida melhor. A
sinopse parece a de Thelma e Louise,
mas cabe perfeitamente em Simplesmente
uma mulher, do franco-argelino Rachid Bouchareb. Embora realizados com mais
de 20 anos de diferença, é impossível não lembrar do road movie de Ridley
Scott, que, em essência, troca as armas usadas pelas protagonistas daquele
filme pelos movimentos corporais e sensuais da dança do ventre.
Lançado
em 1991, Thelma e Louise pode ser
considerado um clássico daquela década. Gerou imitações, citações (há um curta
brasileiro, Célia e Rosita, que
aproveita a idéia central, mas em tom de paródia), além de alçar ao estrelato um
jovem Brad Pitt, que fazia uma ponta como um cafajeste. O libelo feminista de
Scott conquistou platéias pelo mundo, ganhou prêmios, incluindo um Oscar de
Roteiro Original, e ganhou ainda mais força ao longo do tempo sobretudo por
nunca ter tido continuações ou, alegria, irmãos!, uma refilmagem. Na trama,
duas mulheres (Susan Sarandon e Geena Davis) fogem de seus maridos violentos e
inúteis e de suas vidinhas modorrentas a bordo de um Thunderbird 66. Pelas
estradas, encontram a liberdade, mas também muitos problemas.
Em
Simplesmente uma mulher, o ponto de
partida é semelhante. Marilyn trabalha como garçonete e faz aulas de dança do
ventre no final do dia. Ela é a melhor aluna da classe, mas ainda não se sente
segura para fazer apresentações individuais remuneradas. Seu marido está
desempregado e usa o pouco dinheiro que tem nas mesas de sinuca e nos botecos
da vizinhança. A gota d'água é quando ele se apropria de metade do recém-pago
salário de Marilyn e sai para jogar. Do outro lado, vive Molly, uma jovem árabe
que se casou por conveniência e agora sofre a rejeição de sua sogra, já que não
pode engravidar. As duas se encontram por acaso e se unem para redefinirem suas
vidas. Seguem no carro de Marilyn por estradas desconhecidas, mas o passado irá
persegui-las por algum tempo. A solução, no entanto, virá pelo viés da dança,
longe de qualquer precipício.
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Molly e Marilyn dançam para não dançar. |
O
enfoque aqui é menos na relação problemática das duas mulheres com seus
respectivos maridos e mais na metáfora da dança do ventre como elemento
fundamental para o "renascimento" de ambas - vale lembrar que ela é
uma expressão muito forte na cultura árabe, simbolizando a fertilidade, e, por
extensão, a vida e a perpetuação da espécie. A fuga de Marilyn e Molly não
ganha os contornos policiais do filme de Scott porque não é esse o objetivo. Os
dramas conjugais pelos quais as amigas passam parecem, por vezes, um pretexto
para fazer a história decolar, já que os problemas decorrentes da dupla
ausência não rendem mais do que boletins de ocorrência na polícia local.
Bouchareb
filma tudo com certa frieza, sem imprimir uma marca mais distinta nas cenas, mas
consegue bons momentos nas seqüências de dança. Naturalmente, a iraniana Golshifteh
Farahani (de Frango com ameixas, uma
das atrizes mais lindas do cinema) mostra mais intimidade com os movimentos,
enquanto Sienna Miller custa a se acertar, uma falha na construção de uma
personagem que é considerada a melhor aluna de sua academia de dança!
Um
filme simpático e bem-feitinho, que teve pouca visibilidade no cinema, onde
ficou apenas duas semanas em cartaz, e pode ser descoberto agora em DVD.
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