quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Especial - A cidade dos mistérios intermináveis - Parte II

Os últimos dias de Laura Palmer (1992)
No Brasil, Twin Peaks foi anunciada com estardalhaço pela Rede Globo no verão de 1990, com as chamadas ressaltando que a série era o maior fenômeno de audiência da televisão norte-americana. Sua exibição foi programada para as noites de domingo, depois do Fantástico. No entanto, na prática, o tratamento dispensado pela emissora foi inversamente proporcional à importância que conferiu à atração. Os oito episódios da primeira temporada foram exibidos cheios de cortes, criminosamente editados, o que deixava a trama ainda mais confusa e praticamente sem sentido.

Como naquele tempo não existia internet e as informações custavam a circular por aqui, pouca gente percebeu o truque só quem já tinha visto a série na TV americana notou a mutilação que a Globo tinha promovido. Em resumo, o canal atraiu a atenção do público, manteve a audiência graças a um reiterativo esquema de divulgação do produto e traiu os espectadores exibindo uma série híbrida.

Mas a trajetória de Twin Peaks na televisão brasileira não podia ficar marcada por esse absurdo cometido pela Globo. Três anos depois, a Rede Record adquiriu os direitos sobre a série e a exibiu na íntegra, conferindo a ela o respeito que lhe era devido. A iniciativa foi muito bem-recebida, e deu tão certo, que pouco tempo depois a emissora também apresentou a segunda temporada, igualmente anunciada com relevância: "Nunca antes exibida na televisão brasileira".

Dale Cooper e um dos objetos de culto da série: o gravador.
Porém, se ela tivesse permanecido na obscuridade não teria feito a menor falta. Como todos os mistérios já haviam sido solucionados na primeira leva, o jeito foi inventar novos desdobramentos, criar novas tramas e com isso, o que era original acabou se tornando cansativo. A saída encontrada pelos produtores foi costurar uma colcha de retalhos que durou 22 episódios, ao longo dos quais pouco há de interessante, e ainda terminava de forma anticlimática, com o agente Cooper deixando aberta a porta para uma provável terceira temporada, que, felizmente, permaneceu engavetada. Até agora.

Mas nem o fracasso que foi essa equivocada segunda temporada fez com que enterrassem a mística em torno de Twin Peaks. Como se ainda houvesse explicações a dar e mistérios a resolver, em 1992, chegou aos cinemas Twin Peaks – Os últimos dias de Laura Palmer, uma espécie de preqüência da série que, supostamente, justificava o comportamento dos personagens e revelava a vida pregressa da garota. O filme foi um fracasso de bilheteria, não agradou os fãs da série e muito menos angariou novos admiradores, sobretudo pelo roteiro extremamente fragmentado, que, além de não explicar nada de maneira satisfatória, era confuso demais e praticamente ininteligível para quem não conhecia a história. Há quem o considere o pior filme de David Lynch.

Você está entrando novamente em Twin Peaks. Seja bem-vindo!
O longa acabou sendo a pá de cal em uma produção que ganhou os ares do universo pop e ultrapassou a fronteira que a marcaria no tempo, perenizando-se em um culto que persiste até hoje. Objetos citados na série viraram itens disputados. Uma réplica do gravador usado pelo detetive Cooper chegou a ser leiloada nos Estados Unidos. Por aqui, a Editora Record lançou O diário secreto de Laura Palmer, a pista principal para a resolução do mistério. Também serviu de inspiração e referência para produções posteriores, inclusive Picket Fences, que a mesma Record exibiu na seqüência, tentando capitalizar ainda em cima do sucesso da anterior. 

Será que daqui a 20 anos também celebraremos o legado dessa vindoura terceira temporada? A partir de 2016 começaremos a responder.

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