Os últimos dias de Laura Palmer (1992) |
No Brasil, Twin Peaks foi anunciada com estardalhaço pela Rede Globo no verão
de 1990, com as chamadas ressaltando que a série era o maior fenômeno de
audiência da televisão norte-americana. Sua exibição foi programada para as
noites de domingo, depois do Fantástico. No entanto, na prática, o tratamento dispensado
pela emissora foi inversamente proporcional à importância que conferiu à
atração. Os oito episódios da primeira temporada foram exibidos cheios de
cortes, criminosamente editados, o que deixava a trama ainda mais confusa e
praticamente sem sentido.
Como naquele tempo não existia internet
e as informações custavam a circular por aqui, pouca gente percebeu o truque – só quem já tinha visto a série na TV
americana notou a mutilação que a Globo tinha promovido. Em resumo, o canal
atraiu a atenção do público, manteve a audiência graças a um reiterativo
esquema de divulgação do produto e traiu os espectadores exibindo uma série
híbrida.
Mas a trajetória de Twin Peaks na televisão brasileira não podia ficar marcada por esse
absurdo cometido pela Globo. Três anos depois, a Rede Record adquiriu os
direitos sobre a série e a exibiu na íntegra, conferindo a ela o respeito que
lhe era devido. A iniciativa foi muito bem-recebida, e deu tão certo, que pouco
tempo depois a emissora também apresentou a segunda temporada, igualmente
anunciada com relevância: "Nunca antes exibida na televisão
brasileira".
Dale Cooper e um dos objetos de culto da série: o gravador. |
Porém, se ela tivesse permanecido na
obscuridade não teria feito a menor falta. Como todos os mistérios já haviam
sido solucionados na primeira leva, o jeito foi inventar novos desdobramentos,
criar novas tramas – e com isso, o
que era original acabou se tornando cansativo. A saída encontrada pelos
produtores foi costurar uma colcha de retalhos que durou 22 episódios, ao longo
dos quais pouco há de interessante, e ainda terminava de forma anticlimática,
com o agente Cooper deixando aberta a porta para uma provável terceira
temporada, que, felizmente, permaneceu engavetada. Até agora.
Mas nem o fracasso que foi essa
equivocada segunda temporada fez com que enterrassem a mística em torno de Twin Peaks. Como se ainda houvesse
explicações a dar e mistérios a resolver, em 1992, chegou aos cinemas Twin Peaks – Os últimos dias de Laura Palmer,
uma espécie de preqüência da série que, supostamente, justificava o
comportamento dos personagens e revelava a vida pregressa da garota. O filme
foi um fracasso de bilheteria, não agradou os fãs da série e muito menos
angariou novos admiradores, sobretudo pelo roteiro extremamente fragmentado,
que, além de não explicar nada de maneira satisfatória, era confuso demais e
praticamente ininteligível para quem não conhecia a história. Há quem o
considere o pior filme de David Lynch.
Você está entrando novamente em Twin Peaks. Seja bem-vindo! |
O longa acabou sendo a pá de cal em uma
produção que ganhou os ares do universo pop e ultrapassou a fronteira que a
marcaria no tempo, perenizando-se em um culto que persiste até hoje. Objetos
citados na série viraram itens disputados. Uma réplica do gravador usado pelo
detetive Cooper chegou a ser leiloada nos Estados Unidos. Por aqui, a Editora
Record lançou O diário secreto de Laura
Palmer, a pista principal para a resolução do mistério. Também serviu de
inspiração e referência para produções posteriores, inclusive Picket Fences, que a mesma Record exibiu na seqüência, tentando capitalizar ainda em cima do sucesso da anterior.
Será que daqui a 20 anos também
celebraremos o legado dessa vindoura terceira temporada? A partir de 2016 começaremos a responder.
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