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Twin Peaks (1989) |
A
nota era breve, não mais que dez linhas, mas tive de lê-la várias vezes para
ter certeza que era aquilo mesmo. O canal Showtime prepara o lançamento da
terceira temporada de Twin Peaks para
2016. Serão nove episódios, com os roteiros ficando a cargo dos criadores da
série, Mark Frost e David Lynch, cabendo a este último ainda a direção de todos
eles. A grande pergunta que se impõe é: para quê?
Se
você era muito criança, ou nem era nascido no final dos anos 80 / comecinho dos
90, provavelmente não faz idéia do faniquito que a nota acima provocou nos
meios televisivos. Hoje nos acostumamos a celebrar a excelência de muitas
séries de TV, que vêm se firmando como terreno de qualidade da produção
audiovisual, sobretudo nos Estados Unidos, superando os produtos genéricos e
imbecilizantes produzidos por Hollywood. Comentamos as tramas inteligentes e
bem-boladas de Breaking bad, Mad men, The walking dead e um infinito de tantas outras. Há quem diga que a
explosão do atual ótimo momento vivido pelas séries começou há cerca de de 20
anos, com o lançamento de Friends (1994)
e se cristalizou com Lost (2004),
cujo sucesso de ambas impulsionou produções semelhantes em termos de ousadia
criativa e roteiros bem escritos. Pode ser, mas também não é exagero voltar um
pouco mais no tempo e afirmar que tudo que está aí partiu de Twin Peaks. Foi o grande divisor de
águas da televisão norte-americana. Foi o trampolim para outros saltadores
desfilarem seu talento aos olhos da audiência e do público.
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Pela estrada afora, eu vou bem sozinha... |
A
primeira distinção que se fez a Twin
Peaks na época foi o nome por trás do projeto. David Lynch já era um cineasta consagrado quando resolveu criar esse lúgubre microcosmo de seu universo muito
particular, povoado por personagens bizarros e situações esquisitas. Não era
mais uma aposta, mais um novato se arriscando na condução de uma trama
televisiva banal: era Lynch, diretor de cinema, indicado ao Oscar por O homem elefante, reconhecido por filmes como Veludo azul, o homem que ousou adaptar Duna para a tela grande. Hoje ninguém se espanta se vir o nome de
Spielberg, ou Scorsese, ou Soderbergh nos créditos de direção de uma série, mas
naquele tempo era novidade. Mais: uma mostra de como a televisão estava se
engrandecendo, atraindo a atenção de pessoas ligadas ao cinema. A série estreou
cercada de expectativa por conta disso, e a resposta do público foi a mais
animadora possível, batendo recordes de audiência.
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Catherine E. Coulson, a Mulher do Tronco. |
A jovem estudante Laura Palmer é
encontrada morta e ensacada à margem do rio que atravessa a cidade, fato que
abala a aparente tranqüilidade do lugar. O FBI envia o investigador Dale Cooper
para descobrir o que aconteceu, mas, à medida que ele vai se embrenhando no
caso, descobre que todos os moradores de Twin Peaks guardam segredos sombrios,
e que cada um deles tinha uma razão particular para matar a garota. A trama
oferece um desfile de personagens antológicos, como a Mulher do Tronco, a Dama
Tapa-Olho, o Homem-de-um-Braço-Só e muitos outros. O detetive também não fica
atrás em matéria de esquisitice e gosta de gravar suas descobertas e impressões
em um pequeno gravador, a que chama de Diane.
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A estrada perdida no coração selvagem da América. |
Um dos grandes acertos da série foi o
elenco homogêneo. Lynch apostou em veteranos que andavam em baixa e, de certa
forma, conseguiu pô-los novamente na vitrine: Richard Beymer (Amor, sublime amor), Russ Tamblyn (Sete noivas para sete irmãos), Piper
Laurie (Desafio à corrupção) e mesmo
Grace Zabriskie que, embora nova, já tinha créditos valiosos no currículo (Norma Rae). Aliados a eles, vinha a ala
jovem, composta por novatos que aproveitaram a chance para fazerem a carreira
deslanchar, como Lara Flynn Boyle (Equinox),
Madchen Amick (Sonâmbulos e muitas
outras séries), Sheryl Lee (está no recente Pássaro
branco na nevasca). Também voltou a trabalhar com nomes já conhecidos de
outros filmes seus, como Everett McGill, Jack Nance, e o destaque do elenco, Kyle MacLachlan, que faz o
detetive, este egresso dos anteriores do diretor Duna
e Veludo azul; logo depois fez The Doors, de Oliver Stone, e ainda estrelou
produções de alguma importância (Os
Flintstones, Efeito dominó, Timecode de Mike Figgis) e já está
confirmado para repetir seu papel de maior sucesso na nova versão anunciada.
(Continua)
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