![]() |
Comboio do terror (1986) |
Stephen King tem uma vasta folha corrida de serviços
prestados à literatura. Inegavelmente um dos grandes autores do gênero terror e
fantasia, longe de ser unanimidade – há quem o considere um enganador, que
escreve sobre coisas irreais, alienantes (mas quem disse que a literatura
precisa ser séria o tempo todo?) –, já deixou um legado, de certa forma, e nem
me refiro à sua monumental série A torre
negra, épico inspirado em O senhor
dos anéis.
Também é um dos autores mais adaptados para o cinema.
Praticamente todos os seus romances já foram levados à tela grande, assim como
diversos de seus contos. Muitos foram bem-sucedidos: Carrie, a estranha (a primeira versão, de Brian de Palma, com Sissi
Spacek), O iluminado (do Kubrick), Cemitério maldito, À espera de um milagre (o livro original tinha outro nome, O corredor da morte, e foi lançado
primeiro em seis volumes de bolso). Outros chegaram às raias da indigência: A criatura do cemitério, Mangler – Grito de terror, O apanhador de sonhos, uma das piores
coisas que já vi. Sua experiência na Sétima Arte, contudo, quase sempre se
limita a pontas que faz nessas adaptações.
Mas em meados dos anos 80, King devia estar meio
insatisfeito com o que os diretores andavam fazendo com seus livros e resolveu,
ele mesmo, sentar na cadeira, pegar o megafone e fazer sua estréia na condução
de um longa. Escolheu uma história bem curtinha, escreveu o roteiro baseado nela,
mas o resultado ficou muito aquém do esperado. Comboio do terror é uma das experiências mais insípidas já feitas
no cinema de horror.
O filme adapta o conto "Caminhões", inserido na
coletânea Sombras da noite, publicada
no Brasil pela Francisco Alves. A ação se passa no dia 9 de junho de 1987,
quando um cometa atravessa a órbita terrestre. O fato desencadeia uma rebelião
de máquinas em geral e veículos em particular, que ganhem vida própria e passam
a atacar e matar os humanos. Por motivos diversos, um grupo de pessoas fica
encastelado em uma lanchonete de beira de estrada, cercado por caminhões. Por
mais divergentes que sejam em termos de personalidade ou perspectiva, ou mesmo
de bravura, todos precisarão se unir para conseguirem escapar. Um bad boy, uma
garota masculinizada e um pré-adolescente briguento assumem a dianteira e
comandam a ofensiva humana.
![]() |
King ficou encurralado por um roteiro sem criatividade. |
O conto tem lá seu interesse, mas o filme não consegue
atrair o espectador, muito provavelmente pela inexperiência de King com a
cartilha cinematográfica. A história é lenta, repetitiva (porque sua base é bem
curtinha, resultou alongada), não oferece alternativas para tornar a narrativa
mais dinâmica e é defendida por elenco pouco empenhado, à frente do qual estão um Emílio Estevez colhendo os louros de ser um dos principais astros teens daquela época e o veterano Pat Hingle
(MASH e Norma Rae, entre muitos telefilmes e séries). King é o cidadão atacado pelo caixa eletrônico, logo na primeira cena. Mas não quis aparecer
na refilmagem, ainda pior que o original, dirigida por Chris Thomson em 1997.
O resultado foi tão desastroso que o escritor nunca mais se
aventurou novamente na direção, nem de curta-metragem. Restringindo-se ao campo
no qual é mestre, porém, continuou escrevendo roteiros, e muitos bem-sucedidos,
como o da atual série Haven.
Nenhum comentário:
Postar um comentário