quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Velozes, furiosos e possuídos

Comboio do terror (1986)
Stephen King tem uma vasta folha corrida de serviços prestados à literatura. Inegavelmente um dos grandes autores do gênero terror e fantasia, longe de ser unanimidade  há quem o considere um enganador, que escreve sobre coisas irreais, alienantes (mas quem disse que a literatura precisa ser séria o tempo todo?) , já deixou um legado, de certa forma, e nem me refiro à sua monumental série A torre negra, épico inspirado em O senhor dos anéis.

Também é um dos autores mais adaptados para o cinema. Praticamente todos os seus romances já foram levados à tela grande, assim como diversos de seus contos. Muitos foram bem-sucedidos: Carrie, a estranha (a primeira versão, de Brian de Palma, com Sissi Spacek), O iluminado (do Kubrick), Cemitério maldito, À espera de um milagre (o livro original tinha outro nome, O corredor da morte, e foi lançado primeiro em seis volumes de bolso). Outros chegaram às raias da indigência: A criatura do cemitério, Mangler  Grito de terror, O apanhador de sonhos, uma das piores coisas que já vi. Sua experiência na Sétima Arte, contudo, quase sempre se limita a pontas que faz nessas adaptações.

Mas em meados dos anos 80, King devia estar meio insatisfeito com o que os diretores andavam fazendo com seus livros e resolveu, ele mesmo, sentar na cadeira, pegar o megafone e fazer sua estréia na condução de um longa. Escolheu uma história bem curtinha, escreveu o roteiro baseado nela, mas o resultado ficou muito aquém do esperado. Comboio do terror é uma das experiências mais insípidas já feitas no cinema de horror.

O filme adapta o conto "Caminhões", inserido na coletânea Sombras da noite, publicada no Brasil pela Francisco Alves. A ação se passa no dia 9 de junho de 1987, quando um cometa atravessa a órbita terrestre. O fato desencadeia uma rebelião de máquinas em geral e veículos em particular, que ganhem vida própria e passam a atacar e matar os humanos. Por motivos diversos, um grupo de pessoas fica encastelado em uma lanchonete de beira de estrada, cercado por caminhões. Por mais divergentes que sejam em termos de personalidade ou perspectiva, ou mesmo de bravura, todos precisarão se unir para conseguirem escapar. Um bad boy, uma garota masculinizada e um pré-adolescente briguento assumem a dianteira e comandam a ofensiva humana.

King ficou encurralado por um roteiro sem criatividade.
O conto tem lá seu interesse, mas o filme não consegue atrair o espectador, muito provavelmente pela inexperiência de King com a cartilha cinematográfica. A história é lenta, repetitiva (porque sua base é bem curtinha, resultou alongada), não oferece alternativas para tornar a narrativa mais dinâmica e é defendida por elenco pouco empenhado, à frente do qual estão um Emílio Estevez colhendo os louros de ser um dos principais astros teens daquela época e o veterano Pat Hingle (MASH e Norma Rae, entre muitos telefilmes e séries). King é o cidadão atacado pelo caixa eletrônico, logo na primeira cena. Mas não quis aparecer na refilmagem, ainda pior que o original, dirigida por Chris Thomson em 1997.

O resultado foi tão desastroso que o escritor nunca mais se aventurou novamente na direção, nem de curta-metragem. Restringindo-se ao campo no qual é mestre, porém, continuou escrevendo roteiros, e muitos bem-sucedidos, como o da atual série Haven.

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