SERPICO
(Idem)
EUA, 1973. 130 minutos. Continental
(selo Vintage Films). Roteiro de Waldo Salt e Norman Wexler, baseado em romance
homônimo de Peter Maas. Direção de Sidney Lumet. Com:
Al Pacino, John Randolph, Tony Lo Bianco, F. Murray Abraham, Barbara Eda-Young,
Jack Kehoe.
Sinopse: Um jovem
ingressa na academia de polícia e logo se depara com a corrupção existente no
meio. Idealista, tenta combatê-la, mas passa a sofrer pressões de vários lados,
até ser vítima de uma tentativa de assassinato.
Comentários: É
claro que o tema
nada tem de novo nem de inventivo. Orson Welles já tratava do assunto nos anos
50, quando realizou o excepcional A marca
da maldade. E o cinema sempre se ocupou dele ao longo dos anos. Então, este
seria apenas mais um filme a abordar o assunto, não fosse o vigor de Lumet na
condução da história e a entrega de Al Pacino no papel do incorruptível Frank
Serpico, um descendente de italianos que acredita na justiça e na função social
da corporação que passa a integrar. Só que em pouco tempo ele descobre que as
coisas não funcionam como se vislumbra.
O
meio policial é sujo, com dinheiro podre correndo nas delegacias, ligações
escusas envolvendo delegados e traficantes, segredos que não devem ser
revelados. A justiça plena é um objetivo impossível de alcançar. Serpico é uma
exceção entre seus colegas de farda, até pelo fato de agir à paisana quase na
maior parte da história. É culto, estuda espanhol e gosta de literatura. Em
momento algum abandona suas convicções, mesmo cercado de indiferença por todos
os lados. Mantém-se firme aos seus princípios, ainda que sua dedicação ao
trabalho honesto o conduza a um labirinto de armadilhas, gerando a antipatia
dos colegas que, teoricamente, deveriam apoiá-lo em sua empreitada no combate
ao crime.
É
o único que consegue ser autêntico em um universo onde todos fingem ser uma
coisa, mas são outra. Em parte, por conveniência, como nos distritos policiais,
em que é convencido por outros policiais a renunciar às apreensões efetuadas
para creditar-lhes o sucesso na operação. Em parte, por incapacidade. Na
engraçada seqüência da festa onde acompanha a namorada e conhece os amigos
dela, todos se apresentam como representantes de uma elite intelectual –
poetas, cineastas, artistas de modo geral – embora se virem profissionalmente
em atividades modestas e longe da sugestão do sucesso pretendido. O contraste
entre Serpico e o mundo que o cerca fica evidente. Ele é uma excrescência, um
raio de solidez em um universo corrompido de ilusões e frustrações. Jamais se
deixará abater.
A
fotografia em tons sujos ajuda a realçar o clima sombrio e violento,
contrastado e amenizado pela bela música de Mikis Theodorakis. O roteiro, de
Waldo Salt e Norman Wexler, adapta com competência o romance homônimo escrito
por Peter Maas, por sua vez inspirado em personagem real. O verdadeiro Serpico
trabalhou no Departamento de Polícia de NY entre 1959 e 1972. Hoje está com 78
anos.
O
filme rendeu a Al Pacino sua primeira indicação ao Oscar de melhor ator
(recebera uma no ano anterior, como coadjuvante, por O poderoso chefão, mas perdeu em ambas as ocasiões). Merecia maior
reconhecimento da Academia. Também foi maltratado pelas distribuidoras, que só
há pouco tempo lançaram o filme no formato de DVD, infelizmente por uma das
mais suspeitas do mercado, a sempre discutível Continental. A capa informa se
tratar de edição especial, mas não tem nada além dos extras habituais (sinopse,
trailer sem legenda, fotos e cartazes).
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