Peço desculpas aos eventuais
leitores desse espaço, mas hoje não vou escrever nem sobre cinema, nem sobre
literatura. Vou abordar uma das tais outras delícias viciantes que definem o
conteúdo do blog. Apesar de que, na essência, o assunto se assemelha a um filme
de horror.
No último dia 22, o Botafogo
venceu o Palmeiras por 3x1 no jogo de volta da fase classificatória da Copa
Sul-Americana, mas foi eliminado por causa do critério utilizado na competição,
semelhante ao da Copa do Brasil. Como perdeu a primeira partida por 0x2 em
Barueri, 15 dias antes, o Alvinegro precisava marcar três gols e não sofrer
nenhum para seguir adiante. Como o Palmeiras marcou um gol na casa do
adversário, isso pesou no somatório das duas partidas, que terminaram em 3x3. O
“alviverde imponente” se manteve na disputa e o Glorioso ficou no começo do
caminho (nem chegou ao meio). O time saiu de campo aplaudido por seu espírito
de luta, garra e vontade demonstrados ao longo dos 90 minutos. Essa entrega na
busca por um resultado satisfatório era o mínimo que se podia esperar. Mas
houve outro aspecto que chamou atenção naquela partida.
Ser eliminado de uma competição
mesmo com uma vitória é raro, mas acontece em competições dessa natureza, de
tiro curto. No entanto, causou muita estranheza à imprensa em geral o público
minúsculo que acompanhou o jogo no Estádio Engenhão. Apenas 2.434 almas, a
maioria botafoguense, pagaram ingresso para ver um jogo decisivo para o clube
do Rio. Afinal, era tudo ou nada, e a missão, embora reconhecidamente complicada,
não era impossível para o Botafogo. Considerando que a capacidade do Engenhão é
de 45 mil lugares, estava praticamente vazio, um fenômeno que não chega a ser
raro, sobretudo em jogos do próprio Botafogo, que administra o local desde sua
inauguração, em 2007, o que já levou adversários a apelidarem o estádio de
“Vazião” ou “Enchenão”. No dia seguinte, um jornalista da ESPN questionou se
houvesse um apoio maior da torcida, coisa de 30 mil pagantes, se a sorte do
Botafogo teria sido melhor, se o time, contando com o incentivo de mais
torcedores, não teria chegado ao (àquela altura) quarto gol, que lhe daria a
vaga na fase seguinte. Mas quem definiu de forma clara e simples a situação foi
o comentarista Eraldo Leite, da Rádio Globo, que vaticinou: “O pouco público é
um reflexo imediato da falta de confiança que o time do Botafogo passa a sua
torcida”.
E o maior problema é que essa
desconfiança foi sendo germinada ao longo dos últimos anos. Várias vezes nesse
período o Botafogo teve a chance de figurar entre os grandes, que é seu lugar,
afinal de contas, sustentando a ponta de uma tabela, conquistando títulos,
superando adversários reconhecidamente inferiores. Nada acontecia, porém, e a
cada vez que a torcida enchia o estádio, o time fraquejava e brindava seus
simpatizantes com uma amarga dose de incompetência e frustração. De tanto
repetir-se a fórmula, chegou-se à descrença absoluta. Hoje, o Botafogo joga
para pouco mais de três mil pagantes, em média. Talvez
porque, no fundo, os abnegados que compareçam ao estádio sabem que o time não
irá longe, não ganhará nada. Só fará figuração.
De minha parte, já desisti de
acreditar nesse time. Continuo Botafogo e o serei até o fim, mas fica difícil
levar fé em uma equipe que se recusa a provar sua grandeza, que consegue ficar
invicta durante um campeonato inteiro – um feito, sem dúvida – e perde
justamente os dois jogos finais! Ou seja, ainda “iludiu” a torcida com a
expectativa de um título histórico para desfazer o sonho em apenas uma partida.
Uma equipe que se mantém entre os quatro primeiros do campeonato nacional por
quase todas as rodadas, mas na derradeira, na hora de definir os classificados
a uma vaga na principal competição continental, fraqueja e deixa a última vaga
escorrer pelos dedos, por pura incompetência, perdendo seis jogos em sete
disputados, marca tão vexatória que nem os times que terminaram rebaixados
conseguiram atingir. Só vou citar esses dois exemplos (há inúmeros outros), que
bastam para demonstrar o quanto essa estrela vem perdendo o brilho.
Para aumentar a desconfiança da
torcida, o time agora sofre com a falta de um centroavante. A diretoria teve a
inteligência de vender os dois titulares do ataque e ídolos da torcida –
Herrera e Loco Abreu – sem contratar ninguém para ocupar as posições, tanto no
campo quanto no coração dos torcedores. Assim, com Elkeson improvisado e torto
no comando do ataque, o time perde ainda mais seu poder de fogo, que já não era
mesmo grande coisa. Depois ninguém entende porque o Engenhão fica vazio. É a estrela
que vai se ofuscando cada vez mais.