No minuto seguinte ao
encerramento dos Jogos Olímpicos de Londres, no próximo domingo, os olhos da
comunidade esportiva internacional se voltarão imediatamente para o Brasil,
mais exatamente para o Rio de Janeiro, palco da próxima edição do evento, em 2016
(isso, claro, se os maias tiverem errado suas previsões e o mundo continuar
existindo após o dia 21 de dezembro). Começará então uma autêntica corrida
contra o tempo para que nossas autoridades se encarreguem de cumprir todos os
prazos e obrigações que assumiram quando o Comitê Olímpico Internacional (COI)
escolheu a cidade como sede dos Jogos vindouros. Posso parecer chato e
negativista, até antipatriótico, mas a verdade é que o Brasil corre o risco
sério de passar um vexame histórico. Em todos os sentidos.
Desde o começo fui contra a
realização da Olimpíada em nosso país, mais ainda em nossa cidade. Organizar um
evento de tal magnitude é uma responsabilidade gigantesca, mas nossos
governantes, na ânsia de quererem provar uma grandeza que estamos longe de
efetivamente possuir, devem ter achado que seria financeiramente interessante,
quem sabe, sobretudo, para os próprios bolsos, promover o Rio e, por extensão,
o país sediando uma edição dos Jogos. A verdade é que o Rio de Janeiro não tem
condição sequer de receber um campeonato mundial de cuspe à distância. Tudo nos
falta: um sistema de transporte eficiente, rede hoteleira que absorva as hordas
de turistas que invadirão a cidade, um esquema eficiente de segurança.
Falta-nos, sobretudo, educação, e quanto a isso deixo a cargo de cada um os
exemplos possíveis. Lembro-me que, por ocasião dos Jogos de Pequim, em 2008, o
governo daquele país se empenhou em campanhas educativas para que o povo
evitasse cuspir nas vias públicas, um hábito local que espanta os visitantes.
Não sei se teve sucesso na empreitada, mas é de imaginar que o povo chinês,
esmagado por décadas de repressão ditatorial, portanto naturalmente submisso, e
cônscio de deveres e obrigações a cumprir, tenha acatado o pedido. Alguém
imagina o povo brasileiro seguindo regras de conduta social pregadas em campanhas
brincalhonas (como são todas) criadas pelo governo?
Como carioca, nascido e criado
aqui, sinto-me à vontade para criticar sem correr o risco de expor certo ranço
negativista. Temos graves problemas estruturais, além dos já citados. Há anos a
população cobra a ampliação do sistema metroviário sem que as autoridades se
importem com isso. Agora, de uma hora para outra, resolveram criar a Linha 4, o
famoso metrô até a Barra, desejo antigo dos cariocas! Foi preciso que as
Olimpíadas aportassem por aqui para que uma solicitação do povo pudesse ser
atendida. Ou seja, para quem aqui reside, faz-se ouvidos de mercador, mas
quando se trata de enfeitar a cidade para receber os estrangeiros, arruma-se a
casa, para mostrar que ela é bonita? Mas nem assim o problema será resolvido a
contento porque os gênios dos planos de transporte do Rio acham que melhorar a
malha metroviária é a mesma coisa que encavalar estações em série, uma após
outra, quando qualquer pessoa razoavelmente inteligente sabe que a solução é
criar alternativas de rota. De que adianta estender a linha da Pavuna à Barra
da Tijuca em linha reta sem estações arteriais, que sirvam para desafogar o contingente de passageiros? O metrô
assim se consolidará como mero cabide de usuários, ou seja, mais desconforto e
serviços mal prestados a um preço extorsivo. Bastaria pegar a ponte aérea e
observar como é o funcionamento do metrô de São Paulo. Ali há uma série de
baldeações que facilitam a vida dos passageiros. Será que é tão difícil copiar
boas idéias?
À parte os aspectos estruturais
urbanos, os quais esperamos que sejam providencialmente tratados pelas
autoridades, há outra questão, esta mais preocupante. Como se comportarão os
atletas brasileiros diante de sua torcida em uma competição como as Olimpíadas?
Se à distância eles já sentem a pressão que jogamos em seus ombros por um bom
resultado (quer dizer, o ouro, já que prata é lixo e bronze é fracasso absoluto),
como reagirão aqui, diante de nossos narizes? Longe de parecer pessimista, mas
a chance de entrarmos negativamente para a história olímpica é grande e real.
Historicamente, atletas de países que sediam a competição costumam se sair bem,
veja os exemplos da Grã-Bretanha, que cumpre sua melhor campanha, arrebatando
medalhas de ouro em
profusão. Sabemos da realidade de nossos atletas. A maioria
treina depois de um exaustivo dia de trabalho, longe de suas condições físicas
ideais, sem equipamentos de qualidade, sem incentivos financeiros. Ou seja, o
simples fato de se classificarem para as Olimpíadas já é lucro (ao menos não
haverá esse risco em 2016, já que, como país sede, o Brasil pode inscrever
atletas em todas as modalidades de disputa, o que inclui o badminton e o pólo
aquático). Não vale dizer que nos saímos bem no Pan-Americano de 2007 porque o
nível de competitividade é infinitamente menor, os índices são mais baixos e
muitos vencedores dessas provas sequer se classificam para as Olimpíadas. Os
Estados Unidos não mandam seus atletas principais. Se não houver um forte
trabalho psicológico com nossos competidores, é de se imaginar que eles “amarelem”
ainda mais. Mais importante: é preciso que haja um trabalho muito sério e
profissional na parte técnica para que possamos, ao menos, disputar as competições
em igualdade de condições, e não apenas participar delas simpaticamente.
Aguardemos para ver quantas
medalhas de ouro, prata e bronze arrebataremos em 2016. Todas, e na quantidade
que for, serão bem-vindas. Mas precisamos cuidar com muita seriedade para que não
amarguemos nenhuma medalha de lata.
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