Nem só de caviar vive o homem,
como vaticinou J. M. Simmel no título de um de seus mais famosos livros. E tal
máxima se aplica também aos cinéfilos. Ao contrário do que muitos podem pensar,
não são só clássicos e produções independentes que fazem a nossa cabeça. Eu,
pelo menos, adoro um bom trash (desculpem a contradição). Quando feitos sem
pretensão alguma que não a diversão, são excelentes para curtir em turma, com
pipoca e gritaria. Ou para se ver sozinho com aquele sorrisão na cara. Foi
assim, com o cérebro desligado e expectativa zero, que assisti ao horrendo Sharktopus, uma das piores coisas que já
vi. E também uma das mais engraçadas no gênero.
O que você espera de um filme
chamado Sharktopus? No mínimo,
bizarro. A dúvida é saber o que é mais bizarro, se o roteiro, as atuações ou o
próprio bicho, que parece ter sido concebido por uma criança de imaginação
muito fértil (como eu mesmo fui). Nesse sentido, a fita já recebe, logo de
cara, um selo de qualidade. Quem assina a produção é Roger Corman (e poderia
ser outro?), o papa do trash, o Midas do cinema B, que já nos legou filminhos
tão descartáveis quanto divertidos ao longo da história (A loja dos horrores, Mercenários
das galáxias, A mulher vespa).
Seu último exercício na direção foi com Frankenstein,
o monstro das trevas, de 1990, e dedicou-se desde então a produzir títulos
igualmente ridículos, função pela qual já acumula 400 créditos. Aqui ele divide
a láurea com sua esposa Julie e ainda faz uma ponta como o velho que pega um
medalhão na areia após presenciar o ataque do bicho. O “bom” resultado que
vemos na tela é muito fruto do talento do casal, que sabe tudo de cinema
barato e caprichou para que a história tivesse um mínimo de competência.

O que assusta mesmo no filme é
ver onde foi parar a carreira de Eric Roberts, o irmão menos talentoso e bonito
de Julia. Ele nunca foi grande coisa e jamais deu indícios de que se tornaria
astro, mas poderia ao menos envelhecer com dignidade, fazendo fitinhas mais decentes. O mais bacana é ver as atrizes interessantes que costumam ser uma atração
à parte no universo trash. A protagonista é uma tailandesa bem bonita, Sara
Malakul Lane, 29 anos (parece menos), que estreou em Resgate sem limites, com Steven Seagal. Ela é coadjuvada pela repórter,
interpretada por Liv Boughn, que faz questão de improvisar um figurino
provocante logo na primeira cena e assim permanece o tempo todo. E há ainda Shandi
Finnessey, uma lourinha que trabalha como assistente de uma rádio que funciona
em um barco no meio do mar (sic), usando apenas um biquíni (sic) (sic). Tudo
sem o menor sentido, como também a personagem, que some da história, mas volta
no que parece uma espécie de continuação, Piranhaconda
(isso mesmo!), igualmente produzida por Corman e com outro astro decadente
no elenco, Michael Madsen.
Houve um tempo, lá por meados dos
anos 2000, em que as locadoras foram bombardeadas regularmente com uma leva de
produções supostamente de terror, todas com títulos e capas parecidos: Sharkman, Larvaman, Mosquitoman e
outros “thingman” que os produtores conseguissem imaginar. Nunca me animei a
ver nenhum, tinha horror só de olhar para a capa, mas imaginava que os
adolescentes consumissem vorazmente aquele tipo de coisa. Afinal, se são
produzidos, é porque há quem os assista. Parece que a moda voltou, agora
trazendo aberrações animais genéticas. É a prova de que cinema é mesmo a maior
diversão.
Há vários trailers na rede. Este
não é o oficial, mas é mais engraçado.
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