DE
REPENTE A ESCURIDÃO
(And
soon to darkness)
Inglaterra,
1970, 99 minutos. Direção de Robert Fuest. Com: Pamela Franklin, Michelle Dotrice, Sandor Elès, John Nettleton, Hana
Maria Pravda, Claude Betrand.
Sinopse: Duas jovens
inglesas passam férias no interior francês, pelo qual passeiam de bicicleta.
Até que uma delas desaparece. A amiga tenta encontrá-la.
Comentários: Foi nos anos 70
que o cinema de terror norte-americano iniciou um rentável ciclo de histórias
passadas na zona rural do país, contrapondo a suposta placidez de áreas
afastadas dos grandes centros à loucura crescente nas metrópoles. Não sei se foi
coincidência, mas o fato é que essa produção européia utilizou a mesma
ambientação para criar uma trama sufocante, com a vantagem de nunca apelar para
mortes violentas ou sangueira explícita. Os resultados são admiráveis.
A
trama é das mais simples que se possa imaginar. Duas estudantes inglesas (Franklin
e Dotrice), em férias em alguma cidade perdida na zona rural da França,
resolvem ir de um lugarejo a outro pedalando. No meio do caminho, param em um
bosque para descansar, discutem e uma delas volta para a cidade, deixando a
amiga sozinha. Ela para em um café e ouve da dona do lugar que a estrada é perigosa para mulheres, o que a deixa apreensiva,
ainda mais depois que ouve falar em um assassinato ocorrido na cidade alguns
anos antes.
Com
esse fiapo de história, o roteiro de Brian Clemens e Terry Nation criou uma atmosfera
sufocante, de tensão crescente, poucos diálogos e que se desenrola debaixo do
esplendor dourado do sol – toda a ação dura apenas um dia, tempo suficiente
para que o mistério tome conta da narrativa de forma natural, com economia de
recursos e competente uso de trilha sonora minimalista, que ajuda a criar o
clima sem soar excessiva. Em seus melhores momentos, o filme remete ao cinema de Fritz Lang, segundo comentário feito por Carlos Reichembach.
A
aparente tranqüilidade sugerida pela vida modorrenta em uma cidadezinha
funciona, na verdade, como um disfarce para a ambigüidade de seus habitantes.
Embora pacíficos à primeira vista, todos parecem guardar segredos. E ninguém se
importa muito com o drama da mocinha que busca pistas da amiga desaparecida, o
que pode ser entendido nas entrelinhas como resquício da rivalidade histórica
entre ingleses e franceses. A escuridão do título se abate em plena luz do dia,
sombreando a pacata existência de um lugarejo acima de qualquer suspeita.
Robert
Fuest devotou a carreira à direção de filmes televisivos, mas, além deste aqui,
legou outras obras memoráveis pouco tempo depois: O abominável Dr. Phibes (1971) e sua continuação, A câmara de horrores do abominável Dr.
Phibes (1972). Clemens também assinou o roteiro da dispensável refilmagem
de 2010, Viagem do medo, com Amber Heard e Odette Yustman, que se passa
na Argentina. Pode assisti-la, mas procure e conheça este original, que não
passou nos cinemas brasileiros (só na TV) mas saiu em VHS pela VTI.
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