Regularmente
alguma publicação especializada em cinema organiza e divulga listas dos
melhores filmes de todos os tempos. Invariavelmente os títulos se repetem,
sobrando pouco espaço para surpresas ou adições de obras mais modernas – nem
poderia ser muito diferente, afinal, quem assiste e acompanha cinema conhece a
qualidade duvidosa dos filmes produzidos hoje em dia. A tela da vez foram as
páginas da revista The Hollywood Reporter. O veículo pediu que artistas,
diretores, roteiristas, técnicos, enfim, gente do cinema, apontassem os cem
melhores filmes de todos os tempos.
Não
sei se a intenção era fazer a lista definitiva, ou a mais próxima possível do
que se poderia chamar de perfeição, já que foi organizada pelas pessoas que, em
tese, entendem bastante do ofício. Afinal, para Hollywood, é lá que se produzem
os melhores filmes do mundo. Mas a relação trouxe algumas ousadias. Se por um
lado os velhos clássicos foram lembrados, por outro, títulos francamente
comerciais dividem espaço com as grandes obras reverenciadas ao longo dos anos.
É a pitada de polêmica que sempre movimenta esse tipo de listagem e gera
discussões entre os cinéfilos.
La famiglia enfim chega ao topo. |
O
primeiro lugar foi ocupado por O poderoso
chefão (1972), de Francis Ford Coppola, desbancando o quase sempre favorito
nesse tipo de lista, Cidadão Kane (1941),
que terminou em terceiro lugar, logo depois de O mágico de Oz (1939). Aliás, a segunda parte do épico sobre a
família Corleone também garantiu um lugar entre os dez mais, ficando em sétimo.
Duas produções recentes ficaram em quarto e quinto lugares, respectivamente: Um sonho de liberdade (1994) e Pulp fiction – Tempo de violência (1994),
seguidas por Casablanca (1942).
Fechando a lista, E.T. – O extraterrestre
(1982), 2001 – Uma odisséia no espaço
(1968) e A lista de Schindler (1993).
Daí
para diante é que aparecem mesmo aquelas surpresas, filmes que, em sã
consciência, ninguém ousaria ou arriscaria relacionar em qualquer lista dita
séria de melhores de todos os tempos. Já escrevi aqui uma vez: quando uma
relação dessa natureza obedece a critérios estritamente pessoais, não há o que
estranhar, afinal, cada pessoa tem suas preferências e o direito de opinião é
sagrado, por mais esdrúxula que ela pareça. Mas, partindo daquele que é
considerado o coração da indústria do entretenimento, chama a atenção. Quem
poderia imaginar que De volta para o
futuro (1985, em 12º) seria considerado um dos cem melhores filmes de todos os
tempos? É grande diversão, sem dúvida, até provoca reflexões no espectador, mas
daí a ser posta à frente de obras consagradas como Cantando na chuva (1952, em 26º) e Um estranho no ninho (1975, em 30º)? Há outros
filmes inusitados: Clube dos cinco
(1985, em 27º), A princesa prometida (1987, em 31º), Curtindo a vida adoidado (1986, em 36º) e Coração selvagem (1990, em 89º), de David Lynch.
A doce Amélie ficou em 60º lugar. |
É
notável também a ausência de grandes filmes, como Ben Hur e A doce vida, que ficaram esquecidos, bem como qualquer coisa de diretores como Fellini e
Bergman, presenças garantidas em qualquer lista de melhores que se preza. E é
óbvio que filme brasileiro ficou de fora, mostrando que os caminhos supostamente
abertos por Cidade de Deus ainda não chegaram
a lugar algum em termos de reconhecimento do cinema tupiniquim. Mas, para
Hollywood não dizer que só olhou para o próprio umbigo, há três honrosas
exceções que vieram de outras partes do mundo: o francês O fabuloso destino de Amélie Poulain conseguiu a melhor posição, em
60º lugar; o mexicano O labirinto do
fauno ficou em 96º; e o estupendo Os
sete samurais, de Kurosawa, fecha a relação.
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