Começou a maratona! E já bati meu recorde pessoal de filmes vistos no primeiro dia do festival: foram cinco produções. A seguir, as críticas do que vi hoje.
TIRO NA CABEÇA – Em 2007, dois guardas civis espanhóis foram assassinados por membros do ETA, em um encontro casual. A partir deste fato, real, o diretor Jaime Rosales construiu uma trama ficcional, dramatizando os momentos que antecederam ao crime, mostrando o cotidiano de um dos assassinos e a preparação do atentado. O filme tem uma característica: não apresenta diálogos, nem música (embora não se trate de filme mudo, há sons e ruídos ambientes), com a história sendo explicada apenas pelas imagens. Nesse clima de frieza e distanciamento, o espectador é jogado no papel de cúmplice das ações, acompanhando todos os passos do grupo, observando tudo, sem poder reagir ou impedir qualquer coisa. O resultado é estranho, parecendo um misto de documentário com filme independente norte-americano. Elenco competente. Com apenas 84 minutos de duração, o filme é curto e nem deixa o público que o assiste com vontade de fazer o mesmo que seu título sugere. * *
EU, ELA E MINHA ALMA – O ator Paul Giamatti sofre um colapso nervoso durante os ensaios da peça Tio Vanya em Nova York. Descobre uma empresa especializada em retirar a alma das pessoas para deixá-las mais leves e recorre a seus serviços. Insatisfeito, porém, tenta reavê-la e descobre um complexo esquema de tráfico de almas a partir da Rússia. O excelente ponto de partida, muito original e criativo, nos faz pensar que iremos assistir a uma nova farsa surrealista nos moldes de Quero ser John Malkovich, em que um conhecido ator se envolve em uma trama absurda. Infelizmente, a proposta se perde depois de algum tempo, levando a resoluções inconvincentes e com poucos risos. Mesmo a crítica implícita contra as seitas e religiões apocalípticas, que prometem mundos e fundos a seus seguidores, se dilui ao longo da narrativa. Uma pena. No final, fica um sentimento de frustração pelo grande filme que poderia ter sido. Giamatti comprova ser um dos melhores coadjuvantes de Hollywood, carregando o filme nas costas, bem assessorado por David Strathairn (o médico que realiza a “operação” da alma). Emily Watson, como a esposa de Giamatti, tem poucas chances. Estréia de Sophie Barthes na direção de longas-metragens. * *
DOCE PERFUME – A atriz polonesa Krystyna Janda está rodando um filme pouco tempo após a morte de seu marido, de câncer. Seus sentimentos afloram e se misturam aos de sua personagem, uma mulher que vê o amante morrer afogado. O veterano Andrzej Wajda realiza uma obra em que ficção e realidade se mesclam na construção de uma personalidade atormentada pela dor e que discute, nas entrelinhas, o próprio trabalho do artista. Menos pesado que seu filme anterior, Quatro noites com Anna, exibido no festival do ano passado, é uma obra que se presta a várias interpretações, suavizando o sofrimento da situação com belas locações e trilha sonora adequadamente contida. * * *
UMA SEMANA EM PARAJURU – Os moradores do vilarejo de Parajuru, no Ceará, sofrem com a especulação imobiliária, desde que uma austríaca ali se estabeleceu e iniciou um projeto turístico-social. Com a desculpa do desenvolvimento, ela impõe suas regras, como a obrigatoriedade do ensino de língua alemã e o loteamento das praias para a prática de kitesurf. Dividido em seis pequenos trechos apresentados por subtítulos e mais um epílogo. Minha má vontade com o documentário surgiu logo na primeira cena, quando aparece “De um mundo à outro”, assim mesmo, com crase!!! Não tinham um revisor? Há outros erros (legendas malfeitas, com erros de pontuação), mas a importância do assunto se sobrepõe às falhas do projeto. Mostra que o Brasil ainda não está completamente livre da ameaça colonialista. A beleza de Parajuru (um lugar que deu vontade de conhecer pessoalmente) é realçada pela bela fotografia, do próprio diretor. Os letreiros finais informam que a equipe vem sofrendo represálias desde que o filme foi feito, e que estariam com dificuldades para fazer a história circular. * * *
O AREAL – Histórias de crendices populares na localidade de Guajará (PA), local dominado pela presença de um gigantesco e mítico areal, tido como encantado pelos moradores. Folclore brasileiro filmado por lentes estrangeiras (o diretor é chileno), sem esconder o fascínio pelo exotismo das locações e do tema incomum. Talvez por esses elementos tenha sido premiado em festivais menores do gênero. Não empolga. Lembra o semelhante Histórias do Rio Negro, com o doutor Dráuzio Varela. *
EU, ELA E MINHA ALMA – O ator Paul Giamatti sofre um colapso nervoso durante os ensaios da peça Tio Vanya em Nova York. Descobre uma empresa especializada em retirar a alma das pessoas para deixá-las mais leves e recorre a seus serviços. Insatisfeito, porém, tenta reavê-la e descobre um complexo esquema de tráfico de almas a partir da Rússia. O excelente ponto de partida, muito original e criativo, nos faz pensar que iremos assistir a uma nova farsa surrealista nos moldes de Quero ser John Malkovich, em que um conhecido ator se envolve em uma trama absurda. Infelizmente, a proposta se perde depois de algum tempo, levando a resoluções inconvincentes e com poucos risos. Mesmo a crítica implícita contra as seitas e religiões apocalípticas, que prometem mundos e fundos a seus seguidores, se dilui ao longo da narrativa. Uma pena. No final, fica um sentimento de frustração pelo grande filme que poderia ter sido. Giamatti comprova ser um dos melhores coadjuvantes de Hollywood, carregando o filme nas costas, bem assessorado por David Strathairn (o médico que realiza a “operação” da alma). Emily Watson, como a esposa de Giamatti, tem poucas chances. Estréia de Sophie Barthes na direção de longas-metragens. * *
DOCE PERFUME – A atriz polonesa Krystyna Janda está rodando um filme pouco tempo após a morte de seu marido, de câncer. Seus sentimentos afloram e se misturam aos de sua personagem, uma mulher que vê o amante morrer afogado. O veterano Andrzej Wajda realiza uma obra em que ficção e realidade se mesclam na construção de uma personalidade atormentada pela dor e que discute, nas entrelinhas, o próprio trabalho do artista. Menos pesado que seu filme anterior, Quatro noites com Anna, exibido no festival do ano passado, é uma obra que se presta a várias interpretações, suavizando o sofrimento da situação com belas locações e trilha sonora adequadamente contida. * * *
UMA SEMANA EM PARAJURU – Os moradores do vilarejo de Parajuru, no Ceará, sofrem com a especulação imobiliária, desde que uma austríaca ali se estabeleceu e iniciou um projeto turístico-social. Com a desculpa do desenvolvimento, ela impõe suas regras, como a obrigatoriedade do ensino de língua alemã e o loteamento das praias para a prática de kitesurf. Dividido em seis pequenos trechos apresentados por subtítulos e mais um epílogo. Minha má vontade com o documentário surgiu logo na primeira cena, quando aparece “De um mundo à outro”, assim mesmo, com crase!!! Não tinham um revisor? Há outros erros (legendas malfeitas, com erros de pontuação), mas a importância do assunto se sobrepõe às falhas do projeto. Mostra que o Brasil ainda não está completamente livre da ameaça colonialista. A beleza de Parajuru (um lugar que deu vontade de conhecer pessoalmente) é realçada pela bela fotografia, do próprio diretor. Os letreiros finais informam que a equipe vem sofrendo represálias desde que o filme foi feito, e que estariam com dificuldades para fazer a história circular. * * *
O AREAL – Histórias de crendices populares na localidade de Guajará (PA), local dominado pela presença de um gigantesco e mítico areal, tido como encantado pelos moradores. Folclore brasileiro filmado por lentes estrangeiras (o diretor é chileno), sem esconder o fascínio pelo exotismo das locações e do tema incomum. Talvez por esses elementos tenha sido premiado em festivais menores do gênero. Não empolga. Lembra o semelhante Histórias do Rio Negro, com o doutor Dráuzio Varela. *
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