Nova produção dirigida por Quentin Tarantino, Bastardos inglórios é um dos títulos mais aguardados do próximo Festival do Rio. O filme, que deverá encerrar o evento, no dia 8 de outubro, já vem sendo apontado como favorito à disputa do Oscar 2010. Com estréia prevista para o circuito ainda este ano, deve chegar às telas antes de seu trabalho anterior, rodado há quatro anos e que nunca foi lançado sequer em DVD por aqui. Pois é, existe um Tarantino inédito no Brasil, que só foi exibido no festival de dois anos atrás: À prova de morte.
Em 2005, os amigos Quentin Tarantino e Robert Rodríguez se uniram para realizar um projeto chamado Grindhouse, uma homenagem aos antigos cinemas-poeira dos anos 50, assim denominados, e que eram especializados em sessões duplas de filmes baratos de sexo e violência, muito populares em sua época. Originalmente, a idéia era um filme único em duas partes (esta é a segunda; a primeira, Planeta terror, saiu nos cinemas e em DVD duplo distribuído pela Europa. Embora esta seja a segunda parte, foi exibida antes no festival porque a outra não havia sido liberada a tempo. Coisas do festival) divididas por trailers de outros filmes trash (todos fictícios) e totalizando quatro horas de duração. Só que o projeto foi muito mal de crítica lá fora e a distribuidora desistiu de lançá-lo no mercado externo como planejado. Assim, acabamos perdendo o grande charme da idéia, que era exatamente brincar com aquele tipo de programa, já que não tivemos acesso ao pacote completo – em um dos falsos trailers, Willen Dafoe aparecia interpretando um vampiro! Só restou o desfecho da idéia original – antes da abertura, o filme é anunciado como “Nossa próxima atração”. Mesmo assim, dá para curtir esta fita que presta uma carinhosa reverência ao cinema.
Tarantino preferiu rodar um road-movie de suspense nos moldes do que virou moda nos anos 70, copiando o mesmo tipo de letreiro, cortes e closes, e inclusive utilizando os mesmos defeitos técnicos da época, com imagem riscada, fotografia escura (de sua própria autoria), falhas de imagem por causa da troca de rolos etc. Sua história é contada em duas épocas. Na primeira, um psicopata (interpretado por Kurt Russell) persegue e mata quatro amigas que viajavam para a casa de veraneio de uma delas (o estranho título é porque o carro usado pelo assassino é descrito por ele como indestrutível, portanto, à prova de morte – não é “a prova da morte”, como ouvi um mauricinho na fila da sessão explicar para sua namorada, na certeza de um abafo de cultura e intelectualidade). Na segunda, que se passa 14 meses depois, a trama é repetida, mas com outro desfecho. A primeira parte é superior, com o diretor escancarando sua pedofilia (a primeira imagem mostra um par de pezinhos femininos estendidos sobre o painel do carro) e brindando a platéia com uma generosa coleção de diálogos inspiradíssimos. A segunda parte, por outro lado, é menos feliz, uma vez que as conversas se tornam excessivas e derrubam o ritmo do filme, que só é recuperado na alucinante perseguição final. Tudo embalado por uma contagiante trilha sonora, como sempre uma atração à parte nos filmes dele. A dança de Rose McGowan (que faz a protagonista de Planeta terror) é extremamente sensual e me fez imaginar se Tarantino também cultiva alguma espécie de onfalolatria (atenção: a palavra não existe nos dicionários, mas pode ser formada pela justaposição do radical grego onfalus mais o sufixo "latria", o que se traduz por “adorador de umbigos”). Há também incontáveis referências ao próprio cinema, desde os cartazes de filmes antigos pregados nas paredes do bar onde se passa a maior parte da ação na primeira parte até citações literais de antigas séries de TV, não faltando brincadeiras com sucessos mais recentes (Maria Antonieta, Todo mundo em pânico 4). Tudo bem ao estilo do diretor. Um filme divertido, mas que poderia dispor de um ritmo mais ágil. É justamente seu palavrório que trava a ação na segunda parte, que é finalizada ao som da contagiante “Chick habit”, de April March.
Fui conferir o filme em um domingo à noite no Roxy, um cinema em que o público tradicionalmente não costuma embarcar na onda do festival. Estava lotado e a platéia aplaudiu muito ao final da sessão. Nos créditos finais, levei um susto ao ver que a atriz que interpreta a desbocada e excitante Julia Jungle se chamava Sidney Poitier!!!!!!! Confesso que pensei tratar-se de uma gozação tarantinesca, travestindo um ícone dos anos 70, camuflando-o de forma irreconhecível debaixo de quilos de maquiagem e efeitos de CGI (o que também me irritou profundamente, será que passei o filme inteiro suspirando por uma estrela que nem estrela mesmo é?). Mas, para meu alívio, era apenas a filha do famoso ator, creditada com o nome do pai. Mais uma referência do diretor aos anos 70.
Fico na torcida para que, com a iminente chegada de Bastardos inglórios ao circuito, enfim, a Europa tire este aqui do inexplicável limbo a que o condenou e o torne disponível, ao menos em DVD.
Em 2005, os amigos Quentin Tarantino e Robert Rodríguez se uniram para realizar um projeto chamado Grindhouse, uma homenagem aos antigos cinemas-poeira dos anos 50, assim denominados, e que eram especializados em sessões duplas de filmes baratos de sexo e violência, muito populares em sua época. Originalmente, a idéia era um filme único em duas partes (esta é a segunda; a primeira, Planeta terror, saiu nos cinemas e em DVD duplo distribuído pela Europa. Embora esta seja a segunda parte, foi exibida antes no festival porque a outra não havia sido liberada a tempo. Coisas do festival) divididas por trailers de outros filmes trash (todos fictícios) e totalizando quatro horas de duração. Só que o projeto foi muito mal de crítica lá fora e a distribuidora desistiu de lançá-lo no mercado externo como planejado. Assim, acabamos perdendo o grande charme da idéia, que era exatamente brincar com aquele tipo de programa, já que não tivemos acesso ao pacote completo – em um dos falsos trailers, Willen Dafoe aparecia interpretando um vampiro! Só restou o desfecho da idéia original – antes da abertura, o filme é anunciado como “Nossa próxima atração”. Mesmo assim, dá para curtir esta fita que presta uma carinhosa reverência ao cinema.
Tarantino preferiu rodar um road-movie de suspense nos moldes do que virou moda nos anos 70, copiando o mesmo tipo de letreiro, cortes e closes, e inclusive utilizando os mesmos defeitos técnicos da época, com imagem riscada, fotografia escura (de sua própria autoria), falhas de imagem por causa da troca de rolos etc. Sua história é contada em duas épocas. Na primeira, um psicopata (interpretado por Kurt Russell) persegue e mata quatro amigas que viajavam para a casa de veraneio de uma delas (o estranho título é porque o carro usado pelo assassino é descrito por ele como indestrutível, portanto, à prova de morte – não é “a prova da morte”, como ouvi um mauricinho na fila da sessão explicar para sua namorada, na certeza de um abafo de cultura e intelectualidade). Na segunda, que se passa 14 meses depois, a trama é repetida, mas com outro desfecho. A primeira parte é superior, com o diretor escancarando sua pedofilia (a primeira imagem mostra um par de pezinhos femininos estendidos sobre o painel do carro) e brindando a platéia com uma generosa coleção de diálogos inspiradíssimos. A segunda parte, por outro lado, é menos feliz, uma vez que as conversas se tornam excessivas e derrubam o ritmo do filme, que só é recuperado na alucinante perseguição final. Tudo embalado por uma contagiante trilha sonora, como sempre uma atração à parte nos filmes dele. A dança de Rose McGowan (que faz a protagonista de Planeta terror) é extremamente sensual e me fez imaginar se Tarantino também cultiva alguma espécie de onfalolatria (atenção: a palavra não existe nos dicionários, mas pode ser formada pela justaposição do radical grego onfalus mais o sufixo "latria", o que se traduz por “adorador de umbigos”). Há também incontáveis referências ao próprio cinema, desde os cartazes de filmes antigos pregados nas paredes do bar onde se passa a maior parte da ação na primeira parte até citações literais de antigas séries de TV, não faltando brincadeiras com sucessos mais recentes (Maria Antonieta, Todo mundo em pânico 4). Tudo bem ao estilo do diretor. Um filme divertido, mas que poderia dispor de um ritmo mais ágil. É justamente seu palavrório que trava a ação na segunda parte, que é finalizada ao som da contagiante “Chick habit”, de April March.
Fui conferir o filme em um domingo à noite no Roxy, um cinema em que o público tradicionalmente não costuma embarcar na onda do festival. Estava lotado e a platéia aplaudiu muito ao final da sessão. Nos créditos finais, levei um susto ao ver que a atriz que interpreta a desbocada e excitante Julia Jungle se chamava Sidney Poitier!!!!!!! Confesso que pensei tratar-se de uma gozação tarantinesca, travestindo um ícone dos anos 70, camuflando-o de forma irreconhecível debaixo de quilos de maquiagem e efeitos de CGI (o que também me irritou profundamente, será que passei o filme inteiro suspirando por uma estrela que nem estrela mesmo é?). Mas, para meu alívio, era apenas a filha do famoso ator, creditada com o nome do pai. Mais uma referência do diretor aos anos 70.
Fico na torcida para que, com a iminente chegada de Bastardos inglórios ao circuito, enfim, a Europa tire este aqui do inexplicável limbo a que o condenou e o torne disponível, ao menos em DVD.
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