domingo, 27 de setembro de 2009

Festival do Rio - um bebê e dois motivos para chorar

RICKY – “Todo Ozon merece ser visto”, escreveu o crítico Rodrigo Fonseca a respeito de um dos mais badalados diretores franceses da atualidade. Não sou especial admirador de Ozon, que tem uma obra consistente, pautada por temas pesados e voltados à problemática dos relacionamentos interpessoais, geralmente afetivos. Aqui, ele realiza seu filme mais leve e fantasioso, mas nem por isso menos sério em sua proposta. Katie e Paco formam um casal comum até o dia em nasce Ricky, um bebê com uma curiosa peculiaridade. O resumo divulgado pela imprensa omite o grande segredo da história, que é muito fácil de adivinhar e eu até poderia revelar aqui, mas prefiro deixar que cada espectador tenha sua própria surpresa. Neste misto de drama familiar com comédia fantástica, há alguns bons momentos cômicos, sendo o principal deles quando o bebê escapa na loja de artigos natalinos. Ricky é adorável, dá vontade de levar para casa (e funciona bem, apesar dos efeitos especiais nem sempre competentes). Se fosse um típico blockbuster já haveria uma extensa linha de produtos relacionados, incluindo boneco de controle remoto. Aliás, dá mesmo para imaginar uma refilmagem norte-americana. No fundo, é apenas um filme fofo, simpático, diversão passageira para toda a família. * * *


BARBA AZUL – Entrou de tapa-buraco na minha programação este novo trabalho da sempre polêmica francesa Catherine Breillat, uma veterana de outros festivais (Anatomia do inferno, A última amante), que costuma rechear seus roteiros com muito sexo, mantendo firme o discurso feminista que, por vezes, chega a incomodar. Nada disso, porém, acontece aqui. Desta vez, ela renunciou ao erotismo para recriar livremente a clássica história do Barba Azul, escrita por Charles Perrault, que é muito conhecida e já foi várias vezes levada às telas (foi adaptada até para o Sítio do Pica-pau Amarelo!). São duas linhas narrativas. Em uma delas, passada nos dias de hoje, duas irmãs lêem e encenam a história do nobre assassino de mulheres. Na outra, desenvolve-se a lenda na França do século XVII. As duas narrativas se interligam pela aparente rivalidade entre as meninas nos dois momentos. Mas teria sido melhor Breillat se manter fiel ao estilo que a consagrou. A narrativa é extremamente fria e lenta, sem qualquer lance que desperte o interesse do espectador. O elenco também não ajuda, atuando de maneira impessoal. Cheguei a cochilar no cinema. Final trágico e abrupto, mas pouca gente terá agüentado até lá. De bom mesmo, só a bela reconstituição de época. *

AMARGO – O filme não tem enredo: é apenas uma sucessão de imagens delirantes e multicoloridas, intensamente iluminadas, versando sobre a sexualidade feminina. Um pesadelo surrealista, com várias citações a Buñuel e Dalí, vitaminado por uma montagem acelerada e com excesso de closes de olhos, bocas e peles, com escassez de diálogos, cenas desagradáveis e muito intelectualismo de botequim. O casal de diretores pensa ter realizado um dos filmes mais geniais da história. É mais uma enganação vendida como um sopro de renovação estética. Primeira sessão espanta-neném do festival, com vários espectadores deixando a sala durante a projeção. No final, ouvi um rapaz comentando que era um filme de terror de quinta categoria. Não é uma definição absurda.

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