O faroeste é considerado o mais
norte-americano dos gêneros cinematográficos, o que não o impediu de frutificar
também em outras paragens. A Itália nos rendeu o “spaghetti western” e um dos
grandes mestres do gênero, Sérgio Leone. No Brasil, o “nordestern” floresceu
como a nossa versão das aventuras de mocinhos e bandidos, sem índios – alguns
historiadores defendem que o ciclo do cangaço equivaleu ao nosso faroeste.
Mesmo no Oriente, de tradições tão diversas do velho oeste americano, houve
alguns exemplares do gênero, já que Os
sete samurais e Sanjuro, ambos de
Kurosawa, são aceitos como legítimos representantes do bom e velho
bangue-bangue.
E é exatamente da Ásia que vem um
dos mais divertidos filmes de faroeste dos últimos tempos: Os invencíveis, uma delirante e movimentada aventura passada entre
desertos e pradarias, dirigida por Kim Jee-Woon. O filme, mesmo tendo sido um
dos campeões de público no Festival do Rio de 2008, nunca foi lançado em
circuito comercial, mas está disponível em DVD, passa de vez em quando na TV a
cabo e merece uma conferida.
Naquele ano, o filme foi exibido
com seu título original traduzido: O bom,
o mau e o bizarro (“The good, the bad, the weird”), o que já era
autoexplicativo. A idéia do diretor foi justamente homenagear os clássicos do
faroeste com toneladas de citações, a começar do título, uma óbvia referência a
Três homens em conflito (no original,
“The good, the bad and the ugly”, ou “o bom, o mau e o feio”, como ficou mais
conhecido no Brasil), de Sérgio Leone. A essas alturas, o leitor deve estar se
questionando: faroeste sul-coreano? Será que isso dá liga? A resposta é: dá
sim. E, se por um lado não pode mesmo ser comparado ao original que lhe serviu
de inspiração, por outro, vem reafirmar a força do cinema daquele país, que se
reinventa e não perde a mão nem quando realiza uma obra completamente estranha
ao contexto histórico-social daquele povo.
A trama é ambientada na Manchúria
da década de 30. Três mercenários disputam entre si a posse de um mapa que
conduzirá seu detentor a um grande tesouro. Ou seja, a trama não apresenta
novidades: é igual a tantas outras já vistas no cinema norte-americano. O que
chama a atenção é a inventividade do diretor em reciclar clichês e reaproveitar
situações próprias ao tradicional western. Embora a ação reze pela cartilha do
gênero, há toques orientais na maneira como a história é conduzida, com
personagens que satirizam o faroeste que conhecemos. Há inúmeras referências,
incluindo os temas musicais. No fundo, o que confere grande atrativo ao filme é
justamente a paródia feita em cima de uma das mais sagradas instituições
hollywoodianas. Para se ter uma idéia, há até gângsteres coreanos interessados
no tesouro.
É um filme bem movimentado,
divertido, que merece ser descoberto. Mas os fãs do bom e velho bangue-bangue
podem achar meio estranho.
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